Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a concentração de poder nas mãos do Presidente Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA NACIONAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com a concentração de poder nas mãos do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 14/02/2009 - Página 1784
Assunto
Outros > POLITICA NACIONAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), POSSIBILIDADE, POVO, UNIFICAÇÃO, LINGUA ESPANHOLA, LINGUA PORTUGUESA, REGIÃO, BRASIL, AMERICA DO SUL.
  • OPOSIÇÃO, EXISTENCIA, REELEIÇÃO, CARGO PUBLICO, EXECUTIVO, AVALIAÇÃO, EXCESSO, CONCENTRAÇÃO, PODER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, GESTÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, INDICAÇÃO, MINISTRO, JUDICIARIO, PREJUIZO, DEMOCRACIA, DESEQUILIBRIO, PODERES CONSTITUCIONAIS.
  • GRAVIDADE, AUMENTO, VIOLENCIA, BRASIL, COBRANÇA, GOVERNO, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Pedro Simon, ícone da democracia no nosso País, Parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros aqui e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado: a televisão, a Rádio AM, a Rádio FM, o Jornal do Senado, o Diário do Senado, o Semanário do Senado e a Agência de Notícias.

Ontem eu vi aqui o Presidente Sarney, que é um estadista, pela sua vida, pelo que passou. Bastava só um mérito. Deus quis que ele fizesse a transição democrática neste País.

A credibilidade de Tancredo tornou esse sonho uma realidade. Ele se imolou, foi aos céus e a missão o Sarney a cumpriu e redemocratizou isso com muita paciência, muita tolerância, sem um tiro, sem uma bala, sem uma turbulência... Enfrentou 12 mil greves. Temos poucos estadistas. Esse Fernando Henrique Cardoso é - e a gente não pode ter inveja e mágoa por isso - pelo estudo. Ele tem a sabedoria. Está até no livro de Deus: “A sabedoria vale mais do que o ouro e a prata”.

Pedro Simon, eu vi fazendo história o Fernando Henrique Cardoso, com o estudo que ele tem. Agora, estamos vendo o moreno lá que V. Exª elogiou. Aquele é filho do estudo, o Obama. Formado em Ciências Políticas, em Direito, orador influente. O Sarney ontem, comentando um discurso de Marco Maciel na Academia de Letras... Devemos homenagear Joaquim Nabuco, que vai fazer 100 anos de morto em 2010. Estamos em 2009, 100 anos, e ele, como Pedro Simon, foi às vezes uma voz isolada aqui. Nabuco, sozinho para libertar os escravos. Era oposição, era voz isolada. Como as coisas são difíceis, não é, Pedro Simon? Mas o Sarney disse que a palavra, a oratória, é responsável por 60% das conquistas. Napoleão Bonaparte disse uma vez que as palavras calam os canhões.

         E V. Exª usou da palavra. O nosso Presidente Luiz Inácio ouve pouco; fala muito, fala bem, se comunica... porque eu vi... Eu nunca votei no Presidente Fernando Henrique Cardoso - votei foi no Quércia, depois, por vizinhança, no Ciro -, mas ele é um estadista. Eu vi no final do seu governo, eu vi, Pedro Simon. Tornou-se um estadista quando ele disse: Presidente Luiz Inácio, nós não podemos resolver tudo. A história nos ensina. E o Luiz Inácio não precisa nem estudar tanto, é só meditar na história, a nossa história, nem a do mundo, vamos ficar na do Brasil. É, são as coisas assim mesmo.

         Dom João VI, que aqui governou, trouxe a modernidade burocrática, as noções de governo. Avançou muito e ninguém talvez... Essa história, nós que a fizemos, a de que ele era glutão... Ele era um homem muito inteligente, não é? De 1808 a 1821, quando ele saiu, não houve tanto progresso na história em treze anos como o que Dom João VI trouxe. É porque nós somos meio irados, nós ridicularizamos os portugueses. Não é assim, não! Ele era desbravador. Ele foi tão inteligente que eles iam ser destroçados por Napoleão, mas ele negociara com a Inglaterra a sua vinda para cá. Daí a dívida, depois... Não é o caso...

