Discurso durante a 50ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 40 anos da Empresa de Correios e Telegráfos - ECT.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. TELECOMUNICAÇÃO. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração dos 40 anos da Empresa de Correios e Telegráfos - ECT.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2009 - Página 10408
Assunto
Outros > HOMENAGEM. TELECOMUNICAÇÃO. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), AGRADECIMENTO, RECEBIMENTO, LIVRO, HISTORIA, EMPRESA PUBLICA, ELOGIO, EFICIENCIA, ATENDIMENTO, CONGRATULAÇÕES, SERVIDOR.
  • APOIO, DERRUBADA, VETO (VET), LEGISLAÇÃO, REFERENCIA, APOSENTADORIA, CARTEIRO, JUSTIFICAÇÃO, NECESSIDADE, DEFESA, EXERCICIO PROFISSIONAL, CRESCIMENTO, VIOLENCIA.
  • ELOGIO, TRABALHO, DISTRIBUIÇÃO, ENTREGA, LIVRO DIDATICO, ESCOLA PUBLICA, PAIS, CONCLAMAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), ENGAJAMENTO, LUTA, ERRADICAÇÃO, ANALFABETISMO, SUGESTÃO, UTILIZAÇÃO, AGENCIA, ATRAÇÃO, ANALFABETO, CURSOS, DISPONIBILIDADE, ORADOR, DEBATE, INCLUSÃO, EMPRESA PUBLICA, PROCESSO, EFEITO, AUMENTO, USUARIO.
  • COMENTARIO, PADRÃO, AMBITO NACIONAL, AGENCIA, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), DEFESA, IGUALDADE, QUALIDADE, ESCOLA PUBLICA, EDUCAÇÃO BASICA, TERRITORIO NACIONAL, JUSTIFICAÇÃO, FEDERALIZAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente.

Basta falar para você poder ser mal interpretado, não é? Calado, ninguém o interpreta mal.

Mas, Sr. Presidente, eu quero inicialmente parabenizá-lo por ter convocado esta sessão. Quero cumprimentar o nosso amigo Carlos Henrique Custódio, com quem eu tive uma ótima conversa e de quem eu recebi um livro, que me impressionou muito, sobre a história dos Correios.

Esta é uma instituição - os Correios - que nasceu com o Brasil. Afinal de contas, o documento fundamental, que funda o Brasil, é uma carta, a Carta de Pero Vaz de Caminha. E a carta é correio. O Brasil nasceu com o correio, nasceu com uma carta sendo enviada para o outro lado do Atlântico.

Quando nós somos crianças, é muito comum discutirmos duas coisas: qual a maior invenção do mundo e qual a será a sua profissão. Eu surpreendia muito meus amigos dizendo que eu achava que a maior invenção eram os correios e que eu queria ser carteiro. Isso, aliás, eu já disse em muitas conversas e entrevistas. Porque há uma mágica nos correios que a gente não vê em outras atividades. A fabricação de um automóvel, talvez porque eu seja engenheiro mecânico, não tem nada de mágica. Agora, ao se colocar uma carta numa caixinha de uma esquina e ela chegar ao outro lado do mundo há uma mágica que eu não consigo explicar. Talvez vocês, que estão por dentro do assunto, e a União Postal Internacional, essa entidade que talvez seja a primeira de todas as entidades internacionais, consigam explicar. Mas eu imagino a quantidade de dificuldades financeiras, a começar de quem paga a quem, se é o país que envia ou se é o país que distribui lá na outra ponta; de como se selecionam as cartas que vão de um lugar para outro; enfim, tudo isso sempre foi uma mágica para mim. Eu me lembro de que, nas discussões, alguns diziam que a maior invenção foi a roda. Sem a roda não haveria o correio. E eu digo: haveria! O correio começou sendo levado a pé, pelos romanos. Depois por cavalo. Não precisava de roda. Agora, não adiantava nada a roda se não tivesse uma carta para levar a outro lado, para uma pessoa amiga.

Por isso, a admiração que sempre tive por essa entidade. Minha admiração aumenta quando eu vejo que os Correios, a ECT, são uma instituição que está ao lado de um pequeno grupo de atividades, de entidades que orgulham o Brasil. Eu ponho aí a Petrobrás; eu ponho o TSE, com sua urna eletrônica; eu ponho empresas como a Vale do Rio Doce; eu ponho a Rede Globo, entidade que, de fato, criou uma nova interação no Brasil. Nós podemos listar um conjunto de entidades que orgulham o Brasil, e, entre essas, está a ECT. Aí eu já não falo mais dos Correios antigos, pelo qual a gente podia ter todo o carinho, mas tinha que reconhecer uma certa dificuldade na eficiência, isso se considerado o nível que vocês alcançaram.

Todos sabem que se há algo, no Brasil, que pode servir de exemplo para o mundo hoje, é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Não sei qual outra tem a mesma eficiência, mas não terá mais eficiência.

Por isso, quero aqui cumprimentar os 112 mil servidores que fazem essa empresa. Quero cumprimentar todos aqueles, desde o seu Presidente até o mais simples dos funcionários, que conseguem fazer com que essa mágica funcione no Brasil.

