Discurso durante a 24ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo Federal por sua gestão da crise econômica, em face da expressiva queda do Produto Interno Bruto - PIB no quarto trimestre de 2008.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Críticas ao Governo Federal por sua gestão da crise econômica, em face da expressiva queda do Produto Interno Bruto - PIB no quarto trimestre de 2008.
Aparteantes
Adelmir Santana, Mário Couto, Papaléo Paes, Valter Pereira.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2009 - Página 4488
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), CONSUMO INTERNO, NECESSIDADE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), CONTROLE, TAXAS, JUROS, AUMENTO, RISCOS, RECESSÃO, BRASIL.
  • CRITICA, AUSENCIA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, ECONOMIA NACIONAL, REPUDIO, LIBERAÇÃO, RECURSOS, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, RESPONSAVEL, INVASÃO, TERRAS, AMPLIAÇÃO, NUMERO, MINISTERIOS, AUMENTO, SALARIO, SERVIDOR.
  • COMENTARIO, APREENSÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), GRAVIDADE, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, BRASIL, SUGESTÃO, CRIAÇÃO, GABINETE, DEBATE, FALTA, CREDITOS, SITUAÇÃO, POLITICA CAMBIAL, REDUÇÃO, CARGA, TRIBUTOS, LIBERAÇÃO, RECURSOS, APOIO, INDUSTRIA, OBJETIVO, AGILIZAÇÃO, BUSCA, SOLUÇÃO, POSSIBILIDADE, RECESSÃO.
  • EXPECTATIVA, RESULTADO, REUNIÃO, CONSELHO, POLITICA MONETARIA, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS, COBRANÇA, EFICACIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, COMBATE, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.

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A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

Hoje a tarde não é muito satisfatória; acredito que não é um dia muito bom para todos os brasileiros. Em 18 de dezembro de 2008, final do ano, escrevi artigo que foi publicado em alguns jornais do meu Estado que tinha o seguinte título: “Um olhar ‘sem ilusões’ sobre a crise”. E nesse artigo, uma frase que leio aqui: “Governo é sempre mais eficaz à medida que sabe gerenciar a escassez e transformar seus recursos em oportunidades criativas de investimentos sociais.”

Hoje, fomos abrindo todos os jornais, e eu trouxe aqui alguns que quero mostrar: Correio Braziliense: “Choque e pressão. Queda brutal do PIB no último trimestre de 2008. Aumenta a tensão no Banco Central para reduzir a taxa básica de juros. Tombo de 3.6% surpreende a equipe econômica.” Jornal O Globo: “A marolinha que virou Tsunami. Indústria desaba. Consumo cai e já se teme 2009 com recessão. Queda do PIB no 4º trimestre, maior que prevista, aumenta a pressão por redução de juros.” O Estado de S. Paulo: “PIB desaba no quarto trimestre e risco de recessão aumenta. Queda de 3.6 foi a maior em doze anos, mesmo com freada, economia cresceu 5.1 em 2008.

Eu quis fazer esse preâmbulo, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, para falar da história, que ficou marcada, da marolinha.

        A minha pergunta, depois do que vimos ontem, do que estamos sentindo hoje neste País, é saber quem vai dar o rumo para o Brasil. Alguém tem que dar. Eu disse há alguns dias aqui, Sr. Presidente, logo depois que o Presidente Obama tomou posse, que foi ao Congresso americano e que deu rumo ao país, dizendo: “Nós estamos numa crise profunda aqui nos Estados Unidos, mas o rumo é este...” E colocou, inclusive, alguns itens como prioritários que, à primeira vista, poderiam parecer incríveis. Estabeleceu uma reforma da educação como prioridade, disse a que veio e que o país podia ter segurança e esperança, porque o país tinha alguém que daria o rumo.

Agora, quero colocar aqui para o nosso Brasil o que está acontecendo: a riqueza encolheu, o emprego está sumindo também. Acho que, se nós perguntarmos, todo mundo, aqui ou fora daqui, sabe de alguém que está desempregado - alguém da família - ou conhece alguém que está perdendo o emprego. No meu Estado, está uma lástima. O consumo das famílias também caiu: menos comida na mesa. O Governo vendeu o sonho de que era para todo mundo comprar: comprem, gastem, invistam. E agora?

O pequeno empresário não tem mais crédito, o grande também não. O Governo está intervindo pontualmente. É esse o caminho?

