Discurso durante a 47ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da intervenção de S.Exa. em episódio onde um aluno adolescente compareceu à escola portando uma arma. Transcrição do artigo "Cultura das Armas contra Humanismo", de Dalmo de Abreu Dallari.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Relato da intervenção de S.Exa. em episódio onde um aluno adolescente compareceu à escola portando uma arma. Transcrição do artigo "Cultura das Armas contra Humanismo", de Dalmo de Abreu Dallari.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2009 - Página 9879
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ADVERTENCIA, PORTE DE ARMA, ADOLESCENTE, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TENTATIVA, FAMILIA, EXPULSÃO, ALUNO, REGISTRO, INICIATIVA, ORADOR, REALIZAÇÃO, CONFERENCIA, ESTUDANTE, DEBATE, ALTERNATIVA, REDUÇÃO, VIOLENCIA, BUSCA, PAZ.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, ALUNO, AGRADECIMENTO, CONFERENCIA, ORADOR, INFLUENCIA, ALTERAÇÃO, CONDUTA, BUSCA, PAZ.
  • ENCAMINHAMENTO, TEXTO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUMENTO, UTILIZAÇÃO, ARMA DE FOGO, ESPECIFICAÇÃO, JUVENTUDE, CLASSE MEDIA, PREJUIZO, SOCIEDADE, IMPORTANCIA, ANALISE, SITUAÇÃO, BRASIL, IMPEDIMENTO, OCORRENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente Senador Mão Santa. Em que dia completarão os mil pronunciamentos?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Depois da Semana Santa, e vou prestar uma homenagem a Pedro Simon que, como V. Exª, tem muito tempo nesta Casa.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito bem.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Senadora Lúcia Vânia, Senador Augusto Botelho, Senador Wellington Salgado e Deputado Elismar Prado, do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais, que hoje nos honra com a sua visita no plenário.

V. Exª há pouco me recordava de quando a Câmara Municipal de Uberlândia honrou-me com o título de Cidadão de Uberlândia. Naquela ocasião, eu interagi muito, inclusive com as instituições de ensino superior de Uberlândia, duas, pois ambas, estimuladas pelo hoje saudoso, mas então tão ativo na época, Antônio Maria da Silveira, um economista pioneiro da proposição da garantia de uma renda a todos os brasileiros, ele, tão entusiasta, pediu que eu ali estivesse algumas vezes e por causa disto é que a Câmara Municipal de Uberlândia homenageou-me na batalha pela Renda Básica de Cidadania.

Mas, hoje, eu gostaria de falar a respeito das armas. Das armas, quando às vezes entram em lugares que não precisariam estar, como numa escola. E aqui faço um alerta diante do episódio que aconteceu, pois em 13 de março último, na Escola Nossa Senhora das Graças, em São Paulo, Deputado Elismar Prado, um menino de 14 anos levou ao colégio e mostrou para seus colegas um revólver e algumas balas. O jovem havia procurado um cabo de computador no armário de seu pai quando achou a arma, devidamente registrada. 

Felizmente, nenhum acidente aconteceu. Os pais do aluno o acompanharam até a escola para dizer que entregaram a arma à Polícia Federal. Seu pai aproveitou a oportunidade para contar ao filho os inúmeros acidentes, associados ao porte de arma, que têm gerado a morte de pessoas.

O episódio foi comentado por todos na escola conhecida como Gracinha e chegou ao conhecimento dos pais de seus 1.100 alunos. Alguns pais informaram à direção da escola que o episódio era muito grave e que o estudante deveria ser expulso do colégio. Já outros sugeriram que a direção do Gracinha aproveitasse a oportunidade e promovesse um sequência de debates sobre “Cultura e Educação para a Paz”.

Ao ler esta notícia no Jornal Folha de S. Paulo, liguei para o Professor Eduardo Roberto da Silva, diretor da Escola Nossa Senhora das Graças, onde eu havia estudado desde o jardim da infância até o 4º ano primário, e ofereci-me a fazer uma palestra sobre como construir as condições de justiça na sociedade brasileira visando a diminuir a violência e construir a paz.

Isso aconteceu no último dia 31 de março, quando falei para mais de 200 estudantes, basicamente de 12 a 15 anos, professores, orientadores e funcionários.

Na ocasião, lembrei que meu pai explicava para os seus onze filhos, éramos seis homens e cinco mulheres - hoje somos nove - o porquê de nunca ter armas em casa e ilustrava os seus conselhos com histórias de acidentes ocorridos com pessoas que usavam as armas inadequadamente. Recordei que em minha família - e meu pai contava isso - um primo de segundo grau de apenas 10 anos, causou sem querer a morte de seu irmão ao manipular uma arma carregada em casa. Também lhes contei que disse aos meus filhos, Eduardo - o Supla - André e João, que nunca teria armas em minha casa.

