Discurso durante a 14ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de carta do italiano Cesare Battisti aos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA EXTERNA.:
  • Leitura de carta do italiano Cesare Battisti aos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 27/02/2009 - Página 3239
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ANUNCIO, VIAGEM, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, CONGRESSO INTERNACIONAL, ENCONTRO, ECONOMISTA, REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CUBA, PRONUNCIAMENTO, CONFERENCIA, EVOLUÇÃO, DEBATE, PROGRAMA, BRASIL, GARANTIA, RENDA MINIMA, CIDADANIA, EXPERIENCIA, MUNICIPIO, SANTO ANTONIO DO PINHAL (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PIONEIRO, ADESÃO.
  • REGISTRO, OFICIO, AUTORIA, REPRESENTANTE, SINDICATO, METALURGICO, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), DIALOGO, DEBATE, SITUAÇÃO, DESEMPREGADO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), TENTATIVA, RECONCILIAÇÃO, EMPRESA.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, ACUSADO, HOMICIDIO, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, ENDEREÇAMENTO, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, POLITICA, DEFESA, INCOERENCIA, ACUSAÇÃO, CONCLAMAÇÃO, ORADOR, ATENÇÃO, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, BUSCA, VERDADE, QUESTIONAMENTO, PEDIDO, EXTRADIÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, muito obrigado a V. Exª, que hoje preside nossa sessão do Senado.

De fato, sigo hoje à noite para os Estados Unidos da América, onde, em Nova York, participarei do VIII Congresso da USA Basic Income Guarantee Network, onde farei a palestra de encerramento sobre a evolução da Renda Básica de Cidadania no Brasil. Segunda e terça-feira estarei em Havana, para lá participar do XI Encontro dos Economistas da Associação Cubana e do Caribe, um evento que reúne mais de mil economistas de Cuba e de todos os países. Nada menos que 222 economistas, inclusive seis laureados com o Prêmio Nobel, estarão participando. Lá também falarei sobre a evolução do debate da renda básica, instituição em lei que se afigura no Brasil como algo que vai ocorrer, e, inclusive, da experiência pioneira que deverá ser instituída em Santo Antônio do Pinhal, onde estive, no dia de ontem, com o Prefeito José Augusto de Guarnieri Pereira, muito entusiasmado. Marcamos para 20 e 21 de março as reuniões na Câmara Municipal e na Praça do Artesanato, nesse Município de sete mil habitantes, 50% dos quais na área rural e 50% na área urbana.

Eles querem, Presidente Mão Santa, ali instituir, pioneiramente, para os sete mil habitantes, uma renda básica de cidadania. Quando instituída, faço questão de que V. Exª vá ver com os seus próprios olhos, para então dizer ao Piauí: “Está na hora de fazermos aqui também.”.

Mas eu, hoje, Sr. Presidente, lerei a carta, conforme anunciei, de Cesare Battisti aos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Antes, porém, considero importante aqui dizer que o Sr. Adilson dos Santos, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, solicitou-me, através de ofício, que solicitasse ao Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que possam os trabalhadores e as suas entidades dialogar com a direção do BNDES a respeito das demissões de mais de quatro mil trabalhadores da Embraer. Felizmente, o Presidente Luciano Coutinho, com quem conversei na tarde de hoje, disse que marcará, se não amanhã até segunda-feira próxima, a reunião em que receberá os representantes dos trabalhadores da Embraer, representados no Sindicato dos Trabalhadores de São José dos Campos e região.

Também me informou Adilson dos Santos, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, que foi definida, hoje, uma audiência de reconciliação entre a Embraer, por sua direção, e os trabalhadores. Essa reunião se dará na próxima quinta-feira, dia 05, às 10 horas da manhã.

Disse-me o Presidente Luciano Coutinho que não está fácil resolver a situação, uma vez que a Embraer vende, de sua produção de aviões de alta tecnologia, 95% para o exterior.

Como houve uma queda acentuada da demanda por aviões, tornou-se muito difícil não haver o corte de trabalhadores. Mas, obviamente, o BNDES constitui-se numa das principais fontes de financiamento, com recursos, inclusive, como instituição oficial, tendo o próprio Presidente Lula observado, nesses últimos dias, que será importante que as empresas que se deram bem nos anos promissores, nos bons anos, agora e em horas difíceis possam também cooperar para que não haja tantas dificuldades para os trabalhadores.

O Presidente Luciano Coutinho informou-me que vai dialogar, sim, com os trabalhadores. Eu disse a Adilson dos Santos que é expectativa de todos nós que possa haver um diálogo o mais construtivo. Mesmo que seja difícil apresentar a solução de pronto, o diálogo, eu espero, será muito proveitoso.