Ele abriu os portos, inaugurou as faculdades, trouxe a burocracia, conhecimento. Em 13 anos. Deixou seu filho, português também, mais ousado, de coragem. Ele tornou este País independente. E um homem de muita coragem e que largou tudo, deve ser amado. Temos que buscar... Infeliz do país que não recorda os seus heróis. Temos poucos heróis. Olha, poucos na história do mundo foram imperadores em dois extremos. Ele largou aqui e foi reconquistar Portugal. E reconquistou. Ele lá se tornou Pedro IV. Estava tomado lá, Portugal. E ele reconquistou e se tornou Pedro IV.

Mas, no tempo dele, Ortega y Gasset disse: “O homem é o homem e sua circunstância”. Ninguém escolhe a época de governar. No tempo de Pedro I era a independência, e ele a fez. E o seu filho, estadista. Eu imagino este nome Pedro. É nome de gente boa. Pedro II vamos estudar. É um livro muito bom, Pedro Simon, escrito por uma mulher: As Barbas do Imperador. Que beleza! Compara. Mauá, do seu Rio Grande do Sul, foram os maiores homens daquele século, do século XIX. Mauá, o gaúcho, órfão, que, com 9 anos, começou a trabalhar, o maior empreendedor e o maior político, Pedro II. Eles até se digladiavam.

Mas foi o que plantaram: um, o progresso e o desenvolvimento; e outro, essa unidade, essa grandeza do Brasil. Olha o nosso mapa, Luiz Inácio, todo dividido.

A língua... Eu não gostei daquele negócio do Mercosul, dizendo que nós vamos falar guarani. Não gostei, Pedro Simon. Você tem de me levar para lá para ser o seu assessor. A língua quem faz é o povo. Jânio Quadros teve a sua inspiração. Sabe que o Jânio Quadros pensou em unificar o português e o espanhol? É o que hoje nós chamamos de portunhol. Quem faz a língua é o povo. E ele existe. Atentai bem, Pedro Simon! Você está lá é para ensinar aquela turma toda. O senhor tem de ser o Presidente do Parlatino da América do Sul. Até me dá vontade de ser de lá para levantar a candidatura de V. Exª.

Mas já existe o galego, que é o portunhol. Eu estive na Galícia. É a mistura do português com o espanhol. Isso já existe. É até tem livro. Quando eu viajo, eu compro. Já tem livro. Quem faz a linguagem é o povo. E o latim, cadê? É o povo. Com esse negócio, esse intercâmbio cultural, o avião que está aí faz a linguagem; é o nosso garçom, é o nosso motorista, é o povo. Todos eles. Fala-se o galego. O galego existe porque Portugal é unido àquela parte da Espanha. O Norte de Portugal com a Galícia. Lá é o galego. O galego é o portunhol. Então, esse negócio de falar guarani não dá não. Vamos enterrar esse guarani.

Queria dizer que D. Pedro II fez a parte dele. Ele foi tão bom! Ele adentrava aqui - aqui, que eu digo é lá no Rio de Janeiro, simbolicamente -, deixava a coroa e o cetro e vinha para cá, Luiz Inácio. Aquele estadista, aquele estudioso, só foi para a Europa duas vezes. Esse negócio de viajar é mentira. Ele adentrava e sentava. Ele sonhava. Sabe o que ele queria ser, Luiz Inácio? Ele sonhava, quando largasse o trono, em ser Senador - os pais da Pátria.Todo mundo se lembra - a política é assim - de que, quando D. João VI já dissera: Pedro, bote a Coroa, antes que um aventureiro qualquer coloque a Coroa, talvez falasse daquele Simon Bolívar, que andava derrubando tudo que era Imperador, tudo que era Rei. Esse aventureiro era Simon Bolívar.

Essa é a história. E foi tão bom o Rei Pedro II, que ele foi para Paris, exilado, levou uma terra daqui num travesseiro, e lá no seu velório, em Notre Dame, Pedro Simon, os franceses, que fizeram nascer a democracia, o governo do povo, pelo povo, para o povo, cantando liberdade, igualdade, fraternidade, disseram: “Se nossos reis fossem tão bons como este que teve no Brasil, não tínhamos derrubado os reis”. Ele cumpriu a missão dele.

