Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamento sobre os objetivos da visita do presidente Lula ao Rio Grande do Norte na semana passada. (como Líder)

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Questionamento sobre os objetivos da visita do presidente Lula ao Rio Grande do Norte na semana passada. (como Líder)
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 18/02/2009 - Página 2012
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, VISITA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), INAUGURAÇÃO, CRIAÇÃO, PEIXE, LAVOURA, FRUTICULTURA, INEFICACIA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, COBRANÇA, ORADOR, PROMESSA, CONCLUSÃO, ASSENTAMENTO RURAL, REFINARIA, PETROLEO, EXPECTATIVA, POLO INDUSTRIAL.
  • COMENTARIO, REUNIÃO, PRESIDENTE, AGENCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL (ANAC), ORADOR, DEBATE, INFERIORIDADE, UTILIZAÇÃO, AEROPORTO, MUNICIPIO, MOSSORO (RN), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), CRITICA, PARALISAÇÃO, VOO, HORARIO NOTURNO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Obrigado pela generosidade, que é permanente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senadora Marisa Serrano, V. Exª, que está quietinha aí no plenário, já deve ter experimentado muitas alegrias no seu Estado de Mato Grosso do Sul, como eu, no meu Rio Grande do Norte, ao receber visitas de Presidentes da República.

Eu já fui Governador duas vezes, fui Prefeito de Natal e, mesmo como Senador, tive inúmeras oportunidades de receber o Presidente da República no meu Estado. Já fui governo e já fui oposição. Mas já fui governo e já recebi muitos Presidentes da República ligados politicamente a mim, como já tive oportunidade também de receber, por obrigação cívica e política, governantes, Presidentes da República a quem não era politicamente ligado.

Mas me habituei sempre a um fato: visita de Presidente da República é fato alvissareiro para o Estado, porque é de se esperar que o Presidente da República, quando vai ao nosso Estado, vai levar coisas importantes, compatíveis com a importância do cargo de Presidente da República.

Eu digo isso porque, no sábado passado, Sua Excelência o Senhor. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no meu Estado. Esperava que Sua Excelência fosse ao Rio Grande do Norte levar a concretização de sonhos, de coisas importantes para o meu Estado. Eu esperava, por exemplo...anunciariam que ele iria levar algo importante para assentados, para beneficiários do programa de assentamento e da reforma agrária.

E me veio à mente, Senador Flexa, imediatamente, um compromisso tomado por Sua Excelência o Presidente Lula, quando esteve em Natal. De Natal, a Mossoró, e de Mossoró foi à Maisa, deslocando-se em avião e helicóptero da Presidência. No ato de desapropriação da Maísa, que foi uma grande empresa exportadora de frutas, principalmente de melão, ele declarou - e isso está gravado, falou ao Brasil inteiro, eu acho que o Jornal Nacional registrou essa fala dele - que, em um ano, no mais tardar dois anos - acho que foi um ano -, ele voltaria ali. A desapropriação era de uma área de terra muito grande, com uma infraestrutura poderosa, de irrigação, de poços, de fábrica de sucos, de castanha, com uma infraestrutura elétrica montada, infraestrutura hídrica montada, potencial tecnológico estabelecido, porque há anos se produzia, e a mão-de-obra estabelecida no local conhecia a prática da irrigação, como pouca gente do meu Estado. Ele anunciou que, dentro de um ano, voltaria lá para inaugurar o mais exitoso programa de assentamento rural, talvez do mundo inteiro. Isso há mais de cinco anos.

Passou-se um ano, passaram-se dois anos, três anos, quatro anos, cinco anos. Nada! Nada de voltar a Maisa. Nunca mais voltou a Maisa. Nada de êxito no programa de assentamento rural da Maisa. Nada disso! Lá, o que existe hoje é uma grande quantidade de pessoas filiadas ao Programa do Bolsa Família. E aquilo que se esperava da palavra do Presidente, que ele voltaria lá para inaugurar o mais exitoso programa de assentamento rural do Brasil, das Américas, do mundo, não passa de um grande e redundante fracasso.