Assim, Sr. Presidente, quero aqui informar que, conforme eu havia anunciado, ainda hoje estive com Cesare Battisti na prisão Papuda, onde ele entregou-me a carta que concluiu ontem, às 16 horas, dia 25 de fevereiro de 2009, dirigida aos Exmºs Srs. Ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, Presidente, Cesar Peluso, Vice-Presidente, Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia e Menezes Direito, uma carta em que ele relata a sua percepção, relata a sua história de vida, de maneira que, eu acredito, será importante para a avaliação dos Srs. Ministros, com respeito à decisão tomada pelo Ministro Tarso Genro, da Justiça, de lhe conceder a condição de refugiado no Brasil.

Eu, ontem, liguei para o Ministro Gilmar Mendes, que, inclusive, hoje viajou, e pedi a sua autorização para que, uma vez tendo entregue, protocolado essa carta para ele e os demais Ministros, eu pudesse ler a carta, e ele me autorizou.

Aqui mostro, Sr. Presidente, esta carta manuscrita, portanto na letra de... aqui está a cópia, obviamente, porque a original foi ao Ministro Gilmar Mendes. Há alguns lugares em que ele preferiu, depois de escrever, modificar algumas palavras, então riscou, mas isso mostra a autenticidade de sua carta, cujo conteúdo passo a ler.

Quero, inclusive, dizer ao nosso Senador Eduardo Azeredo que achei muito importante quando ele e também o Senador Heráclito Fortes, no dia seguinte, receberam a escritora Fred Vargas, que muito tem colaborado para o desvendar completo da verdade sobre esse assunto.

Então, eis as palavras escritas por Cesare Battisti aos Srs. Ministros do Supremo Tribunal Federal:

Tomo a permissão de dirigir-me a Vossas Excelências com a convicção de que, pela primeira vez, terei oportunidade de ser ouvido plenamente pela alta corte deste país, inclusive para expor porque fui impedido de exercer minha defesa de maneira adequada nas ocasiões anteriores em que fui julgado.

Quero dizer a verdade da minha história e esclarecer os episódios relacionados às terríveis acusações lançadas contra mim. Nunca tive a possibilidade, na Itália, de me defender. Nunca um juiz, ou um policial me fez uma só pergunta sobre os homicídios cometidos pelo grupo ao qual pertencia, os Proletários Armados pelo Comunismo, PAC. Nunca a justiça italiana ouviu meu testemunho. Nunca um juiz interrogou-me: “você matou?” Hoje, trinta anos depois pela primeira vez na minha vida, tenho a ocasião de explicar-me perante uma justiça, a justiça do Brasil. E creio sinceramente na seriedade e consciência desta justiça. Agradeço muito Vossas Excelências pela disposição, Senhores Ministros, de ouvir a minha palavra.

        Cresci numa família comunista muito militante. O meu pai e os meus irmãos arrastaram-me, muito jovem, para a ação política. Aos dez anos, meu pai já me levava para gritar slogans de revolta, na rua. Mas, aos 17 anos, compreendi que o homem cujo retrato era afixado na nossa casa era Stalin, e lancei-o pela janela. Aquilo abriu uma crise política com o meu pai, e deixei a minha família, para juntar-me à rua, com as centenas de milhares de pessoas que se revoltavam desde 1968 contra o binômio da política italiana: “Democracia Cristiana - Partido Comunista Italiano, DC-PCI”. Pertencia, então, a um grupo de jovens “autônomos” que vivia em uma comunidade. Eram militantes não armados. É mesmo verdade que para financiar nossa atividade militante, folhetos etc, levantávamos recursos através de roubos.

Para embelezar esses delitos, que foram extremamente numerosos nessa época na Itália, todos os jovens chamavam essas ações não de “roubos”, mas de “reapropriações proletárias”. E devo confessar que detestava essas ações simplesmente porque tinha medo. Esse medo persistiu durante toda minha ação militante, tema ao qual voltarei.

Foi devido a uma dessas “reapropriações proletárias” que fui encarcerado pela primeira vez, mas que realmente devia-se a nossa vida de militantes sem dinheiro. Na prisão, encontrei um homem mais idoso, Arrigo Cavallina, que pertencia a um grupo de luta armada, os PAC. Não gostava de sua personalidade, ao mesmo tempo fria e febril, mas impressionavam-me sua cultura e suas teorias revolucionárias - mesmo se não compreendia tudo o que ele dizia. Quando fui libertado, em 1976, voltei a minha comunidade: havia se tornado um deserto. Certos companheiros tinham morrido, mortos pelos policiais nas manifestações. Os outros estavam devastados pela droga. Nessa época, grandes quantidades de droga barata foram distribuídas maciçamente em todas as grandes cidades para quebrar o movimento de revolta. Em seguida, as entregas foram suspensas, e todos os jovens que tinham caído na armadilha da “heroína” tinham se tornado fantasmas em estado de “necessidade”, pensando apenas em encontrar droga, e não na ação política. Amedrontado por esse espetáculo, fiz o grande erro de minha vida: tomei um comboio para Milão e entrei no grupo armado dos PAC. Sem compreender, nessa época, que lá também caía numa armadilha fatal.

