Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta ao Presidente Lula para que respeite os aposentados e a importância da família como alicerce para apoiá-los.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Alerta ao Presidente Lula para que respeite os aposentados e a importância da família como alicerce para apoiá-los.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 13/02/2009 - Página 1738
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PAULO PAIM, SENADOR, LUTA, DEFESA, APOSENTADO, TRABALHADOR, ESPECIFICAÇÃO, AMPLIAÇÃO, SALARIO MINIMO.
  • DEFESA, MELHORIA, APOSENTADORIA, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VALORIZAÇÃO, IDOSO, IMPORTANCIA, FORMAÇÃO, SOCIEDADE, REGISTRO, PROVIDENCIA, ORADOR, GESTÃO, PREFEITO, BUSCA, QUALIDADE DE VIDA, APOSENTADO, RELEVANCIA, ELEIÇÃO, GOVERNADOR.
  • COMENTARIO, DESCUMPRIMENTO, LEGISLAÇÃO, PREVIDENCIA PRIVADA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MELHORIA, PREVIDENCIA SOCIAL, AMPLIAÇÃO, CONTROLE, SETOR PRIVADO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros, que estão aqui, no Senado da República, e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Paulo Paim, quis Deus estar aí V. Exª a presidir os trabalhos. Perguntei ao Zezinho: “Zezinho, tenho dois temas: um é violência.” Está aí um jornal do Piauí, e, com essa violência, posso dizer que estamos vivendo não em uma sociedade, mas em uma barbárie. Mas, como disse Ulysses, “ouça a voz rouca das ruas”. Não andei na rua, mas perguntei ao Zezinho, que nos serve: “Zezinho, o que devo falar: sobre a violência ou sobre os aposentados?”. E o Zezinho, firme: “Sobre os aposentados, Doutor. Sobre os aposentados. Os aposentados estão sofrendo mais”.

Luiz Inácio sabe disso. Vivemos numa barbárie. Ele tem viajado muito. Não vou falar em Primeiro Mundo, mas, se você for bem aí, à Argentina, ao Uruguai...

Nesse recesso, passei 20 dias na Espanha e em Portugal, andando mesmo, de noite, com Adalgisa. Paim, não vi; Presidente Luiz Inácio, encantadora Marisa, esposa dele, não vi um miúdo, como eles chamam em espanhol - miúdo é criança - de rua pedindo esmola. Não vi um, um, um! Eu estava andando mesmo, nesses dois países, e não vi um.

Ontem, eu lia em uma revista nacional que, no Nordeste, um menor está fazendo relação sexual por R$1,90. Isso é uma barbárie! Um e noventa, menos de R$2,00. Então, nós vivemos nessa barbárie.

Eu acho que estamos errados, Paim. Agora, V. Exª pode ir ao Rio Grande do Sul e dizer que V. Exª simboliza o sonho de Getúlio Vargas, do trabalho, de Alberto Pasqualini, João Goulart e Rui Barbosa.

Rui Barbosa, na sua sabedoria, disse que são muito simples as coisas.

Não precisa o nosso Luiz Inácio ser intelectual, não; tem de ser humilde e falar menos, porque ele fala muito. Deus lhe deu dois ouvidos, porque ele tem de ouvir de vez em quando, ligar. Rui Barbosa disse que a primazia é do trabalho e do trabalhador. Ele veio antes, ele é que fez a riqueza. Essa é a primazia. Não é dos bancos, não é de quem não trabalha. É do trabalho e do trabalhador.

Paim, V. Exª tem compreendido isto e tem lutado pela valorização do trabalho. As conquistas do salário mínimo. Seis anos se passaram, Paim, desde que eu ouvi V. Exª, aqui, gritar como Castro Alves em Navio Negreiro: “Ó Deus, ó Deus, onde estás?”