Aí veio a República: o Deodoro, o Floriano, e realmente a corrupção entrou nos pleitos eleitorais, e veio um bravo do Rio Grande do Sul contra a corrupção eleitoral, que está grande, está imoral, está vergonhosa. Mas nós podemos dizer e nós sabemos: nunca dantes teve tanta corrupção eleitoral como hoje! Por isso que estamos aqui, porque eu posso dizer: nunca dantes foi tão vergonhoso! Aí V. Exª está vendo. Esse Fernando Henrique é estadista. Ele só deu uma frase: “É, já começou a campanha, é contra a lei”. Eu acho que temos que obedecer a lei, mas o Luiz Inácio acha que não. Já está em campanha. As eleições últimas foram as mais imorais.

Ô, Pedro Simon, eu sei que V. Exª foi Constituinte. Eu não vou... porque eu iria atentar contra aqueles 513 e 80, entre eles Afonso Arinos, entre eles Ulysses, entre eles Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, V. Exª, mas acontece que ela interpretou um sentimento do povo, e o povo brasileiro é presidencialista.

E tem demonstrado isso, o foi para votar em João Goulart, o foi no último plebiscito.

Então, os constitucionalistas bons como V. Exª deram poder ao Presidente da República, que ele não devia ter: dele indicar a Corte Suprema, e isto não estava certo. Mas estava certo ali e eles fizeram certo, porque eles fizeram para quatro anos presidente. De repente, são oito. Eles não tiveram culpa.

Então, o Presidente da República está indicando tudo. Olha que ele tem errado, ele tem indicado gente de carteirinha do partido dele. E eu falo como médico. Eu sou o “Pai da Pátria” eu sou Senador. Eu sei psicologia. Eu sou Fluminense e quero que o Vasco se lasque. Você é Internacional, você quer que o Grêmio perca para qualquer um. Se isso tem para time de futebol, avalie para partido político.

Pessoas impregnadas de carteirinha, doentes que não pensam e não raciocinam! Esse foi o último pleito.

Cláudio Humberto disse: vocês vão ver boi voar. Nós vimos... Os prefeitos e tudo...

Então, já têm sete. Talvez essa bela Ellen Gracie diz que vai para o direito internacional, oito, são onze, ficou com o Poder Judiciário todo. Se dermos mais dias, ficará com todo o Poder Judiciário nomeado pelo Presidente.

Pedro Simon é V. Exª o responsável, é V. Exª o pai da democracia. Eu comprei um livro lá em Portugal que talvez não tenha aqui e lhe trouxe. Você parecia aqueles artistas, o Errol Flynn, Clark Gable, com o cachimbo, cabeludo, sonhando em renascer, sonhando não, brigando para renascer a democracia. E ela renasce do lado de Carlos Castello Branco, do Piauí, do qual nos orgulhamos.

Pedro Simon, mas está aí. De repente, ainda pensa em prorrogar. Não tenho nada contra o Luiz Inácio; eu tenho é a favor da democracia. A democracia dividiu o poder, acabou com L’etat c’est moi; o rei era um Deus na Terra, e fazia tudo o que quisesse. Dividiu o poder e essa alternância... E o poder dividido é equipotente, iguais, harmônicos, um freando o outro. Luiz Inácio é o Presidente e é o nosso Presidente. Eu votei nele em 95. É o nosso, não foi o Mark Keane que ensinou, não. E eu aprendi de Petrônio Portella a não agredir os fatos. Ele teve 60 milhões de votos, ganhou por 20 milhões de votos de um homem extraordinário, de virtudes cristãs, que eu votei nele. É o nosso Presidente, mas o Poder Executivo é muito forte, tem o dinheiro e o dinheiro, V. Exª sabe, é forte. V. Exª não ama o dinheiro, V. Exª é terceiro franciscano, tem voto de pobreza, mas, se esse dinheiro tenta e é forte, é forte. Quem desconhece?

