O SR. FRANCISCO DORNELLES (PP - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs Senadores, serei breve.

Tenho, nas últimas semanas, dedicado quase todo o meu tempo aqui no Senado aos trabalhos da Comissão de Acompanhamento da Crise Econômica, procurando estudar e examinar propostas que têm por objeto minorar os efeitos dessa crise que nasceu no exterior e que se reflete sobre o Brasil.

Neste momento, sinto-me obrigado a deixar de lado os trabalhos dessa Comissão, os trabalhos da CAE para comentar uma das decisões, um dos anúncios mais ridículos da história da administração pública brasileira, que acaba de ser anunciada, dias atrás, que é a criação da carteirinha do torcedor. Eu nunca vi nada tão ridículo na administração pública do País.

Sr. Presidente, certidão de nascimento, certidão de casamento, passaporte, carteira de identidade, carteira de trabalho, CPF, carteira de motorista, documento de reservista, carteira profissional são documentos que o cidadão brasileiro tem de ter sempre consigo. Tantos documentos desse tipo nunca são exigidos pela maior parte dos países.

Pois bem, o Ministro do Esporte quer criar agora mais um: a carteirinha do torcedor. Veja bem, Sr. Presidente, a burocracia que vai ser instalada no Brasil com a criação da carteirinha do torcedor. Milhões de pessoas vão querer a carteirinha. E aí o que vai acontecer? O Estado vai estabelecer que cada carteirinha tem um custo. Aí, em segundo, vêm aqueles que vão pedir a isenção do pagamento da carteirinha do torcedor. Aí vêm menores, idosos, pessoas com dificuldade de locomoção. Aí são aqueles que vão pedir redução no preço na emissão da carteirinha do torcedor. E se todos aqueles torcedores do Brasil forem para um determinado local para obter essa carteirinha, a fila vai ser maior, Sr. Presidente, dez vezes ou cem vezes maior do que aquela que existia há alguns anos, quando um determinado Ministro resolveu recadastrar os idosos da Previdência.

Sr. Presidente, o senhor vê o ridículo que existe hoje de um Ministro querer criar uma carteirinha de torcedor para um cidadão, para uma criança, para um idoso entrar em um campo de futebol. O senhor já imaginou qual é o motivo que leva, com tantos problemas sérios na administração, um Ministro - por quem eu tenho uma certa admiração - pensar numa situação como essa? Será que isso nasceu da sua assessoria? Como é que surge uma ideia dessas? Onde é que existe isso, Sr. Presidente? Já imaginou, Senador Mão Santa, no seu Estado, quantas pessoas iriam querer obter uma carteirinha de torcedor para entrar num jogo de futebol?! Iam procurar V. Exª: “Quero uma prioridade para emissão; quero uma isenção; quem sabe o senhor considera um abatimento no preço para mim?”. Realmente, qual é a razão de criar mais um documento?

Eu, hoje, aqui acho que tenho opinião. Estou representando todos aqueles que gostam do futebol, que vão aos estádios de futebol, um protesto contra esse ridículo anunciado, que é uma carteirinha de futebol. Carteirinha do torcedor.

Eu entendo, Sr. Presidente, que um grande esforço educativo tem que ser feito para acabar com a violência nos campos de futebol. É um assunto que tem que ser resolvido - como diria o Senador Cristovam Buarque - através de uma campanha educativa, mostrando os males que trazem a violência nos estádios de futebol, violência que tem que ser combatida, que tem que ser evitada, que tem que ser eliminada num esporte que é o próprio retrato do Brasil.

Agora, nós não podemos eliminar a violência nos estádios de futebol recorrendo ao ridículo: a carteirinha do torcedor. No ano de 2009, em que nós estamos vivendo, eu acho que nunca vi, na minha vivência na administração brasileira, um anúncio e uma decisão, se é que foi tomada, tão ridícula.

Eu espero que o Ministro - em nome daqueles que frequentam um estádio de futebol - volte atrás nessa decisão que não deixa bem o Governo que ele representa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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