O salário mínimo era de US$70 e nós o acompanhamos logo, fomos um dos primeiros, em uma campanha para US$100. Hoje, está bem melhor. Quantos dólares está, realmente? Duzentos dólares. Quer dizer, naquele instante, a gente era até São Tomé - US$100 -, mas conseguimos e Luiz Inácio foi sensível.

Esta é a melhor obra de Luiz Inácio: a valorização do trabalho. É esta. A distribuição de renda diminui a violência, porque se vai buscar o trabalho.

Os Estados Unidos estão com essa dificuldade. Eles vão sair, eles vão sair porque lá está incrustado, na sua história, o respeito às leis. Eles respeitam as leis: 222 anos, uma Constituição; de quatro em quatro anos, uma eleição para Presidente. Quarenta e quatro iguais.

Eu não sei, mas eu já li uns 50 livros de Abraham Lincoln.

Você leu a vida dele e acompanhou as eleições de Barack Obama com Hillary Clinton, de Barack Obama com MacCain: é a mesma coisa. Pode ler. As convenções, Paim, são iguais. Iguais. Até aqueles colégios eleitorais - que já se possibilitou, mas eles não mudam as regras -: com um menor número de votos ser eleito, porque tem mais colégio.

Mas ali está um grande ensinamento: o respeito às leis. Liberdade.

Olha, Paim, naquela civilização, e nós não podemos negar, eles amam o trabalho. Eles entendem que o trabalho é que vai dar dignidade a eles, que vai dar subsistência e que vai dar a família. É, não tem negócio de esperteza, não. Trabalhou, está valorizado e tem a igualdade. Eu já vi, andei muito, só observando os Estados Unidos, Paulo Paim. Eu nunca ouvi falar em autoridade lá: doutor, capitão, general. Igualdade. Autoridade é aquele que trabalha, Paim. É aquele que trabalha. E é isso.

Então, inspirado por aqui, daí isso, Luiz Inácio - é aqui -, que V. Exª escreveu a mais bela página do Governo de V. Exª: a melhoria do salário mínimo.

Mas eu quero e estou aqui para ensinar o Luiz Inácio. É! Aqui, só tem sentido gastar esse dinheiro se nós formos os pais da Pátria.

Eu sei e aprendi a não agredir os fatos: a liderança dele é ímpar. Petrônio, que me ensinou e me iniciou na política, dizia para não agredir os fatos. Teve 60 milhões de votos e ganhou de um candidato cheio de virtudes por mais de 20 milhões de votos. Não tem o que contestar. Como MacCain disse e foi admirado: ele é o nosso Presidente. Mas tem de ser mais humilde. Presidente pela segunda vez.

Luiz Inácio, Frank Delano Roosevelt foi por quatro vezes presidente dos Estados Unidos. Quatro. Frank Delano Roosevelt enfrentou uma recessão, uma guerra e disse: “Todo homem que vejo é superior em algum assunto a mim e nesse particular eu procuro aprender”. Olha a humildade, Luiz Inácio.

Então, ninguém, ninguém, ninguém, se fosse concorrente do Paim... O Adão Pretto foi para o céu, aquela Trindade, do Piauí, foi para o céu - nós tivemos uma líder morena. Que beleza de estrela do Piauí! Trindade, que poderia concorrer com essa de liderança de sindicato que trabalha com o Luiz Inácio.

Mas eu tenho uma experiência a contar para o Luiz Inácio.

Juscelino, num dos seus pensamentos, disse que a velhice é triste, é uma tristeza, mas, desamparada, é uma desgraça.

Por que Sarney ganhou? Porque, queiram ou não - inveja e mágoa corrompem os corações! -, ele é um estadista mesmo. Olhe a vida dele, a luta dele, os imbróglios, as complicações! Fernando Henrique Cardoso é estadista pelo estudo, pela cultura, pela visão. Não tenho inveja. Não é do meu Partido, não, mas...

