Discurso durante a 53ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a proclamação, pelo Papa Bento XVI, do Ano Paulino.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Reflexão sobre a proclamação, pelo Papa Bento XVI, do Ano Paulino.
Aparteantes
Marina Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2009 - Página 11958
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, INICIATIVA, IGREJA CATOLICA, CRIAÇÃO, ANO, HOMENAGEM, SANTO PADROEIRO, ESFORÇO, EXPANSÃO, RELIGIÃO, CRISTÃO, LEITURA, TRECHO, DISCURSO, PAPA, SACERDOTE, CARDEAL, SOLENIDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente nobre Senador Mão Santa, Srª Senadora Marina Silva, meu caro Líder Arthur Virgílio, Srªs e Srs. Senadores, a 28 de junho de 2007, o Papa Bento XVI proclamou o Ano Paulino, dedicado a São Paulo, em preparação aos dois mil anos do nascimento do Apóstolo, ocorrido provavelmente entre os anos 5 e 10 da nossa Era.

Segundo o Padre José Bortolini, o Ano Paulino se iniciou no dia 29 de junho de 2008 e se encerrará no dia 29 de junho deste ano. Cito o Padre Bortolini: “O objetivo é chamar a atenção para esse campeão da fé e da evangelização além da Palestina”.

Bento XVI deseja que, em todo o mundo, as comunidades católicas celebrem o bimilenário do nascimento de São Paulo. Na homilia em que anuncia este grande acontecimento para a Igreja na Basílica de São Paulo, fora dos Muros, em Roma, Sua Santidade motiva toda a Igreja para que se organize iniciativas dignas do evento:

Serão promovidos congressos de estudos e especiais publicações sobre os textos paulinos, a fim de fazer conhecer cada vez mais a imensa riqueza do ensinamento contido neles, verdadeiro patrimônio da humanidade redimida por Cristo. No mundo inteiro, iniciativas semelhantes poderão ser realizadas nas dioceses, nos santuários, nos lugares de culto por parte de instituições religiosas de estudo ou de assistência que têm o nome de São Paulo ou se inspiram na sua figura e no seu ensinamento.

Paulo nasceu em Tarso, como se sabe, capital da Cilícia, na Ásia Menor, cidade aberta às influências culturais e às trocas comerciais entre o Oriente e o Ocidente. Descendente de uma família de judeus da diáspora, pertencente à tribo de Benjamin, observava rigorosamente a religião dos seus pais sem recusar os contatos com a vida e a cultura do Império Romano. Os pais lhe deram o nome de Saul em homenagem ao primeiro rei dos judeus e o apelido Paulo. Saul passou para Saulo, pois assim era o nome em grego. Mais tarde, a partir da sua primeira viagem missionária ao mundo greco-romano, Paulo usará exclusivamente o sobrenome latino Paulus.

Recebeu a sua primeira educação religiosa em Tarso - daí Paulo de Tarso, cidade em que nasceu -, tendo por base o Pentateuco e a Lei de Moisés. Como se sabe, o Pentateuco constitui os primeiros cinco livros da Bíblia. A partir do ano 25 d.C, vai para Jerusalém, onde frequenta as aulas de Gamaliel, mestre de grande prestígio, aprofundando com ele o conhecimento do Pentateuco oral e escrito.

São Paulo, portador de grande carisma, possuía o dom da palavra e deixou uma notável obra expressa em diferentes idiomas. Aprendeu a falar e escrever em aramaico, hebraico e grego, daí por que catequizava hebreus, gregos e romanos.

Paulo é chamado de “O Apóstolo” por haver sido o maior anunciador do cristianismo depois de Cristo. Entre as grandes figuras do cristianismo nascente, Paulo é, de fato, a personalidade mais importante que conhecemos. E um dos santos mais cultos, de que é exemplo a sua Carta aos Coríntios, entre muitas outras epístolas que poderíamos citar.

São-lhe atribuídas pela tradição catorze cartas às igrejas por ele fundadas, sendo epístolas grandes duas aos tessalonicenses, duas aos coríntios, aos gálatas e aos romanos. Da prisão em Roma, escreveu aos filipenses, aos efésios, aos colossenses, bilhete a Filemon, seu amigo. No intervalo das prisões, dirigiu cartas aos hebreus, a Timóteo e a Tito. E durante seu último cativeiro, mais uma a Timóteo.

São Paulo é o maior escritor do Novo Testamento, não apenas pela profunda doutrina, mas também pelo número dos seus escritos. Ele contribuiu grandemente para criar a terminologia cristã, tendo sido o primeiro a exprimir com palavras profanas e comuns as sublimes verdades do cristianismo, segundo salienta o Padre Matos Soares na tradução da Vulgata, nona edição, Edições Paulinas.

