Discurso durante a 240ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

O comportamento do PT e de parte do Governo Federal com relação aos desdobramentos da crise econômica internacional.

Autor
Jarbas Vasconcelos (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PE)
Nome completo: Jarbas de Andrade Vasconcelos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • O comportamento do PT e de parte do Governo Federal com relação aos desdobramentos da crise econômica internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2008 - Página 52500
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), NEGLIGENCIA, EFEITO, BRASIL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ACUSAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, EXPECTATIVA, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO.
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTRADIÇÃO, APLICAÇÃO, LIBERALISMO, ECONOMIA NACIONAL, APREENSÃO, DESPREPARO, COMBATE, EFEITO, CRISE, APRESENTAÇÃO, ORADOR, DADOS, RECESSÃO, PRODUÇÃO, INDUSTRIA, DEMISSÃO, DESEMPREGO, SAIDA, DOLAR, CRITICA, SUPERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, EXPECTATIVA, DEBATE, LEGISLATIVO, PROVIDENCIA, GOVERNO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JARBAS VASCONCELOS (PMDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Cinismo, é como pode ser definido o comportamento do PT e de parte do Governo Federal com relação aos desdobramentos da crise econômica internacional. A “marolinha” citada pelo Presidente Lula há apenas dois meses se transformou num tsunami. Os petistas chegaram ao cúmulo ao culpar o Governo Fernando Henrique Cardoso pelos efeitos da crise, acusam a oposição de praticar terrorismo e a Imprensa de ser alarmista. É a mesma estratégia adotada quando os escândalos políticos como o do “Mensalão” vieram à tona e deixaram o Governo na berlinda.

Não acredito que exista um único brasileiro, do trabalhador mais humilde ao grande empresário, que esteja torcendo para que esta crise nos atinja mais gravemente. Só alguém que não quer enxergar a realidade, inebriado pelo poder e por um egocentrismo doentio pode alardear a existência de um movimento na sociedade que anseie pelo agravamento da crise como meio para atingir a popularidade do Presidente. Lula deve encarar a realidade, Sua Excelência não é maior que o Brasil.

Tenho um grande respeito pela história de vida do Presidente da República. Sua vitória em 2002 representou um avanço importante para a Democracia Brasileira. Mas é minha obrigação política discordar do conjunto de absurdos que o Presidente externou publicamente sobre a crise econômica.

Se o atual Governo não tivesse mantido os pressupostos básicos da gestão anterior, a situação seria ainda mais grave. Falam em neoliberalismo, mas a política econômica do Governo Federal chegou a ser mais ortodoxa do que a praticada pelo PSDB.

Quando os petistas se encontravam na oposição votaram contra a Constituição de 1988, trabalharam contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nas eleições de 1994 e 1998, foram derrotados nas urnas justamente porque fizeram campanha eleitoral contra as medidas econômicas que estabilizaram a nossa moeda, abrindo caminho para o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação. Este posicionamento adotado pelo PT é que realmente caracteriza o exercício de uma oposição irresponsável, que não se preocupava com os interesses maiores do país.

Não estou inventando nada, pois esses fatos estão registrados na Imprensa, nos arquivos públicos e até mesmo na Internet. Fazem parte da nossa história recente. Quando chegou ao Governo, o PT passou a exigir da oposição o que nunca ofereceu aos adversários.

Senhor Presidente,

Não sou um pessimista, mas acho incorreto um administrador público vender ilusões, posar de Papai Noel, quando a situação não permite devaneios. Para que tem memória curta, o Presidente chegou a afirmar que não iria lançar nenhum pacote para tentar evitar os reflexos da crise. Pois foram anunciados vários pacotes.

Ele disse também que a crise não atravessaria o Oceano Atlântico e ela cruzou todos os mares do planeta.

Talvez deslumbrado pelas pesquisas que mostram sua popularidade em níveis elevados, o Presidente da República diz uma coisa na segunda-feira, desdiz dois dias depois e volta à mesmíssima retórica na sexta-feira. Ninguém cobra coerência e o vai-e-vem dos palanques entra para o folclore político.

As barbaridades palanqueiras começam a fazer parte da paisagem. Ninguém se irrita. Alguns até se divertem.

Senhoras Senadoras,

Senhores Senadores,

A situação é grave, mas torço e acredito que os efeitos dessa crise serão menores do que em outras anteriores. Por outro lado, é sempre bom lembrar que as crises enfrentadas pelo governo passado tinham uma dimensão menor, sem o atual “efeito dominó”.

