Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Congratulações à Rede Record de Televisão por haver realizado ampla reportagem sobre o Marajó. Críticas à Governadora do Estado do Pará. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Congratulações à Rede Record de Televisão por haver realizado ampla reportagem sobre o Marajó. Críticas à Governadora do Estado do Pará. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2009 - Página 5173
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • ELOGIO, EMISSORA, TELEVISÃO, DIVULGAÇÃO, ILHA DE MARAJO, INCENTIVO, TURISMO, APRESENTAÇÃO, DIFICULDADE, POBREZA, POVO, COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PESCADOR, REPUDIO, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAPA (AP), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, EXCESSO, UTILIZAÇÃO, HELICOPTERO, CONTRADIÇÃO, POBREZA, POPULAÇÃO, OMISSÃO, CORRUPÇÃO, DENUNCIA, SUPERFATURAMENTO, AQUISIÇÃO, MATERIAL ESCOLAR, INCONSTITUCIONALIDADE, PUBLICIDADE, GOVERNO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, volto à tribuna, na tarde de hoje, para cumprir a minha obrigação de Senador. Volto aqui para falar do meu Estado, Senador Mão Santa. Volto aqui para denunciar. Volto aqui para alertar a sociedade e as autoridades do meu País e do meu Pará.

Inicialmente, Presidente, quero aqui me congratular com a TV Record por ter feito uma reportagem ampla, acredito que em torno de uma hora, na quinta ou na sexta-feira, sobre o Marajó, meu querido Marajó, terra onde nasci, mostrando à população brasileira o potencial turístico da Ilha, mas, em vários momentos, mostrando a pobreza e a dificuldade de sobrevivência daquele povo.

Quantas vezes, Presidente, estive aqui nesta tribuna para pedir às autoridades que olhem para aquele povo sofrido! Quantas vezes estive aqui alertando a Governadora do meu Estado para que ela se sensibilize com os problemas do Estado e de Marajó!

Vimos na reportagem um pobre cego da minha terra natal, chamado Damasceno, a mergulhar nos igarapés e rios marajoaras para pegar peixe com a mão para sobreviver. Com muita humildade, ao ser entrevistado, ele disse que era melhor fazer aquilo do que praticar atos ilícitos. Deu exemplo a todos nós brasileiros, a todos nós, principalmente aos políticos corruptos! E aquele político que com certeza tem o peso na consciência por roubar, lesar a sociedade deve ter entendido o recado daquele pobre pescador, daquele humilde homem cego que vai ao mangal. Mesmo sendo cego, completamente cego, vai sozinho ao mangal, vai ao rio para buscar o alimento dos seus filhos, da sua família com dignidade. E vemos neste País a corrupção dos políticos, dos homens públicos que são votados, que recebem um voto de confiança do povo, para representar o povo, para criar melhores condições de vida para o povo, ao assumirem as suas atribuições, lesam os cofres públicos. Muitos deles são pegos, mas muitos ficam ricos. E muitos estão ricos.

Que sirva de exemplo, Sr. Presidente, aquela frase daquele homem pobre, humilde; que sensibilize a nossa Governadora; que mostre a nossa Governadora, como a TV Record mostrou, a dificuldade em que vive aquele povo, sem transporte, com uma saúde precária, com a malária tomando conta da cidade de Anajás quase todo ano - Anajás, cidade-centro da Ilha de Marajós. Quando chegam as chuvas, chuvas fortes, chuvas de três dias seguidos na Ilha, aqueles pobres marajoaras - muitos, muitos deles! - passam fome. Muitos sofrem de dor de dente, porque não têm dentista! Muitos tomam andiroba e copaíba, uma castanha que dá um óleo medicinal, porque não há remédio. Esse é o remédio do marajoara.

A Governadora, Senador Papaléo, foi muito bem votada naquela ilha... Quando eu vi a Governadora passar, Mão Santa, fazendo a propaganda naquela ilha, eu pensei que se tratava de uma pessoa séria! Quando ela falava, Presidente - e muitos políticos, quase todos, falam -, nesta tal frase de diminuir a desigualdade social: “quando eu estiver no poder, eu vou diminuir a desigualdade social...” Como eu ouvi da Governadora isso! Como ouvi! O que está se vendo hoje é o aumento dessa desigualdade. Quando vi a Governadora, por muitas vezes, chegar de carro ou chegar de barco em determinados locais, eu pensava: “essa governadora é capaz de dar certo; essa governadora é humilde; essa governadora vai de barco, vai de carro”. Virou burguesa. Aquela que era humilde, que era simples para o povo, agora é uma burguesa!

