Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apresentação de votos de pesar pelo falecimento de personalidades de Minas Gerais: do Dr. Hugo Werneck, Padre Simões e Célio Trópia.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Apresentação de votos de pesar pelo falecimento de personalidades de Minas Gerais: do Dr. Hugo Werneck, Padre Simões e Célio Trópia.
Publicação
Publicação no DSF de 17/02/2009 - Página 1840
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, DENTISTA, PROFESSOR UNIVERSITARIO, EX PRESIDENTE, SINDICATO, FUNDADOR, CONSELHO REGIONAL, ODONTOLOGIA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, VIDA PUBLICA, PIONEIRO, DEFESA, MEIO AMBIENTE, CONTRIBUIÇÃO, GOVERNO ESTADUAL.
  • HOMENAGEM POSTUMA, SACERDOTE, MUNICIPIO, OURO PRETO (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, PROTEÇÃO, PATRIMONIO HISTORICO, PATRIMONIO CULTURAL.
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX SERVIDOR, COMPANHIA ENERGETICA DE MINAS GERAIS (CEMIG), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ASSISTENCIA SOCIAL, ATENÇÃO, CRIAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Papaléo Paes, Srs. Senadores, nesse período de recesso, tivemos perdas muito sentidas lá em Minas Gerais, que trago aqui por meio de três requerimentos de votos de pesar que estou encaminhando à Mesa.

Quero começar falando do Dr. Hugo Werneck, que faleceu no dia 20 de dezembro, em Belo Horizonte. Hugo Eiras Furquim Werneck nasceu em Belo Horizonte, formou-se em 1938 em Odontologia pela Universidade de Minas Gerais como cirurgião-dentista e clínico geral, profissão que exerceu por 54 anos ininterruptamente. Na juventude, foi ainda jogador de basquete pelo nosso grande clube Minas Tênis Clube. Ministrou cursos diversos na área de Odontologia, sobre ética profissional e assuntos correlatos. Foi Presidente do Sindicato dos Odontologistas de Minas Gerais na década de 50, pertenceu ao grupo de dentistas que organizou e criou o Conselho Regional de Odontologia do nosso Estado.

Simultaneamente ao exercício da profissão, em 1942, começou a inquietar-se diante do desmatamento acelerado que ocorria, ao mesmo tempo, na floresta Rio Doce, hoje um grande parque do Rio Doce, e no cerrado, partindo-se da cidade mineira de Sete Lagoas, pois o carvão, que se fazia exigência da indústria siderúrgica em expansão e base da economia de Minas Gerais, era exatamente fornecido por meio de métodos que destruíam a mata nativa.

Em 1973, logo depois da Conferência de Estocolmo, Hugo Werneck participou diretamente da fundação de uma organização não-governamental sobre questões ambientais, o Centro para Conservação da Natureza em Minas Gerais, do qual foi presidente durante tantos anos. Por dois mandatos consecutivos, exerceu a presidência da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, no período de março de 1993 até dezembro de 2000. Participou da criação da Fundação Biodiversitas, de cujo conselho criador foi membro nato até julho de 2001. Atuou ainda como integrante do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Belo Horizonte (Comam) durante duas gestões consecutivas. Participou, desde sua instalação, do Conselho Estadual de Política Ambiental do Estado (Copam), tendo exercido, até junho de 2000, a presidência de várias câmaras da instituição. Serviu ainda ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), em seu Conselho Deliberativo, no período de 1995 a 1998 - durante o meu Governo.

Participante ativo no projeto de revitalização do rio São Francisco, por meio do IEF e também do Centro para Conservação da Natureza; foi consultor na área de ecologia e meio ambiente na Fundação Belgo-Arcelor do Brasil, desde 2002, e ainda membro efetivo do Conselho da Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte.

Membro fundador da Equipe do Movimento Familiar Cristão, em Minas Gerais, tendo participado de sua direção desde a equipe diocesana, em Belo Horizonte, na direção nacional, como na ELA, em dimensão latino americana.