Quero dizer também que tenho consciência de que esta Casa precisa fazer alguns gestos para colaborar com vocês. Um deles é a derrubada do veto da Lei nº 1.712, se não me engano, que cuida da aposentadoria. Podem saber que sou um defensor da derrubada desse veto aposto pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sei muito bem - e aqui em Brasília os carteiros me dizem - do problema de segurança que começa a haver aqui também, não apenas aquela antiga de cachorros e bichos na porta do destinatário, mas, hoje mesmo, de assaltos e de violências mais graves que alguns carteiros têm sofrido.

Quero deixar claro que aqui eu serei um defensor de vocês. Aqui tem bancada para tudo. Se tiver uma bancada dos Correios, creio que o Senador Wellington e eu assinaremos na frente dos outros.

Mas, ao mesmo tempo, Presidente, quero fazer um desafio aos Correios, que têm o seu papel - e o executa muito bem - de entregar as cartas, de distribuir as idéias por este País, inclusive de distribuir os livros didáticos, nesse outro programa exemplar brasileiro. Nenhum outro país do mundo tem um programa como esse, de livros didáticos, da dimensão do nosso. Os grandes países, como China, Estados Unidos, Rússia, têm programas locais de livros. O México tem um programa diferente de distribuição de livros, embora grande. Nós temos aqui duzentas mil escolas que recebem, todos os anos, mais de cem milhões de livros, todos eles distribuídos pelos Correios.

Não nego que, quando era Ministro, Senador Wellington, eu barganhei muito o preço, porque achei que estava muito caro, e cheguei a ameaçar de procurar outra entidade. Mas foi só um blefe, querendo ver se o preço baixava - e baixou um pouquinho.

Mas há uma coisa que poderiam os Correios fazer. E eu já tentei isso em algumas falas, antes mesmo de estar aqui no Senado. Os Correios ganhariam muito e prestariam um grande serviço ao Brasil se nos ajudassem a erradicar o analfabetismo. São quatorze milhões de não usuários de vocês, porque os analfabetos raramente recebem cartas e, quando recebem, têm que pedir que alguém as leia e as responda por eles. Aí, pergunta-se: como os Correios poderiam fazer isso? Há agências dos Correios em todos os lugares do Brasil. Poderíamos transformar cada agência em uma instituição de promoção para atrair os analfabetos. Uma das grandes dificuldades para a alfabetização é trazer os analfabetos para dentro da sala de aula. Poderiam ajudar de diversas maneiras, inclusive no apoio aos alfabetizadores deste País, inclusive na utilização de alguns dos funcionários como alfabetizadores, em certos horários, recebendo certos incentivos. Poderiam ganhar com isso, aumentando o número de usuários. Já conversei sobre isso há algum tempo, já falei algumas vezes.

O que quero é, na hora em que faço esta homenagem, fazer essa sugestão. E estou disposto a ir lá conversar. Reúnam um grupo de pessoas e vamos discutir se essa é uma idéia dessas que apenas provocam, como disse o Senador Wellington que eu gosto de fazer de vez em quando, ou se não é uma idéia que a gente pode, de repente, começar a implantar. Se os Correios fizerem isso, a Petrobras vem atrás, a Vale do Rio Doce vem atrás, as grandes empresas brasileiras poderão vir atrás. É uma vergonha que a gente tenha 14 milhões e 200 mil adultos analfabetos no Brasil, neste ano. E é um prejuízo para os Correios, que estão perdendo usuários.

Sr. Presidente, Senador Wellington, estas são as palavras que eu não poderia deixar de vir aqui dizer: tenho uma grande admiração por todos vocês. O mundo me levou para um caminho em que não fui carteiro, mas, de certa maneira, sou professor, que é uma pessoa que, quer queira ou não, está ligada ao trabalho, transmitindo idéias, mesmo que não por carta, mas as que carrega na cabeça.

E reafirmo essa minha admiração por uma outra coisa - e concluo com isto: sou um defensor de que nós não vamos mudar a educação no Brasil se não federalizarmos a educação de base. E dou exemplos: onde quer que a gente vá neste País, a agência do Banco do Brasil é bonitinha, arrumada e tem funcionários com salário padrão no Brasil inteiro; onde quer que a gente vá, a Caixa Econômica tem as agências bonitas; onde quer que a gente vá, há as agências dos Correios bem cuidadas. Não há diferença de uma agência, salvo o tamanho, da menor cidade e da maior cidade do Brasil. O tamanho é diferente, mas as características, a limpeza, a qualidade é a mesma. A formação dos funcionários é a mesma em qualquer lugar. O padrão salarial é o mesmo em qualquer lugar. A gente precisa fazer isso com as escolas e os professores.

Precisamos fazer com que no Brasil as escolas não sejam diferentes do ponto de vista da qualidade, do edifício, de uma cidade para outra. Fazer com que os salários dos professores sejam os mesmos neste País. Nós precisamos criar uma carreira nacional do magistério, como existe um plano de carreira dos funcionários dos Correios. Eu cito sempre esse exemplo como elogio aos Correios e como desejo de que a gente consiga fazer essa qualidade dos Correios também na educação.

Parabéns a vocês que fazem os Correios, mas parabéns, sobretudo, ao Brasil, que tem, entre os seus orgulhos, uma empresa como essa a qual vocês pertencem.

Parabéns e muito obrigado pela chance de poder dizer isso aqui a vocês. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2009 - Página 10408