Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do jornalista Edgar Ferreira Barbosa, por ocasião da passagem do seu centenário de nascimento.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do jornalista Edgar Ferreira Barbosa, por ocasião da passagem do seu centenário de nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 06/03/2009 - Página 4121
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, PROFESSOR, DIREITO INTERNACIONAL, ESCRITOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), LEITURA, TEXTO, AUTORIA, ADVOGADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, LITERATURA, REGIÃO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna prestar uma homenagem a um professor de Direito Internacional Privado, a um escritor, homem de letras, cujos 100 anos de existência o Rio Grande do Norte está comemorando.

Estudei com ele no prédio da Ribeira em Natal, na Praça Augusto Severo, perto do Teatro Alberto Maranhão, onde funcionava a Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Norte, antes de ser construído o campus universitário e anteriormente à reforma do ensino superior, que transformou as faculdades em cursos. Quem diz isso não sou eu. Quem diz isso é um outro advogado, Ivan Maciel de Andrade.

Como tivemos, como alunos de Edgar Barbosa, a mesma trajetória, estudamos com ele no mesmo curso de Direito, escolhi o seu texto - por sinal um texto dos mais escorreitos, dos mais belos - para homenagear Edgard Barbosa em seu centenário.

Diz Ivan Maciel de Andrade, a respeito de Edgar Barbosa:

Tinha grande domínio sobre outros campos do conhecimento que se estendem além do Direito - literatura, história, sociologia, política. Mas Edgard Barbosa era, sobretudo, um literato, no sentido mais qualificado e exigente em que se pode usar essa designação. Quando, após uma aula sobre Direito Constitucional, assistida por uma comissão do MEC, ao receber entusiástico elogio de um professor de outra Universidade, respondeu Edgard Barbosa, com ar irônico: ‘Sou apenas um Dom Quixote do Direito’.

Até quando escrevia, diz Ivan Maciel, sobre matéria jurídica - conheço dele um excelente estudo sobre O princípio do livre convencimento do julgador (ele exercia a magistratura) - seu estilo era sóbrio, elegante, quase que despojado de adjetivação, o mesmo estilo com que escrevia seus artigos para a imprensa e os ensaios literários que resultavam geralmente das palestras que proferia. Embora fosse um professor que transmitia informações atualizadas sobre sua disciplina, suas aulas impressionavam mais pelo brilhantismo da exposição do que pela amplitude e profundidade do conteúdo.

Quase sempre, quando o assunto lhe permitia, enveredava por alusões a obras de ficção, poemas, autores da literatura universal. Nesses momentos, suas aulas se tornavam ainda mais interessantes pelo fato de que o professor ficava mais motivado. Era uma confissão involuntária de que os temas literários constituíam, na verdade, a sua grande paixão intelectual.

Naquela época [diz Ivan Maciel] havia um consenso sobre Edgar Barbosa, de que participavam todos os que gostavam de literatura em nossa cidade (inclusive com endosso integral do mestre Câmara Cascudo, que o convidou para prefaciar o seu livro “Vida breve de Auta de Souza”): Edgar Barbosa era um estilista, somente comparável ao que existia de melhor nos grandes centros literários do nosso País. O seu estilo era contido, era sintético. Dava a impressão de que escrevia de forma torturada, com a preocupação de encontrar as palavras e construções que mais o satisfizessem. Mesmo ao falar de improviso, o ritmo era o de quem refletia e ponderava, antes de expor os seus conceitos e idéias - por sinal, com clareza e precisão de uma elaborada peça escrita. Isso não prejudicava a força de comunicação de suas palestras e de seus textos. Dava-lhes até maior poder de comunicação porque, sem preciosismo ou rebuscamento, fugiam sistematicamente do lugar-comum, do clichê.

Diz ainda o autor desse artigo publicado no jornal Tribuna do Norte de Natal, no Rio Grande do Norte, homenageando o centenário desse escritor potiguar. Ivan Maciel de Andrade diz, ao finalizar o seu artigo:

Certa vez, fui à casa de Edgar Barbosa para receber uns livros que ele resolvera presentear-me. Convidou-me, então, para conversarmos. Iniciada a conversa, chegou o Deputado Federal Djalma Marinho, que morava em uma casa em frente à de Edgar Barbosa. O assunto passou a ser literatura. Djalma Marinho olhou para mim e disse que ia me fazer uma provocação: perguntou-me qual romance que mais me marcara pelas leituras que até então eu fizera. Não hesitei: “A montanha mágica”, de Thomas Mann. Djalma Marinho, afetuosamente, elogiou o meu “gosto literário” [no caso o gosto literário de Ivan Maciel] e comentou, de forma gozadora, que eu devia entender muito das reações psicológicas dos doentes internados num hospital para tratamento da tuberculose. Em seguida, fez um elogio, Sr. Presidente, a Edgar Barbosa que, me parece, sintetiza, com justiça, tudo o que se pode dizer de melhor a seu respeito: “Edgar é uma das maiores vocações literárias do nosso Estado, que não se realizou plenamente devido ao perfeccionismo”. A essência da avaliação feita por Djalma Marinho continua perfeita, irretocável, definitiva. Edgar Barbosa representa, entre nós, um dos pontos mais altos da difícil arte de escrever - um estilista capaz de rivalizar com os grandes escritores nacionais.

Sr. Presidente, acabo de ler um artigo do também escritor, que se apresenta como advogado, mas na verdade é um escritor. Falo do Dr. Ivan Maciel de Andrade, sobre Edgar Barbosa por ocasião de seu centenário.

A comemoração do centenário desse homem foi muito simples. Compareci a uma missa em ação de graças pelos cem anos e, depois, tivemos um café. Dois ou três prédios públicos do Rio Grande do Norte, principalmente escolas, guardam o nome de José Edgar Barbosa. Foi uma homenagem simples a um homem que viveu na maior simplicidade. Eu o conheci ainda muito jovem e me impressionei justamente por essas qualidades de que fala Ivan Maciel de Andrade. Essas qualidades de escritor, de professor, sua vocação literária. Na verdade, Edgar Barbosa, se não fosse a literatura ou o círculo literário provinciano no qual convivia, se não tivesse realmente se debruçado sobre essas obras ligadas à província, teria se projetado, como disse Ivan Maciel de Andrade, no cenário nacional.

Câmara Cascudo, quase que da sua geração, é hoje celebrado no mundo inteiro. Quem não conhece a obra de Câmara Cascudo, a sua obra como etnógrafo, como historiador, como sociólogo?

Portanto venho falar sobre uma vocação literária do meu Estado, Estado este que, sendo um Estado nordestino, sendo um Estado que até então não se projetava, não deu a Edgar Barbosa a possibilidade de chegar mais longe, mas os seus conterrâneos, aqueles que o conheceram, sabem que ele foi, Sr. Presidente Jefferson Praia, um escritor realmente consagrado.

Eu peço a V. Exª que faça registrar nos Anais do nosso Senado Federal essa peça de Ivan Maciel de Andrade sobre Edgar Barbosa. É a minha homenagem a esse grande escritor que honrou o meu Estado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR GARIBALDI ALVES FILHO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Tribuna do Norte 21/02/2009


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/03/2009 - Página 4121