Então, o Luiz Inácio tem o BNDES, o Luiz Inácio tem o Banco do Brasil, tem a Caixa Econômica e tem a maioria do povo brasileiro. Indicou o Judiciário quase todo. Acabou a democracia. Cadê o equilíbrio? Dois contra um. Estamos nós aqui. Este é o Senado mais importante da história, porque está enfrentando essas dificuldades. Somos nós que vivemos. O preço da democracia é a eterna vigilância. Estamos nós dois aqui vigilantes.

Luiz Inácio, nós somos o povo. V. Exª é povo, mas eu também o sou, assim como Pedro Simon, e nós simbolizamos... Aqui, Luiz Inácio, recebemos mais voto do que V. Exª - eu já somei. Aqui dá muito mais do que... Nós somos filhos, como o Presidente, do voto e da democracia. Nós somos os Pais da Pátria. Só há essa razão de significado, Pedro Simon. Nós estamos assim, mas nós simbolizamos muito; nós simbolizamos o povo e não vamos trair o povo. E esta Casa tem resistido e vai salvaguardar a democracia no Brasil, tenho certeza!

Pedro Simon, você falou e eu vim. Não deveria vir, porque Cícero disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. Falar depois de Pedro Simon, esse maior orador, é expor-se. Mas Pedro Simon, V. Exª provocou e disse a verdade. Eu sou lá do meu Piauí, do litoral. Quando V. Exª vai lá com a Ivete? Estamos aguardando.

         Pedro Simon, Padre António Vieira saía de Fortaleza para São Luís a pé. Padre António Vieira levava sessenta dias. Um rio seco do Ceará passava pela cidade de Cocal, que era Parnaíba, e há uma igreja velhinha que eu quero mostrar, demonstrando que os historiadores estão errando, porque a colonização no Piauí foi do interior para o litoral. Como? Se já havia essas cidades, tinha de haver civilização - São Luís, Fortaleza. Parnaíba está no meio, e no meio está a verdade.

         Padre António Vieira disse: “O exemplo arrasta. Palavra sem exemplo é como tiro sem bala”. V. Exª trouxe, eu sei, o Luiz Inácio talvez sem maldade. Mas aquele de dar o exemplo, de desrespeitar as leis, as denúncias... V. Exª citou o Presidente do Banco Central e se irradiou aí, pior do que a dengue. Aí está a violência, a barbárie que vivemos. Não é uma civilização, Pedro.

Pedro, viajei vinte dias por dois países. Andei dia e noite com a Adalgiza. Você já pensou em ir com a Ivete e namorar, às quatro horas da madrugada, numa praça do Brasil? Vá à Cinelândia namorar às quatro horas.

Eu convidaria o Presidente Luiz Inácio a namorar na praça da Cinelândia com a encantadora Primeira-Dama, Dª Marisa; eu convidaria a passear na Rua do Ouvidor, onde nós namorávamos. E essa é a violência. Irradiou-se, Pedro Simon, aquilo que você disse. O Padre Vieira disse que todo bem é acompanhado de outro bem; em contrapartida, todo mal é acompanhado de outro mal. E a violência irradiou-se, é coisa de agora.

Fernando Henrique Cardoso disse: “Cada um tem a sua missão”. Juscelino deu otimismo, desenvolvimento, botou a capital no coração do País; Sarney, a redemocratização; Presidente Collor, rapidamente, a modernização; Itamar, a moralização. Cada um cumpriu a sua passagem. Fernando Henrique ou Itamar, não vou saber de quem é o DNA, acabou com o monstro da inflação. Mas ele disse que é com a violência, Luiz Inácio, que V. Exª tem que ter cuidado. E ele não ouviu. E ela aí está. O Pedro Simon contou. E a violência está aí.

Pedro Simon, lá no meu Piauí, eu quero... E foi de agora, Luiz Inácio. Isso aqui é uma barbárie, é uma barbárie, é uma barbárie, não é civilização! Eu andei, agora, vinte dias, em dois países. Eu não vi, eu não vi, eu não vi, Luiz Inácio, um menino de rua pedir uma esmola. Pedro Simon, medite sobre isso. Eu não vi! E eu não iria para o Primeiro Mundo, não. Vou bem aí, a Buenos Aires, de madrugada, de mãos dadas com a Adalgisa. Não tem negócio de assalto, não.