Então, eu queria dizer para o Luiz Inácio que lhe quero ensinar o seguinte: aposentado. Ele foi o maior, é o maior líder sindical, juntamente com Lech Walesa, com Paim. Estou aqui para aprender e, por isso, eu me encosto no Paim. Nunca tive essa liderança sindical, nunca participei da liderança sindical. Fui médico cirurgião, isolado. Mas ninguém mais que ele reunia multidões. Há o direito de greve, a valorização do trabalhador. Ele fez nascer um Partido que está com 29 anos, onde há joio e trigo. Há joio e trigo; isso é natural, mas ele pensava que não era.

Quero ensinar um negócio a Luiz Inácio: a vida... Por isso, esperei tranquilo, tranquilo, tranquilo. Senador Paim, eu era Prefeitinho, e ele não foi prefeitinho. Eu fui Governador de Estado. Paim, eu era Prefeitinho. Sabe que não se pagava o salário mínimo aos funcionários? Essas coisas têm melhorado, são conquistas. Só pagavam, no Piauí, o Prefeito da Capital, o Wall Ferraz, que já morreu, que era um homem muito puro, que foi por três vezes Prefeito; todo mundo o conhece. E eu e o de Floriano começamos a pagar. Disseram que não iríamos pagar, mas acabamos pagando. Depois de seis meses em que eu era Prefeito, paguei o salário mínimo. E tinha de pagar, porque acho que a compensação do trabalho é a remuneração justa.

Senador Paim, ô Luiz Inácio, aí eu me lembrei de que havia uma folha de pagamento velha na minha prefeitura, antes da Previdência, daqueles que não tinham o benefício da Previdência. Então, havia uma folha da Prefeitura com o pagamento dos aposentados e dos pensionistas, que eram as esposas dos aposentados. Senador Mozarildo, eu tinha ouvido falar disso.

O Luiz Inácio pensa, tem certeza de que essa gente não influi, porque não faz greve, não reclama, não chateia; é o aposentado. Luiz Inácio, Vossa Excelência está enganado! Está em tempo de refletir. Eu não quero mal a ele. Ele é nosso Presidente. Votei nele na primeira vez, mas, na segunda, não votei. Mas ele está enganado. “Eles não fazem greve, eles não fazem pressão. Eles estão velhinhos”, eu ouvi isso.

Senador Paim, mandei buscar a folha: “Rapaz, não há uma folha aí, na prefeitura, de uns velhos aposentados, antes do INPS?”. Estava lá. Senador Mozarildo, aí eles me trouxeram a folha. Era pouca gente; não havia médico nenhum. Estou contando um quadro de como o Luiz Inácio pode se estrepar. Não estou desejando isso, estou até abrindo o jogo, para ele ver a realidade. Aí mandei buscar a folha e disse: “Agora, quero botar esses aposentados”. Eram aposentados antes do INPS, eram funcionários antigos. Aí me trouxeram a folha. Não eram muitos, não: eram uns doze ou quatorze funcionários, e havia o dobro de pensionistas, as mulheres. Senador Mozarildo, mandei ver quanto eles ganhavam. Paim, dava o valor de uma cerveja, na época, para V. Exª ter uma noção. “Rapaz, como é que pode? Está jogado aí, e ninguém dá valor!” Não é não, Paim? Nós somos cristãos. Rapaz, como é que pode? “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça.” Como é que pode? Eles ganhavam o valor de uma cerveja! Eu disse: “Rapaz, mas não pode”.

Aí, é lógico que eu queria tirar fruto disso, mas não pensei que o fruto... Olha minha ingenuidade no que deu! Eu vou mostrar para o Luiz Inácio! Ouça isso, ou Vossa Excelência vai se lascar, Luiz! Não havia esse negócio aí. Não se engane, não, porque a história está cheia disso. “Até tu, Brutus? Brutus, Brutus, Brutus! Esse Júlio César não presta! Vamos acabar com o imposto!” Marco Antônio fez um discursinho, despediu-se, e o Brutus saiu pelos fundos.