Na década de 1990 e início deste século, eram a “Crise do México”, a “Crise Russa”, a “Crise Argentina”, a “Crise dos Tigres Asiáticos”. A crise atual nem pode ser chamada de uma “Crise dos EUA”. Ela realmente começou nos Estados Unidos, mas é hoje um problema mundial e de efeitos globalizados.

Os sintomas de que o Brasil pode pagar um preço elevado são evidentes, neste último mês de 2008. Quem afirmava que os problemas só surgiriam no próximo ano, errou feio. Numa economia globalizada, esse “efeito cascata” é quase que instantâneo.

Se a China - locomotiva do crescimento planetário - afirma que a crise é séria, quem somos nós para assegurar o contrário?

Além disso, Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, o bom desempenho da economia brasileira nos últimos anos dependeu majoritariamente dos ventos favoráveis internacionais. Se o Governo Federal pretende ignorar essa realidade, é um comportamento escapista, de auto-engano.

O resultado da produção industrial no último mês de outubro comparado com setembro apresentou uma retração de 1,7%. Na comparação com outubro de 2007, houve um crescimento de apenas 0,8% - o pior resultado em quase dois anos. A Confederação Nacional da Indústria prevê reflexos ainda mais graves a partir de 2009. Esse encolhimento terá um efeito imediato sobre o mercado de emprego.

O setor de autopeças prevê 7,5 mil demissões até o final do ano. Este mês todo o setor deu férias coletivas. São mais de 300 mil veículos nas montadoras, o que representa um investimento de R$ 12 bilhões parados nos pátios. Esse estoque representa dois meses de venda. Pelo menos um terço desses R$ 12 bilhões serviriam para pagar impostos, reforçando os caixas dos Governos Federal e Estaduais.

A produção das montadoras no mês passado foi 34% menor do que a de outubro e 28% inferior a de novembro de 2007. As vendas de maquinário agrícola estão em queda por dois meses seguidos. A indústria de defensivos agrícolas encolheu 30% na comparação entre outubro e setembro. O setor de negócios agrícolas, que tem ajudado as contas nacionais, dá um claro sinal de que desacelerou sua expansão.

Senhor Presidente, outro setor fundamental para o desenvolvimento do País, a construção civil pode levar ao desemprego cerca de 100 mil trabalhadores, apenas no Estado de São Paulo. Os bancos também começaram a dispensar funcionários. As informações sobre essas dispensas chegam de todo o País.

A saída de dólares atingiu US$ 7,15 bilhões no último mês de novembro, o pior resultado no fluxo cambial desde janeiro de 1999, quando o País enfrentou a maxidesvalorização do real.

Como diz o ditado popular: “os números não mentem”.

Se o Governo Lula quer se manter numa “Ilha da Fantasia”, pior para o País, pois continuaremos a ver a política econômica de palanque do Presidente da República. Uma retórica espalhafatosa, panfletária, incoerente e ilusória.

Aqui no Congresso Nacional as lideranças governistas pedem e recebem o apoio da oposição. Nos palanques pelo País afora, o Presidente nos acusa de terrorismo.

Senhor Presidente, navegar com o vento a favor é fácil; difícil é adotar medidas antipopulares para enfrentar a crise. O Governo Lula é gastador e não é de hoje que a oposição diz isso.

Outro fato incontestável é que com o cenário econômico mundial de estagnação e recessão fica evidente que o Governo Federal não soube aproveitar de forma apropriada os tempos da bonança.

Já disse em diversas oportunidades e repito agora: nas democracias, quem vence as eleições vai governar e quem perde assume o papel fiscalizador. Como integrante da bancada de oposição, minoritário dentro do meu próprio partido, estarei aqui para votar a favor de qualquer proposta que ajude a reduzir os efeitos da crise econômica.

Rechaço a política do “quanto pior, melhor”, mas também não me comportarei passivamente, aceitando tudo que vem do Governo, sem questionar, sem propor melhorias no que achar inadequado ou equivocado.

Creio que esta é a postura de todos que integram a bancada de oposição no Senado Federal. Tenho obtido este sentimento de todos aqueles com quem tenho conversado. Espero que o Governo não desperdice esse espaço para o entendimento, com posturas arrogantes e pretensiosas.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Modelo1 4/28/246:54



Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2008 - Página 52500