O chefe militar desse grupo era Pietro Mutti. Também era importante Arrigo Cavallina. Descrevi longamente a estranha personalidade de Pietro Mutti no livro que escrevi no Brasil durante a minha fuga: “Minha fuga sem fim”. Este trabalhador tinha tido graves problemas com droga e tinha saído disso graças à ação política. Isto fazia dele um fanático, uma verdadeira máquina de guerra.Apesar de seu caráter muito contido, tornamo-nos amigos. Mas Pietro Mutti supervisionava-me incessantemente, para ver se estava à “altura”, e eu tentava sê-lo. Os PAC eram especializados sobre a ação social e a melhoria das condições prisionais. O grupo cometia regularmente ações de apropriação aos bancos, para assegurar o seu financiamento e também ações aos locais de “lavoro nero”, trabalho sem carteira. Aquilo sim, eu fiz.

Todo esse ativismo militante nunca o neguei. Pietro Mutti tinha sentido perfeitamente o meu medo, durante estas “ações obrigatórias” que eu sempre detestei. Estávamos armados - embora uma boa parte das armas não funcionasse. Temia sempre que um dos companheiros atirasse sobre o vigia do banco, se este vigia levantasse a mão com a sua arma. Havia desenvolvido uma técnica para evitar aquilo: lançava-me com as mãos nuas sobre o vigia e punha-o no solo de surpresa porque sabia que, uma vez por terra, ninguém atiraria nele. Fiz aquilo numerosas vezes. Conto esta pequena história que pode parecer anedótica para assegurar-lhes, Srs. Ministros, que não sou, de maneira alguma, “um homem sanguinário”, como tem sido escrito incessantemente, mas ao contrário. V. Exªs podem também pedir a informação aos meus irmãos, Vicenzo e Domenico, como eu reagia quando era jovem e matavam um animal em nossa pequena exploração agrícola, mesmo que fosse um frango. Essa aversão ao sangue nunca diminui na vida de um homem. Pelo contrário, aumenta. E nunca matei e nem quis matar qualquer pessoa.

Quero deixar claro a Vossas Excelências o que sei sobre os quatro homicídios pelos quais fui acusado na minha ausência, sob alegações diversas. As acusações foram de que eu teria cometido os assassinatos de Santoro e Campagna, que eu teria sido cúmplice sobre o lugar no caso da morte de Sabbadin e que teria organizado a ação que matou Torregiani, morto no mesmo dia de Sabbadin. Sabem, Senhores Ministros, que fui preso em 1979 com outros militantes clandestinos e que fui julgado na Itália durante o primeiro processo dos PAC, onde estava presente. Houve numerosos casos de tortura durante este processo, com suplício da água, mas eu mesmo não fui torturado. Nenhuma vez durante este processo fizeram-me uma só pergunta sobre os homicídios. Os policiais sabiam perfeitamente que não os tinha cometido. Por conseguinte, fui condenado em 1981 por “subversão contra a ordem do Estado”, o que era verdade e o que eu não negava no processo. Fui condenado a 13 anos e 6 meses de prisão, porque, naquela época, as penalidades, de acordo com as novas leis de urgência, era multiplicadas por três para os ativistas. Esse tempo foi, depois, reduzido para 12 anos.

O meu processo, único e verdadeiro processo ao qual tive direito na Itália, foi concluído. Estava numa das “prisões especiais” que tinham sido construídas para nós, chamados de “terroristas”. Como prova de que a justiça italiana reconhecia, àquela época, a minha inocência quanto às acusações de homicídio, fui transferido para uma prisão para “aqueles cujos atos não causaram a morte”. Mas o Procurador Armando Spataro, que chefiava o esquema de torturas pela região de Milão, continuava a se incomodar comigo e bloqueou a minha correspondência com a minha família. Soube com três meses de atraso, por uma visita da minha irmã, que o meu irmão Giorgio tinha morrido num acidente de trabalho. O choque para mim foi imenso. Aquilo e o fato de que, a cada dia, no passeio, prisioneiros desapareciam sem razão para seguidamente retornarem meses após, embrutecidos e mudos, ou não retornarem fez-me tomar consciência de que as leis não seriam nunca normais para nós. Por causa disso e apenas por isso, tomei a decisão de fugir, e não para “fugir da justiça”, dado que o meu processo estava terminado.Evadi-me em 4 de outubro de 1981 e deixei folhas em branco assinadas aos meus antigos companheiros para o caso de um processo por minha evasão. Fui para a França. Antes de ir, em 1982, ao México. E porque ignorava completamente que a justiça italiana movia um novo processo contra os PAC, esse famoso processo na minha ausência, onde fui condenado à prisão perpétua sem luz solar. Fiquei sabendo disso com estupefação quando retornei à França, mesma data em que soube do falecimento do meu pai há dois anos atrás. Tal fato, a perda do meu pai, foi mais relevante que qualquer decisão da justiça, pois pensei que nenhum juiz consciencioso poderia considerar com seriedade um processo como esse.