Foi membro ainda do Conselho Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais por três mandatos consecutivos - inicio do primeiro mandato com o Professor Eduardo Cisalpino. Participou, no final da década de 90, de encontros que centraram a educação em seus aspectos formais e não formais.

O Dr. Hugo Werneck foi palestrante em diversas instituições empresariais, comunidades civis e universitárias; com frequência, a convite das mesmas, focalizava temas ligados à pessoa, seu entorno, relações família-sociedade. Considerava a pessoa, enquanto sujeito sócio-histórico-cultural, protagonista de sua própria história, constituindo a subjetividade por meio da teia das relações interpessoais e interação com o meio ambiente, entendido como ecológico, social, econômico, cultural, político, plural, enfim, uma amplidão de definições.

Foi Hugo Werneck um verdadeiro humanista, preocupado com o destino do homem como ser. Sonhava com o ser superando o ter, com a diminuição do consumo exacerbado do mundo moderno, deste mundo globalizado. Sonhava com uma nova dimensão da cidadania ecológica através da reaproximação do homem com o meio em que vive, a representação da natureza sob nova perspectiva, menos utilitarista, mais afetiva e emocional; acreditava que assim pode-se ter uma visão renovada da vida e do meio onde ela se desenrola, sem ameaças, pressões e punições. 

Hugo Werneck foi casado com Wanda Azeredo Furquim Werneck, com quem teve onze filhos, Rodrigo, Humberto, Otávio, Ângela, Maria Regina, Marcos, Maria Elizabeth, Flávio, Gustavo, Maria Virgínia e Ana Maria, que lhe deram vinte e cinco netos e quatro bisnetos.

Hugo morreu aos 89 anos, sendo o nosso fundador das questões ambientais. Todos que se preocupam com a questão ambiental em Minas, em algum momento, puderam aprender com ele, puderam ver o valor das questões humanas sobre as questões materiais.

Hugo Werneck, em segundas núpcias, casou-se com Maria da Penha Mendes Furquim Werneck, que deixa viúva.

Queria trazer, Sr. Presidente, Srs. Senadores, este voto de pesar, porque ele foi realmente um homem muito especial, uma pessoa que soube enxergar muito cedo a importância das questões ambientais, que soube orientar tantos e tantos em Minas Gerais, especialmente nós, homens públicos.

Eu mesmo busquei sempre a sua orientação na Prefeitura de Belo Horizonte, no Governo do Estado; o então Prefeito Patrus Ananias, com quem trabalhou nessa Fundação Zoobotânica, hoje Ministro; o Governador Aécio Neves, todos somos muito gratos ao que Hugo Werneck pôde fazer por Minas Gerais.

Quero ainda, Sr. Presidente, trazer aqui outro requerimento, esse em relação ao Padre Simões, da nossa querida Ouro Preto. O Padre Simões foi um intransigente defensor do patrimônio histórico e cultural, pároco da Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Faleceu em janeiro deste ano.

Ele estudou no Seminário do Coração Eucarístico de Belo Horizonte e foi ordenado padre pela Arquidiocese de Mariana. Dedicou 52 anos de vida sacerdotal às causas da comunidade, com destaque à defesa do patrimônio artístico e cultural da nossa cidade de Ouro Preto.

Como pároco da Igreja de Nossa Senhora do Pilar desde 1963, Cônego da Arquidiocese de Mariana e Vigário forâneo de Ouro Preto, criou a Fundação Museu de Arte Sacra e o Centro Social da Família Ouropretana.

A família dele é descendente do Barão de Camargos, sendo que a própria casa do barão foi doada ao Instituto do Patrimônio Histórico pela família de Padre Simões. Por isso é conhecida, nos dias atuais, como a “Casa da Baronesa”.

