Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da participação de S.Exa. em reunião com outros parlamentares da Amazônia Legal e com o Ministro Mangabeira Unger. Necessidade de se discutir a questão das hidrovias na Amazônia. Manifestação favorável à escolha de Manaus como sede de jogos da Copa do Mundo de 2014.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Relato da participação de S.Exa. em reunião com outros parlamentares da Amazônia Legal e com o Ministro Mangabeira Unger. Necessidade de se discutir a questão das hidrovias na Amazônia. Manifestação favorável à escolha de Manaus como sede de jogos da Copa do Mundo de 2014.
Aparteantes
Gerson Camata.
Publicação
Publicação no DSF de 12/02/2009 - Página 1502
Assunto
Outros > ESPORTE. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REUNIÃO, GRUPO, CONGRESSISTA, REGIÃO NORTE, ELOGIO, EMPENHO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, SECRETARIA ESPECIAL, PLANEJAMENTO, LONGO PRAZO, ESTUDO, REGIÃO AMAZONICA.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, ACIDENTE AERONAUTICO, MUNICIPIO, MANACAPURU (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), MORTE, PASSAGEIRO, DEFESA, NECESSIDADE, DEBATE, PROVIDENCIA, MELHORIA, ACESSO, PORTO, HIDROVIA, REGIÃO AMAZONICA, CRITICA, FALTA, EMPENHO, AUTORIDADE ESTADUAL, INVESTIMENTO, SEGURANÇA DE VOO, INFRAESTRUTURA, SERVIÇO AEREO, ATIVIDADE AEROPORTUARIA.
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, PREFEITO, MUNICIPIOS, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • DEFESA, INDICAÇÃO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), SEDE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, BRASIL, IMPORTANCIA, CONSERVAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, BENEFICIO, ATIVIDADE, PARQUE INDUSTRIAL, ZONA FRANCA, CAPITAL DE ESTADO, EMPENHO, GOVERNO ESTADUAL, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ESPECIFICAÇÃO, MELHORIA, AEROPORTO, SEGURANÇA, REGIÃO, ATENDIMENTO, CRITERIOS, FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL ASSOCIATION (FIFA), CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF).
  • REGISTRO, APOIO, SIMULTANEIDADE, ESCOLHA, ESTADO DO PARA (PA), SEDE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho a honra muito grande em abrir esta sessão presidida por V. Exª, precisamente me reportando à reunião dos Prefeitos de todo o Brasil com o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais ainda: acabo de participar de uma reunião com Parlamentares da região Norte - da Amazônia Legal, melhor dizendo - e com o Ministro Mangabeira Unger, que apresentou projetos densos e que merecem estudo até por ser o Ministro Mangabeira Unger um intelectual, uma figura de peso, que erra ao formular, acerta ao formular, mas formula, o que é raro. Geralmente, todos leem o que os formuladores escrevem. Ele formula sujeito a chuvas e trovoadas, a críticas e elogios. Eu elogio o fato de ele estar se dedicando com afinco ao estudo da realidade amazônica, Senador Camata. O Ministro Mangabeira Unger está estudando com afinco e senso de realidade.

Tivemos há pouco tempo um trauma muito grande, que foi esse acidente aéreo no Município de Manacapuru. As causas estão sendo avaliadas. Eu já disse desta tribuna e repito que confio na idoneidade da empresa. É uma empresa pela qual eu voo quando faço as minhas vilegiaturas pelo interior do Estado. Vou continuar voando por ela. Não tenho nenhuma razão para desconfiar da perícia dos seus pilotos, da decência dos seus dirigentes. Mas, obviamente, as investigações têm de ir até o final, porque 24 vidas foram ceifadas, quatro sobreviventes, a agonia de um ribeirinho que tentou abrir a porta de emergência e não conseguia e teve que se afastar, senão seria tragado pelo efeito do vácuo, e teve que deixar então os seres humanos que estavam ali morrerem, ele vendo de longe, salvando sua própria vida, enfim.

Mas eu gostaria, Sr. Presidente, de dizer que nós temos de discutir para valer essa questão dos portos na minha região. As hidrovias são os rios da Amazônia. Poucos Municípios do Estado têm a ver com estrada. A maioria depende da navegação aérea, que é cara e não acessível a todos os amazonenses do interior do Estado, e a maioria absoluta depende da navegação hidroviária.