Devo recomeçar a minha história em 1978, quando era ainda membro dos PAC. Desculpem-me, por favor, por me prolongar, Senhores Ministros, mas é a primeira vez, repito-o, que posso explicar na frente de uma justiça digna desse nome e desejo dizer a Vossas Excelências tudo o que sei. Em maio de 1978, eu soube, como todos os italianos e o mundo inteiro, do sequestro e assassinato de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas. Olhava horrorizado essa imagem da mala do automóvel, um KL, na televisão. Posso dizer que esse dia tornou-me outro homem. Há na minha vida “antes de Aldo Moro” e “após Aldo Moro”. Nesse dia, senti duas coisas: o horror que me inspirava aquele ato, a náusea na frente de todo aquele sangue vertido por todos os lados. Compreendi também que o uso das armas era uma armadilha, na qual a extrema esquerda tinha caído. Decidi nesse dia romper com a luta armada, definitivamente. Em toda a Itália, a morte de Aldo Moro suscitou enorme discussão em todos os grupos armados. No que respeita aos PAC, decidimos por uma nova palavra de ordem segundo a qual estaríamos armados para defender-nos, mas nunca para atacar pessoas. Estupidamente fiquei tranquilizado por esta decisão, votada pela maioria. Mas um mês depois, em junho de 1978, um grupo autônomo dos PAC, dirigido por Arrigo Cavallina e chefiado por Pietro Mutti, sem consultar a totalidade dos membros responsáveis, matou o chefe dos agentes penitenciários, Santoro. Houve imediatamente uma reunião muito agitada [...]

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Quantos minutos V. Exª precisa para ler a carta de defesa de Cesare Battisti?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Acredito que mais vinte minutos.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Rapaz, hein... Vai demorar o tempo do julgamento de Nuremberg.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou empatar com o tempo que concedi a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Foi não...

V. Exª tem e eu quero crer que a Itália aprendeu com os ensinamentos de Nuremberg, ela que foi junto com os alemães a causa da guerra.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, eu estou lendo esse trecho tão importante da transformação que houve com Cesare Battisti, quando se deparou com o seqüestro e assassinato de Aldo Moro.

[...] Compreendi também que o uso das armas era uma armadilha na qual a extrema esquerda tinha caído. Decidi nesse dia romper com a luta armada, definitivamente. Em toda a Itália, a morte de Aldo Moro suscitou enormes discussões em todos os grupos armados. No que respeita aos PAC, decidimos por uma nova palavra de ordem, segundo a qual estaríamos armados para defender-nos, mas nunca para atacar pessoas. Estupidamente, fiquei tranquilizado por essa decisão votada pela maioria. Mas, um mês depois, em junho de 1978, um grupo autônomo dos PAC dirigido por Arrigo Cavallina e chefiado por Pietro Mutti, sem consultar a totalidade dos membros responsáveis, matou o chefe dos agentes penitenciários, Santoro. Houve imediatamente uma reunião muito agitada. Pietro Mutti e Arrigo Cavallina defenderam esse homicídio com grande vigor. Nesse mesmo dia, deixei o grupo, como uma boa parte dos membros antigos que se opunham a todo ataque contra pessoas. Pietro Mutti ficou furioso contra mim, considerava que o traí.