Outro dia fui ao Chile. A gente veio de trem, Pedro Simon, quando vi, às duas horas da manhã, um casal de velhinhos, de noventa anos, entrando no trem. Daí, eu olhava assim eles cheios de jóias, às duas horas da manhã... Um casal de noventa anos. V. Exª tem ido a Montevidéu? Bem aí. As casas de Montevidéu e de Coral Gables, nos Estados Unidos, não têm muro, não. Essa é a verdade.

Na minha Parnaíba, quando eu era criança, como eu gostava de olhar as casas, principalmente as dos ricos, para ver os jardins e tudo. Pedro Simon, não se vê mais, não. Quem não tem muito dinheiro coloca caco de vidro em cima do muro e quem tem mais dinheiro coloca cerca elétrica.

Isso é de agora, Luiz Inácio. V. Exª viaja muito. Pedro II só viajou duas vezes para a Europa. V. Exª vê que é isso. Pedro Simon, eu governei o Estado do Piauí de 1995 até 2001 e todo domingo eu procurava estar em nosso litoral, para o qual eu o estou convidando. Tenho uma casinha na praia do Coqueiro e vou para a mais popular, a uns dez quilômetros. Então, eu acordava cedo aos domingos para não andar com aquela segurança que é chata e saía sozinho, Governador de Estado, por duas vezes. E quando não conseguia fazer esse cooper, esse exercício, no meu litoral... Toda semana, Pedro Simon, eu saía do Palácio de Karnak às onze horas da noite, porque Teresina é muito quente, para fazer exercício. Eram dez, doze quilômetros. Eu saía do Palácio, como um andante, com um amigo, com um secretário, andando de noite, e não tinha negócio de assalto. Não tinha.

Teve um militar lá que tinha um sindicato de crime e eu o prendi, o Correia Lima. Fiz aquela prisão administrativa e depois o promotor continuou, porque ele ainda está preso.

Mas, olha aqui o que hoje estamos tendo na nossa capital. Está aqui no jornal. Era pacata... Eu andava, nunca vi... Depois que Afonso Gil prendeu o chefe do crime organizado, que era um militar, dando sequência à minha prisão administrativa... E aqui está o jornal... Jornal bonito, Meio Norte, um jornal bonito. “Violência”. Aí manda chamar para a página interna: roubos, mais de um milhão, e tal. Aí vamos olhando... “Prejuízo dos comerciantes...” Está aqui uma página. “Foi o proprietário da Gil Panificadora, do Bairro Três Andares, Gil Resende, que foi assaltado 17 vezes em seis meses”. Está aqui: 17. Quer dizer, dá três, matematicamente, vezes por mês; um comerciante, três vezes...

           Pedro Simon, não há o Fundo de Participação, que vai para os prefeitos de 10 em 10 dias? Esse aqui é assaltado de 10 em 10 dias.

           E mais ainda: “Medo estimula vendas em domicílio”. O jornal... As farmácias... Há 500, 500 farmácias, e, a cada dia, são roubadas cinco, seis. Seis farmácias são assaltadas na capital do Piauí. Isso é uma barbárie, Luiz Inácio. Isso não é civilização.

           Pedro Simon, seis. Está aqui. E o jornal diz: “Comerciantes informaram que a cada dia são roubadas de cinco a seis drogarias e que eles não denunciam para não amedrontar os clientes”. Se eles forem, ninguém entra mais. E que isso aumentou as vendas em domicílio em 90%.

           Seis assaltos em farmácias em Teresina por dia. Isso não existe, Pedro Simon. Cadê as leis de Deus? Nós não obedecemos mais à Constituição, ao Senado da República.

           O empresário Edmilson Bezerra contou bastante alterado sobre a indignação de já ter sido assaltado várias vezes. Olha o que diz Edmilson Bezerra: “Isso nos leva a concluir que batemos na porta errada e continuaremos a ser assaltados”.

