Discurso durante a 249ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre a atual situação da cidade de Guaribas, símbolo do programa Fome Zero.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação sobre a atual situação da cidade de Guaribas, símbolo do programa Fome Zero.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2008 - Página 53892
Assunto
Outros > ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, JORNALISTA, DENUNCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, COMBATE, MISERIA, MUNICIPIO, GUARIBAS (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), INFERIORIDADE, INDICE, DESENVOLVIMENTO, POPULAÇÃO, AUSENCIA, RECURSOS, SETOR PUBLICO, FINANCIAMENTO, INFRAESTRUTURA, EDUCAÇÃO, SAUDE, ABASTECIMENTO DE AGUA, ENERGIA ELETRICA, APRESENTAÇÃO, PESQUISA, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), MUNICIPIOS, MANUTENÇÃO, SUBDESENVOLVIMENTO, REGIÃO.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Dornelles, que preside esta sessão de 18 de dezembro, iniciada no início da tarde, estamos aqui, e apenas queria concluir esta sessão, lendo um trabalho muito importante.

Senador Dornelles, V. Exª conheceu Carlos Castello Branco. Carlos Castello Branco, piauiense, sem dúvida, foi um dos jornalistas mais importantes da história do Brasil. No período da ditadura revolucionária, ninguém mais do que Carlos Castello Branco traduzia os sentimentos libertários do nosso povo. Os parlamentos eram censurados, e, na imprensa, havia um homem de coragem, sábio, um piauiense. Por isso, no nosso hino, está escrito: “Piauí, filha do sol do Equador, terra querida, pertencem-te nossos sonhos, nossos amores, nossa vida. Na luta, teu filho é o primeiro que chega”. Assim pensou nosso poeta Da Costa e Silva. E Carlos Castello Branco, o Castellinho, foi esse. Foi, sem dúvida nenhuma, o jornalista mais respeitado e corajoso, que fez renascer a democracia, tanto que, mesmo depois de morto, jornais do Rio de Janeiro tinham a Coluna do Castello.

Zózimo Tavares é o que mais se aproxima de Carlos Castello Branco, no Piauí: intelectual, forte, firme, de Academia de Letras, autor de vários livros. E é muito oportuno. Eu me lembro de que dizia e advertia o Presidente Luiz Inácio - advertia, porque nós somos mais experientes do que ele, nós estudamos mais do que ele, e estudo tem valia, leva à sabedoria. Está no Livro de Deus que sabedoria vale mais do que ouro e prata. Nós dávamos sinal amarelo, votamos em Luiz Inácio.

Então, Zózimo Tavares, atentai bem: seis anos atrás, o Fome Zero, esses programas sociais, contra o estudo, contra a civilização. A sabedoria oriental nos ensinou, há muito tempo - digo a oriental, porque é mais velha do que a ocidental, que vivemos; sabemos até mais da ocidental, é a nossa cara: a Grécia; a Itália; a França, que V. Exª, Francisco Dornelles, tanto ama, em que tanto aprendeu; a Inglaterra, da Revolução Industrial; os Estados Unidos e aqui. Na oriental...

Quer dizer, o saber é antigo. É clássico. O serviço social tem o seu fundamento: não dê um peixe, procure ensinar a pescar. Traduzindo, Luiz Inácio, é o trabalho. Ensinai e dai uma profissão. Rui Barbosa está ali, porque traduziu isso: a primazia é do trabalho e do trabalhador. Ele vem antes, faz a riqueza. Não é dos banqueiros, que vieram depois. Eles estão aí, aumentando e dominando o mundo. E o mundo, sofrendo. Os pobres estão aí. O mundo todo se une para dar dinheiro a eles, que sempre tiveram. É aquilo que diz o povo: a água corre para o mar, e o dinheiro está, cada vez mais, correndo para os banqueiros, Luiz Inácio.

