Discurso durante a 239ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o grande brasileiro, Machado de Assis, por ocasião do centenário de sua morte.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre o grande brasileiro, Machado de Assis, por ocasião do centenário de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2008 - Página 52432
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE MORTE, MACHADO DE ASSIS, ESCRITOR, COMENTARIO, BIOGRAFIA, EMPENHO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, APRENDIZAGEM, LINGUA ESTRANGEIRA, LEITURA, OPORTUNIDADE, TRABALHO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ELOGIO, SUPERIORIDADE, PRODUÇÃO, QUALIDADE, OBRA LITERARIA, DESCRIÇÃO, SOCIEDADE, PERIODO, BUSCA, ANALISE, CARATER PESSOAL, HOMEM.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, LEITURA, FORMAÇÃO, MACHADO DE ASSIS, ESCRITOR, NECESSIDADE, EXPERIENCIA, INCENTIVO, JUVENTUDE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Antonio Carlos Valadares, Srªs e Srs. Senadores, assisti, neste plenário, a dois Senadores falarem sobre Machado de Assis e quero refletir também sobre esse grande brasileiro. Parabenizo o Senado por ter realizado uma exposição acerca da vida desse brasileiro que pode ser uma referência com orgulho do povo brasileiro, porque Machado de Assis foi um diferencial na história do nosso País.

Assisti aos Senadores Marco Maciel e José Sarney ocuparem esta tribuna, neste ano que finda, para lembrar os 100 anos da morte de Machado de Assis, por meio de comentários e análises a respeito da vasta produção intelectual que ele deixou para o País. Aliás, é justo acentuar que Machado de Assis é imortal pelo fato de ser membro da Academia Brasileira de Letras e porque jamais será esquecido pelo povo brasileiro.

Também deixo aqui as minhas impressões sobre esse brasileiro que, acima de tudo, é um exemplo de vida que nos ensina a persistir sempre na busca da realização daquilo que nos parece impossível.

Machado de Assis é o brasileiro que agiu, para, usando sua força intelectual, desnudar e tentar compreender a alma humana, a fim de aperfeiçoá-la nos eventos contraditórios da existência e torná-la factível e não um atributo incompreensível.

A principal obra de Machado de Assis, no entanto, é a sua própria vida, e ele procura interpretá-la com todas as nuanças do tempo nos quais ele viveu intensa e produtivamente. Desempenhou, com força e disposição intelectual, as funções de romancista, dramaturgo, poeta, contista, cronista e jornalista. Os escritos de Machado de Assis dissecam as mazelas da sociedade dividida em classes, onde o que importa é o ter e não o ser. Com isso, ele pretendeu dessacralizar conceitos, valores e dogmas que a sociedade da sua época abraçava.

Pois bem. José Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no Rio de Janeiro, e morreu em 1908, na mesma cidade. Filho de Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e da portuguesa Maria Leopoldina Machado, lavadeira, Machado de Assis passou a infância na chácara de Dona Maria José Barros Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, onde a família viveu como agregada. Dona Maria José era viúva do Senador Bento Barros Pereira.

Seria até desnecessário afirmar que a juventude de Machado de Assis foi conturbada em razão do trauma da perda prematura dos pais e da irmã mais nova. Machado suportou a orfandade e venceu as dificuldades com trabalho, disciplina e leitura - muita leitura. Seus biógrafos sustentam que ele não freqüentou a escola regular e que seus contatos com professores teria ocorrido nas horas em que ele vendia doces na escola onde a madrasta se empregara após ficar viúva.

Machado de Assis, portanto, foi um autodidata. Imagino que ele adotou essa estratégia para vencer as dificuldades que a vida impunha aos pobres de sua época. A sua condição social lhe seria desfavorável caso ele não possuísse um espírito inquieto e uma imensa vontade e capacidade de iniciativa empreendedora. Essa situação o impulsionou para o aproveitamento de todas as oportunidades que favorecessem a sua formação e preparação intelectual.

É tomado por essa vontade que ele se torna um poliglota eficiente. Bastariam a ele, como estímulo para aprender novas línguas, as primeiras aulas de francês com o forneiro da padaria da Madame Gallot, em São Cristóvão, com quem o jovem Machado trabalhou. Desde, então, não lhe faltaram para dominar outros idiomas, como o inglês e o alemão, os quais ele falava, juntamente com o francês, de modo fluente. O resultado desse empenho e perseverança emergiu sob a forma de um intelectual inovador e produtivo, ou o gênio da palavra e das personagens ou ainda um exímio analista dos escaninhos da mente humana.

“Machado tratou de forma impassível e irônica a crueldade humana, o oportunismo e o parasitismo social”, ensina o professor de literatura Tenório Telles, em análise do romance Quincas Borba. O companheiro Tenório Telles é um professor e um intelectual importante lá de Manaus, no Amazonas.

