Pronunciamento de Mão Santa em 09/02/2009
Discurso durante a 3ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem póstuma ao ex-Senador Chagas Rodrigues.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem póstuma ao ex-Senador Chagas Rodrigues.
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/02/2009 - Página 1017
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, CHAGAS RODRIGUES, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, BIOGRAFIA, IMPORTANCIA, POLITICA, COMBATE, DITADURA, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXILIO, PERIODO, REGIME MILITAR, RELEVANCIA, AUXILIO, ELEIÇÃO, ORADOR, GOVERNADOR.
- LEITURA, OBRA LITERARIA, CHAGAS RODRIGUES, EX SENADOR, SOLICITAÇÃO, REQUERIMENTO, VOTO DE PESAR, PARENTE.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, Parlamentares presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado, Senador Marco Maciel, um quadro vale por dez mil palavras. Eu não aceito esses conceitos que fazem dos políticos e vou dar um testemunho aqui, Marco Maciel. A voz do povo é a voz de Deus. Ô Valter Pereira, se a voz do povo é a voz de Deus, como a sabedoria popular diz, então, o choro do povo é o choro de Deus. Analogia.
Esse negócio de dizer que político é isso, é aquilo. Nada disso. Político tem um conceito extraordinário. Eu sinto isso e vou provar, aqui neste Senado. Olha, eu vi, até o céu chorou quando Jonas Pinheiro morreu. Eu vi, eu fui lá para Mato Grosso. Chovia, e chorava o céu, e chorava o povo. Jonas: humilde, verdadeiro, puro. Eu vi. Choravam o céu e o povo.
Eu vi o povo chorar, em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Valter Pereira, nós vimos, até o nosso Presidente Luiz Inácio viu. Nós vimos o povo chorar por Ramez Tebet. Choro, o povo mesmo, crise, convulsão, e não foi um dia, não. Foram meses na sua cidade, e vi.
Antonio Carlos Magalhães: amado, respeitado, um bravo. Talvez de todos nós, não apenas os de agora, não, mas em 183 anos, foi o único - e para isto serve o Poder Legislativo - deu um freio no Judiciário, daqueles de pneu. Aquela história da CPI do Juiz Lalau foi o Antonio Carlos Magalhães que iniciou. Eu sei que vi a Bahia chorar. Todos nós vimos.
E aí se repete, ô Papaléo. Vi Jefferson Péres parar o Brasil. Eu vi. Então, esse negócio de que político... Isso tem em todo segmento, como tem entre médicos - nós somos médicos, não é? - entre funcionários públicos, entre sacerdotes, missionários, mas a maioria está aí.
E o Piauí, ô Marco Maciel, chora e chora o Brasil. Chagas morreu, foi enterrado ontem. Eu não pude comparecer porque eu estava em outro enterro, lá em Floriano, de um tio de Adalgisa. Eu não tenho o dom da onipresença. Aí a gente é criticado. Qualquer debilóide diz: “olha, o senhor não foi”. Ora, se eu estava em um enterro, como eu poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? Vejam que, às vezes, somos vítimas da maldade, não é? Eu estava lá, enterrando um familiar, um tio da minha mulher, no interior do Piauí.
Mas estamos aqui para dar o testemunho.
Marco Maciel, somos quase da mesma idade, eu tenho 66 anos. Eu quero dizer o seguinte: o Chagas Rodrigues é da minha cidade, é do meu Estado. Se ele não estiver no céu, Papaléo, nós estamos é lascados, porque o homem era correto, decente e santo. É essa a definição.
Nascido na minha cidade, aos 16 anos, ele saiu para estudar Direito, Marco Maciel, no Recife, começou lá. Depois, foi para São Paulo e foi orador da sua turma. Não seria fraco um orador fraco que já mostra as suas virtudes. E o sonho dele era ser do Itamaraty. Foi para o Rio, fez os concursos de Direito, e a sua família, o seu irmão, que era líder político, o colocou como Deputado Federal. E ele, muito novo, foi eleito Deputado Federal. Elegante, firme; casou com uma prima minha: Maria do Carmo Rodrigues.
Assim é o destino. O homem foi governador do Estado. A minha mãe sempre dizia: “O homem põe e Deus dispõe!”
Presidente da República Sarney. Foi? Foi Tancredo, mas Deus determinou que fosse o Presidente Sarney para que, com sua paciência e sua tolerância, ele vivesse o momento mais difícil da nossa História: a transição de um governo ditatorial, violento para um governo da lei, da paz e da ordem.