Quero lembrar aqui uma fábula que todo brasileiro conhece - aliás, o mundo todo conhece -, “A Cigarra e a Formiga”, do francês La Fontaine, que fala de previdência. Fala de uma formiga que carrega uma folha pesada, trabalha o ano inteiro para garantir seu sustento no inverno. E a cigarra, com seu violão, só canta. É ótimo cantar. Quem não gosta de otimismo, Presidente? Quem não gosta? Quem não gosta de uma boa cantoria? Todo mundo. Imagine o Brasil, que é um País musical. Todo mundo adora, do nordeste ao sul do País e também de leste a oeste, no meu Mato Grosso do Sul.

Mas, Sr. Presidente, para gerenciar um país, governar um país pressupõe-se que haja um presidente para dar o rumo, que tenha seriedade, que não mande todo mundo comprar, que não diga que isso aqui é uma marolinha. Eu quero um presidente que possa dar serenidade, competência ao País. A não ser que tenha mais gente governando o País do que o Presidente.

Falei da fábula do La Fontaine, mas, como católica, queria lembrar aqui algo que todos que são cristãos conhecem, que é o texto bíblico de Jacó. Quando ele foi decifrar os sonhos do faraó do Egito, falou das sete vacas gordas que, depois, sucediam as sete vacas magras; das espigas mirradas e das espigas robustas. E isso deu ao faraó condições de se prevenir, porque ele interpretou os sonhos, dizendo que isso era necessidade de previdência, que as vacas magras iam chegar. E é por isso que falamos tanto em vaca gorda e em vaca magra, em época de vacas magras. Por que época de vacas magras? Porque a Bíblia nos conta isso. E que previdência estamos tomando e tomamos neste País? Li não sei bem onde, num jornal, numa revista - todos no País leram - o que o Presidente Lula disse, o que a Ministra da Casa Civil disse ano passado: era uma marolinha, era uma gripezinha. Imagine! “Não vai chegar aqui”. Era uma gripezinha, uma marolinha! E agora nós estamos vendo que não era mesmo.

E o que podemos pensar? O Governo está olhando isso com seriedade? Não, pelo menos na minha ótica. Porque um governo que começa, num momento como este, a abrir embaixadas em um monte de lugares neste mundo, em ilhazinhas da América Central, que, por mais bonitas que sejam, agora não é o momento.

Gente, dar dinheiro para invasor de terra agora? Neste momento? Criar mais ministério? Gente, eu adoraria ter o ministério da mulher - eu acho que nós merecemos isso -, mas não neste momento. Pensar em aumento de salário agora? Essas são as minhas angústias e eu as quero dividir com todos os brasileiros.