Juntei-me, então, ao que era chamado um “coletivo de grupos territoriais”. Também armados, mas não ofensivos. Vivia com muitos outros clandestinos, num velho prédio de Milão. Sabíamos quase tudo o que se passava e se dizia na cidade. E é assim, que, no início do ano de 1979, soubemos que os PAC preparavam ação contra homens de extrema direita que praticavam autodefesa, que andavam sempre armados (espécie de milicianos). Eu não sabia quem era a pessoa visada e não sabia que realmente os PAC tinham decidido matar dois desses justiceiros de extrema direita, Torregiani, em Milão, e Sabbadin, na região de Veneza. Eu quis impedir esses atos sangrentos, estúpidos e contraproducentes para a resistência. Um verdadeira suicídio político, posto que indefensável. Pedi a autorização, em nome do “grupo territorial”, para participar de uma reunião dos PAC, na casa de Pietro Mutti. Cheguei com dois outros companheiros. Havia lá muitos membros novos que eu não conhecia e que tinham substituído as nossas partidas do ano precedente. Expliquei a Pietro Mutti e aos outros a estupidez e a loucura do seu projeto. Muito rapidamente, a reunião caminhou mal e o tom se tornou muito elevado. Os membros dos PAC disseram-me que eu não tinha mais direito de dar o meu parecer, dado que não pertencia mais ao grupo, e a reunião terminou sob forte tensão. Eu não sabia quem devia ser morto. Cerca de um mês depois, ou menos, soube pelos jornais que Torregiani tinha sido assassinado e que, durante o ataque, uma bala de revólver de Torregiani tinha atingido seu próprio jovem filho Alberto. Recordo que fiquei gelado na calçada ao ver o jornal. Soube também que um outro membro da milícia havia sido morto no mesmo dia na região de Veneza, Sabbadin. Fiquei chocado e também envergonhado, muito perturbado, porque eu tinha pertencido a esse grupo, que se tornou assassino.

E dois meses após, em abril - mas não me recordo da data - um policial do Digos, Campagna, foi morto também. O Senador Suplicy interrogou-me para saber se tinha álibis às datas destes homicídios. Mas penso que podem compreender, Senhores Ministros, que, até mesmo por não os ter cometido, sou incapaz de recordar as datas desses crimes. Além disso, vivíamos escondidos nos apartamentos, e os dias eram vazios, intermináveis e muito semelhantes. É-me impossível recordar, 30 anos depois, onde estava naquelas datas, certamente no apartamento, que praticamente nunca deixávamos.

Seguidamente no verão houve uma grande operação no norte da Itália e fui preso com todos os ocupantes do prédio. Sim, é exato que havia armas no lugar, mas a própria justiça italiana estabeleceu, por uma avaliação balística, que eram virgens, que nenhuma delas nunca tinha sido usada para dar um único tiro.

Muitos dos fatos que conto agora não os vivi, dado que estava no México. Soube deles em 1990, na França, quando fui informado do conteúdo do segundo processo que começou com a detenção de Pietro Mutti em 1982. Soube, na França, que Pietro Mutti tinha sido torturado e tinha se constituído “arrependido”, que aceitava colaborar com a justiça italiana em troca de sua liberdade e uma nova identidade. Soube que ele estava sendo acusado, com base em inquéritos policiais, de ser o atirador sobre Santoro e que acusou-me no seu lugar. Durante esse longo processo, Pietro Mutti fez tantas acusações que muito frequentemente ficou atrapalhado em suas declarações impossíveis ou contraditórias. Por exemplo, para salvar sua namorada, acusou outra mulher, Spina, de ser cúmplice no atentado contra Santoro. Mas, em 1993, a justiça foi obrigada a reconhecer a inocência da Spina e libertá-la. Não tenho os documentos comigo, e devo dizer que a escritora e pesquisadora francesa Fred Vargas conhece muito melhor o meu processo do que eu mesmo. Mas sei que, em 1993, segundo creio, a própria justiça percebeu, por seus atos e suas palavras, que Pietro Mutti era “habituado aos jogos de prestidigitação” e que, freqüentemente, dava o nome de uma pessoa em lugar de outra. À parte a tortura, a única desculpa que se pode dar a Pietro Mutti por ter-se sujeitado a fazer suas terríveis e falsas acusações é que seguiu uma regra: proteger os acusados presentes, lançando a culpa sobre os ombros dos ausentes. Como quanto acusou Spina até que se reconheceu sua inocência em 1993.

Mutti não foi o único arrependido acusador. Quero explicar aos Senhores Ministros que, nessa época, durante os processos nos anos de chumbo, o sistema das torturas e dos “arrependidos” foi utilizado correntemente (ver relatório da Anistia Internacional e da Comissão Européia) e com uma intensidade específica pelo procurador Spataro.

Sabíamos todos que era terrível a ver Spataro como procurador. O sistema dos “arrependidos” não funcionava sobre o único testemunho de um só homem. Era necessário obter outros “testemunhos” de arrependidos de modo que a acusação fosse “confirmada” e parecesse sólida. Houve por conseguinte outros membros dos PAC que me acusaram, juntamente com Pietro Mutti, como Memeo, Masala, Barbetta, etc. Todos eram arrependidos ou “dissociados”, e todos ganharam reduções de pena ou liberdade imediata, ou evitaram a prisão perpétua. Assim, por exemplo, Memeo, o que matou Torregiani e Campagna, Cavallina, o “ideólogo” dos grupos dos duros, Fatone, Grimaldi, Masala, que fizeram parte do comando contra Torregiani, Diego Giacomini, que executou Sabbadin. Todos estes obtiveram sua liberdade em troca da confirmação de Pietro Mutti.

