Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a questão das perdas salariais dos aposentados.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Preocupação com a questão das perdas salariais dos aposentados.
Publicação
Publicação no DSF de 18/02/2009 - Página 2037
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, PRECARIEDADE, QUALIDADE DE VIDA, DESCUMPRIMENTO, DIREITOS, APOSENTADO, REDUÇÃO, BENEFICIO, DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSIÇÃO, MELHORIA, APOSENTADORIA, NECESSIDADE, GARANTIA, MANUTENÇÃO, RENDA, POSSIBILIDADE, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA.
  • LEITURA, COMENTARIO, CORRESPONDENCIA, INTERNET, AUTORIA, APOSENTADO, CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, DEFESA, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, LUTA, GARANTIA, DIREITOS, REGISTRO, EXPERIENCIA, ORADOR, REDUÇÃO, RENDA, INICIO, APOSENTADORIA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Eduardo Azeredo, Parlamentares, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, Rui Barbosa está ali, porque foi uma fonte de inspiração. E eu faço minhas as palavras dele, muito atuais para os dias de hoje:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Senador Azeredo, eu li alguns livros sobre a vida do Presidente Sarney - esse nosso Presidente. Mas uma passagem é muito oportuna, principalmente para o nosso Presidente Luiz Inácio.

        D. Kyola, mãe de Sarney, santa, cristã, religiosa, disse: “Filho, não deixe que persigam os velhinhos, os aposentados. Então, que essa prece de Kyola seja ouvida hoje.”

Mas eu não vou culpar ninguém, ninguém está atrás das trevas, da escuridão. Nós queremos abrir uma luz. E nós estamos aqui, Azeredo, para isso. Estão enganando o Presidente Luiz Inácio. Eu votei no Presidente Luiz Inácio em 2004. Quer dizer, não votei na outra, votei no Alckmin. Mas ele ganhou, com sessenta milhões de votos, vinte milhões na frente do extraordinário candidato que era o nosso, o ex-Governador de São Paulo.

Petrônio dizia e ensinava a não agredir os fatos. Não vou agredir. Ele é o nosso Presidente. Mas estão enganando o nosso Presidente. Até essas pesquisas. Todas são falhas. Tudo é ilusão.

Nós já fomos Governo. Nós sabemos História. Hitler teve esses números quase perto de cem. Médici teve. Foi o que teve mais percentual e não ficou na História como o melhor Presidente dos militares. Essa é a verdade.

Os aposentados são aqueles velhinhos que a santa Kyola advertia o filho Sarney Presidente. Olha, “nunca dantes” - isso é de Camões. O Luiz Inácio diz “nunca antes”. Nunca dantes eles sofreram e estiveram tão ruins. Essa é a verdade, e não é verdadeira essa pesquisa estratosférica.

Ô Azeredo, V. Exª que é engenheiro e sabe muita matemática, sabe quantos? Eu vi o Paim dizer aí que tem vinte e seis milhões de aposentados no Brasil. Eu sei que Bolsa Família tem muitas, é a metade. É uma generosidade? É. É uma caridade? É. É necessário? É. Mas o aposentado é um direito. Tem vinte e seis milhões. Eles trabalharam.

Luiz Inácio, estão lhe enganando! Houve um contrato, um contrato - a democracia diz contrato - das leis, eles trabalharam e fizeram um contrato. Não foi com o Luiz Inácio. Foi com todos nós. Foi com o Brasil. Eles pagaram, eles descontaram. Trinta anos, quarenta anos. Eles se sacrificaram. Eles assinaram: “vou tirar isso, e o Governo, minha pátria, vai me devolver, quando velho, para eu viver com dignidade”.

           Pagaram para usufruir dez salários; estão ganhando cinco. Pagaram para usufruir cinco; estão ganhando dois. E mais uma maldade dos banqueiros: inventaram aqueles empréstimos consignados. Enganaram os velhinhos. Letrinhas pequenas, e estão descontando, do pouco que eles ganham, 40%. Eles não têm mais dinheiro para os remédios.

