Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões feitas por S.Exa. emanadas da leitura do catálogo "Amazonas: Diversidade Cultural Iconográfica", editado pelo Sebrae amazonense, em parceria com outras instituições.

Autor
Jefferson Praia (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: Jefferson Praia Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Reflexões feitas por S.Exa. emanadas da leitura do catálogo "Amazonas: Diversidade Cultural Iconográfica", editado pelo Sebrae amazonense, em parceria com outras instituições.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2009 - Página 6887
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ELOGIO, INICIATIVA, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), LANÇAMENTO, CATALOGAÇÃO, DIVERSIDADE, CULTURA, REGIÃO AMAZONICA, REFORÇO, POLITICA CULTURAL, INTEGRAÇÃO, TURISMO, ARTESANATO, ARTES, CIENCIAS, LAZER, BUSCA, CRIAÇÃO, POLITICA, SETOR PUBLICO, AMPLIAÇÃO, NUMERO, EMPREGO, MELHORIA, RENDA.
  • IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, SENADO, DEBATE, COMISSÃO PERMANENTE, SUGESTÃO, PROPOSTA, ATUALIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO, GARANTIA, PRIORIDADE, REGIÃO AMAZONICA, ESPECIFICAÇÃO, AUMENTO, NUMERO, EMPREGO, INTEGRAÇÃO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, MEIO AMBIENTE.
  • CONGRATULAÇÕES, SUPERINTENDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), ESTADO DO AMAZONAS (AM), COORDENADOR, PROJETO, GRUPO, REALIZAÇÃO, TRABALHO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cultura é o tesouro comum de visões de mundo, experiências, sentimentos, tradições, saberes e fazeres que unem os indivíduos de uma sociedade entre si e vinculam as gerações passadas, presentes e futuras pelos fios invisíveis que tecem a história de um povo.

No contexto da globalização acelerada pela dinâmica da economia e da tecnologia, a afirmação da diversidade quase infinita das culturas contribui para estabelecer um contraponto saudável às tendências uniformizantes e padronizadoras dos gostos e estilos de vida que, sem isso, afogariam as identidades coletivas na mesmice do pensamento único, aprisionando o espírito humano na jaula de ferro de uma rotina universal.

O respeito mútuo e o diálogo entre as culturas nos põem em contato com o outro, ao mesmo tempo em que nos ajudam a conhecer melhor a nós mesmos.

Aprendemos, assim, que nossos semelhantes, situados em outros quadrantes do espaço geográfico e em outras transversais do tempo histórico, deram e dão soluções diversificadas às mesmas e eternas questões que desafiam o gênero humano do berço ao túmulo.

Desse modo, a sensibilidade cultural possibilita colocarmos os problemas que nos atormentam, aqui e agora, em uma nova perspectiva e aprender a resolvê-los mediante alternativas inspiradas em outros olhares, outros repertórios, outras caixas de ferramentas mentais. É preciso modificar a pergunta para produzir uma resposta nova!

Diante da atual crise econômica planetária, essa percepção se reveste de uma aguda urgência. É imperativo repensar, criticar e substituir modelos de regulação das relações entre o público e o privado, entre o global e o local e também entre o homem e a natureza que se esgotaram e que, ao fazê-lo, conduziram aos atuais impasses. Impasses esses que precisamos superar em prol de um futuro melhor para esta e as próximas gerações.

Nesse sentido, Sr. Presidente, a cultura, é claro, não tem preço. Porém, cada vez mais, aprendemos que ela pode se revestir de grande valor, inclusive econômico, para a promoção do bem-estar da comunidade que a encarna e produz.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todas essas reflexões me foram inspiradas pelo leitura do catálogo Amazonas: Diversidade Cultural Iconográfica, belíssima realização do Sebrae amazonense, possibilitada pela parceria entre o seu Núcleo de Cultura & Negócios e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), através da Fundação de Apoio Institucional Rio Solimões (Unisol).

Valorizado por um texto elegante e acessível e por imagens deslumbrantes, o catálogo resulta de pesquisa, realizada entre os anos de 2005 e 2006, que envolveu 315 entrevistas de campo para promover o mapeamento de seis “áreas culturais” a saber: Rio Negro, Juruá, Madeira, Purus, Amazonas e Solimões, representadas, respectivamente, por estes sete Municípios: Manaus e Barcelos; Eirunepé; Humaitá; Lábrea; Parintins; e Tabatinga.

As entrevistas e os posteriores seminários promovidos para discutir e sistematizar seus resultados selecionaram os 56 “ícones” mais citados (aspectos típicos da cultura do Estado do Amazonas), entre mitos, lendas, paisagens, espécies da flora e da fauna (terrestre e aquática), comidas, bebidas, artefatos, monumentos e tipos étnicos e culturais.

Para cada ícone, Sr. Presidente, os pesquisadores desenvolveram uma “estratégia” destinada a promover a cultura amazonense em uma perspectiva empreendedora, recomendando as ações e providências articuladas entre as comunidades, as organizações não-governamentais e, é claro, o setor público.

O foco de todas essas estratégias consiste em construir e fortalecer uma cadeia produtiva da cultura, integrando turismo, artesanato, gastronomia, arte, ciência, lazer, recreação e muitos outros segmentos na geração de emprego e renda.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o tempo de que disponho jamais me permitiria fazer total justiça ao rico conteúdo do catálogo Amazonas: Diversidade Cultural Iconográfica.