Chagas Rodrigues, novo, deputado, bonito e elegante, foi eleito aos 28 anos.
Papaléo, oposição é difícil, nós sabemos. Os candidatos das oposições morreram às vésperas da eleição. Demerval Lobão governador e Marcos Parente para senador. Um jipe. Naquele tempo, não tinha estrada de asfalto próximo a Teresina. Hoje, a cidade recebe o nome de Demerval Lobão. A um mês da eleição, quem colocaram para substituir o candidato contra o Governo? As oposições o escolheram, e ele foi eleito governador do Estado do Piauí.
Muito novo, aos 36 anos de idade, foi eleito nessa circunstância. Talvez pela emoção das mortes, ou pela capacidade dele mesmo, mas o fato é que ele foi.
Papaléo, eu me lembro e vi aqui. Eu vi o Tião Viana exaltar o nosso Presidente Luiz Inácio - nosso Presidente, com todo o respeito. Vai dar um dinheiro para os egressos do mal de Hansen, que se chamava lepra. Hoje, a Medicina chama mal de Hansen. Aí fez civilidade. Negativo, Tião. Em 1958, que é antes de agora, Chagas Rodrigues, Governador do Piauí, já dava esse dinheiro aos egressos dos leprosários do Piauí: deformados, mutilados, numa situação difícil. Atentai bem! 1958. Eu sei. Então, talvez o Luiz Inácio tenha se inspirado nisso. Mas digamos que foi ele.
E eu vou dizer mais uma, Papaléo.
Ô, Marco Maciel, soldado não podia casar! Não casava. Soldado não casava. Já pensou? Isso em 1958. Casar, não, pelo menos, lá, no Piauí - eu não sei o resto. Mas era um confusão. As pessoas se amigavam, mas não casavam. Olha aí o rolo doido. Sem mulher, não dá, não!
Foi ele. Ele que permitiu, ele! E Chagas Rodrigues fez um governo avançado: o prédio do DER, em Teresina; a companhia energética, a Cepisa, e a Agepisa. Criou o Serviço Social do Estado, que sua esposa, Maria do Carmo, dirigiu. Terminado o Governo do Piauí, se reelegeu. Foi cassado como Deputado Federal do último ato institucional, a integridade de Chagas Rodrigues.
Fui Governador do Piauí, Marco Maciel, e eu não era o primeiro, não. O primeiro que o povo queria era um ex-Prefeito, Wall Ferraz, de Teresina, tucano. Ele foi ver no Estado quem seria melhor para que ele fosse eleito Governador. E fez pesquisas, Wall Ferraz, colocando um comunista como vice, colocando um do PT como vice. Depois me colocou, aí a coisa melhorou com o meu nome.
Então, fui convidado por esse Wall Ferraz para ser vice. Ele era Prefeito de Teresina, tucano. Então, ele desistiu nas últimas horas, e eu não era também o segundo, não. Era o destino - não era o segundo. O primeiro era Wall Ferraz, o segundo era Chagas Rodrigues.
Aí, o Chagas, na reunião dos partidos de Oposição, disse: “Eu já estou com bastante idade, cansado, e isso é coisa para gente nova”. Papaléo, aí ele disse: “O meu candidato é esse menino, Prefeito da Parnaíba, extraordinário”.
Aí, eu ganhei a eleição, com um aval desses, um destino desses! E estamos aqui. Ganhamos duas vezes no Piauí.
Mas foi Chagas Rodrigues quem fundou o MDB, fundou o PSDB; foi o mais ligado a Mário Covas, outro que está no céu. Outro homem que está nos céus, há políticos muito bons.
Marco Maciel, acho que avião é a maior invenção do mundo. Tenho até raiva de computador porque não sei mexer naquilo direito, mas em avião a gente vai e chega. Acho mesmo que é a melhor... Ô Valter Pereira, qual é a melhor invenção da civilização? Acho o avião, porque, quando passa uma mulher bonita, o que se diz? Olha um avião! Então, o avião é um negócio bacana. Mas um avião quando cai é muita confusão, é carro virando, barro voando. Existe muito mais morte de motocicleta do que de avião. Pode contar estatisticamente. E assim é político. A grande maioria é assim.
Ô Marco Maciel, eu vou dizer e eu estou tomando o seu tempo, Marco Maciel, porque eu quero ensinar a esses aloprados que estão assaltando o povo do Brasil a cada instante, inconsequentemente, imoralmente e indecentemente. Os quadros estão aí. A gente vê em todo lugar. Não tinham nada e, hoje, são poderosos e ricos.