Com a palavra o Senador Papaléo Paes.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senadora Marisa Serrano, quero parabenizar V. Exª pela brilhante exposição, séria. Séria porque este assunto tem que ser levado com seriedade por todos nós. E o Governo é um dos grandes responsáveis de não estar transmitindo ao povo a realidade, de não estar transmitindo a realidade aos seus comandados, fazendo com que continuemos a ter um País que já mostra graves sinais de crise, um País agindo pelo seu Poder Executivo de maneira irresponsável. Hoje, o Presidente da República, que tem popularidade - vamos reconhecer -, poderia, com muita responsabilidade, aumentar sua popularidade se fosse para a televisão pronunciar um discurso sério, sem aquele tom de - desculpe-me o termo; não encontro outra palavra - brincadeira, dizendo que foi uma “marolinha” que está passando, uma “gripe fraca”. Marolinha mata; gripe fraca, ou forte, pode matar também. Então, quero parabenizar V. Exª e dizer que, hoje, o Governo está direcionando todas as suas forças para já uma campanha política antecipada. Está fazendo isso de uma maneira irresponsável, porque nós queremos que o Brasil, que o Governo, dê milhões e milhões de moradia. Está, irresponsavelmente, prometendo um milhão de casas no seu último ano de governo, para quê? Para enganar o povo, a população, quando sabemos que construir não é só pegar tijolo e botar um em cima do outro, não? Precisamos ter projeto e área para construir. Está prometendo trem-bala. Só o projeto, para se pensar no trem-bala, leva dois, três anos, porque há que se levar em consideração vários fatores de engenharia, de meio ambiente e tudo mais. Então, fazer festa em fim de governo em cima de um programa chamado PAC? No meu Estado, não existe PAC. Coletaram todas as obras em andamento há não sei quantos anos e chamaram de PAC. Somente 9,5% da verba prevista foi liberada, ou seja, construíram uma sigla, e, se o povo não prestar atenção, ele vai atrás mesmo da sigla, não tenha dúvida nenhuma. O Senhor Presidente anda com sua Ministra da Casa Civil, apresentando-a como mãe do PAC - não diz quem é o pai - e isso nos faz ficar numa situação de muita preocupação. Então, queremos mostrar a nossa preocupação, não como Oposição, mas como brasileiros que somos, e chamar a atenção dos homens que fazem parte da direção executiva deste País, para que eles olhem com responsabilidade esta crise - da qual o Brasil não iria de forma nenhuma ficar isento, porque é uma doença contagiosa e contagiou o mundo inteiro. É claro que quem tiver menos resistência vai quebrar mais rápido. Então, desculpe o tempo, mas quero parabenizar V. Exª e dizer que V. Exª tem a postura de uma Senadora que leva credibilidade para quem está nos assistindo. Obrigado.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Sr. Senador. V. Exª colocou aqui muito do que eu penso a respeito de tudo o que está acontecendo neste País. Senador Mário Couto.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senadora Marisa, primeiro eu quero deixar bem claro um pensamento particular - um pensamento meu e que acho que é seu também. Eu quero deixar bem claro à população brasileira, àqueles que nos escutam hoje de que rogamos para que o País seja forte, produtivo, de paz e de tranqüilidade. É isso que nós queremos! Que a sociedade esteja feliz - é isso que nós desejamos. Jamais passa pela cabeça da Senadora Marisa, do Senador Papaléo, do Senador Mário Couto, que nós estejamos, neste momento de crise, desejando que o País afunde. Ao contrário. As suas atitudes, as nossas atitudes, nesta tribuna, são para alertar a população, alertar o Governo, pedindo para que não erre. Por exemplo, Senadora, dar dinheiro para a Faixa de Gaza? Dar dinheiro para a Bolívia? Dar dinheiro para Angola? Bater recordes em gastos correntes? O ano passado foi o recorde de diárias, de viagens. Nunca na história do Brasil se gastou tanto com diárias. Não se diminuiu nada de despesas correntes, Senadora. Então é esse o alerta que fazemos. Nós queremos o bem do Brasil, queremos o bem do povo brasileiro, queremos o bem da nossa Pátria. E é isso o que a senhora está fazendo hoje aí. Meus parabéns.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Mário Couto. Queria confirmar aquilo que disseram V. Exª e o Senador Papaléo. Longe de o povo pensar que a Oposição está querendo quebrar o País ou que pode estar feliz com a crise.

Ouvi gente da Situação dizer que a Oposição quer isto mesmo, quer a crise, está feliz com a crise. Gente, como é que alguém pode estar feliz vendo o semelhante perder emprego e não ter como sustentar família, ver pequenos empresários perdendo tudo? Quem pode estar feliz com isso? Será que nós somos monstros para estarmos felizes com uma situação como essa? Podemos estar felizes com a quebra do País? Claro que não!

É absurdo pensar que nós possamos estar felizes com o que está acontecendo neste País. Agora, alertar o Governo? Isso temos de fazer e estamos fazendo há muito tempo, como eu disse nesse artigo que escrevi em dezembro do ano passado, começo de dezembro do ano passado. E alerta nós demos muitos, Senador Mário Couto, não é de agora. Agora, felizes, não estamos.

Senador Valter Pereira, com muito prazer.

O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Senadora Marisa Serrano, V. Exª, mais uma vez, desperta o orgulho de todos nós que somos seus conterrâneos.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada.

O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Uma intervenção muito feliz e que merece só aplausos de quem faz política com seriedade. E quero dizer a V. Exª que a Oposição cumpre um papel tão importante - ou às vezes até mais importante - quanto o dos Parlamentares do Governo. Militei anos a fio, como V. Exª sabe, na Oposição e só posso dizer a V. Exª que ai do governo que não tem oposição; é um governo que descarrila, é um governo que descamba. A oposição é o freio que todo governo democrático precisa ter porque, nas ditaduras, aí sim, a oposição é desnecessária, é incômoda, é sempre prejudicial. Por quê? Porque, efetivamente, os donos do poder são os donos da verdade. Como, na democracia, a verdade está espalhada por todos os cantos, é na democracia que a oposição ganha corpo, credibilidade, importância e imprescindibilidade. Saiba V. Exª que nós sempre respeitamos a Oposição e compartilhamos com a inquietação de V. Exª quando a Oposição é acicatada, é criticada e é desprezada por segmentos que gostariam tanto de viver sem ela e que vivem da saudade, da saudade de vinte anos que certamente não vão voltar mais. Parabéns a V. Exª.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Valter. Também concordo com V. Exª, porque lutamos tanto para ter uma democracia, e democracia pressupõe que os contrários possam se manifestar.