Não são poucos, não são raros os acidentes que, em toda a região amazônica, acontecem a cada ano. E nós vamos nos embrutecendo, Senador Jefferson Praia, vamos nos embrutecendo como se fosse comum, como se a nossa vida valesse menos, como se a vida de um cidadão da região Norte valesse menos. Então, morreram trinta, pronto.

Não morreram vinte e quatro na guerra do Iraque no dia em que caiu o avião em Manacapuru; não morreram vinte e quatro no Afeganistão; não morreram vinte e quatro pessoas em nenhum lugar, Senador Camata, que esteja sob conflito. Então, é uma guerra civil não declarada essa falta de segurança no voo, essa falta de investimento em infraestrutura aeroportuária.

E eu gostaria, Sr. Presidente, de registrar a presença, no plenário, neste momento, de inúmeros Prefeitos do meu Estado. Inúmeros. Muitos deles, por coincidência, dirigentes de Municípios que são ligados por estradas a algum lugar. Eles estão aqui acompanhados do Deputado Marcelo Serafim, que é um parlamentar muito atento à realidade do seu Estado, que vai cumprindo um mandato promissor, muito brilhante. Hoje reuni-me, no gabinete da Deputada Rebecca Garcia, com diversos outros Prefeitos, que estavam também discutindo, se preparando para a reunião com o Ministro Mangabeira Unger, e discutindo em profundidade as questões que os afligem. Mas eu quero saudar os Prefeitos todos na figura do ex-Prefeito de Autazes e Presidente da Associação Amazonense de Municípios, José Thomé Filho.

Não citarei todos, mas citarei o Prefeito Marcos, do Município de Apuí, que é ligado por estrada a Lábrea porque é ligado por estrada a Humaitá; o Prefeito Jair, do Município de Manaquiri, que é ligado por estrada a Manaus e a vários Municípios da região do Médio Amazonas; o Prefeito Fernando, de Presidente Figueiredo, que é um dos poucos Municípios realmente autossuficientes do ponto de vista da sua renda, das suas possibilidades econômicas, é ligado por estrada a Manaus e por essa via tem acesso aos serviços que Manaus propicia porque está a 95 km de Manaus; o Prefeito Gean é ligado por estrada também a Lábrea, a Humaitá, a Porto Velho e, portanto, ao Brasil.

O grosso dos Municípios...e aqui está o Prefeito de Borba, cujo apelido é muito carinhoso, é uma figura pela qual tenho amizade de família, mas é assim que o povo o elege todas as vezes, o Careca Holanda, o Prefeito Holanda. Ele nem é tão careca assim. Se a gente olha, não é tão careca. Ao contrário, é bastante dotado de cabeleira. Enfim, bom gestor, atento administrador, mas o Prefeito faz parte de um Município que depende exclusivamente de hidrovias, assim como Beto Mafra, liderança do Município de Maués, depende exclusivamente de hidrovias ou de aeroportos para locomoção. Isso é algo muito grave e temos que cuidar disso para valer.

Eu não gostaria de esperar o próximo evento, não gostaria de esperar a próxima desgraça, eu não gostaria de esperar o próximo desastre e, depois, as condolências de praxe. Vem-se à tribuna, faz-se nota de pesar. Nós, enfim, estamos todos contristados. Mas a realidade não muda, a realidade é a mesma. E eu insisto que temos que valorizar a vida do homem amazônico, porque não há por que sua vida ser encurtada pelo fortuito e pelo descaso, que é um descaso de décadas, de sucessivos governos, em relação às medidas infraestruturais que têm de ser tomadas para proteger a economia, mas, sobretudo, para proteger a vida do homem da região.

Eu gostaria de saudar os meus conterrâneos com muito afeto e com muito carinho.

Quero dizer, ainda, Sr. Presidente, que estamos acompanhando essa luta pela escolha das sedes ou das subsedes da Copa do Mundo, as cidades que sediarão ou subsediarão os jogos da Copa do Mundo de 2014. Parece que está longe, mas não está. Parece que é um mero jogo político, mas não é. Afinal de contas, as cidades escolhidas receberão, obrigatoriamente, recursos federais e terão que usar recursos próprios também, para investir, para preparar as cidades para receber tantos turistas que virão atrás desse maior espetáculo da Terra mesmo, que é uma Copa Mundial de Futebol.