Quando eu ouvi a notícia de que Sua Excelência iria para um ato voltado para assentados rurais, eu imaginei: aleluia! Finalmente deve ter acontecido algo importante, ou ele vem trazer a concretização da palavra que ele deu ao meu Estado e ao Brasil. Ele deve ir à Maísa, ele deve anunciar coisas importantes para aquelas milhares de pessoas que foram assentadas lá e que durante muito tempo, para sobreviver, arrancaram o miolo dos transformadores para vender o cobre, destruindo até os poços profundos de onde vem a água que, durante anos, produziu melão que foi exportado para o exterior. Chegou a hora, imaginei eu, de os assentados da MaÍsa terem uma grande notícia de realmente serem os assentados exitosos a que o Presidente Lula tinha se referido cinco ou seis anos atrás.

Mas, conversa Senador Sérgio Guerra, não foi à MaÍsa coisa nenhuma. Ele foi a Ceará-Mirim. Senadora Rosalba, ele foi a Ceará-Mirim. Sabe para quê? Olha, é lamentável! Senador Arthur Virgílio, o Presidente Lula foi a Ceará-Mirim inaugurar um tanque de tilápia. Eu não vou exagerar: um tanque de tilápia de sete - um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete! - hectares de plantio de mamão. Foi isso que ele foi lá fazer. Agora, o aparato para Sua Excelência chegar ao meu Estado foi uma coisa inimaginável. Não que eu estivesse lá, mas pessoas que estavam lá, da Base do Governo, me disseram.

O escalão precursor, o aparato de logística, de veículos, de transporte aéreo-terrestre, montagem de palanques... Disseram-me que o que se gastou para que Sua Excelência chegasse lá e fizesse a festa política custou muito mais do que o tanque de tilápia e os sete hectares de mamão.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador José Agripino?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Com prazer, Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Acho que V. Exª tem toda razão de trazer ao conhecimento da Nação os desperdícios que são feitos com os recursos públicos, que deveriam, principalmente no momento de crise que se vive, ter uma destinação mais adequada. Eu perguntaria a V. Exª: esses tanques de tilápia, esses sete hectares de plantio de mamão estão no PAC? Porque acredito que também façam parte do elenco de obras do PAC para que o Presidente da República levasse um aparato, como V. Exª contou. Isso aconteceu em meu Estado há alguns anos. Sua Excelência foi ao Pará, mais precisamente a Marabá, inaugurar uma unidade de ensino como tendo sido obra do Governo. Era uma unidade de ensino feita pela Vale do Rio Doce. Deslocou o aparato presidencial para ir até lá inaugurar uma unidade de ensino.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Flexa Ribeiro, O Senador Agripino fala como Líder. Não pode haver apartes.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª é regimentalista como ninguém. Eu peço desculpas ao Senador José Agripino, como democrata, por ter permitido o aparte. Mas eu me curvo ao Regimento. Senador José Agripino, agradeço a V. Exª o aparte. O Senador Mão Santa virou, agora, o maior defensor do Presidente Lula no Senado Federal.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª... É assim, mas, para a encantadora Rosalba Ciarlini, eu tinha dado o sinal de que aparte não era permitido; e para V. Exª eu não ia ceder.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Eu não ouvi esse sinal.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Senador Flexa, o investimento do tanque de tilápia e dos sete hectares de mamão não estão no PAC. São investimentos muito pequenos. É benfazejo? Claro que é benfazejo, mas muito pequeno para justificar a ida de um presidente da República a um Estado que esperava uma refinaria de petróleo, refinaria que foi para Pernambuco ou para o Maranhão. Estado que tinha a expectativa de um pólo de PVC. Que conversa de pólo de PVC para o Rio Grande do Norte! O Rio Grande do Norte tem de ter é tanque de tilápia e sete hectares de mamão. Pelas mãos do Presidente Lula, o que o Rio Grande do Norte merece é isso. Lamentavelmente, tenho de constatar. Até porque o projeto da Maísa, o mais exitoso da América, do Brasil, está parado.

Eu registro, Presidente Mão Santa, a minha frustração como potiguar, porque me habituei, pois eu fui Governador oito anos. Cada ida de presidente da República ao meu Estado era uma festa, porque algo importante ia ser anunciado ou ia ser inaugurado. Vai inaugurar um tanque de tilápia e sete hectares de mamão, quando foi prometida ao Estado a erradicação da pobreza rural pela desapropriação da Maísa, que ia ser o mais exitoso programa de assentamento do Brasil, e está parado no tempo.

Eu imaginava que talvez... Não, então, vai-se anunciar, porque aquele aparato todo, as aeronaves, o equipamento aeroterrestre deslocado, o escalão precursor, o movimento... Veio gente, Senador Mão Santa. Tive informação.