A opinião pública muda. Atentai bem, Mozarildo! Aí eu mandei chamar os aposentados. Olha, Mozarildo, você é médico, aí eu me aperreei e mandei chamar uns 14 ali. Olha, quando eu disse: “Vocês vão ganhar salário mínimo”. Rapaz, um velho, Mozarildo, que estava ali, ficou em estado de choque, estavam abandonados, como agora estão no Brasil, Luiz Inácio, então, Mozarildo, o homem teve um piripaque, e caiu, estava emocionado, porque nunca pensou, um pobre...Eu digo: “Rapaz, pega o carro preto - é o do Prefeito -, e o leva para o pronto-socorro”. Eu tive medo de ele morrer ali no meu gabinete. Ele foi, e tal. E eu mandei pagar salário mínimo. Eu pensei que era só isso. Eu estou aqui por isso, Luiz Inácio. Rapaz, esse povo é gente boa, os velhinhos! São honrados, são dignos, são decentes, têm vergonha, trabalham. De repente, eu estava na Praça da Graça - porque os aposentados vão as praças conversar com os amigos -, e ouvi: “Esse Prefeito não é mão santa, não, ele é todo santo”. “Olha que nós estamos aqui - isso foi em 65, eu era Prefeito entre 89, ganhei em 88 -, lascados, há tantos anos, não teve um...Só esse homem...Há 20 anos que nós estamos...Já morreram muitos ganhando esse salário”. E esse aí, estava abandonado, ninguém fazia greve...E começaram a se sentir bem. Mas é tão importante, Luiz Inácio, aí eu fui me identificando com o grupo, sabe por quê?

Em todas as inaugurações lá estavam os velhos, tudinho. Uma rua, numa avenida, um colégio, lá estavam os velhos, de paletó, aposentados, ali são legais. Isso é que é! Vinte anos e tal. Mozarildo, aí eu fui ganhando uma liderança consistente de justiça. Mas, quer dizer o seguinte: aí, eu fui me aproximando e vendo - olha aí, Luiz Inácio - o que é um velho, um avô. Um era pai do gerente do Banco do Brasil, parente da Senadora Ciarlini. De repente, sem saber, eu era o líder de toda a elite do Banco do Brasil naquela época. A outra, era a mãe do meu chefe da Previdência Social, porque eu era médico. Aquilo tem um negócio...Quando vi, de repente, fiquei forte mesmo politicamente, tanto é que eu saí da prefeitura, disputei o Governo do Estado e tive 93,84% dos votos. E aí eu fui dando atenção aos velhos, porque eu fui vendo, Luiz Inácio, que eles não fazem greve, eles não fazem confusão, mas eles são agradecidos. É o melhor da gente, eles lideram.

Vossa Excelência, Luiz Inácio, afaste-se dos aloprados e não os ouça! Ouça o Paim! Paim, a sua lei vem há quanto tempo? Cinco anos. Paim é do PT. Paim é da luta sindical. Eu vi - não o conheci pessoalmente - todos chorarem pelo passamento do Adão Pretto. Todo mundo! Teve vigília!

Então, não é nosso, porque eu sou do PMDB. É o Paim, aquele mesmo que lhe fez avenida, ao valorizar o salário mínimo. Atentai bem! Quero lhe dizer, Paim, que, na primeira reunião da Mesa Diretora, ao agradecer, o Senador José Sarney deu a palavra a todos, na minha vez, fiz um primeiro apelo ao contar o drama, que tinha clamado o nosso Mário Couto em seu nome. S. Exª se comprometeu; mandou até a Cláudia Lyra anotar. O outro, foi elogiando a austeridade dele dos 10%. Eu disse que tinha iniciado a minha vida política como líder e vice-líder, eu e Tapety, de Lucídio Portella, irmão de Petrônio, onde ouvi, pela primeira vez, falar em austeridade, que é importante. Mas, aí eu vi o valor.