Para mim, Senador - e eu não tenho receio nenhum de dizer isso -, a burguesia fede. Para mim, Senador Mão Santa, a burguesia fede! Não sou capaz de dizer que tenho ódio da burguesia, mas quero distância dela. A nossa Senadora, há pouco aqui neste plenário, hoje governadora do Estado do Pará, não anda mais de carro, só de helicóptero. Até para passar um final de semana numa cidade próxima de Belém, chamada Salinópolis, bem pertinho, a 260Km de Belém, a burguesa, outrora uma pessoa que se disfarçava e dizia a todos que era humilde, hoje burguesa, vai de helicóptero, vai de avião passar um fim de semana. E a população na miséria, a população sem médico, a população sem dentista.

Agora mesmo, outra reportagem sobre o Estado do Pará, e quantas e quantas e quantas reportagens? Magoa! Dói num paraense ouvir os colegas daqui do Senado, vários Senadores, me perguntarem: “Em que situação se encontra o Estado do Pará, Mário Couto?”. É uma situação de decadência terrível. É uma situação deplorável. É uma situação que faz com que os investidores abandonem o Estado. A burguesa não quer nem saber.

Todos nós entendemos um pouco de economia. Até aqueles mais leigos entendem um pouco de economia. Cada pai de família sabe o que tem de fazer de economia dentro da sua casa, economia familiar. Cada pai de família sabe que só deve gastar aquilo que ganha; não deve gastar mais do que aquilo, porque fica endividado.

A Governadora não entende. A Governadora não sabe. A Governadora não contém a corrupção no seu Estado.

Quarenta e sete milhões de kits escolares sem concorrência pública, Brasil! Sem concorrência pública, Brasil! Dados a uma empresa, na cara-de-pau, R$47 milhões, Brasil! Um superfaturamento dobrado, Brasil! É Governadora! Pega nada! Ah, se fosse aquele que, com fome, pulasse a cerca para tirar uma galinha para comer no quintal da vizinha! Ah, se fosse aquele! Estava preso. Mas é a Governadora. São R$47 milhões, o dobro, duas vezes mais caro do que em qualquer loja em que se vende kit escolar.

Mais ainda: a burguesa mandou colocar sua foto. É império, é decisivo: Eu mando, eu quero, coloquem nas bolsas escolares a minha foto. É a foto da Ana Júlia bonitinha na bolsa escolar. Determinou, é ordem. Foi colocada, foi cumprida a ordem. Em cada kit escolar, em cada mochila, a foto com uma mensagem da Governadora. É lógico. É inconstitucional, Presidente. É lógico que não pode. É inconstitucional.

Mão Santa, esse é o meu Estado, um Estado em que os empresários vivem sem a menor condição psicológica de investir! Os empresários do Estado do Pará vivem hoje sem a menor condição de investir naquele Estado.

Aqueles que pensam em investir no meu Estado, lamentavelmente - e eu espero que não demore isso, senão o Estado quebra de uma vez -, têm medo. Disse-me um empresário, semana passada, Senador: eu invisto em qualquer Estado deste Brasil, Senador Mário, em qualquer um, menos no seu Estado. Por quê? Perguntei eu. Lá não tem lei; no seu Estado não tem lei. No seu Estado, se invade, a Justiça manda reintegrar e não reintegra ninguém, porque a Governadora não quer.

Por que a Governadora não quer? É uma pergunta que deixo para o Ministério Público do meu Estado responder. É uma pergunta que eu deixo para a Assembléia Legislativa do meu Estado responder. Por quê? São mais de 111 reintegrações de posse. Mais de 111! Não é uma, não são duas, não são três, Senador Papaléo, são mais de 111 reintegrações de posse. E ela não reintegra, não reintegra. E as invasões continuam. E as invasões continuam. 

Nunca houve, na história do meu Estado, tanta invasão e tanta desordem. A calamidade pública é tão grande no meu Estado que agora pediram a intervenção nele. Nada mais, nada menos que uma Senadora deste Congresso Nacional, deste Senado, pediu a intervenção no meu Estado.