Portanto, pelo licença aos nobres Pares para apenas ilustrar o que digo com as observações da obra acerca do ícone “boto”, uma das presenças mais marcantes na imaginação amazonense.

Conta a lenda, Sr. Presidente, que o boto, mamífero que habita os rios, sai das águas em noites de lua cheia, assumindo a forma de um vistoso rapaz, trajado todo de branco, sempre com um chapéu que serve para ocultar o orifício que o animal tem no alto da cabeça. E, em seu passeio noturno, o boto flerta com as moças ribeirinhas, sempre escolhendo a mais bela para namorar.

Na manhã seguinte, a cunhã acorda sozinha, na beira do rio, para descobrir, pouco tempo depois, que está grávida. Quem é o pai? Parentes e amigos perguntam. É o boto, ora, responde o povo.

Dessa atração fatal, conclui a lenda, somente estão livres as donzelas que carregam o Muiraquitã, uma amuleto poderoso.

Esse relato mítico que passa de geração a geração, reforça o encanto do cetáceo, cujos malabarismos à superfície da água chamam a atenção de quem viaja de barco ou passeia nas margens dos rios.

Apesar disso, da mesma forma que o seu desdobramento humano, na projeção lendária, sofre a perseguição implacável de pais severos e namorados vingativos, o boto de verdade está ameaçado por caçadores profissionais, pelas redes de pesca, pelo envenenamento por agrotóxicos. Sua sobrevivência, para o deleite eterno de nossas crianças e também da criança que todos nós trazemos na alma, depende de alternativas sustentáveis de política pública, com a ampliação das oportunidades de emprego e renda.

Mas, Sr. Presidente, repito, a obra contempla muitos outros aspectos luminosos do imaginário e da realidade amazonenses, e, a fim de conhecê-los todos, é preciso mergulhar no prazer da sua leitura.

Quem o fizer ficará sabendo, por exemplo, que o açaí, além do “vinho” energético e o palmito delicioso, também dá sementes que servem para adornar acessórios com design sofisticado; ou que o saboroso cupuaçu é lembrado oficialmente, todo mês de abril, por uma animada festa no Município de Presidente Figueiredo, também conhecido por suas cachoeiras; ou que o Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus combina modernidade e sustentabilidade, pois há 42 anos consolida uma alternativa vitoriosa à devastação da floresta; ou, ainda, que a tala e a fibra de buriti, nas mãos de hábeis artesãos indígenas de várias etnias, produz uma cestaria cobiçada por turistas e colecionadores brasileiros e internacionais; ou então que a forma delicada da flor de mangaba inspira o desenho de brincos dos mais elegantes; ou que o Município de Barcelos, primeira capital do Amazonas, fundada em 1758, guarda tesouros arquitetônicos dos tempos coloniais, como as ruínas da missão salesiana; ou que a argila abundante e de boa qualidade dos Municípios de Eirunepé e Carauari serve de matéria-prima a peças de cerâmica com elevado valor artístico; ou que a borracha, muito tempo depois de haver sustentado uma era de fastígio no Amazonas, ao final do século XIX, tornando Manaus a capital belle époque tropical, ainda é coletada em vastas áreas de seringais, principalmente no Purus, fornecendo insumos às indústrias do Pólo de Manaus; ou então que, além do colossal bumbódromo, palco anual do belíssimo festival folclórico de Parintins, a cidade é um centro de rica produção artesanal; ou ainda que do tambaqui se aproveita não apenas a gostosa carne, mas também o couro, que, devidamente tratado, serve para confeccionar bolsas e calçados sofisticados; ou, finalmente, que a Festa do Sol, em Lábrea, no final de agosto, é um ótimo motivo para conhecer a cidade e descansar em suas belas praias fluviais. E assim por diante, Sr. Presidente.

Enfim, o catálogo lançado pelo Sebrae do Amazonas é muito mais que uma festa para os olhos, pois as estratégias que esboça para a exploração responsável e inteligente da cultura local e dos seus ícones podem e devem servir de base a uma agenda de políticas públicas voltadas ao meu Estado e - por que não? - ao conjunto da Amazônia brasileira.

Proponho que o Senado da República assuma papel decisivo nesse processo, debatendo cuidadosamente os seus diagnósticos e desenvolvendo as sugestões ali contidas, nas Comissões Permanentes, elas que são o chão-de-fábrica do Parlamento, as oficinas do Poder Legislativo.

Tenho certeza de que esse envolvimento institucional resultará em um conjunto de proposições novas - bem como na atualização de legislação ultrapassada - capazes de fixar a questão amazônica no topo da lista de prioridades nacionais permanentes, indo muito além da retórica e produzindo soluções duradouras e estruturantes para os problemas de geração de emprego e renda, inclusão social e sustentabilidade ambiental, em uma área total que corresponde a mais da metade do território brasileiro.

Sr. Presidente, para finalizar, parabenizo o ex-Superintendente do Sebrae Amazonas, Dr. José Carlos Reston; o atual Superintendente, Dr. Nélson Rocha; e o coordenador do projeto, Dr. Ademir Ramos e toda a equipe que trabalhou nesse projeto.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2009 - Página 6887