           No que respeita à morte de Santoro, já contei da reunião que se seguiu e que decidiu a minha saída do grupo. Sei apenas que Arrigo Cavallina e Pietro Mutti defenderam ardentemente esse crime durante aquela reunião e que a polícia os acusava de tê-lo cometido.

Não pertencia mais ao grupo [diz Cesare Battisti] quando foram cometidos os três outros assassinatos, por conseguinte os meus conhecimentos precisos estão limitados. Mas a mídia que me acusa incessantemente de, voluntariamente, “ter atirado sobre Torregiani” e mesmo de ter “atirado sobre seu filho” [o que alguns Senadores aqui afirmaram] sabe efetivamente que isso é totalmente falso. A justiça italiana reconheceu que os quatro homens do comando eram Grimaldi, Fatone, Masala e Memeo, que atirou sobre o joalheiro. E foi também a justiça que confirmou que a bala que feriu o filho Alberto vinha do revólver de seu pai. Creio que, no início, Mutti acusou-me desse crime. Mas como acusava-me também do homicídio Sabbadin, cometido no mesmo dia a centenas de quilômetros,[...]

Eu verifiquei: entre Milão e a região de Veneza, são 280 km. E o intervalo de um para outro crime foi de 1 hora e 50 minutos aproximadamente. Então, era impossível a mesma pessoa estar em ambos os assassinatos.

[...] disse que eu era “o organizador”. Expus já o que se passou na reunião quando tentei impedir esta ação. Quanto ao Sabbadin, Giacomini (sub-chefe para a região de Veneza) confessou ter atirado sobre ele. Como Mutti primeiro tinha dado o meu nome como “atirador”, transformou-me, após as confissões de Giacomini, em motorista, do lado de fora. Só que nem assim funcionou, pois resultou posteriormente que o “motorista” era uma mulher. Senhores Ministros, nem mesmo sei onde é esta aldeia onde foi morto Sabbadin.

Por último, sei que Mutti acusou-me ainda ter atirado sobre Campagna. À época, nada soube sobre a preparação deste crime, não mais que sobre o de Sabbadin. O que sei é que uma testemunha ocular descreveu o agressor como um homem muito grande, de 1,90m, enquanto que eu meço vinte centímetros menos. O resto a escritora e pesquisadora Fred Vargas explicou-me: a balística provou que a bala vinha da arma de Memeo, o que atirou sobre Torregiani, e que uma testemunha diz que tinha acreditado entender pelas palavras de Memeo, que ele que tinha atirado. Mas esta testemunha é talvez um arrependido, e não tenho certeza sobre o responsável pela morte de Campagna.

Não sou responsável por nenhum dos homicídios de que sou acusado, Senhores Ministros. Constantemente fui utilizado no processo como um bode expiatório, por arrependidos. A melhor prova de que digo a verdade é que falsos mandatos foram fabricados, como a perícia grafotécnica comprovou, de modo que os advogados Gabriele Fuga e Giuseppe Pellazza “representaram-me“ no processo na minha ausência. Por quê? Certamente não para defender-me, certamente não para o meu bem, dado que foi condenado a prisão perpétua com privação de luz solar. Mas certamente para tornar a acusação contra mim mais aceitável e criar cenário favorável para uma pena mais rigorosa. Até muito tempo depois da simulação de julgamento eu não sabia que existiam falsas procurações. Esta descoberta, devo-a a Fred Vargas e à minha advogada francesa, Elisabeth Maisondieu Camus. Foi Fred Vargas que me deu a informação, quando foi visitar-me na prisão em 2007, em Brasília. Um antigo companheiro (quem? Pietro Mutti? Bergamini?) deu aos advogados as folhas brancas que tinha assinado em 1981, antes de minha fuga. Duas destas folhas foram preenchidas depois em 1982, com “minha” letra, aparentemente. Fred Vargas explicou-me que o mesmo texto o do verdadeiro mandato que assinei em 1979 foi copiado duas vezes, e que os dois textos estão sobrepostos por transparência, enquanto que foram escritos com dois meses de intervalo, “datados” de maio e julho de 1982.

Uma perícia francesa provou, em janeiro de 2005, que as três assinaturas dos três mandatos foram efetuadas no mesmo momento e que, por exemplo, o texto do mandato de 1990, supostamente enviado do México (mas o envelope não existe) foi datilografado acima da minha assinatura de nove anos atrás. A perícia provou também que as datas não foram escritas por minha mão, assim como também o escrito nos envelopes nos dois primeiros “mandatos”.