Observa texto da Liturgia Diária de agosto de 2008:

Como judeu e ainda mais como um fariseu, Paulo conhecia a cultura de seu povo, sobretudo após os 15 anos, quando se muda de Tarso para Jerusalém, formando-se rabino sob a direção do mestre Gamaliel. É nesse tempo que estuda a fundo o Antigo Testamento, agora em hebraico. Com isso, ele se torna pessoa culta e bem preparada, tendo acesso ao que havia de melhor em termos de educação no mundo judaico.

Todavia, quando percorre o mundo conhecido anunciando aos pagãos a pessoa de Jesus e, mais tarde, escrevendo às comunidades, ele o faz na língua grega, que conhecia desde a infância. A língua é portadora e expressão da cultura de um povo. Paulo domina ambas as coisas. É provável que falasse também o latim, língua do Império Romano.

Comparando Paulo e Jesus, percebemos como foi decisiva a presença do apóstolo na expansão do Evangelho. Jesus limitou sua pregação basicamente ao povo judeu e ao pequeno território da Galileia. Paulo, por sua vez, evangelizou continentes (Ásia, Europa). De Jesus se diz que pregava nas sinagogas; Paulo, a certa altura da vida, abandona a sinagoga e funda comunidades cristãs nas casas - as igrejas domésticas.

A linguagem e os símbolos usados por Jesus no anúncio do reino revelam uma cultura ligada à terra, à vida dos camponeses e pescadores (pastor e ovelhas, pássaros e peixes, sementes e flores, trigo e joio, etc.) A linguagem e os símbolos que Paulo usa são tirados do cotidiano das grandes cidades,(jogos e atletas, parada militar...), sinal de que encontrou o jeito certo de anunciar Jesus às pessoas de cultura urbana”.

Na já citada Liturgia Diária, de agosto de 2008, afirma o Padre José Bortolini:

Os evangelhos, de modo geral, apresentam os fariseus como pessoas fingidas, hipócritas, falsas. Isso sem dúvida não pode ser dito de Paulo fariseu (palavra que significa ‘separado’ do povo pobre e pecador, que não pratica a lei; veja Lucas 18, 9-14; Gálatas, 1,14). Ele afirma ter sido um fariseu irrepreensível (Filipenses, 3,6). Era, pois, uma pessoa certinha, ninguém podia acusá-lo de nada. [...] Enquanto fariseu, Paulo pensava ter alcançado a perfeição. Enquanto seguidor de Jesus, ele se vê como atleta que corre para alcançá-lo. Por quê? Duas frases em suas cartas ajudam a entender a mudança: Gálatas, 2, 20 e Romanos, 5,8. A chegada do Messias é a máxima expressão do amor gratuito de Deus, e não mérito nosso.

O que dizem esses versículos a que se refere o Padre Bortolini?

Aos Gálatas, diz São Paulo:

E vivo, já não eu, mas é Cristo que vive em mim. E a vida (sobrenatural) com que vivo agora na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim.

E aos Romanos:

Mas Deus manifesta a sua caridade para conosco, porque, quando ainda éramos pecadores, no tempo oportuno morreu Cristo por nós. Pois muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos salvos da ira por ele mesmo.

Paulo, chamado Apóstolo dos Gentios, ao lado de São Pedro, primeiro Sumo Pontífice, foi também martirizado em Roma. Eram da mesma geração e personalidades que se completavam, como se vê nas frequentes invocações litúrgicas a ambos.

Por que é chamado o Apóstolo dos Gentios? O próprio São Paulo se interrogava e respondia:

“porventura Deus só o é dos judeus? Não o é também dos Gentios? Sim, certamente, ele o é também dos Gentios, ... (Romanos 3,29).

Sr. Presidente, fato que transformou a vida de São Paulo foi, sem dúvida, a sua conversão. Narra a Bíblia que Jesus “esperava-o na estrada de Damasco, e em modo espetacular transformou-o de perseguidor implacável em apóstolo ardente. A conversão de Saulo deu-se no ano 35 d.C., quando ele contava cerca de 30 anos”.

Convertido, São Paulo foi o primeiro a buscar síntese entre a fé e razão para todos os povos como Apóstolo dos Gentios. São Paulo realiza enorme revolução cultural no mundo do seu tempo ao propagar rapidamente o cristianismo na Palestina, Líbano, Síria e daí ao sul da Europa mediterrânea, inclusive percorrendo todo o Império Romano. São Pedro e São Paulo se transformaram em santos muito populares ao lado de seus pósteros como São Francisco, Santo Antônio, entre muitos outros.