Neste caso, eu acredito, Senador Valter, que a angústia, a preocupação por que estamos passando é nossa, da Oposição. Mas tenho certeza de que V. Exª e tantas outras pessoas, Parlamentares, estão com a mesma preocupação, a mesma angústia que estamos manifestando hoje nesta tribuna.

Quero, ainda, dizer que o meu Partido, o PSDB, lançou ontem a ideia de um gabinete de crise. Por que o meu Partido, que é de oposição, lançou essa idéia? Para garantir isto, para dizer ao Governo que precisamos fazer algo mais sólido; para que não fique um atirando para um lado e outro, para o outro. Precisamos que todos pensem globalmente. Há uma estratégia global necessária neste momento. E também deve haver um líder, uma liderança neste País para enfrentar essa estratégia global.

Aquilo que eu falei, do Presidente Obama, eu quero repetir: é este o momento em que nós estamos precisando de alguém que tenha uma estratégia, que saiba o que fazer e que assuma, como líder, condições de fazê-lo.

E o meu partido, o PSDB, propôs saídas. Ele quer um gabinete de crises. Por quê? Para encontrar saídas para discutir a questão econômica. Precisamos baixar os juros? Temos que discutir isso. E o problema de crédito? E o problema no câmbio, como fica? Alguém tem que discutir. Não é coisa isolada. E o Senador Adelmir, que trabalha na área, sabe disso. E ainda, redução da carga tributária, será que é necessária neste momento? Mais para um, mais para outro? Só a indústria automobilística? E os frigoríficos?

Olha Senador Adelmir, no meu Estado, há grandes frigoríficos de pessoas que trabalham, e muito, quebrando, desempregando! Quer dizer, não merecem também? Como é que nós vamos sair da crise se não houver uma estratégia efetiva e que o povo brasileiro acompanhe?

Concedo a palavra a V. Exª, Senador Adelmir Santana.

O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senadora Marisa, eu vinha, no trajeto até o plenário, ouvindo o discurso de V. Exª, tecendo considerações inclusive sobre a posição oposicionista. Eu acho que este é o momento em que o discurso de todos nós tem que ser um discurso em defesa do País. Todos nós temos que nos compenetrar de que estamos efetivamente vivendo um momento difícil, haja vista as publicações estatísticas com relação ao PIB e com relação à economia nacional. Tenho reafirmado, aqui e em outros fóruns, que, primeiro, foi uma crise de credibilidade, de confiança; depois, uma crise voltada para a questão do crédito e do emprego. A senhora fez referência a grandes empresas que estão demitindo, que estão diminuindo seus quadros em razão da crise que se instala. Na minha visão, é necessário, é importante que entendamos que, no Brasil, mais de 95% das empresas brasileiras são constituídas de micro e pequenas empresas. Portanto, lá está o emprego. Se cada uma dessas pequenas empresas, a cada dia, demitir um ou dois empregados, isso significa 10%, 15% ou 20% da força de trabalho daquela empresa e significará, portanto, muitas Embraers, muitos frigoríficos e muitas empresas grandes no contexto da somatória desses empregos perdidos. Daí a minha luta e estar sempre dizendo que é necessário que se busque a solução da questão creditícia, a questão do crédito, porque, de modo geral, temos visto o Governo, através dos bancos oficiais, do BNDES, da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, falar na questão da abertura de créditos especiais para que chegue à ponta, aos consumidores e às micro e pequenas empresas. Na verdade, isso não tem chegado, até porque, ao se fechar a possibilidade dos créditos internacionais, as grandes empresas estão indo com garantias reais muito mais fortes, muito mais seguras, em busca desses créditos. Por outro lado, também, hoje, poderemos ter surpresas - espero, agradáveis - na reunião do Copom, com uma taxa de juros, uma taxa Selic acima de dois dígitos, nos preços de hoje, no valor de hoje, certamente, os banqueiros que, em um primeiro momento, empossaram a devolução dos recursos que eram depositados no Banco Central sob a forma compulsória, - empossaram e também não chegou -, porque é muito mais seguro aplicar esses recursos em títulos da dívida pública. É preciso, portanto, que tenhamos a coragem, que as autoridades econômicas tenham a coragem de fazer como fez o México, por exemplo, que reduziu drasticamente - lá não é Selic, tem outro nome - a taxa interbancária, a taxa de juros, para que sobrasse mais recurso no sistema bancário, que é a sua própria mercadoria, o dinheiro, para que empreste para os pequenos, para as médias e para o consumidor em geral. Então, Senadora, eu queria me associar às suas colocações. O discurso nosso não deve ser um discurso compreendido apenas como um discurso de oposição, mas um discurso que busque a solução dos problemas que nos afligem hoje. E não devemos tentar mascarar uma situação que reconhecidamente se implanta no País como um momento de crise. Imagine se, neste primeiro trimestre, que ainda não vencemos, tivermos resultados tão ruins quanto o último trimestre do ano anterior - o que é provável. Aí se caracterizará uma situação de recessão. Então, quero me congratular com V. Exª e dizer que um dos caminhos é a redução drástica das taxas de juros. Aliás, isso tem sido dito sempre na Comissão de Assuntos Econômicos. As autoridades possuem armas e possuem munição para resolver a questão da crise, mas temo que não se use essa munição no momento certo e que a guerra termine, ficando nós com a munição guardada. A munição certamente, na minha visão, é uma redução drástica das taxas de juros praticadas no Brasil.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Adelmir. Justamente o que V. Exª colocou é aquilo que eu penso. Mas só diminuir a taxa de juros talvez não seja o suficiente em um momento como este. Por isso que eu disse que se trata da questão dos juros, do câmbio, do crédito. Temos que achar o caminho necessário. É por isso que nós falamos que o meu Partido propôs aqui um gabinete de crise, que é realmente para pensar como um todo. E esperamos mesmo que o Copom hoje olhe com os olhos um pouco mais sensíveis para o povo brasileiro e para a produção brasileira.