Mas vamos ver por que nós estamos, Mozarildo, nesta barbárie, em que ninguém respeita ninguém. Isso é uma barbárie. Não é civilização, não! Eu iria falar sobre a violência que está aí.

Um comerciantezinho, da minha Teresina, disse que foi assaltado 17 vezes em seis meses. Como é que pode? Mozarildo, lá no meu Piauí cristão, na Teresina, outro dia morreu um amigo. Eu disse: “Não, Adalgisa, vamos de noite”. É aquele negócio do velório. Lá, nós temos o costume da sentinela. Quando cheguei lá, à noite, disseram; “Não, já enterrou”. “Mas como já enterrou, se ele morreu quase cinco horas?” “Ah, porque, aqui na vizinha, teve um velório em que entrou ladrão. Tiraram o sapato, tiraram as coisas até do defunto”. Então, nem velório se faz mais porque tem assalto. Mas por quê? É aquilo que nós pensamos. Eu posso estar errado. Estamos no debate. O avô é muito importante. Eu fiquei a meditar sobre o meu avô. Como eu aprendi! Minhas avós, como me educaram e eu aprendi! E, hoje, como eu sou avô.

Aí eu vi agora, Luiz Inácio, maior fenômeno: é o Barack Obama. É! Eu já li um livro dele todinho: A Audácia da Esperança. Ele disse que tinha feito um quando jovem sobre sua vida. Eu estou lendo. O homem é preparado. Nesse livro, ele acaba de se formar em Ciências Políticas e está procurando emprego. O homem é um orador tão vibrante. Paim, o primeiro discurso que ele fez - isto é importante - está lá, é curtinho. A universidade dele, de repente, arrecadava fundos para mandar para a África do Sul para garantir o apartheid. Aí os “Paim” de lá, homens e mulheres jovens, fizeram uma manifestação, e ele fez o primeiro discurso. A família dele tinha orgulho de ele ter entrado na universidade.

Mas ele dizia que, então, sentia vergonha de estar naquela universidade porque ela estava buscando fundos, dinheiro, fazendo campanha para ajudar a manutenção do apartheid.

A vida dele é bacana, a sua educação. Se ele não tivesse o avô dele, estaria lascado. E a avó também. Você viu que ele interrompeu a campanha e foi lá para ver a avó que estava morrendo. Suspendeu tudo na sua campanha. Então, Luiz Inácio, é a família, a família. A família, Luiz Inácio! Sei que não é maldade. Ele não teve. Parece que o pai saiu, o avô. Não o estou culpando; estou fazendo história. O meu eu tive e era muito bom. Meus avôs, minhas avós também. Graças a Deus! Mas quero dizer que, se Barack Obama não tivesse o avô e a avó dele, estava lascado, fumando maconha. Ele mesmo conta em seu livro. Não estudava, e foram os avós os responsáveis. Então, é a família, ó Luiz Inácio!

Deus, Deus, Deus, que mandou o filho Dele depois da tentativa de melhorar o mundo. Ele não o desgarrou, não; colocou-o em uma família, na sagrada família.

E na sagrada família, há um avô, uma avó. Mas hoje o avô e a avó estão empobrecidos, lascados, humilhados, sofrendo, endividados. Aí acaba a hierarquia, a disciplina e o respeito. As crianças dizem: “Meu avô é lascado, não está ganhando nada, assumiu uns compromissos e não cumpre, disse que ia pagar meus estudos e não paga, disse que ia me ajudar e não ajuda”.

É isso que está destruindo a nossa Pátria, destruindo os nossos avós. E aí a criança pensa que ele é um fracasso, mas não foi. Ele foi do bem, ele foi do trabalho, ele foi da dignidade. Ele trabalhou e pagou a nós. Porque não é a Luiz Inácio, é a nós, à Pátria, ao Governo. O governo somos nós. O governo não é mais L’État, c’est moi. Aqui é um tripé. Somos nós. Eles pagaram durante anos - dez, vinte, trinta - para ter aquilo que eles prometeram para suas crianças. Pagaram para ganhar dez salários mínimos e agora estão ganhando cinco; pagaram para ganhar cinco, estão ganhando dois.