O caos é tão grande, paraenses, que a cada dia tombam três paraenses mortos nas ruas da capital do Pará; o interior é uma lástima. Mais de cinco cidades - atente para este fato, Presidente - mais de cinco cidades do Estado do Pará, Municípios do Estado do Pará, foram invadidas por bandidos. Olha, Brasil, isso é fato consumado, isso é fato real, isso é fato concreto. Se eu estiver faltando com a verdade, aqui, me denunciem. Eles invadiram as cinco cidades - não de uma vez -, renderam o delegado, pegaram os PMs, que ficaram sob o controle deles.

Tomaram as cidades - tomaram as cidades! - e praticaram o crime que quiseram praticar. Onde V. Exª já viu isso? No seu Amapá já aconteceu isso? Duvido! No seu Piauí já aconteceu isso? Sei que o Governo lá não é bom também. Mas não se chegou a esse extremo, Mão Santa, de tomarem Municípios e fazerem o que quiserem com a população do Município. Na capital, de oito em oito horas, tomba um paraense na rua. De oito em oito horas!

Espero, Presidente, que o Ministério Público do meu Estado - aliás, já mandei os ofícios necessários para abertura de inquéritos, para apuração dos fatos, tanto ao Ministério Público Estadual quanto ao Ministério Público Federal.

Sabe, Governadora, sinceramente, vamos conversar, Governadora. Sei que tem alguém do seu gabinete me escutando. Sei também que a senhora me detesta, me detesta! Sei disso. Não me leve a mal, Governadora. Não fique com tanto ódio de mim. Tire o ódio do seu coração. Sei que agora mesmo o Ministério Público mandou uma notificação à minha pessoa, pelo meu estilo de oposição, pelo meu estilo de ser, pelo meu estilo de combater, pelo meu estilo de não ter medo de falar. E eu não mudarei jamais! Acho que alguém estava planejando a minha morte e o Ministério Público mandou me avisar. Pedi segurança ao Senado, e o Senado pediu segurança à Governadora. Eu até estranhei. Ela me deu três policiais. Quando os policiais estavam prestes a colocar a mão naqueles que planejavam a minha morte, a Governadora, com ódio, mandou tirar essa segurança.

Não preciso, Governadora. Não quero segurança, não. Quem me deu foi o Senado. Não exigi segurança para mim; eu não faço mal para ninguém. Assumo a minha responsabilidade, Governadora. Eu não engano o povo. Eu não engano o povo, Governadora. Por isso, jamais serei penalizado. E pena, Governadora, quem vai me penalizar aqui nesta terra é Cristo, é o meu Deus Todo-Poderoso. Não é V. Exª, Governadora. Tenho contas a prestar com Ele, com a minha padroeira Nossa Senhora de Nazaré, com a minha querida Santa Filomena. Não é com V. Exª, não, Governadora. V. Exª é raivosa. V. Exª tem de tirar a raiva desse seu coração. V. Exª tem de nos escutar. V. Exª tem de entender que o estamos fazendo aqui é obrigação nossa, é a defesa de um povo que clama, que cai morto na rua dia a dia, hora a hora, e V. Exª não toma providências. V. Exª, sim, Governadora.

Olhe, Governadora, aqueles que estão vendo o sofrimento dos outros, aqueles que sabem do sofrimento alheio, aqueles que prometeram trazer bem-estar social e não trouxeram, ao contrário, trouxeram desgraça ao povo, irão prestar contas, Governadora. Aqueles irão prestar contas, Governadora.

Se V. Exª tivesse pelo menos senso de compreensão, deveria refletir à noite antes de dormir - acho que V. Exª reza. Pense, Governadora, do seu governo para cá, quantos já morreram assassinados, violentados no meu Estado? Quantos? Se a cada dia morrem 3, multiplique por 365 e veja quantos tombam nas ruas do Pará. Será que a senhora não tem nenhum sentimento em relação a isso, Governadora? “Ah, não é culpa minha.” É, sim! É, sim; não tente transferir a sua culpa. A culpa é de V. Exª, que foi a palanque dizer que ia acabar com a violência no Estado do Pará. Ao contrário, não acabou, piorou. A culpa é do Poder Público que não toma providências. V. Exª já está há mais de dois anos no governo; V. Exª agora só tem um ano e meio de mandato.