Em 1994, Padre Simões recebeu o Prêmio Nacional de Cultura Rodrigo Melo Franco de Andrade, destinado às pessoas que se destacaram pelo zelo do patrimônio histórico. Além do diploma e da medalha, o prêmio também rendeu a ele recursos, que foram precisamente investidos na reforma da igreja da qual ele era o pároco.

Político influente - chegou a se filiar ao antigo MDB -, sempre participou dos movimentos da política, entendida por ele como a melhor forma de promoção dos anseios da população, principalmente a mais carente.

Sr. Presidente, estive em Ouro Preto e pude ver a grande emoção do povo da cidade, porque ele foi não só um pastor de almas, de idéias, mas também um grande líder político. A população sentiu muito a sua ausência.

Finalmente, Sr. Presidente, quero apresentar também requerimento de pesar pelo falecimento de um grande filantropo e humanista de Minas: Célio Trópia, que faleceu aos 82 anos de idade.

Célio Oliveira Trópia também nasceu em Ouro Preto, formou-se em administração de empresas e trabalhou, toda a sua vida, na Cemig até a sua aposentadoria.

Juntamente com um grupo de amigos que tinham em comum a fé cristã e o firme propósito de trabalhar em benefício do próximo, a partir de 1º de março de 1969, iniciou uma distribuição de sopa para os pobres na Alameda do Ipê Branco, na Pampulha, em sua residência. Dois anos depois, a tarefa foi transferida para uma sede própria, inaugurada no ano de 1972, já denominada “Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus”, que fizera a opção para cuidar de crianças.

Aos poucos, o trabalho convergiu para as crianças com sérias deficiências físicas, portadoras de paralisia cerebral e outras síndromes. O atendimento a pessoas com deficiência era pioneiro e despertou a atenção da sociedade, que passou a ajudar e o Núcleo começou a crescer. Pessoalmente, Célio Trópia, pedia contribuições aos amigos e aos colegas de trabalho para manutenção e construção das unidades. Passo a passo, dia a dia, comparecia ao Núcleo sem falta, mesmo doente, até o dia anterior ao seu falecimento.

Portanto, Sr. Presidente, reconhecer os serviços prestados por Célio Trópia é valorizar a solidariedade e o amor ao próximo, é valorizar um benfeitor, um homem iluminado por Deus.

Sr. Presidente, esses são os três votos de pesar que trago aqui em nome do povo mineiro para que fiquem registrados nos Anais do Senado Federal essa posição de respeito, de homenagem, a três grandes homens que contribuíram para a sociedade mineira: Dr. Hugo Werneck, um grande ambientalista; Dr. Célio Trópia, um filantropo, e o Padre Simões, um grande líder de defesa do patrimônio cultural e histórico do nosso Estado, esse patrimônio histórico cuja importância tantas vezes buscamos relembrar - patrimônio histórico de nosso Estado.

Quando fui ao velório do Padre Simões, fiquei observando a beleza de Ouro Preto, que, mesmo com seus 80 mil habitantes, consegue preservar todo aquele casario da época colonial, da época da exploração do ouro e que permitiu que nascessem ali idéias de liberdade, idéias que foram as primeiras luzes para que, depois, o Brasil se libertasse, se tornasse independente e, como país independente, pudesse esquecer o que passara e buscar seu lugar na conjuntura das nações.

O patrimônio histórico, tão bem defendido pelo Padre Simões, precisa estar permanentemente nas preocupações de todo o Brasil. V. Exª, que é do Estado do Piauí, já esteve em Ouro Preto e sabe da importância e do valor para todos nós e para o País preservarmos o patrimônio histórico.

De maneira, Sr. Presidente, que esses são os pontos que eu queria trazer. Entrego à Mesa esses requerimentos de voto de pesar por essas perdas que Minas teve de tantas pessoas, mas, em especial, gostaria de registrar esses três nomes.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/02/2009 - Página 1840