E pior, Luiz Inácio, a Aplub, que é do seu Estado. Não existe esse negócio de previdência privada, não, essa é outra imoralidade. Eu fiz uma Aplub - eu não sei se você fez -, cinco salários. Durante 25 anos paguei como médico. Eu queria, depois, curtir com a minha Adalgisinha. Depois de 25 anos, sabe quanto eu ganho, Mozarildo? Aplug, vergonha do Rio Grande do Sul! Olha, é cento e pouco reais. Pergunte a Adalgisa, porque eu nem recebo, pois dá úlcera.

Mas por que eles fazem isso, Luiz Inácio? Se o seu Governo, o Governo de Vossa Excelência, faz, capa, rouba... Ao contrato tem que se obedecer. Estão devendo. Nós estamos devendo aos velhinhos. Eles pagaram, foi um contrato.

É uma base da lei, é um contrato legal. Então, nós temos que restituir.

Paim, continue a luta. Hoje nós vimos por que é que Nabuco estava exaltado aqui, o Marco Maciel falando: porque ele lutou pela liberdade do escravo, era voz isolada, pouco apoio, perdeu uma reeleição, foi reconhecido na Europa e escreveu o livro Abolição. E hoje eu vi aqui Nabuco. Então, Paim, V. Exª é hoje o Nabuco. Aí estão nossos velhinhos aposentados.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E quero dizer ao médico Mozarildo. Olha, médico, eu quero lhe dizer: ó Deus, ó Deus, eu vos agradeço, está muito bom para nós, Senadores, mas para os médicos da minha idade... Olha, eu estou vendo médicos com 70, 80 anos, dando o seu plantão porque têm dignidade, sendo médico de família, porque a aposentadoria é tão pouco, é tão pequena, que eles têm que trabalhar.

Concedo o aparte ao Mozarildo Cavalcanti.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mozarildo, permita-me prorrogar a sessão por dez minutos. V. Exª está com a palavra.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mão Santa, eu já tive oportunidade de apartear o Senador Paim quando falava sobre este mesmo assunto, primeiro dizendo aqui que o PTB - aliás, esqueci de dizer, Senador Paim, que houve uma fusão entre o PTB e o Partido dos Aposentados da Nação (PAN); portanto, o PAN hoje faz parte do PTB, até, portanto, pela questão trabalhista que defendemos, como pela questão dos aposentados, a postura do PTB não podia ser outra senão fechar questão a respeito dos aposentados. E V. Exª colocou exatamente o enfoque da importância da família. A família que não cuida bem dos seus velhos, pai, avô, bisavô, não é uma família que prospere, que vá para a frente. V. Exª deu o exemplo do Barack Obama, que, se não tivesse tido avós que o cuidassem...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Era maconheiro, ele mesmo reconhece.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - É verdade. Uma nação que também não cuida dos seus idosos não tem futuro. Pensar que porque a pessoa está idosa... Eu até ouvi um dia desses um idoso dizer: “Eu agora estou sexy - sexagenário”. Neste País os sexagenários... Aliás, até os cinquentões já começam a ser maltratados. Dos sexagenários para a frente, aí nem se fala. Fico muito feliz de ouvir o pronunciamento do Senador Paulo Paim, abordando com propriedade essa questão. Temos realmente que cuidar dos nossos idosos. Dei um exemplo aqui, no aparte que dei ao Senador Paulo Paim, da minha mãe, que hoje está hospitalizada no Hospital Belém. Já vive quase mais no hospital do que em casa, com 85 anos de idade, com problemas cardiorrespiratórios sérios. Fiquei revoltado quando ouvi, por exemplo, naquela discussão da CPMF, que, se a CPMF acabasse, acabava o Brasil. A CPMF acabou; no dia seguinte, aumentou-se o IOF. Portanto, isso sacrificou não os bancos, mas quem necessita de um empréstimo no banco. Está-se querendo ressuscitar uma contribuição sobre a saúde; e, agora, numa crise, faz-se graça com o chapéu alheio, porque se está dando isenção, está-se dando anistia, está-se aumentando o valor de bolsas etc. E é contra um projeto como o do Senador Paulo Paim, que foi endossado por esta Casa, de eliminar esse fator previdenciário maldito. Então, entendo, realmente, que essa é uma questão que não é do Senador Paim, não é do Senador Mão Santa, não é deste Senado, é da Nação. A Nação, realmente, tem que entender que é preciso olhar com mais carinho, com mais atenção, os idosos deste País. Senão, não teremos futuro. O jovem de hoje é o idoso de amanhã. Não há como pensar em uma nação séria sem o respeito aos seus anciãos, aos seus mais velhos. E tenho muita honra, por exemplo, de já ser avô de cinco netos. E espero muito ver os filhos dos meus netos. Mas quanta gente neste País, Senador Mão Santa, não tem a sorte sequer de ver seu avô, porque o avô morre cedo! De ter um avô sadio, porque o que ele ganha de aposentadoria não é nem humilhante, é indigno para com o trabalho que essa pessoa teve! Portanto, eu me somo ao pronunciamento de V. Exª. Fico até indignado de ver a forma como se trata um assunto tão sério e tão importante para a Nação brasileira.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - As palavras dele completam o nosso pronunciamento.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vou terminar.