Zózimo Tavares: Guaribas continua na miséria. Vocês se lembram? Guaribas, Guaribas. Eu ficava indignado de utilizarem uma cidade rural, lá em cima da Serra das Confusões, no sul do Piauí, para fazer marketing. Guaribas foi anunciada como modelo do Fome Zero. Guaribas, Guaribas. E aí, era aquela do Goebbels: uma mentira repetida, repetida se torna verdade: Fome Zero.

O que diz o nosso Zózimo Tavares?

Guaribas continua na miséria.

Foi em vão o esforço do governo federal, que mobilizou todo o seu ministério, e do governo do Paiuí para tirar o município de Guaribas da miséria. Quando o presidente Lula [o Senhor Luiz Inácio] assumiu o cargo pela primeira vez, em 2003, Guaribas foi eleita como cidade-símbolo do Fome Zero. E um incontável número de intervenções foi anunciado para o município, cujo isolamento e a ausência dos benefícios públicos, bem como a falta de infra-estrutura e de serviços de educação, saúde, água e energia transformavam Guaribas na cidade com o mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Urbano) do país.

A situação de Guaribas era tão crítica que o presidente Lula, depois de empossado, cogitou fazer a sua primeira viagem para lá. O plano só não foi adiante porque a cidade não tinha a menor condição de receber o presidente e toda a sua comitiva. Nem água a cidade tinha. Muita promessa foi feita, muita propaganda foi espalhada, o tempo passou... 

Vocês se lembram, foi a primeira caravana ministerial ao Piauí. E divulgaram que iam transformar Guaribas em cidade-modelo.

A pesquisa PIB dos Municípios 2003-2006, divulgada ontem pelo IBGE, mostra que, em 2006, Guaribas continuava atolada na miséria, com o menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre os 5.564 municípios brasileiros. Além disso, a administração pública representava 52% de sua economia.

Em outras palavras, a situação de Guaribas é a mesma de seis anos atrás, quando a cidade foi adotada, tanto pelo governo estadual quanto pelo governo federal [ambos são do PT; a incompetência é casada, é marcada]. Ela foi transformada, com alarde, num laboratório de combate à pobreza. Fica difícil aceitar, hoje, que, com tanta força junta, o Governo não tenha sido capaz de mudar a situação física, econômica e social de uma cidade de 4.500 habitantes.

Olha, se esse Governo trapalhão, de aloprados, tivesse pego o dinheiro mesmo da mídia, da propaganda, da enganação, da mentira, e investido, era outra coisa.

“Ou o Governo foi muito incompetente”, diz Zózimo Tavares, cronista mais sério, da Academia de Letras, “ou tudo não passou de propaganda. Mais grave: de propaganda enganosa”.

Foram só os aloprados ganhando dinheiro. As obras não existiam. É só para roubarem. É só mentira. O Piauí está um caos.

Ó Luiz Inácio, Camões diria “nunca d’antes”, Vossa Excelência disse “nunca antes”. Qualquer um, como Camões, nunca antes Guaribas esteve tão ruim.

Vou terminar o diagnóstico desse jornalista íntegro, bom caráter, raro, talvez seja o mais sério jornalista do Brasil. Isso é comum no Piauí. O mais sério Ministro do Planejamento, Garibaldi, foi João Paulo dos Reis Velloso - I PND, II PND, vinte anos sendo a luz, deu o exemplo: nunca uma corrupção, nunca uma indignidade, numa uma imoralidade.

O jurista que pode estar do lado ali é Evandro Lins e Silva.

Garibaldi está suando a camisa, não está dormindo, está trabalhando, está lutando para se igualar a Petrônio Portella. Eu estava do lado dele quando os militares fecharam com canhões esta Casa. Deus me permitiu estar do lado de Petrônio, porque ele permitiu, como Garibaldi, a livre votação dos legisladores. A votação, naquele tempo, era de uma reforma do Judiciário, e os canhões fecharam este Senado. Petrônio reagiu, Garibaldi. Atentai bem, Presidente Garibaldi! Com Petrônio, a sua força, a sua autoridade - eu aprendi - era moral. Ele só disse uma frase, a imprensa toda, como V. Exª ali - eu do lado, por acaso, da história, ou Deus me preparando; todos em cima de Petrônio e os canhões aí fora -, e ele só disse uma frase, Garibaldi: “Este é o dia mais triste da minha vida”.

