Discurso durante a 249ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o Brasil, a crise sistêmica global e a esperança do povo brasileiro.

Autor
Virginio de Carvalho (PSC - Partido Social Cristão/SE)
Nome completo: Virginio José de Carvalho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Reflexão sobre o Brasil, a crise sistêmica global e a esperança do povo brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2008 - Página 53936
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, MUNDO, LIBERAÇÃO, CREDITOS, SALVAMENTO, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, POSSIBILIDADE, FALENCIA, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.
  • ANALISE, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, AUMENTO, IMPOSTOS, COMENTARIO, REUNIÃO, ESPECIALISTA, ECONOMIA, CONTINENTE, EUROPA, DEFESA, NECESSIDADE, INTERVENÇÃO, ESTADO, COMBATE, CRISE.
  • ANALISE, PROTEÇÃO, ESTADO, LIBERALISMO, MERCADO, QUESTIONAMENTO, NEGLIGENCIA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ESPECIFICAÇÃO, COMBATE, MISERIA, REGISTRO, LUTA, ORADOR, BUSCA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, JUSTIÇA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO, POPULAÇÃO, REFORÇO, MERCADO, EMPRESA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. VIRGÍNIO DE CARVALHO (PSC - SE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srs. Membros da Mesa, Srªs e Srs. Senadores, povo brasileiro, estamos chegando ao fim de mais um ano e todo fim de ano é sempre um convite à reflexão. Sendo a responsável imediata pela leve iluminação dos vãos e desvãos que habitam múltiplas áreas de nossa existência, a reflexão seria, portanto, a irmã mais próxima da sabedoria; uma auxiliar de confiança do bom senso e uma prima prestimosa do equilíbrio. Entreguemo-nos, então, por uns momentos, aos auspícios desta senhora inaudita e... reflitamos.

Antes de adentrar ao lugar secreto dos anos que se vão, 2008 revelou ao mundo um problema e deixará para o ano seguinte o espectro tenebroso de uma crise sistêmica global: o mundo parou!

E como diz o poema de um dos nossos bardos mais imaginativos: “De repente do riso fez-se o pranto/Silencioso e branco como a bruma/E das bocas unidas fez-se a espuma/E das mãos espalmadas fez-se o espanto”.

O mundo, tão cheio de certezas e convicções, de repente parou num pântano de dúvidas e descaminhos. O caminho especulativo adotado pelas nações mais ricas do planeta balizou a crise atual, que teve seu epicentro nos Estados Unidos, e deu início a uma seqüência explosiva de bolhas especulativas nos setores imobiliário e financeiro, atingindo, por fim, a economia real e o setor produtivo, desta e das demais nações desenvolvidas, em todos os continentes.

Dito isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, devo ressaltar que não é desejo meu gastar o precioso tempo discorrendo sobre assunto tão debatido durante a segunda metade do ano. Não só nesta Casa, mas também nos mais variados setores de mídia do Brasil e do mundo. Além do mais, estou deveras convicto da sapiência de V. Exªs e tenho sido um ávido e grato aprendiz de seus conhecimentos.

Mas há, porém, um fator de preponderância insofismável, que não podemos relegar a um plano inferior: o clamor infindável daqueles que jamais tiveram oportunidade de viver fora da crise, já que toda a vivência tem sido estabelecida sob crise constante, seja na pobreza ou ainda na falta insistente de perspectiva em solucioná-la. Para estes, senhoras e senhores, não há nova crise, a vida apenas continua.

A crise, entretanto, pôs a Terra de ponta-cabeça. O mundo tem assistido, estupefato, ao clamor desesperado de gigantescas corporações financeiras, solicitando o apoio salvador do Estado. Tem-se assistido à morte lenta e agonizante de grandes montadoras de veículos, que antes, aliadas ao produto também jactancioso do petróleo, imperavam soberanas no mundo autoritário dos negócios, conduzindo umas das maiores cadeias produtivas. Não deixa de ser um quadro lamentável, observá-las debatendo-se como um peixe fora d’água, clamando por oxigênio, jogados na praia da realidade.

Temos aqui, portanto, um paralelo curioso que a crise atual expõe de modo frio e desconcertante. Tanto a classe menos favorecida como a mais abastada, em tempos de aperto, busca sempre o colo aconchegante e reparador do Estado.

Sem querer imiscuir-me nos caminhos dos instrumentos teóricos da macroeconomia, nem me estribar em uma análise descabida das correntes discordantes de tal ciência, devo, porém, recordar que nos últimos anos tem-se ouvido a exigência altissonante por um mercado cada vez mais livre e por um Estado cada vez mais isento e ausente, para não dizer submisso. O ano de 2008 demonstra mormente, através dos fatos, que há motivos de sobra para discussão mais acurada sobre o assunto.

Os pobres do mundo, todavia, há muito que clamam por medidas que possibilitem a redução de sua crise, enquanto teorias e fórmulas econômicas procuram sempre lhes negar o braço amigo do Estado. Estado este que lhes cobra com rigidez indisfarçável os impostos que, na maioria das vezes, se apresentam tanto abusivos quanto improdutivos. A única opção que tais teorias lhes concedem é a do mercado, uma entidade imaterial, sem comando e sem controle aparentes.

Agora, vejam só, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como sabem, há uns poucos meses, houve uma reunião na Europa com a elite intelectual da economia do mundo e nela concluiu-se que a solução do problema seria a intervenção do Estado em todo o processo. Ou seja, o Estado assumiria o ônus e teria que fazer vigorosos aportes de dinheiro público para conter a dita crise mundial.

Diante de fato tão pitoresco, uma pergunta se faz necessária: qual o papel do Estado diante de um mercado livre e indomável? E até quando os pobres do mundo devem esperar pela solução do mercado para redução dos seus dilemas, posto que até o mercado, agora, necessita da colaboração do Estado?