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Veio gente do Estado inteiro, veio gente do Estado inteiro para a inauguração, mobilizada pelo Governo, pelo Banco do Brasil, pelos órgãos do Governo. Gente de Caicó, gente de toda parte veio para Ceará-Mirim, para assistir à inauguração do tanque de tilápias e ouvir o discurso do Presidente da República.

Eu teria gostado de ouvir - e estaria aqui o aplaudindo - se ele tivesse chegado lá e dito: “Agora, em tempo de crise, vou mobilizar recursos, e a refinaria vai sair. Agora, vou mobilizar os recursos do PAC para o aeroporto de São Gonçalo, acelerar as obras, empregar gente, para que ele fique pronto. Agora, o pólo de PVC vai ficar pronto, porque é a forma que eu tenho de responder à generosidade do povo do Rio Grande do Norte, entregando esse presente à sua economia, já que ele tem gás, que ele tem calcário, que ele tem argila, que ele tem sal. Vou entregar a fábrica de PVC.”

Conversa! Foram o tanque e os sete hectares de mamão.

Agora, Senadora Rosalba, pior do que tudo é que, além de não estarmos andando para frente, estamos andando para trás. V. Exª foi a nossa comandante, nessa semana que passou, para a audiência que tivemos com a Drª Solange Vieira, Presidente da Anac, quando fomos tratar de um assunto que interessa diretamente a nós mossoroenses. V. Exª, como eu, nasceu em Mossoró, a segunda maior cidade do Estado. V. Exª era Prefeita de Mossoró, e eu era Governador, quando o aeroporto de Mossoró foi refeito, foi praticamente refeito pelas mãos de um Governador nascido na terra: José Agripino, que fez uma pista com 1.800 metros, que fez uma nova estação de passageiros. Para quê? Para que a nossa terra, que é um município pólo, pudesse ser aquilo que Mossoró sempre foi, um município pólo para onde converge a solução das emergências. Mossoró é o único aeroporto - era - com balizamento noturno naquela região inteira. Anos e anos! Foi feito por nós, V. Exª era Prefeita, e eu, Governador. E eu fiz o convênio para que a Prefeitura tomasse conta do aeroporto. Enquanto V. Exª foi Prefeita, e eu, Governador, o aeroporto teve linha aérea regular da Nordeste, da BRA, de companhias, da Trip, porque nós tínhamos amor ao nosso Estado e à nossa cidade e fazíamos as coisas acontecerem.

Resultado: no atual Governo do Estado e Federal, o aeroporto de Mossoró não tem mais pouso noturno, Senador Mão Santa. Imagine a sua Parnaíba, que é uma cidade do porte de Mossoró, que deve ter aeroporto com balizamento noturno, suponho, de uma hora para outra, por má vontade do Governo Federal, deixar de ter o elemento de socorro.

Quando as pessoas adoecem na região inteira, num raio de 300 quilômetros, para remover, vão para Mossoró, porque lá pode pousar avião de noite.

É um município pólo importante, sede de Petrobras. Prestadoras de serviço, produtores de sal e de frutas convergem para Mossoró. O aeroporto é um instrumento importantíssimo para a economia. Morreu.

Morreu porque o Governo Federal, dono da Infraero, não deu socorro para que o aeroporto pudesse continuar funcionando, e o aeroporto vai parar. Pode pousar até as cinco da tarde; à noite, não. As limitações estão impostas.

Além de termos a visita de um Presidente da República que sempre venceu eleição no Rio Grande do Norte para, em vez de cumprir a palavra que deu e transformar, por exemplo, a Maísa no mais exitoso programa de assentamento...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - ...rural do Brasil, em vez de vermos esse sonho, essa palavra concretizada, vimos a inauguração do tanque e dos sete hectares de mamão.

Mais do que isso: estamos assistindo ao nosso Estado caminhando para trás. Até o aeroporto de Mossoró... E não quero falar do aeroporto de São Gonçalo, que está andando devagar, devagarinho, quase parando. Não quero falar da BR-101, duplicada, andando devagar, devagarinho, quase parando. Não quero falar do sonho frustrado do pólo de PVC e da refinaria de petróleo.

Estou falando do que tínhamos e deixamos de ter pela incúria do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre venceu eleição em meu Estado, mas ao Estado devolve ações com a qualidade e com a dimensão de um tanque de tilápia e sete hectares de mamão.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/02/2009 - Página 2012