No início, Presidente - já vou descer -, quando cheguei aqui e falei que a violência estava tomando conta de todo o Estado do Pará, alguns defensores do PT nesta Casa vieram me questionar, Senador. Pense comigo, Sr. Presidente: de lá para cá quantos já morreram? Se aqueles que me questionaram quando entrei aqui tivessem me apoiado, tivessem ido com a Governadora, porque são do mesmo Partido, e a incentivado a ir até o Presidente, que também é do mesmo Partido, quem sabe se muitas vidas não teriam sido salvas? Quem sabe? Mas se preocuparam em me criticar, preocuparam-se em dizer que eu estava fazendo política.

Não sou candidato a nada, não sou candidato a nada. Se ainda vier a ser em 2014: “é porque ele quer ser candidato, porque quer a reeleição”. Não sou candidato a nada; estava apenas defendendo o meu Estado. Quero que digam hoje, quero que falem hoje. Falem, digam se tenho ou não tenho razão; falem, digam se eu tinha ou não tinha razão quando aqui falei, quando aqui clamei, quando aqui pedi para que vidas fossem salvas, inclusive a de um dos maiores médicos do meu Estado, que era o meu médico. Quem tem culpa da morte dele, que foi ao banco tirar dinheiro para pagar funcionários do seu hospital e foi metralhado pelos bandidos? Quem tem culpa? O Poder Público. O Poder Público é o verdadeiro culpado, que não tem políticas públicas para diminuir a violência no Estado do Pará.

Meu Presidente, não vou me cansar de falar, não vou me cansar de acionar o Ministério Público. Falarei aqui até que as coisas mudem. Virei todos os dias. Tanto que, havendo uma vaga para falar, o Mário Couto estará aqui defendendo o seu Estado. Sei que temos problemas graves na saúde; sei que temos problemas graves na educação; sei que as estradas estão abandonadas; sei das pontes criminosas no meu Estado, a Transamazônica, que tanto prometeram; sei, Senador Mão Santa, que sobre tudo isso era preciso que se viesse falar aqui nesta tribuna, diariamente. Mas uma coisa me dói mais: ver os paraenses tombarem, assassinados, violentados. Isso me dói muito, Senador Mão Santa. Muito! E eu aqui não posso ficar calado.

Vi a reportagem daquela moça que não foi atendida numa balsa e morreu numa rede. Aquilo é apenas uma filmagem. Aquilo é apenas uma filmagem. Vá ao meu Marajó. Faça um levantamento de quantos marajoaras morrem por falta de assistência médica. Vá a Tucuruí. Vá a Redenção. Vá a Tailândia. Vá a Goianésia. Vá a Soure, a Salvaterra, a qualquer Município do Estado do Pará. Veja como sofrem as pessoas por falta de saúde. E o Estado não dá a menor cobertura.

O Presidente Lula, em vez de ajudar os prefeitos, pelo menos para que possam retocar o erro da Governadora - o que muitos fazem, outros, não; mas muitos fazem -, agora baixa aquilo que é devido a cada Município, que é o Fundo de Participação dos Municípios, o FPM, de cada Município. Municípios que caíram até 40%; e passam os Municípios a dependerem do Governo do Estado, que nada faz. Essa é a situação do meu Estado!

Desço desta tribuna, Sr. Presidente, mais uma vez, dizendo que não faço aqui absolutamente nada com ódio. Não guardo ódio no meu coração. Sou cristão! Faço o bem. Tenho certeza que nunca cometi o mal e, por isso, vivo na tranquilidade da minha vida. Não faço por interesse político, não sou candidato - teimam em dizer isso! Faço porque vejo um povo sofrer; faço porque vi uma Governadora prometer e não cumprir; faço porque vi uma Governadora mentir para o seu povo; faço porque não gosto de político mentiroso; faço porque não gosto da burguesia; faço porque eu quero o bem da minha terra; faço porque eu quero o bem-estar do meu povo; faço porque eu tenho um compromisso com o meu povo; faço porque prometi honrar o compromisso com o meu povo, e assim farei até o fim do meu mandato aqui nesta tribuna.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2009 - Página 5173