Discurso durante a 34ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 45 anos da Campanha da Fraternidade.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA.:
  • Comemoração dos 45 anos da Campanha da Fraternidade.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2009 - Página 6579
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, ELOGIO, HISTORIA, PROPOSTA, DEBATE, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, VALORIZAÇÃO, FAMILIA, SAUDAÇÃO, CAMPANHA, PAZ, VINCULAÇÃO, JUSTIÇA.
  • SAUDAÇÃO, FUNÇÃO, RELIGIÃO, DIVERSIDADE, IGREJA, CRISTÃO, PROMOÇÃO, PAZ, QUESTIONAMENTO, ORADOR, INJUSTIÇA, DESIGUALDADE SOCIAL, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Senador José Nery, que preside esta sessão especial em homenagem aos 45 anos da Campanha da Fraternidade, autoridades já citadas, peço permissão para saudar todos na pessoa do Núncio Apostólico do Brasil, Exmº Sr. Dom Lourenzo Badisseri, que representa Deus aqui nesta Casa, Parlamentares presentes, o Líder do meu Partido Senador Renan Calheiros, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado.

Cícero, o grande senador romano, dizia: “Nunca fale depois de um grande orador”. E me botaram para falar depois de Pedro Simon, grande orador e senhor virtude na democracia brasileira. Mas digo que falo aqui e falo muito à vontade. Primeiro porque sou discípulo dele. Leonardo da Vinci, que fez o Renascimento, disse: “O mau discípulo é o que não suplanta o mestre”. E eu sou mau discípulo porque eu jamais vou suplantar o mestre Pedro Simon. Mas já que eu fui buscar Cícero, ele tinha que me dar uma saída. Ele falava como Simon pode falar. Cícero dizia “o Senado e o povo de Roma”. Nós podemos dizer “o Senado e povo do Brasil”. Nós podemos. Cícero também disse: pares cum paribus facillime congregantur, violência gera violência. E aqui nós estamos. Esta Casa aqui é para isso.

Senador José Nery, daí a grandeza do Senado da República do Brasil. Nós somos filhos do povo, somos filhos da democracia, somos filhos do voto. Peço a Sua Excelência, o nosso Presidente, que reflita: ele teve 60 milhões de votos; nós temos, Casagrande, eu já contei, 80 milhões aqui. Então, nós somos filhos do voto, da democracia, o povo.

A Campanha da Fraternidade é um grito político, o maior grito!

A humanidade é um animal, “o homem é um animal político” - Aristóteles; ninguém o contestou. E esses animais políticos, procurando uma forma de governo, insatisfeitos foram à rua e gritaram: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. É o grito do povo político, dos animais políticos. Derrubaram todos os reis. O Absolutismo: “L’État c’est moi”. O rei era um deus na terra, um poderoso. Dividiram esse poder. É, Casagrande. E aqui nós estamos.

Esse grito só chegou ao Brasil 100 anos depois, mas chegou. Aqui nós aprendemos com o povo. Eu nunca ouvi um provérbio errado. A Bíblia está cheia de provérbios, não é verdade? Só se atira pedra em árvore que dá bons frutos. Estão atirando pedra aqui como o quê. Porque nós, só nós, salvamos e mantemos a democracia neste País. Aqui nós aprendemos, num regime ditatorial, com um líder militar que disse que o preço da liberdade democrática é a eterna vigilância. É aqui. Somos nós. Se não fosse aqui, já estava igual a Cuba, já estava igual a Venezuela. É aqui. Eu os temo.

Ora, se a Igreja de Cristo, católica, teve Lutero que foi lá e apontou 96 erros, e estamos aqui juntos; se há vários caminhos que nos levam a Deus, por que aqui não vai haver, Casagrande?

Mas nós podemos falar. Nós representamos isso. E eu queria liberdade, igualdade, fraternidade. Está ali Rui Barbosa.

Vi aqui todas as Campanhas da Fraternidade. O País deve muito a essas Campanhas da Fraternidade. Existem desde 64, e eu tenho direito a votar. Para mim, o melhor slogan foi o de 1994: “A família, como vai?”

Rui, que está ali, disse: “A Pátria é a família amplificada”. E o próprio Deus? Deus, quando deixou seu filho, forte, querido, o nosso irmão Cristo, ele não o desgarrou não, ele o botou numa família. Jesus, Maria, José: a Sagrada Família.

E Fraternidade é um grito da democracia do povo. Liberdade, Igualdade, Fraternidade. E vai lá o Isaías - eu sei que é velho: “Eis que reinará um rei com justiça, com retidão governarão príncipes”. E, mais adiante, ele diz o slogan: “E a obra da justiça será paz; e o efeito da justiça será sossego e segurança para sempre”.