Chagas Rodrigues foi tudo. E o sogro dele era riquíssimo. Era o meu “Tio Patinhas”. Era o maior industrial do Piauí. Tinha dois navios e colocou a fábrica do Piauí no Rio de Janeiro, na Ilha do Governador. O sabão que era Moraes, foi Da Copa, e a gordura Moraes Du Norte ganhou da gordura Coco Carioca. O pai dele também era poderoso: comerciante, representante da Brahma, representante da Volkswagem e daqueles filtros Fiel. V. Exª se lembra, Papaléo? Filtro Fiel, como você é na sua vida amorosa, fiel. E Fiat Lux, do pai dele. Quer dizer, era pessoa abastada. Foi tudo. Foi Vice-Líder do PSDB, foi Vice-Presidente deste Senado. Só tem um imóvel. V. Exª se lembra, Marco Maciel? É, e mais: essas pessoas são dotadas...
Olhem um livro que ele me mandou. Ele, fardado com a farda do Ginásio Parnaibano - ele estudou na minha cidade. O livro é de poesias, que fazia desde menino.
“Aos prezados primos, Francisco [eu] e Adalgisa. “Cordialmente, Chagas Rodrigues.” Quando ele fez 80 anos.
Rapaz, tem poesia aqui, Papaléo!
Interessante, em 1965, ele tem uma sobre a morte:
Ó, Morte,
Amiga Morte,
Quando passearemos juntos,
De mãos dadas,
Ao longo de alamedas?
Espero-te, um dia,
Sob as acácias-vermelhas,
Na hora do sol poente
Antes que o lençol da noite me envolva.
Mas era um apaixonado. Papaléo, você não pode dar nem... É Josélia, não é? E nem a Adalgisa pode ver esses versos porque nós não sabemos escrever os versos que ele escrevia para a amada mulher dele, Maria do Carmo.
Olhe, não dá. Mas um amigo dele, Reginaldo Furtado, que foi seu secretário, um homem honrado, da OAB, um dos maiores nomes de virtude, de honestidade, pediu para eu ler isto aqui para vocês terem uma noção do que é o regime da ditadura.
E, hoje, reassisti a uma entrevista de João Cláudio Moreno. Viu, Papaléo? Você nunca o levou ao Amapá, não? Ora, pode levar. Mas não tem negócio de Chico Anysio, Jô Soares. É o maior humorista deste País: João Cláudio Moreno.
Mas ele fez uma entrevista. Culto, intelectual. Ele é do PCdoB. Aliás, é o melhor nome que o PCdoB tem, no Brasil e no Piauí, esse João Cláudio Moreno. Fez uma entrevista linda, linda, linda, porque ele é competente mesmo esse João Cláudio Moreno. Ele foi eleito vereador de Teresina em uma votação, e ele não quis porque política é essa coisa, mas ele fez uma entrevista linda. E ele indaga ao Chagas por que ele ingressou na UDN e depois pulou para o PTB? Não seria uma contradição, ele que combatera o Getúlio?
Ele disse: - “Não, eu combati a ditadura. Eu sou contra qualquer ditadura. Então, eu apoiei o Getúlio democrata, eleito no regime democrático.”
Olha a convicção!
“Combati qualquer ditadura” - a dos militares, que pagou com caro preço de ser cassado no último listão do AI 5, junto com Mário Covas, comparável a Mário Covas, amigo de Mário Covas.
Eu era Prefeito, ele estava no Senado, ele me telefona para ir para o PSDB. Hoje eu acho que devia ter ido, devia ter tido asa e vindo - esse PMDB está um rolo...
Mas, atentai bem, Suplicy! Esse martírio de pessoas cassadas. Falou-se em anistia e em exilados, mas olha aqui o verso dele:
Estrangeiro na própria Pátria.
Papaléo Paes, olha o que diz:
Estrangeiro na própria Pátria
Ouve, Amiga,
Deve ser triste viver em terra alheia
Longe da Pátria,
Longe da família
Longe dos Amigos
Porém é ainda mais triste,
Viver como estrangeiro,
Na própria Pátria,
Com o mandato eletivo cassado,
Com os direitos políticos suspensos,
E proibido de rever
A Cidade Natal,
O Estado Querido
E o Povo Amado.