Alegrei-me ao perceber que o estudante e seus colegas apreciaram que falasse das lições que podemos aprender com as biografias e as recomendações de líderes que defenderam ardorosamente a justiça e a não-violência. Como exemplo, citei a vida de Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. e as canções de John Lennon, Bob Dylan e Gilberto Gil sobre como construir a paz.

Na verdade, quando perguntei aos estudantes quais eram aqueles que haviam se destacado na história da humanidade através da luta pela não-violência alcançar direitos civis, direitos humanos, os alunos de 12 a 15 anos souberam citar Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr., Nelson Mandela, John Lennon e o próprio Bob Dylan. 

Eu fiquei ainda mais contente quando soube, pelo diretor da escola, que o estudante voltou a frequentar as aulas após a suspensão decorrente do incidente. Muito me alegrou a decisão da direção da escola, com a compreensão dos pais, que avaliou ser mais eficaz convidá-lo e a toda comunidade para participarem dessa reflexão do que expulsá-lo da escola Nossa Senhora das Graças.

Do próprio rapaz, menino de 15 anos, recebi o seguinte texto - vou ler alguns trechos do que ele me disse:

Com base do que fiz, Senador Suplicy vai à escola dar uma palestra. O que eu senti? Muitas coisas, que já vinham com o tempo. Tristeza... um pouco de dor, e aquele peso insuportável de poder ter feito alguma ação que nunca mais voltaria.

Gostaria de ter falado com ele antes da palestra, mas então existia a possibilidade dele chegar um pouco em cima da hora. Não sei o que aconteceu, mas não pude falar com ele, então depois da palestra eu falaria com ele, mas estava um pouco depressivo, e pra falar a verdade era o dia que eu revi meus amigos...

Então quando ele fala dos grandes homens da paz, eu penso, por que eles fazem aquilo, como eles conseguem!? E como diz a famosa música de Bob Dylan: ‘A resposta, meu amigo, voando no ar’.

[...]Um outro grande exemplo da paz é Martin Luther King Jr., um grande revolucionário americano que como objetivo queria a paz entre os brancos e os negros. Entre os seus mais famosos discursos, está o “Eu tenho um sonho” [I have a dream], que por sua vez fala muitas coisas bonitas, como por exemplo: “E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder.”

Bom, isso é o que mais me marcou da sua palestra, caro Senador.

E, um dia, eu sei, ainda cantaremos a música Blowin’ the Wind, vendo um mundo cheio de paz e amor, mais para isso precisaremos mudar a cabeça de cada cidadão, e eu sei que tanto você quanto eu, quanto qualquer um, pode fazer isso!

Muito obrigado, pela atenção, e pela grande palestra, é claro.

Então, vamos começar a cantar agora!

How many roads must a man walk down,

Before you call him a man?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind. (sic)

E eu então encaminhei a esse menino de 14 anos uma carta lhe agradecendo. Inclusive, anexei um artigo publicado, tal como meu texto,...

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) -... que se constituiu em artigo publicado hoje pelo Jornal do Brasil.

Mas eu enviei a este menino o artigo do professor Dalmo de Abreu Dallari, Cultura das Armas contra Humanismo, que justamente ressalta que:

As tragédias decorrentes do uso de armas, ceifando vidas e enlutando famílias, continuam a ocorrer em ritmo crescente, ao mesmo tempo em que o comércio de armas é cada vez mais próspero e já foi identificado, nos Estados Unidos, como um dos grandes beneficiários da crise econômico- financeira, pois o medo do aumento da criminalidade provocou uma explosão na venda de armas. A multiplicação de tragédias armadas vem acontecendo em países ricos, e os autores das violências armadas são jovens da classe média superior, alunos ou ex-alunos de Universidades e colégios de alto nível, ficando evidente que tais violências não decorrem da marginalização social, de frustrações resultantes da pobreza ou da impossibilidade de acesso à educação. Exatamente por isso é necessária uma reflexão, que sirva de alerta para que não se instalem ou não ganhem força no Brasil as mesmas causas que estão provocando aquelas violências. É preciso identificar as causas mais prováveis, o que deverá ser feito a partir dos fatos mais expressivos, como o que ocorreu na Alemanha há poucos dias.

Solicito, Sr. Presidente, que conste, na íntegra, o restante deste artigo, como parte do meu pronunciamento.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Cultura das Armas contra Humanismo”.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2009 - Página 9879