           Estou fazendo um trabalho, Azeredo. Nunca antes, como diz o Luiz Inácio, houve tanto suicídio dos nossos velhinhos. Porque eles são honrados, são bons. Então, eles assumiram compromissos que não podem cumprir. E mais, ô Azeredo, Azeredo: fomos prefeitinhos, V. Exª também foi. Governamos Estados. Somos Senadores, pais da Pátria.

           Luiz Inácio, essa barbárie que tem no Brasil se deve a isso. Então, estamos aqui para ajudá-lo. Somos Senadores para isso. O Senado é para isso. Quero lhe dar a luz que os seus aloprados não sabem. É! Essa barbárie - e V. Exª hoje já foi citado pelo seu aliado do PSDB - chegando até a elite, aos ricos, aos poderosos, que são os trotes. É uma barbárie. Se mata, se assalta. Na minha Teresina, seis farmácias são assaltadas por noite.

E aí essa barbárie por quê? Porque foi quebrado o elo mais importante de uma família. Rui Barbosa está ali porque ele disse que a pátria é a família amplificada, e a família, na sua estrutura tão importante... E Deus não botou Jesus desgarrado, e, sim, numa família, Maria e José, e tem ainda os avós; Sant’Ana era avó dele; tinha o pai.

A instituição padrão da família é o avô e a avó. Leia, Luiz Inácio, o livro de Barack Obama, contando a sua vida. Se não fossem os avós dele, ele era hoje um grande maconheiro, um grande drogado. Ele foi educado pelos avós. Sou avô e sei o que é isso. Tenho até mais tempo para orientar os meus netos, porque os filhos eu trabalhava tanto, tanto, tanto, Azeredo. Trabalhei muito. Cheguei aqui com os passos do estudo e do trabalho, do trabalho e do estudo, do estudo, porque eu chegava e já estava dormindo. Fui um homem que operava 12, 13, 14, 10 por dia numa Santa Casa. Então, quando eu chegava, os filhos já haviam dormido. Foram educados pela mãe, e os netos, não. Hoje temos mais disponibilidade. Então, avó orienta mais, ajuda mais. Então, essa sociedade de barbárie do Brasil é porque enganaram os avós, roubaram-lhes a aposentadoria, tiraram... Então, os netos: “O meu avô me prometeu pagar o estudo, o meu avô me prometeu um livro, um sapato”.

Então, essa revolta, essa indisciplina, esse desrespeito. E é isso, Luiz Inácio. Rui Barbosa: “A pátria é a família amplificada”. E o ápice, a grandeza da família são os avós. Eles estão aí.

Então, queremos dizer, Luiz Inácio, que estão lhe enganando. São 26 milhões de aposentados. O Brasil tem 190 milhões. São mais do que as bolsas famílias. Eles têm influência nos filhos, nos netos, na história.

Então, o que queria dizer é que estão lhe enganando. E o Senador Paulo Paim acabou de me dizer, Senador Eduardo Azeredo, que, se esse fator previdenciário cair agora, como determinamos - e não existe no mundo esse fator redutor, que derrubamos; só falta a Câmara -, os que estão agora me ouvindo e vão se aposentar vão ser beneficiados com uma aposentadoria maior. Aí são 40 milhões, Luiz Inácio. É uma matemática simples, aritmética do Trajano. Estão lhe enganando. Esses aposentados não vão votar em V. Exª, não vão aplaudi-lo.

E recebo milhares de e-mails. Escolhi dois para mostrar o retrato e vou lê-los. Um é do meu Piauí, enviado por Otavio Heleno Padilha do Amaral. Só para vermos a síntese do que ele diz. Retrato: e-mail enviado sábado, 14 de fevereiro, a mim, Senador Mão Santa. O assunto é “Mata o Velho”. Porque eles estão morrendo, os velhos. E ele disse que enviou isso para o jornal.

