Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos 87 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil - PCdoB.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem aos 87 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil - PCdoB.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2009 - Página 7546
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), OPORTUNIDADE, COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, LUTA, RESISTENCIA, DITADURA, EXPULSÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB).
  • SAUDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), COMUNISTA, IMPORTANCIA, LUTA, RETORNO, APERFEIÇOAMENTO, DEMOCRACIA, GARANTIA, JUSTIÇA, IGUALDADE, SOCIEDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, querido amigo e companheiro Senador Inácio Arruda, Sr. Senador Mão Santa, Srs. Parlamentares, Senadores e Deputados, caro Presidente Nacional do PCdoB, Ministro Orlando, Deputada Manuela, senhoras e senhores, autoridades presentes, embaixadores, Senador Renato, eu hoje reservei a manhã para folhear, ler dois dossiês.

Dias atrás, Senador Inácio, eu tive necessidade de relembrar os nomes das companheiras e dos companheiros que comigo foram expulsos da UnB pelo Decreto nº 477. Fui ao site da UnB: nenhum registro. Recorri a jornais antigos: também nada. Disseram-me: “Olha, hoje, na Imprensa Nacional, há um arquivo da UnB”, Deputada Manuela. Eu o requeri. Para minha surpresa, de fato, encontravam-se lá as informações, por sinal, a respeito da minha passagem pela UnB. Mas as informações não chegaram a tempo, porque eu queria usá-las para fazer referência a episódio ocorrido em data que se comemorava há pouco, depois de muitos anos: a edição do Decreto nº 477. O Decreto nº 477 era chamado o AI-5 dos estudantes, na época, e funcionou como um AI-5 para os estudantes.

No formulário que me foi entregue, havia a opção de pesquisa de outros bancos de dados, outros arquivos: do SNI, do Conselho de Segurança Nacional… Aí eu me animei e também os requeri. Alguns dias depois, recebi um dossiê referente à minha atuação como militante, resistente e combatente contra a ditadura, que, por sinal, hoje alguns comemoram, outros lamentam e choram.

A jovialidade da Deputada Manuela me desafia a falar um pouco de um período que o Brasil, aos pouquinhos, vai esquecendo, mas não deveria esquecer. Estou me referindo à participação de pessoas que, na época, tinham entre 18 e 24 anos de idade, enfim, jovens, estudantes, que, em razão de sua participação em movimento estudantil, começaram a ser excluídos ou, de forma voluntária, começaram a se dirigir, a serem recrutados a participar de organizações políticas que atuavam na resistência à ditadura.

Estou de posse de dois dossiês. Olhem que coisa impressionante! Um deles é relativo à minha passagem pela UnB, aqui em Brasília, e outro, relativo a toda a minha atuação.

E por que estou dizendo isso, Deputada? É porque fui recrutado, na época, pela Ala Vermelha do PCdoB. O ambiente em que vivia em Brasília ficou complicado, e eu fui aconselhado a sair daqui. Em razão de nossa participação aqui, pesava sobre mim uma condenação pela Lei de Segurança Nacional - uma prisão decorrente de sentença que não cumpri porque me evadi, fui embora; fui, primeiro, para São Paulo; depois, mandaram-me para o Rio.

Como disse, jovens de 18 a 24, 25 anos carregavam um peso enorme nas costas, seguiam uma disciplina férrea, encaravam uma responsabilidade que era, às vezes, maior do que poderiam suportar. Estudavam textos de forma disciplinada, discutindo a realidade brasileira e a realidade internacional. Eram pessoas que deveriam estar nas escolas, estudando para se formar. No entanto, foram jogados, pela força das circunstâncias e pela imposição das próprias consciências, numa luta terrível, numa luta terrível.

Aqui, fico imaginando o quanto há de falta de respeito no comportamento daqueles que ainda se arvoram o direito de, aqui e acolá, dizer: “O PCdoB errou quando foi para a guerrilha do Araguaia”, “A organização tal operou em erro e em equívoco porque fez isso ou aquilo”. Antes de mais nada, considero uma falta de respeito a pessoas que podem até ter-se equivocado na tática, na estratégia adotada, mas que foram de uma grandeza incalculável, de uma bravura desmedida, Senador Paim, de uma coragem como eu vi poucas vezes acontecer.

Não tenho, hoje, responsabilidade pela condução, pelos destinos do PCdoB, mas tive uma relação íntima, consciente, dedicada, até o limite das minhas forças, da minha minúscula coragem. E quero aproveitar este momento para render as minhas homenagens a tantos que abdicaram de tanta coisa na vida e se jogaram de corpo e alma na luta contra um regime cruel que se abateu sobre o nosso País num determinado período.

Essa, sim, é uma história que não se pode esquecer, porque muita coisa ainda precisa ser esclarecida. Há famílias ainda no Brasil em busca dos restos mortais dos seus entes queridos. No dia em que nos esquecermos disso não estaremos à altura de reverenciar as pessoas que, naquele momento histórico do nosso País, um momento pesado, um momento de medo, um momento de angústia profunda - trabalhadores brasileiros, principalmente jovens daquela época, milhares e milhares de jovens -, desviaram o rumo de sua vida, muitos tendo sido sacrificados, mortos, assassinados.

Hoje é um dia - talvez o que eu fale aqui incomode muita gente - de refletirmos um pouquinho sobre isso. Não nos esqueçamos do que aconteceu! Eu não sou revanchista, eu não sou daqueles que ficam futricando ferida, mas esse é um fato nacional, esse é um fato que diz respeito ao povo brasileiro, e ele jamais poderá ser esquecido, principalmente por nós.

Aproveito esta oportunidade porque, como eu disse, a jovialidade da Deputada Manuela me desafiou a lembrar esse momento do nosso País, quando pessoas com a idade próxima da dela fizeram o que achavam que tinha que ser feito. Portanto, ao mesmo tempo em que saúdo os 87 anos do PCdoB, meu querido conterrâneo, Senador Inácio Arruda, quero saudar realmente muita luta, muita responsabilidade com o País, muito envolvimento com este País tão querido.

Como eu disse, este é um fato para festejarmos: 87 anos de uma organização política que tem, em seu histórico, a responsabilidade de ter construído as bases para que chegássemos até aqui.

Eu saúdo o PCdoB por seus 87 anos e, aqui, aproveito para lembrar, saudar, reverenciar, com muito carinho, aqueles que, dentro do PCdoB e em organizações que atuavam também como o PCdoB e juntamente com o PCdoB, fizeram com que o País reencontrasse ou se reencontrasse com uma incipiente democracia, democracia que precisamos aprofundar no nosso País, democracia que precisamos buscar incessantemente. Às vezes, me pego pensando que ela ainda está por se completar, ela ainda está por se fazer plenamente, porque ainda somos um País extremamente injusto, um País extremamente desigual, e a luta de todos, inclusive do PCdoB, tem que visar exatamente ao aprimoramento e ao aprofundamento do processo democrático para que o povo brasileiro, algum dia, possa bater no peito mesmo e dizer: vivemos uma democracia plena, justa, socialmente justa. É o legado que orgulhosamente deveremos deixar para os nossos filhos, para os nossos netos, para as nossas futuras gerações.

Obrigado. Peço desculpas pelo alongado, Senador Inácio Arruda, mas achei oportuno trazer as informações que trouxe e me demorar mais um pouquinho aqui.

Agradeço a bondade de V. Exª e saúdo a todos que hoje, aqui, reverenciam este grande partido que é o PCdoB.

Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2009 - Página 7546