Manaus, vejo que está muito bem cotada. O Governo do Estado, do qual sou adversário, apresentou um projeto bastante consistente. Tem a favor do projeto o fato de Manaus ser o centro da Amazônia. Está na Amazônia Ocidental, é o Estado menos devastado ecologicamente, graças aos efeitos benéficos do Parque Industrial de Manaus, que vive a partir de muita tecnologia que lá se desenvolve e a partir dos incentivos concedidos desde o Marechal Castello Branco à chamada Zona Franca de Manaus. Mas Manaus vejo que é logicamente uma das cidades a ser escolhida. É uma disputa. Não sei o que está na cabeça do Sr. Blatter, não sei o que está na cabeça do Presidente Ricardo Teixeira, não sei o que está na cabeça...

         O Presidente Lula fez um apelo por Belém. Considero justo, pois, lá, o Pará é governado por uma aliada dele, enfim. Mas não quero excluir o Pará do Senador Flexa Ribeiro de jeito algum. Eu gostaria muito de ver o Amazonas e o Pará sediando a Copa do Mundo. Se tiver que ser um só, óbvio que, como Parlamentar do Amazonas, óbvio que, pelas razões objetivas que aponto de o coração da floresta Amazônica estar na minha região, o maior Estado da região, é o Estado com menos desmatamento, é o Estado que mais pode dar exemplo de cuidado com a ecologia, é o Estado que menos emite CO² a prejudicar a vida da humanidade e a prejudicar o clima da humanidade, vejo Manaus muito bem posta nessa corrida.

         Precisa melhorar o aeroporto? Precisa, e até 2014 dá tempo, e já há planos da Infraero para fazer a recuperação, a renovação do aeroporto. Manaus precisa de investir mais em segurança, como outras cidades também? Estamos procurando fazer isso e vamos fazer o possível. O fato é que, daqui para frente, insistirei muito, insistirei sempre, insistirei diariamente em que as autoridades brasileiras se convençam de que devem pedir por Manaus; as autoridades da Fifa percebam que devem escolher Manaus; e a CBF, que ela compre, com sensibilidade, com força, a idéia de que as outras onze cidades haverão de ser muito bem escolhidas, mas que uma delas, sem dúvida, seja Manaus.

         Não discuto Rio de Janeiro, não discuto outro grande centro de futebol, que é São Paulo, não discuto Rio Grande do Sul, não discuto as localidades onde se joga o futebol mais sofisticado. Eu não discuto. Mas eu gostaria de trazer estes ingredientes: se queremos mostrar a floresta no que ela tem de mais virgem para o mundo, é Manaus; se queremos mostrar as possibilidades de, quando se fala tanto em desmatamento na região, se ter um Estado com 98% de sua floresta intactos, é Manaus; quando se fala numa cidade que tem muito a oferecer de folclore, de beleza, de música, de artistas plásticos, a beleza do Teatro Amazonas, que é uma atração mundial, inclusive com o festival de ópera anual que vem desde o Governo do atual Prefeito Amazonino Mendes e se estende pelo seu sucessor, que é uma fonte de atração de turistas para o Amazonas. É uma cidade grande. Se se fala em hotéis, Manaus, hoje, já está bem posicionada e planeja ampliar a oferta de apartamentos, de quartos para hospedar os visitantes. Mas, hoje, eu diria que já é a cidade melhor posicionada no Norte do País, na região amazônica, do ponto de vista de oferta de quartos de hotéis.

Temos, então, muito o que fazer. Até lá, Deputado Marcelo Serafim, estarão prontos os dois últimos viadutos iniciados na gestão do seu pai e que significam uma intervenção significativa para melhorar o trânsito, que é de fato caótico, como é caótico o trânsito em qualquer cidade do porte de Manaus. É uma cidade de economia dinâmica, Senador Camata, e são 50 mil carros, se não me engano, por mês, que são emplacados e começam a circular em Manaus. Até lá, essas intervenções viárias estarão concluídas.

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Permite?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não, com muita honra, Senador Camata.