O que dizer, sem hipérbole, de uma pessoa que, durante a vida, escreveu 9 romances, 9 peças de teatro, 200 contos, 600 crônicas, 5 coletâneas de poemas e ainda teve uma vastíssima atuação jornalística? Evidentemente que esses números nada representariam se não expressassem a qualidade que é uma das marcas da produção machadiana. Representariam pouco se eles não anunciassem também uma nova estética para a literatura brasileira, porque suas obras suscitam uma diversidade de emoções e sentimentos que conclamam o leitor a uma reflexão sobre a existência e suas implicações com o dia-a-dia.

É unanimidade entre seus biógrafos e críticos o reconhecimento de que só uma mente singular poderia penetrar profundamente na alma humana, expondo-a de modo que o leitor pudesse percebê-la em suas fragilidades, egoísta e vaidosa. Quem lê Machado percebe que ele é um crítico perspicaz dos costumes da sociedade da sua época, além de antever as transformações tecnológicas que aconteceriam no século XX.

É por isso que as suas obras são clássicas. Elas não se perderam na pressa dos que almejam a satisfação fugaz dos leitores. O repertório dele é tecido na consciência social que não só interpreta e interfere na atualidade, mas que, sobretudo, destaca a conduta humana como fonte de contradições permanentes, ou seja, as personagens, as cenas e os cenários de Machado de Assis não se derretem no tempo. Em vez disso, amadurecem e se atualizam na mente dos leitores.

Sr. Presidente, tenho mais algumas páginas sobre esse grande brasileiro. Solicito que o discurso, na sua totalidade, faça parte dos Anais do Senado por refletir acerca de um brasileiro de que tenho orgulho. Machado é uma referência. Machado de Assis é o diferencial. Machado de Assis deve ser buscado principalmente pela juventude, pelos brasileiros de hoje como um homem que não se curvou frente às dificuldades. É um exemplo de persistência, é um exemplo de coragem.

Muito obrigado Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR JOÃO PEDRO.

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O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senadores que também se destacam nas letras, como o Senador Marco Marciel e o Senador José Sarney, já ocuparam esta tribuna, neste ano que finda, para lembrar os cem anos da morte de Machado de Assis, por meio de comentários e análises a respeito da vasta produção intelectual que ele deixou para o país. aliás, é justo acentuar Machado de Assis é imortal pelo fato de ser membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e porque jamais será esquecido pelo povo brasileiro.

Eu também quero deixar aqui as minhas impressões sobre esse brasileiro que, acima de tudo, é um exemplo de vida, que nos ensina a persistir, sempre, na busca da realização daquilo que nos parece impossível. Machado de Assis é o brasileiro que agiu, para, usando sua força intelectual, desnudar e tentar compreender a alma humana, a fim de aperfeiçoá-la nos eventos contraditórios da existência e torná-la factível e não um atributo incompreensível.

A principal obra de Machado de Assis, no entanto, é a sua própria vida, e ele procura interpretá-la com todas as nuanças do tempo nos quais ele viveu intensa e produtivamente. desempenhou, com força e disposição intelectual, as funções de romancista, dramaturgo, poeta, contista, cronista e jornalista. Os escritos de Machado de Assis dissecam as mazelas da sociedade dividida em classes, onde o que importa é o ter e não o ser. com isso, ele pretendeu dessacralizar conceitos, valores e dogmas que a sociedade da sua época abraçava.

José Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no Rio de Janeiro, e morreu em 1908, na mesma cidade. Filho de Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e da portuguesa Maria Leopoldina Machado, lavadeira. Machado de Assis passou a infância na chácara de Dona Maria José Barros Pereira, na ladeira nova do livramento, onde a família viveu como agregada. Dona Maria José era viúva do Senador Bento Barros Pereira.

Seria até desnecessário afirmar que a juventude de Machado de Assis foi conturbada em razão do trauma da perda prematura dos pais e da irmã mais nova. Machado suportou a orfandade e venceu as dificuldades com trabalho, disciplina e leitura, muita leitura. seus biógrafos sustentam que ele não freqüentou a escola regular, e que seus contatos com professores teriam ocorrido nas horas em que ele vendia doces na escola onde a madrasta se empregara após ficar viúva.

Machado de Assis, portanto, foi um autodidata. imagino que ele adotou essa estratégia para vencer as dificuldades que a vida impunha aos pobres da sua época. A sua condição social lhe seria desfavorável, caso ele não possuísse um espírito inquieto e uma imensa vontade e capacidade de iniciativa empreendedora. Essa situação lhe impulsionou para o aproveitamento de todas as oportunidades que favorecessem a sua formação e preparação intelectual.

É tomado por essa vontade que ele se torna um poliglota eficiente. Bastariam a ele, como estímulo para aprender novas línguas, as primeiras aulas de francês com o forneiro da padaria da Madame Gallot, em São Cristóvão, com quem o jovem machado trabalhou. desde então, não lhe faltaram ânimo para dominar outros idiomas, como o inglês e o alemão, os quais ele falava, juntamente com o francês, de modo fluente. O resultado desse empenho e perseverança emergiu sob a forma de um intelectual inovador e produtivo; ou o gênio da palavra e das personagens; ou ainda um exímio analista dos escaninhos da mente humana.