Quando os meus advogados franceses souberam disso, comunicaram imediatamente, em janeiro de 2005, ao Conselho de Estado francês. Assim procederam porque a França não tem o direito de extraditar um condenado em ausência, que não foi informado de seu processo. Estes três falsos mandatos provaram que eu não havia sido informado (se sim, teria escrito os mandatos eu mesmo). Muito infelizmente, o Conselho de Estado, submetendo-se à vontade do Presidente Jacques Chirac, recusou-se a examinar a falsidade dos mandatos. Aceitaram a extradição afirmando que “tinha sido informado e representado, como se os mandatos fossem verdadeiros”. Em seguida, os meus advogados franceses apresentaram a comprovação dos três falsos documentos à Corte Européia, mas lá também foi inútil, pois, certamente por interferência do governo francês, como esclareço em seguida, a Corte Européia fechou os olhos, ignorou a prova pericial e disse que os mandados eram verdadeiros. O meu advogado francês Eric Turcon informou-me em Brasília que essa “Corte Européia” tinha sido constituída exclusivamente por magistrados franceses, muito vinculados a Jacques Chirac. Este único fato, Senhores Ministros, prova que o meu processo italiano foi viciado, sendo esse um dos elementos que o Ministro Tarso Genro reconheceu. E que a aprovação da extradição pelas três Cortes francesas, e em seguida pela Corte Européia, foi sempre fundada sobre a existência daquelas procurações, que são absolutamente falsas, o que fica evidente num exame a olho nu. Por que estas Cortes, informadas da falsidades desses documentos, se recusaram a considerar esse ponto da mais alta relevância?

O Secretário Nacional de Justiça do Brasil, Romeu Tuma Jr., por solicitação do Ministro da Justiça, Tarso Genro, teve a oportunidade de examinar detalhadamente os documentos apresentados pela historiadora e arqueóloga Fred Vargas, em diálogo de duas horas, em companhia do Senador Eduardo Suplicy, documentos nos quais se evidencia que houve a falsificação das procurações, conforme a análise técnica, com reconhecimento oficial, feita pela responsável por estudos de grafologia na França, Srª Evelyn Marganne. Será muito importante que Vossas Excelências também possam examinar com atenção essas provas, que muito contribuíram para fundamentar o que foi expresso na decisão do Ministro Tarso Genro. Por esse motivo, anexo aqui os documentos levados pela pesquisadora Fred Vargas a Dr. Romeu Tuma Jr. e encaminhados ao Ministro Tarso Genro, pois eles mostram a evidência da falsificação das procurações e apóiam as explicações detalhadas das folhas nas conclusões da Justiça italiana a meu respeito.

Assinalo que todas as testemunhas arroladas que contaram que eu teria participado dos quatro assassinatos foram beneficiárias pela “delação premiada” com consequente diminuição de suas penas e/ou de sua libertação. O Sr. Walter Fanganiello Maierovitch afirma em seus artigos que a Justiça italiana não aceita o depoimento de um “arrependido” que use da delação premiada, se porventura não falar a verdade. Entretanto, a própria Justiça italiana não invalidou a denúncia contra mim feita por Pietro Mutti, apesar das contradições acima assinaladas. Observo também que, na entrevista dada por Pietro Mutti à revista Panorama, na qual se baseou a revista Veja para concluir que eu era culpado dos quatro assassinatos, diferentemente do que se deu a entender, não há foto recente de Pietro Mutti. A foto lá mostrada é do tempo em que nós convivíamos e suas palavras são exatamente as mesmas que pronunciou à época da denúncia. De minha parte estou disposto a confirmar pessoalmente perante Vossas Excelências tudo o que estou dizendo. Assim como estou disposto [é o que assevera Cesare Battisti, que, hoje, confirmou a mim que está disposto a dialogar e inclusive a responder a toda e qualquer pergunta que os Ministros do Supremo Tribunal Federal fizerem a ele] a afirmar aos familiares das quatro vítimas, olho no olho, que não matei seus entes queridos. Sei que a Justiça do Brasil tomará em consideração todos os elementos que, postos juntos, provam a minha inocência e a maneira tremenda como foi utilizado como bode expiatório durante esse processo tão cheio de falhas na Itália. A cólera desproporcionada de alguns setores da Itália decorre, em grande parte, do fato de que não querem, ou não lhes convém, reconhecer que o meu processo foi totalmente falseado, como tantos outros desse mesmo período (houve 4.700 processos contra a extrema esquerda durante os anos de chumbo).

Espero, Senhores Ministros, que me tenham entendido, apesar do ataque irracional e desmedido de setores muito influentes de um país - a Itália - contra mim. Sobre a minha vida e sobre a minha honra, posso afirmar que lutei sempre contra as ofensas físicas durante a revolta italiana e que nunca atentei contra a vida das pessoas. Essa é a verdade, que nenhuma prova contrariou.

