Discurso durante a 24ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa de mais investimentos em educação como forma de redução de desigualdades sociais. Registro da aprovação ontem, na Comissão de Educação, de projeto de autoria de S.Exa., que cria a Universidade Federal de Barra dos Garças - Unibarças.

Autor
Jayme Campos (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. ENSINO SUPERIOR.:
  • Defesa de mais investimentos em educação como forma de redução de desigualdades sociais. Registro da aprovação ontem, na Comissão de Educação, de projeto de autoria de S.Exa., que cria a Universidade Federal de Barra dos Garças - Unibarças.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2009 - Página 4587
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL, MISERIA, VIOLENCIA, CRIME, COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, LANÇAMENTO, FORO, NATUREZA SOCIAL, MUNDO, DADOS, REDUÇÃO, FINANCIAMENTO, SETOR, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, RETOMADA, AMPLIAÇÃO, APLICAÇÃO DE RECURSOS.
  • SAUDAÇÃO, APROVAÇÃO, SENADO, DECISÃO TERMINATIVA, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL, MUNICIPIO, BARRA DO GARÇAS (MT), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ATENDIMENTO, REGIÃO, RIO ARAGUAIA, INCENTIVO, TECNOLOGIA, DEBATE, DESENVOLVIMENTO AGRARIO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, ilustres Senadores aqui presentes, procurarei ser o mais breve possível em minha fala de hoje. Antes de qualquer coisa, agradeço a bondade do ilustre Senador Cristovam de haver me cedido a vez.

Quem constrói uma universidade está alicerçando a confiança e a independência de uma comunidade. Está fundando as bases da liberdade e da prosperidade de toda uma geração. Investir em educação significa reduzir desigualdades sociais, combatendo a miséria, a ignorância e a violência. Como sabiamente entoou a poetisa inglesa Eliza Cook, ainda no século 19, “é melhor construir escolas para o menino, do que celas e patíbulos para o homem”.

Proféticas palavras, que anteviam o cenário caótico e desesperador para o futuro. Se naquela época uma intelectual já alertava para a necessidade de aplicação de dinheiro público no ensino, de lá para cá, tais investimentos tornaram-se imprescindíveis para a descompressão das tensões sociais do mundo contemporâneo.

O aumento da criminalidade em nossos tempos tem relação direta com a queda na destinação de recursos para o setor educacional. Segundo revela a publicação Financiamento da Educação no Governo Lula, elaborada pela Campanha Nacional pelo Direito da Educação e lançada recentemente no Fórum Social Mundial, em Belém, Senador José Nery, entre 2003 e 2006, houve uma diminuição repetida e significativa dos investimentos com ensino no quadro de despesas da União.

Conforme cálculo, em 2003, o índice de recursos alocados para a educação ficou na casa de 2,88% dos gastos gerais do Estado brasileiro; caindo para 2,67% em 2004 e 2005; e para 2,44% em 2006. Somente no balanço de 2007 é que os investimentos em educação retomaram o patamar de quatro anos anteriores, com 2,87% do total das despesas da União.

Imagino que o Senador Cristovam Buarque, como professor emérito, ex-reitor e ex-governador, conhece bem, naturalmente, os números. Aqui é para testemunhar os números que estou citando aqui.

O resultado dessa equação de baixos investimentos e pouca qualificação dos profissionais dessa importante área é que, vergonhosamente, para cada 1.560 brasileiros, existe apenas uma vaga disponível nas universidades federais.

Outra conclusão do mesmo estudo alerta para a existência de uma enorme disparidade entre as chamadas prioridades do Governo Federal, um abismo político que separa a educação de outros segmentos. Isso se reflete nos números que demonstram que em 2006, por exemplo, os encargos da dívida consumiram R$176 bilhões do Orçamento, enquanto a educação contabilizou apenas R$23 bilhões.

Contudo, em 2007, o setor obteve um ganho absoluto, com a destinação de R$27 bilhões para as ações no setor educativo. Desejo firmemente que essa retomada na aplicação de verbas coroe uma nova atitude da República nos investimentos na educação, que é, em última análise, o principal insumo na busca da justiça, da paz e do desenvolvimento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, semear educação é produzir consciências. É comungar da esperança... É acender um farol de lucidez em meio às trevas do ódio e da intolerância!