É...A ditadura; os que foram cassaram aqui eram proibidos de sair. Então, Chagas ficou preso aqui na nossa encantada Brasília, como Juscelino Kubitschek, depois que voltara. Todo mundo sabe o sofrimento dele, preso em Luziânia. Ele não podia circular, ele não podia ver Brasília, Marco Maciel. Então, essa é a pessoa.
Está mais pobre o Piauí, mas fica o exemplo. A filosofia dele, como o Presidente Sarney, há pouco nós vimos, a vida toda ele disse que cultivava a política e a literatura, a formação e a grandeza intelectual. Chagas também; também nessa luta.
Papaléo, atentai bem! Todo mundo sabe como é bonito o Eclesiastes: Sob o céu, há um tempo determinado para cada propósito; tempo de nascer e morrer... Está lá.
Olhe o que disse Chagas, com a sua sensibilidade:
Tudo tem seu tempo
Ouve, Amada,
[ele sempre fazia suas para Maria do Carmo, a esposa, a mulher]
Mulher do meu coração
Já foi ensinado
Que “tudo tem seu tempo determinado”.
Que há “tempo de chorar”
E “tempo de rir”;
“Tempo de odiar”
E “tempo de amar”;
“Tempo de guerra”
E “tempo de paz”;
Tempo de matar”
E “tempo de curar”.
Doce Mulher Querida,
[os versos eram sempre conversando com a mulher amada. O amor existe, o amor é lindo]
Amor de minha vida,
Minha mensagem é outra.
Ouve a verdade que te digo:
Os tempos de chorar,
Os tempos de odiar
Os tempos de guerrear
E os tempos de matar
Estão começando a morrer.
E dia virá
Em que todos os homens e mulheres
Livres, iguais e irmanados,
Não terão horas nem motivos
Para o choro,
Para o ódio,
Para a guerra
E para a matança,
E passarão a viver felizes
Num novo mundo,
Numa nova civilização
Em que resplandecerá a grande estrela.
Brasília, julho de 1981.
Olhe, Papaléo, a bondade desse homem, que foi cassado, preso em Brasília e impedido de ir à nossa querida Parnaíba e ao nosso Piauí. Não ficou revoltado, homem com esperança. E realmente, depois daí, ele voltou acima da adversidade, deu a volta por cima, foi Senador da República dos mais honrados. Hoje, quando falei, vi todos os funcionários aqui a lamentar - todos - a perda do Chagas Rodrigues, que por aqui passou. Era isso que eu queria dizer.
O Piauí ficou mais pobre. Então, pedimos este requerimento para todos os familiares de Chagas Rodrigues, que oferece este livro:
À mui amada Maria do Carmo [que já morreu], esposa carinhosa
E companheira de todos os momentos.
À memória de meus prezados pais, Poncion e
Ignésia. Às minhas queridas irmãs Maria da
Conceição, Inez, Teresa e Paula.
À memória de meu estimado irmão José
Alexandre [que o colocou na política e e foi Prefeito da minha cidade] aos diletos filhos, meus e de Maria
Do Carmo: Teresa, Almira, Conceição e Alexandre.
A todos com minha eterna gratidão.
Agora, além disso, Papaléo, vamos nós. Aqui, falo em nome de Heráclito Fortes, em nome de João Vicente Claudino. Nós pedimos à Mesa, ao Presidente José Sarney e oferecemos este DVD, produção extraordinária de um intelectual, artista, humorista, artista melhor do meu País. Leve-o ao Amapá. Ele é um espetáculo, é o maior artista piauiense. O Piauí teve o maior jurista, Evandro Lins; o maior planejador, João Paulo Reis Veloso, o grande Petrônio Portella, o maior jornalista, Carlos Castello Branco e esse homem intelectual, artista, João Cláudio Moreno.
Vamos entregar à Mesa para que ela insira nos programas da televisão a vida da Chagas Rodrigues, por meio da entrevista concedida a João Cláudio Moreno. É um instante, uma oportunidade para o Piauí de, por meio do exemplo desse filho, educar o nosso País, os nossos políticos.
Essas são, então, nossas palavras. Senador Marco Maciel, V. Exª é um homem de Deus. Quero aproveitar as imagens da TV Senado e o som das rádios AM e FM. Que as ondas sonoras levem nossas palavras aos Céus e a Deus, como uma reza, como uma oração em súplica.
Ó Deus! Receba o melhor dos filhos dos piauienses: Chagas Rodrigues.