Solicito a Vossas Excelências, Senhores Ministros, receber as expressões de meu respeito e da mais elevada consideração.

Cesare Battisti.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, quero muito agradecer a V. Exª a gentileza de me permitir ler essa carta completa de Cesare Battisti. V. Exª há de convir que se trata da expressão de quem aqui procura transmitir a verdade, segundo sua perspectiva. Quero que a justiça seja feita.

Hoje ainda, o parlamento italiano aprovou uma moção, pedindo ao Brasil que extraditasse Cesare Battisti. E quero aqui conclamar os membros do parlamento italiano a que verifiquem, em profundidade, aquilo que está escrito nessa carta: se houve ou não as torturas mencionadas durante o primeiro processo; se houve ou não perseguição aos que estavam presos, o que levou Cesare Battisti a fugir da sua prisão, segundo ele disse, e não a fugir da Justiça. Ali ele se via ameaçado e viu muitos de seus colegas terem sua saúde inteiramente estragada, quando não desapareciam. Isso é importante. O Senador Del Fiore, que mora no Brasil, que foi eleito durante o último governo e que esteve representando o Senado na Itália, está de acordo em que houve, nos anos 70 e 80, fortes perseguições à Esquerda e que, muitas vezes, mesmo que houvesse ali um regime democrático, houve abusos.

Sr. Presidente Mão Santa, mesmo em um regime democrático como o de De Gaulle, houve, a certa altura, fatos terríveis, da parte de responsáveis franceses na Argélia - crimes de perseguição e de tortura e outros -, até que houve a independência da Argélia. O fato de um país viver sob a democracia não significa que ali não possam ter ocorrido abusos.

Convido os parlamentares da Itália a examinarem em profundidade os abusos cometidos. Por que não examinam como houve as três falsas procurações que caracterizaram o julgamento de Cesare Battisti? Esse é o ponto essencial, e convém ao parlamento italiano, com dignidade, observar esse fato, antes de solicitar ao Ministro Tarso Genro, ao Governo brasileiro, ao Supremo Tribunal Federal que modifiquem a decisão tomada, porque dúvidas houve, inclusive as de que Cesare Battisti estava e está sendo perseguido pela Itália por muitos que não querem examinar em profundidade os fatos que precisam vir à tona completamente.

Eu, como descendente de italianos, que tenho um bisavô e um avô que me honram - Francesco Matarazzo, pioneiro da industrialização brasileira, e Andrea Matarazzo -, quero que a verdade venha à tona. Se houver uma prova concreta, se houver uma testemunha ocular, que não seja dos arrependidos! Mas isso não há! Faz 30 anos, e não apresentaram até hoje uma testemunha ocular qualquer dos quatro assassinatos. Todos que acusaram Cesare Battisti foram beneficiados com a delação premiada, com o prêmio da sua própria liberdade. E, se alguns estão tão incomodados, que procurem mais a fundo!

Mino Carta e Walter Fanganiello Maierovitch tiveram a oportunidade de conversar com Fred Vargas - eu mesmo encaminhei artigo de Fred Vargas à Carta Capital - e se recusaram, porque disseram que já estavam com seu ponto de vista firmado. Lamento isso, porque considero Mino Carta um dos maiores jornalistas brasileiros; é um homem que muitas vezes se caracterizou por procurar a verdade inteiramente. E ele escreveu, no seu blog, em despedida, que a cidade de Milão se distancia da outra cidade, Santa Maria, uma pequena vila na região de Veneza... Na verdade, de Veneza a Milão são 280 km; de qualquer forma, é mais do que uma hora e cinqüenta minutos. Então, ficava difícil. E a própria Justiça observou que não poderiam ter ali sido cometidos pela mesma pessoa os dois crimes. Mas ele insiste, como se não fosse um jornalista que quer saber a verdade completa. Já Walter Fanganiello - aqui está assinalado - diz que o depoimento de arrependidos, quando incidissem em mentiras, seria anulado, mas o de Pietro Mutti, diversas vezes, foi caracterizado por inverdades, e seu depoimento em que acusa Cesare Battisti não foi devidamente anulado.

Assim, Sr. Presidente, se quiserem provar, que mostrem para valer! Mas, se for para condenar Cesare Battisti da forma como fizeram, quero dizer aos queridos deputados italianos, muitos dos quais aqui recebemos com todo respeito, com amizade e com dignidade, que procurem saber exatamente dos fatos, porque foram diversos outros parlamentares, durante os anos de chumbo, que averiguaram que aconteceram, sim, abusos extraordinários pela Justiça italiana. Nas prisões italianas, inclusive, houve torturas, naquela época dos anos de chumbo.

Sr. Presidente, muito obrigado por sua atenção, pela compreensão e pela tolerância.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/02/2009 - Página 3239