Quero dizer aos caros Colegas que deixo aqui nesta Casa tais indagações, porque eu mesmo tive a oportunidade de viver por vários anos, juntamente com minha família, em cidades do vasto e pobre continente africano. Com o perdão pelo o exemplo próprio e particular, conheço bem a dor da miséria de muito perto. Outrossim, é sabido que estou nesta Casa representando um Estado da região Nordeste, uma das mais carentes do mundo. Em determinados povoados, a pobreza da minha Região assemelha-se bastante com a que se vê nas nações mais pobres do mundo.

Por outro lado, também tive a feliz oportunidade de morar em países mais prósperos da Europa, como a França e a Suécia. E tenho hoje filhas e netos que optaram por morar e atuar profissionalmente nos Estados Unidos e na Bélgica.

Assim, por força dos trabalhos eclesiásticos e de cunho educacional, nos tornamos uma família brasileira pelo mundo. Estamos intimamente familiarizados com o que há de melhor nas grandes economias mundiais, mas também com o que há de mais aviltante em sistemas ainda claudicantes e sem direção. Quero dizer, portanto, senhoras e senhores, que a minha formação humanista, consonante com a minha fé dizem que nada pode ser mais prioritário, resguardados evidentemente todos os princípios éticos, do que o bem estar do ser humano.

E a que ponto, aqui, desejo chegar? Quero dizer que estou convencido, pela minha pequena experiência, que o Estado jamais deve eximir-se da responsabilidade de prover cuidados excepcionais ao cidadão que não conseguiu inserir-se dentro da veloz alto-estrada do sistema de mercado. Ou seja, o Estado para quem necessita do Estado.

Seria, então, esta pequena reflexão uma apologia ao retorno de um Estado onipresente, feroz regulador das ações do mercado e da vida do cidadão? De forma nenhuma. Seria, então, a defesa de um Estado autoritário e bastante em si mesmo para resolver os problemas de sua população? Também não creio. Não há necessidade de se demonstrar, devido a sobejos exemplos históricos e atuais, quais os custos pagos por várias gerações pela presença exagerada de um Estado ineficiente.

Se, todavia, não se enxerga neste discurso uma defesa da liberdade incondicional do mercado, também está longe de ser um ataque. Não há como fechar os olhos aos pontos positivos que uma economia de mercado, sólida e bem conduzida, proporciona a uma nação embalada em berço democrático.

Por assim pensar, não faço parte, por exemplo, dos que acham que as empresas não devam contar com o apoio do Estado. Não acredito que o Estado deva ser indiferente aos apuros que atravessam algumas grandes corporações. Creio que os especialistas e os gestores estão aptos para analisar as facetas variadas de cada caso. Como dito, ressalvadas as responsabilidades individuais, o Estado deve atuar onde preciso, para o bem comum.

O que se deseja enfatizar com esta breve reflexão, Srªs e Srs. Senadores, são as lições que este momento de crise nos traz. E gostaria de ressaltar duas delas que talvez nos ensinem algo para levarmos para o ano que vem vindo. A primeira é que sejamos ricos ou pobres, sempre haverá o dia em que vamos precisar de algo ou de alguém. A segunda é que só podemos ter uma nação forte, com empresas fortes e mercado solidificado, se a imensa maioria dos cidadãos desta nação deixar a linha da pobreza e viver com força, com fé, com dignidade e com orgulho de pertencer a uma nação que pratica a bondade e a justiça social.

Uma nação não pode caminhar rumo ao desenvolvimento sem levar consigo os seus cidadãos. Nação forte é reflexo de forte cidadania. Forte cidadania é reflexo de fortes instituições. Fortes instituições são reflexos de fortes cidadãos. Fortes cidadãos são reflexos, portanto, de políticas públicas fortes e eficientes. E políticas públicas eficientes são espelhos de uma nação que prima pela instrução e educação dos seus filhos.

Sr. Presidente, Srªs Srs. Senadores, o povo brasileiro é singular, por isso há que se fazer um pouco mais por ele. Há que se promover, com constância incansável, o resgate e a totalidade de sua cidadania. É um povo alegre, altaneiro e otimista. E não vai se entregar a qualquer vento de crise que possa vir de qualquer frente fria do norte.

É para este povo que quero primeiramente desejar um Feliz Natal e um Ano Novo próspero cheio de fé, paz e alegrias. Quero dizer que a tempestade vai passar e que um novo dia vai surgir, cheio de bonança e tranqüilidade. A mão do Senhor fará isto. Aos caros Colegas desta Casa, quero desejar o mesmo, com o meu abraço fraterno. Devo dizer que tenho aprendido com as senhoras e os senhores a nobre e difícil arte de servir ao País, no âmbito do parlamento. Agradeço a paciência demonstrada com este novel Colega e devo registrar, com sinceros votos de apreço, que a companhia de todos me tem sido por demais agradável.

Como não poderia deixar de ser, agradeço a Deus pelo ano de 2008, pela vida dos senhores e por Ele continuar me permitindo servir a esta Nação maravilhosa.

Não posso me despedir sem dizer para aqueles que sofreram além dos limites, por qualquer motivo, e que não gozaram, assim, de um bom ano, que não se entreguem. Deus os consolará! Imaginem, por um instante, o desespero da lagarta diante da transformação do corpo minúsculo, da morte estranha que lentamente se aproxima. Parece o fim, mas, como se sabe, se elas não sofressem a dor do casulo, como poderiam voar livres, borboletas esvoaçantes, pelos campos mais floridos? A paz está a caminho.

Muito obrigado e fiquem com Deus!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2008 - Página 53936