Por isso, nobre Senador Cristovam Buarque, patrono do ensino nesta Casa, sinto-me especialmente gratificado porque ontem a Comissão de Educação do Senado Federal aprovou, em caráter terminativo, projeto de minha autoria criando a Universidade Federal de Barra do Garças - Unibarças, na região do Araguaia, atendendo a um quadrante de Mato Grosso que se autodenomina o “Vale dos Esquecidos”.

         Mesmo não contando com as obras de investimentos relevantes tanto do Governo Estadual quanto do Governo Federal, esse território detém o maior crescimento da área plantada do País nos últimos três anos. As culturas do milho, da soja, do arroz, do algodão estão em ascensão. Também está se formando um polo sucroalcooleiro na região, onde se estima algo parecido com 20 milhões de litros de álcool/ano.

Contudo, a precariedade nas vias de acesso a essa área ainda continua sendo um obstáculo para o seu pleno crescimento econômico. A BR-158, espinha dorsal do transporte nessa região, ainda sem pavimentação em grande parte de sua malha, representa um entrave aos planos do empresariado e da classe política, que investem recursos e sonham com dias melhores.

Concedo o aparte ao Senador Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador, eu quero citar o Senador Mão Santa, que costuma dizer aqui muitas vezes que o Thomas Jefferson, um dos pais da Pátria dos Estados Unidos, um dos primeiros Presidentes dos Estados Unidos, em sua lápide, no seu túmulo, não colocou “Presidente dos Estados Unidos”; ele colocou “Fundador da Universidade de Virgínia”. Mão Santa costuma lembrar isso aqui. Eu creio que o senhor pode, hoje, dizer que tem o orgulho de ter tomado as medidas legislativas necessárias para criar uma universidade. Poucas coisas, a meu ver, ficam mais fortemente do que isso. O homem que chegou pela primeira vez ao Himalaia, Hillary, escreveu uma biografia em que ele conta que chegou a quase todas as dez mais altas montanhas do mundo, inclusive o Himalaia, em 52. Ele esteve nos dois polos - deve ser um dos únicos seres humanos que esteve nos dois polos. Ele percorreu os grandes rios, e disse o seguinte: “O que mais me orgulha não é de nada disso; é de ter construído escola no Nepal”. Então, eu quero parabenizá-lo pela sua iniciativa....

O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Obrigado.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - ...e, ao mesmo tempo, dizer que fico contente que seja em Barra do Garças, porque é um lugar onde fui muitas vezes. Muitos anos atrás, a Universidade de Brasília tinha um campus avançado, e eu fui um dos que trabalhou muito naquele campus avançado. Ficava num casarão grande que tinha lá e que diziam que era mal-assombrado. Realmente, a gente tinha medo que fosse, mas era um trabalho muito bom, muito sério e que deixou uma marca. Eu tenho até muita vontade de voltar lá - isso faz 20 anos - para ver agora não apenas a cidade como está, mas ver o espírito que vai estar bulindo por lá, por haver o projeto de uma universidade. Parabéns ao senhor, parabéns a Barra do Garças, porque, quando se põe uma universidade numa cidade, até a conversa no boteco melhora.

O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Muito obrigado, Senador. Incorporo o seu aparte ao meu discurso, até porque V. Exª é o nosso mestre aqui, é o nosso patrono da educação nesta Casa e, para minha alegria, V. Exª conhece também Barra do Garças. E, certamente, essa universidade não vai ser só para Barra, mas para toda a região do baixo e do médio Araguaia do nosso Estado, porque ali moram algo em torno de 330 mil habitantes, nesse território que compreende 31 municípios mato-grossenses. E a implantação dessa nova universidade, a Unibarças, representará o estímulo para que a atual geração que vive ali olhe com mais confiança para o futuro, apagando o sentimento de que foram esquecidos, para edificar prosperidade e bem-estar.

Uma universidade significa a ampliação do debate, a antecipação tecnológica, e vai inserir a Região do Araguaia no conceito mais puro de inclusão de sua sociedade no universo do conhecimento nacional.

Fico particularmente feliz, pois o Parlamento Brasileiro ajuda, aprovando a criação de mais essa entidade de ensino superior, a cultivar a confiança de um País revigorado em sua geografia humana. E, assim, reforça a identidade cultural de nossa gente, fazendo da ciência um compromisso verdadeiro do Estado com as futuras gerações.

Tenho certeza de que, com sua universidade, o Araguaia não será mais o Vale dos Esquecidos, mas, sim, a planície da Esperança.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2009 - Página 4587