Não poderia deixar de mostrar minha revolta e decepção com o Presidente Lula [aí ele bota, e eu, por decoro e poética, não vou ler. Mas Lulinha, o Lula Paz e Amor, está sendo xingado pelos velhinhos. Está aqui, Azeredo. Eu não vou ler o apelido que ele bota em nosso querido Presidente], referente aos aumentos que vem proporcionando para os aposentados que ganham acima do salário mínimo em seu governo.

Seu governo tem dinheiro para salvar financeiras, bancos, montadoras de carros, construtoras, proporcionar aumento ao Bolsa Família [...] [aí para os seus...], salário mínimo [que é justo] em 12%, porém, não tem para repor as perdas salariais dos aposentados que, por muitos anos, contribuíram com valores superiores e hoje estão com seus rendimentos achatados, perdendo, só em seu governo, mais de 60% do poder aquisitivo.

O índice de 5,92% é uma brincadeira, uma ofensa aos aposentados. [O índice é de pouco mais de 5%; os outros aumentos, de 12%.]

A Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas deveria denunciá-lo por desrespeito ao Estatuto do Idoso, pois isso é uma verdadeira covardia, é uma falta de respeito, é uma vergonha.

Certa vez, a Senadora Heloísa Helena falou em plenário que “a política é a arte do cinismo” [...]. [É isso o que eu estou vendo. É isso!]

Durante sua campanha, pregou e prometeu repor as perdas. Mas na realidade ele aumentou as mesmas.

Os aposentados não podem fazer greve, a não ser a que estamos sendo forçados a fazer pelo Governo Lula, a greve de fome.

A classe tem que se mobilizar, participando de passeatas, efetuar panelaço e ir a Brasília no dia da votação do PL 4434/8, de autoria do Senador Paulo Paim [da qual eu sou relator], que vem tentando conseguir a recuperação das perdas salariais.

RUMO A BRASÍLIA

Atenciosamente

Otavio Heleno Padilha do Amaral.

É um bravo do Piauí.

E tem outro, muito recente, se aposentou agora. É o Carollo. Assunto: Desabafo. Olha, foi no dia 27 de dezembro de 2008, agora. Resumindo a história dele: trabalhou anos, muitos anos e economizando... Trinta e cinco anos. E a mulherzinha dele, a Adalgisinha dele: “Vamos ao cinema, vamos numa viagem”. “Não, depois de aposentado, nós vamos, temos que economizar para pagar.” E pagou! Pagou 35 anos na mesma empresa. Atentai bem! E, durante o contrato que nós fizemos - ô Luiz Inácio, é para a gente respeitar os contratos! Que País é este que o governo não respeita? Trinta e cinco anos. Fizeram os cálculos salariais dos 80 meses, como manda a lei - os 80 últimos salários -, e ele saiu vibrando: iria ganhar R$ 2.612,65. Recebeu R$ 1.636,00, ou seja, quase 40% a menos! “Olha, Senador Mão Santa, em vez de acabar os meus problemas, eles só começaram. A minha esposa agora me cobra...” Levaram 35 anos sonhando com uma vida com dignidade, sem sacrifícios, economizando para pagar...

(Interrupção de som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Para encerrar, é isso o que vimos pedir ao Presidente da República.

            No desabafo, há agressões ao Presidente da República, é lógico. Terminarei, Azeredo, fazendo uma homenagem a V. Exª ao falar de Minas, de Juscelino Kubitschek. S. Exª dizia que é melhor sermos otimistas. “O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado.” Juscelino, sacado daqui, esse pai da pátria, em um dos seus livros, diz: “A velhice é triste, mas, desamparada, é uma desgraça.”

            Luiz Inácio, não vamos deixar os nossos velhinhos na desgraça.

Esse é o nosso apelo, o apelo do Senado da República, que representamos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/02/2009 - Página 2037