Mas, Senador Adelmir, será que alguém aqui ou no Governo, um iluminado vai dizer que temos de investir nisso para dar naquilo. Acho que tem de ser muito mais socializada essa questão. Por isso é que pensamos de uma forma macro, de juntar as pessoas que pensam, que têm ideias, para sairmos da crise. Por exemplo, é investir na produção? Há um tipo, uma área que é mais vulnerável? Vamos investir na educação para podermos sair da crise e o Brasil caminhar? Quer dizer, o que é que nós vamos fazer? É isso que nós temos de começar a pensar com serenidade e com seriedade neste País.

Termino aqui dizendo a V. Exª e a todos que estão me ouvindo que temos de olhar a crise de várias maneiras. E podemos olhar a crise de várias maneiras. Ela pode ser útil para uma autocrítica: ver onde erramos. Pode ser útil para isso. Por exemplo, no caso do Brasil, acho que o Governo errou na hora em que, lá atrás, começou a crise. O Presidente deveria ter dito à Nação que estava acontecendo uma crise mundial, mas que não sabia se chegaria aqui, mas que poderia chegar e, por isso, começaria a cortar gastos supérfluos no País. Quer dizer, começar a segurar, que é o que todo mundo faz.

Duvido que haja uma família, Senador, uma família que, na hora da crise, quando o dinheiro aperta, na hora em que a angústia aperta, não comece a conter despesa. O supérfluo sai da casa. É assim que o povo brasileiro faz. É assim que qualquer pessoa faz. Era assim que o Governo deveria ter feito na hora em que começou a crise. E nós falamos sempre nisso.

Além do mais, o Governo deve tratar a sociedade brasileira como adulta e não como criancinha. E não de brincadeira, como disse o Senador Papaléo Paes. O povo brasileiro é maduro o suficiente para aguentar uma crise que vem aí. As mãos dos brasileiros são calejadas. O brasileiro está acostumado às adversidades.

Quando se pensa no povo brasileiro, fala-se que é um povo alegre, risonho, mas que, quando cai, consegue levantar e dar a volta por cima. Portanto, o povo brasileiro não merece viver de ilusões. Nós queremos seriedade deste Governo, Sr. Presidente.

Eram essas as minhas palavras.

O SR. PRESIDENTE (Marconi Perillo. PSDB - GO) - A senhora dispõe de mais três minutos para encerrar.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Se eu disponho de mais três minutos para encerrar - obrigada pela lembrança -, quero ainda colocar uma última questão aqui que me parece muito importante. E o Senador Sarney, Presidente desta Casa, antecipou este momento. Ele instalou aqui uma comissão da crise, para analisa-la e monitorá-la, presidida pelo Senador Francisco Dornelles, do Rio de Janeiro. E acho que foi a ideia de previdência, de mostrar para o País que o Senado brasileiro não está parado. E V. Exª, como nosso 1º Vice-Presidente, sabe disso. Esta Casa aqui mostrou ao País que está preocupada, sim, que vai ajudar a achar soluções. Isso, sim, é responsabilidade, é saber que há uma crise, que a crise chegou e que nós temos aqui a obrigação de mostrá-la ao povo brasileiro e achar um rumo que devemos tomar, já que o Governo, até agora, não o fez.

Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2009 - Página 4488