Machado tratou de forma impassível e irônica a crueldade humana, o oportunismo e o parasitismo social, ensina o Professor de Literatura Tenório Telles, em análise do romance Quincas Borba.

O que dizer, sem hipérbole, de uma pessoa que, durante a vida, escreveu nove romances, nove peças de teatro, 200 contos, seiscentas crônicas, cinco coletâneas poemas e que ainda teve uma vastíssima atuação jornalística? Evidentemente que esses números nada representariam se não expressassem a qualidade que é uma das marcas da produção machadiana. Representariam pouco se eles não anunciassem, também, uma nova estética para a literatura brasileira, porque suas obras suscitam uma diversidade de emoções e sentimentos que conclamam o leitor a uma reflexão sobre a existência e suas implicações com o dia-a-dia.

É unanimidade entre seus biógrafos e críticos o reconhecimento de que só uma mente singular poderia penetrar profundamente na alma humana, expondo-a de modo que o leitor pudesse percebê-la, em suas fragilidades, egoísta e vaidosa. Quem lê Machado percebe que ele é um crítico perspicaz dos costumes da sociedade da sua época, além de antever as transformações tecnológicas que aconteceriam no século vinte.

É por isso que as suas obras são clássicas. Elas não se perderam na pressa dos que almejam a satisfação fugaz dos leitores. O repertório dele é tecido na consciência social que não só interpreta e interfere na atualidade, mas que, sobretudo, destaca a conduta humana como fonte de contradições permanentes. Ou seja: os personagens, as cenas e os cenários de Machado de Assis não se derretem no tempo. Em vez disso, amadurecem e se atualizam na mente dos leitores.

O que impressiona nessa alma irrequieta é o desejo de conhecer muito além dos limites que lhes seriam impostos pela condição social. Leitor voraz, Machado de Assis bebeu na fonte da literatura mundial da sua época. Os autores que mais lhe influenciaram, conforme os especialistas machadianos, foram Wiliam Shakespeare, Voltaire, Luciano de Samósata, Laurence Sterne, Arthur Schopenhauer, Jonathan Swift, Edgar Allan Poe, mais os brasileiros José de Alencar e Manoel Antônio de Almeida. Entre os autores que ele verteu para o português estão Alexandre Dumas, Victor Hugo e Allan Poe.

Entre os influenciados pelas obras de Machado de Assis, encontram-se Carlos Drumound de Andrade, Graciliano Ramos, Murilo Rubião, Milton Hatoum, entre outros]

As fontes de Machado de Assis, para o enfoque de minhas impressões, são tão importantes quanto as suas obras. Primeiro, porque elas revelam uma parte substancial da origem da potência intelectual do gênio. Segundo, porque esse fato serve de exemplo aos que têm a aquisição do conhecimento como meta, mesmo que não tenham a genialidade do bruxo do cosme velho. Machado conquistou lugar de destaque na literatura mundial graças à sua capacidade intelectual e ao milagre da leitura, experiência vivida desde tenra idade. ou seja: antes de ser o grande escritor, ele foi o grande leitor.

A história desse brasileiro que viveu numa época em que o livro era um artigo raro para muitos, a meu ver, é uma vida exemplar para a contemporaneidade: ela é capaz de contagiar e estimular milhares de jovens ao hábito da leitura, porque compartilho com a idéia de que a literatura é um meio de inclusão social. Recorro à autoridade do Professor de Literatura e escritor Milton Hatoum para explicar que é o próprio Machado de Assis quem faz questão de expor, por meio de seus personagens, as marcas do contato literário mantido com autores consagrados. Esse aspecto pode ser compreendido, também, como incitamento ao desejo do leitor por conhecimento.

Portanto, as homenagens a Machado de Assis valorizam o amor próprio dos brasileiros e das brasileiras. Tê-lo entre os maiores escritores do mundo é prova de que o esforço pessoal supera as dificuldades geradas pela condição social. A história de vida do maior escritor brasileiro nos conclama para a responsabilidade de trabalharmos para promover a educação como fator de inclusão social.

Srªs e Srs. Senadores, a minha abordagem sobre Machado de Assis remete mais ao exemplo de vida que ele nos legou e menos ao esmiuçamento da sua explendorosa produção artístico-literária. Esse último assunto é um desafio até mesmo para os especialistas machadianos.

Por isso, aproveito para destacar, também, o fato de Machado de Assis ser o primeiro Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição fundada no final do século 19, que conquistou a estima e o respeito dos brasileiros e das brasileiras pelos relevantes serviços prestados à cultura do País. a ABL, que tem entre seus imortais os Senadores José Sarney e Marco Maciel, traduz e realiza os ideais machadianos de incentivar a leitura, de estimular o surgimento de novos escritores e de participar da vida política e social do País.

E foi a ABL que mobilizou o País em torno da memória do seu eterno Presidente.

Parabenizo, por fim, os organizadores da exposição sobre a vida e obra de Machado de Assis que se realiza nas dependências do Senado Federal. Esse evento enaltece esta casa, onde Machado de Assis trabalhou como jornalista.

Era o que eu tinha para este momento.

Muito obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2008 - Página 52432