           E vamos refletir: justiça é uma inspiração divina. Olha que Deus entregou ao seu maior líder as leis. É coisa de Deus a justiça. Aí o filho de Deus - não tinha um som como nós, Nery; não tinha esta tribuna; não tinha a televisão, a rádio AM, FM, os jornais, a Hora do Brasil - foi à montanha e bradou: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. A justiça é inspiração divina. Mas eu quero lembrar que ela é feita por homens.

A Fraternidade. E aí Deus mandou São Francisco, que, há uns 800 anos, andou pelo mundo e levantou uma bandeira. Antes ele disse: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz”. Uma bandeira! Não é dessas bandeiras. A nossa é esta: “Ordem e Progresso”, que tem um sentido. Mas a dele é muito atual, é universal: Paz e Bem - essas são as mensagens. E ele, o Francisco - meu nome é Francisco, não sou Mão Santa, não; aliás, sou filho de Deus, como todos nós, e estas mãos são de um cirurgião, criadas por Deus, que salvavam vidas, quase sempre dos pobres, em uma Santa Casa... Mas eu digo: sou filho de mãe santa, eu sou, eu sou. Ela era terceira franciscana. Ela escreveu um livro: A Vida, um Hino de Amor, publicado pela Editora Vozes.

           Ô, José Nery! José Nery, o pai de minha mãe era o homem mais rico do Estado do Piauí. Tinha dois navios. Ele botou uma fábrica no Rio de Janeiro e ganhou dos cariocas. Botou a gordura de coco Moraes e do Norte. Vendeu mais do que a gordura de coco Carioca. Sabão Moraes. E minha mãe foi ser terceira franciscana.

           Eu não tenho essas riquezas. Estou só contando história. Meu destino foi ser médico de uma Santa Casa. A pobreza e o povo me trouxeram para cá. Isso é desígnio de Deus. Mas o que eu queria dizer para encerrar é o seguinte: olha, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Hoje é a Fraternidade. Justiça, justiça é feita por homens, ela é inspiração divina. E perguntaria a todos, a todos... Para mim, não existe esse negócio. A minha mãe era daquele tempo, católica. Eu sou mais fruto de hoje; ela é melhor, ela foi para o céu. Para mim, todos somos irmãos, todos somos irmãos em Cristo, tudo é igual, está na hora do ecumenismo. Então, está ali o Rodovalho, um homem da comunicação. Outro dia, fui à televisão dele. Mas eu quero dizer que o que mais aprendi deixei aqui nesta Casa. Violência? Toda hora tem audiência. O José Nery sabe quantas comissões! E fui a uma delas, porque eu vi mais bonito aqui, de verdade. Cada um, cada cabeça é uma sentença. Bota mil soldados, bota canhão, bota exército, forca, cadeira elétrica, capa, pune, mata, cada um dá suas... O que eu vi melhor, ô Flexa Ribeiro, foi um jornalista que se apresentou. Olha, eu quero dizer do meu respeito a nossa Igreja Católica e as outras irmãs; tudo é a mesma coisa, tudo é de Cristo para mim. Cada um dava o rumo de combater a violência. Aí o jornalista disse: “Eu subo morros, os lugares mais violentos do Rio de Janeiro, e o que eu tenho a dizer aqui é que onde existe uma igreja, há paz em torno dessa igreja, que afasta a violência”. Então, nós precisamos é de Deus, é daquele amor. “Amai-vos uns aos outros”. Aquilo que Francisco, o santo, dizia - e está aí a fraternidade do Dom Helder -: irmão sol, irmã lua, irmão rio, irmão vento, irmão lobo; ele tratava a todos com essa fraternidade.

Então, para encerrar, quero dizer o seguinte - e homenagear a Igreja de Cristo, Católica, a qual pertenço; da minha mãe, terceira franciscana; do meu nome, uma inspiração de Cristo -: Fraternidade, Liberdade e Igualdade. Caso aqui justiça com coisa, mas ela é de homem. Eu perguntaria o seguinte - isso aqui é para refletirmos -: será justo neste País pessoas - e existe, como existe, vocês viram nos jornais - ganharem R$40 mil e uma professorinha não ganhar R$500,00, R$400,00? Às vezes os que não têm recebem cem vezes menos. Eu perguntaria: isso é justiça? Isso é justiça? Onde estão os bem-aventurados que têm fome e sede de justiça? Essas pessoas têm 100 estômagos; e Deus fez a professorinha com um estômago? Então, é isso. Meus aplausos à Campanha da Fraternidade, à igreja de Dom Helder, a de minha mãe. Em minhas palavras últimas, peço que, através da tecnologia do som, da televisão, da imagem, da rádio AM e FM, elas cheguem aos céus e a Deus. Ó meu Deus, abençoe o nosso Brasil! E, depois da Fraternidade, vamos continuar... Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. O povo gritava (antes da Fraternidade): “Liberdade e Igualdade”. E vamos atingir isso, ó meu Deus. Era o que tinha a dizer. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2009 - Página 6579