           Mais interessante: o negócio é tão grave, é tão... Isso está no Brasil todo.

Você perguntou sobre este livro, quem me deu foi um Secretário de Comunicação muito inteligente. Ele é uma inteligência... Ele foi do Grupo Claudino, sucesso, Silvio Leite - está aqui o oferecimento: “Senador Mão Santa, sou seu fã. Silvio Leite”. Ele foi Secretário de Comunicação, extraordinária inteligência. Ele ganha do Duda - o negócio é esse, está entendendo? Mas hoje ele é de turismo. O negócio é tão grave... E hoje ele tem interesses, tem empresa e foi ao Secretário de Segurança com dezenas de ameaçados.

Olhem o que diz Silvio Leite, quer dizer, do próprio Governo... Eu sei que o próprio Silvio Leite, que é Secretário de Turismo, se vê decepcionado. Então, ele diz assim: “Isso nos leva a concluir que batemos na porta errada e que continuaremos a ser assaltados”. Dito por um Secretário de Turismo, ex-Secretário de Comunicação, que foi assessor de comunicação do Grupo Claudino, conhecido. Rebateu o Secretário de Turismo Silvio Leite, proprietário da empresa PagContas, ao revidar a declaração do Secretário: “É como se a culpa fosse nossa e não dos bandidos”.

           Quer dizer, esse é o caos.

Pedro Simon, o povo gaúcho, todo o mundo, a história do Rio Grande do Sul é muito bonita, os costumes, o churrasco familiar, o vinho - in vino veritas. Há a Casa Valduga, o Miolo, o arroz de carreteiro, o amor à pecuária. Nós piauienses somos orgulhosos porque dizem que somos os gaúchos do Nordeste. Eu só não aprendi a usar o chimarrão.

Mas nós do Piauí, não sei se há lá, temos uma tradição. É um tal de velório. Velório. Morre, passa a noite de sentinela, rezando - até os pobres são mais fortes e ficam, e tal. Outro dia, Pedro Simon, chegamos lá de avião, à tarde, e disseram que tinha morrido um amigo influente nosso. Aí, como já estava tarde, eu virei e disse: Adalgisa, nós vamos para o velório, vamos de noite; está tarde, estamos cansados, não vamos direto do aeroporto, não, vai ter a noite toda. E eu fui ao velório. Aí, cheguei lá e disse: E aí? Não, nós já enterramos. Eu digo: mas ele não morreu quase seis horas da tarde? Porque é uma tradição, quando morre de manhã ainda enterra de tarde. Mas de tarde... Era isso, havia esta cultura, havia esta tradição: morreu de tarde, e o velório... Aí, os familiares disseram: não, ele morreu às cinco horas, mas nós enterramos logo, antes de o sol se apagar. Mas por quê?

Olha, aqui do lado, um vizinho morreu. Foram fazer o velório, os bandidos entraram na hora do velório, tiraram os sapatos, tiraram tudo; até o defunto assaltaram. Então, hoje se tem medo daquela nossa tradição cristã de fazer o velório, de encomendar, de fazer as rezas. Essa é a violência.

Então, aqui, Pedro Simon, iria buscar algum Senador comparável a V. Exª: Norberto Bobbio, da Itália. Cícero disse: pares cum paribus facillime congregantur - violência atrai violência.

Então, eu queria, Pedro Simon, buscar outro italiano, nós temos que criar isso. V. Exª é um exceção, é um estadista, é uma raridade, é um conselheiro, mas pessoas de grande história e grande saber devem estar aqui. Então, eles têm 15 cadeiras para pessoas de notoriedade e convidam a ser senador vitalício. Um deles era Norberto Bobbio.

Norberto Bobbio, ó, Luiz Inácio, diz nos seus ensinamentos, o mais importante: o mínimo que temos de exigir de um governo é segurança à vida, à liberdade e à propriedade.

Luiz Inácio, ainda está em tempo. V. Exª não ouviu o aconselhamento de Fernando Henrique Cardoso, mas ouça agora a voz do Senador do Piauí!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/02/2009 - Página 1784