E V. Exª... Não vou repetir: aquilo tudo subiu e o dele não subiu. Tudo, tudo. Não vou repetir, porque V. Exª falou com tanta sabedoria! Mas temos que continuar a luta.

Olha, o Luiz Inácio não tem culpa, não. Acho que são uns aloprados aí, aquele da Previdência, que mente, engana, porque nós sabemos - estudamos, sabemos multiplicar, somar, fomos prefeitinho, governador -, que se o dinheiro ficar ali vai render e não vai ter dificuldade. Nós sabemos isso, temos certeza.

O Luiz Inácio não tem culpa, não. Eu sei a biografia, como todos nós brasileiros, e nos orgulhamos. Ele não teve o avô. O avô foi um herói. Mas eu quero dar este testemunho...

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mão Santa, se V. Exª isenta a figura do que é o pai da Nação de estar fazendo isso e põe a culpa nos subalternos, estamos contribuindo para que essa questão continue. E o Lula fica sempre naquela história: “Não sei, não vi, não sou responsável”. Ele é o responsável sim, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Estou plenamente de acordo com V. Exª. Ele tem que ouvir o Paulo Paim.

Aquilo nasceu do seu esforço, da sua verdade. E aí, não. Eu sei, estou justificando porque talvez o avô não tenha sido significativo como foi o meu, como foi o de milhares na sociedade, como foi o do Barack Obama. Talvez ele não tenha tido essa felicidade. Daí eu citar Franklin Delano Roosevelt: “Toda pessoa que vejo é superior a mim em algum assunto”.

         E diria mais. V. Exª sabe que vocês fizeram tudo, os maçons: a Independência, a República... E aqui tinha um lema positivista, maçônico, que teria a palavra amor na frente. Mas aí eles não botaram, acharam...

Mas eu quero lhe dizer - isto é tão importante - que eu me lembro, quando passei minha lua-de-mel com Adalgisa, numa casinha de praia dos meus avós, de um retrato do Dindinho e da Dindinha. E eu agradeço a Deus hoje estarmos há quarenta anos juntos. Exemplo dos nossos avós, que eu vi fazer bodas de ouro.

Então é isso, os nossos avós, porque são os seus filhos, os aposentados. O Paim vai ser o pai dessa conquista de resgatarmos os direitos dos nossos avós.


Modelo1 8/16/246:18



Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/02/2009 - Página 1738