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Esse hino com que V. Exª canta e louva Manaus, com todos os méritos, a ele eu queria acrescentar que ela é a Califórnia brasileira, o Vale do Silício, pela alta tecnologia de sua indústria, que muito orgulha o Brasil. Fornece para o mercado interno e está exportando para o mundo inteiro produtos eletro-eletrônicos que saem da Zona Franca de Manaus, da Califórnia do Brasil, do Vale do Silício do Brasil, embora situada lá em cima, mas cientificamente, tem muita semelhança com aquilo que se realiza naquele prodigioso Estado norte-americano.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu gosto muito da comparação que faz o prezado amigo Senador Gerson Camata. Agradeço muito sua compreensão que gostaria muito que fosse a compreensão de todos os brasileiros. Ela já é, cada vez mais, graças à luta de todos nós, uma compreensão do Senado, mas que seja uma compreensão do Brasil inteiro. Havia muito preconceito. Na Zona Franca de Manaus - e em determinado momento era mesmo - havia muita corrupção por lá. Isso acabou! Acabou de muitos anos para cá, de mais de uma década para cá. E nós estamos fazendo lá investimento em tecnologia - V. Exª tem toda razão. V. Exª não sabe como eu sou grato por esse aparte que V. Exª dá. E mais: vamos exibir - e aí eu pego a sua deixa para dizer - mais do que a floresta, vamos exibir alta tecnologia para nossos visitantes.

         Então, eu não consigo imaginar uma Copa do Mundo na Amazônia sem o Amazonas. E, obviamente, não consigo imaginar que a gente faça uma Copa do Mundo no Brasil ignorando a região amazônica.

         Volto a dizer - e peço a V. Exª um minuto para concluir, Senador Marconi Perillo, que, no meu Estado, há quem cultive uma tola rivalidade entre Amazonas e Pará. Eu amo o Estado do Pará. Porque, primeiro, há 500 mil paraenses que moram em meu Estado e, com eles, eu convivo. O Presidente do meu Partido é paraense, o advogado Mário Barros. Eu conheço o Pará como não sei se tantos paraenses o conhecem. Conheço o litoral, conheço as praias de água doce, conheço Salinas, conheço Mosqueiros, portanto; eu conheço Belém como a palma de minha mão, com amigos, com eventos. É difícil eu perder um Círio de Nazaré - a festa religiosa mais forte e mais expressiva do País. Eu gosto do Círio pelo antes, pela transladação; durante, pela festa em si; e pelo depois da festa, que é ir para a casa de alguém - e costumo ir para casa do Senador Flexa Ribeiro, porque aquele é o Natal do paraense.

         E mais: eu conheço aquilo que poucos candidatos a Presidente da República conhecem. Eu conheço a Ilha de Marajó. Não é todo mundo que conhece a Ilha de Marajó. Eu digo que é pouco brasileiro aquele que pretenda se candidatar a Presidente da República e que não vá a um lugar onde não tem votos. Mas é dever ir à Ilha de Marajó para mergulhar em uma das realidades mais bonitas e mais sublimes que o Brasil pode oferecer, que é a cultura do policiamento em cima de búfalos, da limpeza pública feita por intermédio de búfalos também. Um lugar lindo, maravilhoso! Desenvolveu, Deputado Marcelo Serafim, Senador Camata, Senador Jefferson Praia, uma luta marcial tão bonita, que é a luta marajoara. Existe há 200 anos sem ninguém ter ensinado a eles. É uma greco-romana, um wrestling, de melhor nível, praticado por pescadores e vaqueiros há mais de 200 anos. Eu perguntei: teve japonês por aqui? Não teve. Eles mesmos aprenderam. Então, isso aí deveria fazer parte do currículo do primeiro grau e do segundo grau do Pará.

         Eu amo o Pará. Apenas, eu digo: que venha a Copa do Mundo contemplando o Pará e o Amazonas. Se tiver de ser um só, a lógica e o coração me mandam pedir que a Copa do Mundo vá para Manaus.

           Obrigado pelo aparte do Senador Gerson Camata. E saúdo, mais uma vez, os Prefeitos que, em um número tão expressivo, comparecem a esta sessão, cumprindo com o seu dever de ouvir o Presidente da República, fazer suas cobranças, apresentar seus pleitos e, sem dúvida alguma, contando com a melhor disposição, suprapartidariamente falando, de toda a Bancada do Amazonas.

           Muito obrigado, Sr. Presidente.

           Era o que eu tinha a dizer.


Modelo1 5/8/2411:41



Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/02/2009 - Página 1502