Eu vi, eu aprendi ali que a autoridade é moral, e V. Exª tem moral, Garibaldi. V. Exª engrandece este Poder. Este Poder é como o mundo concebeu, como os fundadores da democracia, simbolizados por Montesquieu, que esta seja a pilastra mais importante da democracia, porque somos povo, somos competência, somos experiência. O Cícero dizia “O Senado e o povo de Roma”; nós hoje podemos dizer o mesmo. Mas eu terminaria, para fazer pensar o caos que está aí, a mentira, terminaria com a frase de Zózimo - não é minha não: “Ou o governo foi muito incompetente ou tudo não passou de propaganda. Mais grave: de propaganda enganosa”. Zózimo Tavares: “Guaribas continua na miséria”.

Ó Presidente Luiz Inácio - eu sempre repito, e Rui Barbosa dizia que, para a gente aprender uma coisa, Garibaldi, a gente tem que aprender sete vezes, esquecer sete e sair para a oitava, então vou repetir para o Luiz Inácio.

Presidente Garibaldi, quando for ao México, vá ao Palácio, à praça. General Oregon: prefiro um adversário que me diga as verdades do que um puxa-saco, um aloprado que me engane. Essa é uma verdade, Luiz Inácio. Mas nós confiamos. Vossa Excelência é bondoso, é generoso, mas essa é a verdade. É o Zózimo Tavares.

Vi, há pouco tempo, o Garibaldi orgulhoso com um jornalista do Rio Grande do Norte no dia em que homenageavam o Sarah Kubitschek. Como era o nome do jornalista cujo artigo V. Exª leu? (Pausa.)

Este, Zózimo Tavares, é o orgulho do Piauí, como V. Exª estava orgulhoso com aquele artigo do jornalista de sua terra.

Essas são nossas palavras. Mas, Presidente Luiz Inácio, vim pedir o Natal do Piauí. Está no livro de Deus e a minha mãe me ensinou que a gratidão é a mãe de todas as virtudes. Seja agradecido ao Piauí. O porto está parado - é só conversa - , o porto de Luís Correia. A estrada de ferro? Enganaram o Alberto Silva. Não trocaram um dormente. A Cepisa? Os aloprados roubaram toda. Está um apagão no Piauí. Uma ponte que o Governo Federal faz lá, Garibaldi, eu a fiz em 87 dias no mesmo rio. Está há seis anos deste Governo parada. Então, é isso: o cerrado sem coisa e a cidade do Piauí, Guaribas... Enganaram Vossa Excelência. Eu sei, Luiz Inácio, eu governei, fui prefeitinho, governador. Ainda não fui Presidente. Sei lá se Deus me leva para a Presidência da República! Tenho fé em Deus. Eu estou é preparado mesmo, igual ao Garibaldi aí. Posso aprender isso.

Garibaldi, está um caos o Piauí, mas eu confio no Presidente Luiz Inácio. Essa é a verdade. Está aí o Natal. Essa é verdade. Nós só queremos isso, e o povo do Piauí merece.

O povo do Piauí acreditou em Vossa Excelência, sempre Vossa Excelência ganhou as eleições; mesmo naquelas em que perdeu, tinha uma votação extraordinária. E agora. Até eu acreditei que fui decisivo para o PT ganhar o Governo. Agora, quero dizer, Garibaldi: arrependimento não mata não, porque, se matasse, eu morria aqui e agora.

Agradeço a sensibilidade do Presidente Garibaldi em ouvir a conclusão e parabenizá-lo. Quero dizer publicamente que S. Exª já está entre os melhores Presidentes da história desta Casa.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2008 - Página 53892