Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Deputado Federal Clodovil Hernandes.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Deputado Federal Clodovil Hernandes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2009 - Página 5680
Assunto
Outros > SENADO. HOMENAGEM.
Indexação
  • DEFESA, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, SENADO.
  • HOMENAGEM, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, AGILIZAÇÃO, TRAMITAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, CONGRESSISTA, POSSIBILIDADE, DECISÃO, FILHO ADOTIVO, ADOÇÃO, NOME, PAES.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sem dúvida, Sr. Presidente.

            E antes até de justificar o meu requerimento, Senador Tião Viana, eu digo a V. Exª que, em relação a essa questão, fique V. Exª muito tranquilo.

            Eu não acho que mazela seja para ser jogada para baixo do tapete não. Se eu souber de alguma, eu vou denunciar. Se eu souber de alguma, eu vou para aquela tribuna ali dizer: Olha, não estou aqui para compactuar com bandalheira. Não estou aqui para ver derreterem o prestígio do Senado Federal. Não estou aqui para isso, não.

            Esta Casa já foi fechada pela violência das armas quando ela merecia o respeito do povo. Ela não pode ser considerada dispensável, despicienda pelo povo brasileiro, por falta de atitudes das pessoas que aqui estão.

            Então, é dever de quem dirige o Senado hoje fazer, sim, uma forte investigação em todo e qualquer setor deste Senado. Não vamos imaginar que isto aqui é um clube. Eu me elegi Senador. Eu não comprei título de sócio proprietário de clube, não. Eu me elegi Senador. Não comprei título de sócio proprietário para ficar me reunindo para ver se a piscina vai ter cor azul ou cor verde, para ver se a festa vai ser do Havaí, se vai ser de sarongue ou vai ser de sunga. Isso não é o meu... Eu me elegi Senador. Como Senador, eu quero trabalhar. E eu não posso trabalhar enquanto pipocar todo dia denúncia contra o Senado Federal. Não tenho nada a ver com diretor que malversa, nem com diretor que emprega filho. Não tenho nada a ver com isso. Se eu souber dessas coisas, vou para a tribuna denunciar, porque chega! É falta de decoro? Vou dizer: eu estou - e vou faltar com o decoro agora - de saco cheio de viver este clima de inércia e de desmoralização a que está submetido o Senado neste momento. Se é falta de decoro, quem sabe eu mereça ser cassado por dizer que não aguento mais isso.

            Sr. Presidente, gostaria de - e aí o tom é outro - encaminhar o meu voto de pesar, que imagino será do Senado inteiro, pelo falecimento do Deputado Clodovil Hernandes.

            Conheci Clodovil há bem pouco tempo, quando ele se elegeu Deputado Federal, e a sua assessoria, contatando a minha, marcou uma entrevista minha para o seu programa de televisão. Saí dessa entrevista amigo dele. Foi uma entrevista de grande repercussão, muito fraterna. Ele, sempre instigante, desafiador.

            Quero aqui saudar o grande estilista que marcou época e que, depois, virou um grande polemista como apresentador de programas televisivos. Uma figura que, diante de uma sociedade conservadora como a brasileira, assumiu a sua condição de homossexual aos olhos de todos. Nunca escondeu isso, o que faz com que as pessoas devam respeitá-lo. Sempre me acostumei a respeitar aqueles que têm posições claras, aqueles que são o que são e dizem o que são.

            Como Deputado - e cheguei a conversar isso com ele algumas vezes -, Clodovil Hernandes chegou desaparelhado. Ele não sabia o que dizer, o que não dizer, e achava que a sua sinceridade bastava, mas a sua sinceridade quase lhe custou o mandato. Foi grosseiro no episódio da Deputada do PT e se arrependeu daquilo. Disse a mim que não era medo de cassação de mandato; era medo da grosseria que ele havia cometido. Ele tinha medo de ser grosseiro, isso sim, e aprendeu, acredito eu, relativamente, a ser um Deputado. Já estava muito mais acostumado com as regras da Casa, e não se pode dizer que cometeu qualquer gesto aqui que tivesse denegrido a sua curta carreira de parlamentar. Quando trocou de partido, ele não o fez como fazem os trânsfugas; ele não trocou de partido atrás de vantagens, para se eleger melhor, ou atrás de cargo. Não me consta que tenha cargo nenhum nesta República. Não agiu como um trânsfuga. Quando trocou de partido, ele o fez como uma criança ingênua, que não estava nem atenta à lei brasileira que, felizmente, proíbe hoje a infidelidade partidária. Felizmente, antes do seu falecimento, o Tribunal Superior Eleitoral lhe deu ganho de causa, e ele, então, morre, falece no momento em que Deus quis, como Deputado Federal.

            Devo dizer que perdi um amigo, não um amigo de conversa amiudada, mas um amigo que, eu sentia, a mim dirigia bons fluidos, e eu, do mesmo modo, me preocupava com a sua sorte. Hoje - cheguei ontem de Manaus - eu me apressei a ir ao hospital e lá permaneci um par de horas, procurando saber notícias. Cheguei a visitá-lo na UTI, e lá eu já soube que não havia mesmo nada; o Ministério Público já havia autorizado que os órgãos viáveis fossem doados, o Ministério Público já estava em cima disso tudo, sua morte já era um fato. Apenas, por quaisquer razões, seus médicos e seus assessores, que funcionaram como sua família, resolveram que o anúncio seria feito às cinco da tarde, como ainda há pouco me acenou o Senador Antonio Carlos, dizendo que o anúncio foi feito às cinco da tarde.

            O Deputado Clodovil morreu só, Sr. Presidente! Morreu só! Descobriram um tio dele em Ubatuba. Uma figura tão polêmica, tão querida, uma celebridade neste País, e morreu só, completamente só. Aliás, não só, porque cercado da lealdade de quatro ou cinco assessores de gabinete, que se revezaram em seu leito de morte. Mas morreu só, sem parentes, enfim.

            Por isso o gesto do Senador Demóstenes de aprovar amanhã, por solicitação minha, o projeto de lei do Deputado Clodovil que permite aos filhos, às crianças adotadas que incorporem, se houver autorização do pai ou da mãe biológicos, o nome do padrasto ou da madrasta que lhes dá afeto familiar - não se retira nome algum, apenas se acrescenta outro nome. Isso a meu ver estabiliza familiarmente uma pessoa que já teve o primeiro problema na vida, que foi o de precisar ser adotada. Creio que deveríamos nós aprovar, amanhã, na Comissão de Justiça, e, amanhã, no plenário, em regime de urgência urgentíssima, após a votação da medida provisória que deveria ter sido votada hoje, uma medida provisória relevante, que ajuda a enfrentar a crise econômica. Estarei aqui, portanto, para ajudar a que cheguemos a esse gesto, a essa homenagem ao Deputado falecido.

            Morre uma figura polêmica, morre uma figura sincera, morre uma figura que não chegou a ser um político completamente, morre alguém que deixou de ser estilista. Morre alguém que não chegou a se consolidar como apresentador de televisão, mas morre uma pessoa talentosa, morre uma pessoa corajosa e morre uma pessoa a quem eu aprendi a querer bem, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2009 - Página 5680