O nome de São Paulo está presente em quase todo o planeta. Entre nós, com seu nome homenageam-no o mais rico Estado da Federação e sua capital, onde floresceu o colégio dos jesuítas de Piratininga. Uma congregação de religiosos e de religiosas - os paulinos e as paulinas - continua sua pregação. Das quatro maiores basílicas em Roma, também com seu nome, uma foi construída por ordem do Imperador Constantino no local, onde - reza a tradição - ele sofreu o martírio.

São Paulo revela sua humildade ao proclamar: “Eu sou devedor aos gregos e aos bárbaros, aos sábios e aos ignorantes” (Romanos 1 - 14).

Mesmo discordando da substituição da fé pelo que ele chamava de “vã filosofia”, São Paulo conhecia muito bem a filosofia grega desde a platônica, como se vê na sua distinção entre corpo, alma e espírito (1 Tessalonicenses 5,23).

Eram explicações filosóficas gregas dos conceitos religiosos cristãos de procedência judaica, demonstrando sua competência de Apóstolo dos Gentios, naquele mundo antigo impregnado pelos princípios helênicos e da cultura jurídica romana.

São Paulo, Sr. Presidente, conhecia as instituições romanas ao invocar sua condição de cidadão de Roma. “Eu sou judeu...”, porém acrescentando diante do tribunal, que queria julgá-lo na Palestina. “E vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, se és tu cidadão romano. E ele disse: Sim. E o tribuno respondeu: “A mim custou-me uma grande soma de dinheiro alcançar esse foro de cidadão”. Paulo disse: “Pois eu o sou de nascimento”. Nesse momento, consta que o tribuno teve uma grande emoção em vê-lo também como cidadão romano (Atos 22, 27-29).

Quando estava preso na Cesareia (Atos 25, 10 e 21), Paulo apela para César e o Governador Festo envia-o para Roma, onde chegou na primavera do ano 61. Viveu dois anos em Roma em prisão domiciliar.

Antes, Paulo conseguira sua primeira conversão de um gentio ao cristianismo, nada menos do que um importante Procônsul romano da ilha de Chipre (Atos 13,7-12).

Sr. Presidente, São Paulo pode ser considerado o precursor do ecumenismo das igrejas cristãs.

Outras confissões religiosas também expressam o reconhecimento ao testemunho de Paulo. Lutero inspirou-se no versículo 17 do capítulo I da Cartas aos Romanos para a Reforma Protestante: “Porque a justiça de Deus manifesta-se nele pela fé e (aperfeiçoa-se) na fé, como está escrito: o justo viverá da fé”.

A Igreja Ortodoxa Grega, desde seus começos, alegra-se com as pregações de São Paulo no Areópago de Atenas e nas epístolas aos Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses e Tessalonissenses em várias regiões da Grécia antiga.

São Paulo percorreu quase todo mundo antigo conhecido. Foi um elo entre culturas e prossegue o mais universal dos santos ao exercitar, em grande escala, a palavra escrita em suas cartas multiplicadas por copistas pelas cidades do Império Romano. 

É dele uma das mais belas e primorosas definições de fé cristã: “Ora, a fé é o fundamento das coisas que se esperam e uma demonstração das coisas que não se veem” (hebreus, 11,1).

O Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, recordou que, mesmo sem se aceitar a interpretação de haver São Paulo sido o fundador do cristianismo como seu pioneiro propagador, ele iniciou a sua divulgação pelo Império Romano. A sua atualidade se revela ao buscar a síntese de fé e razão, religião e filosofia, que prosseguirá inspirando de Santo Agostinho a São Tomás de Aquino, de Jacques Maritain e Teilhard de Chardin.

A relação de Paulo com o povo passa pelas comunidades e é igualmente forte e profunda, recorda Padre Bortolini: “Com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo. Tudo isso eu o faço por causa do evangelho, para me tornar participante dele” (1 Coríntios 9,22-23).

O Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo Primaz de Salvador, em texto elaborado sobre o encerramento do bimilenário ano de Paulo, recorda na Liturgia Diária que será publicada em junho:

Em 29 deste mês, conclui-se o Ano Paulino, evento de dimensão universal que objetivou um conhecimento mais profundo dessa grande figura do catolicismo, que, segundo Rinaldo Fabris, “pode ser considerado o primeiro e o mais original ‘teórico’ do cristianismo.” Os atos dos Apóstolos e as cartas paulinas nos facilitam um conhecimento maior da sua vida e da sua ação pastoral. Antes do seu encontro com Jesus na estada de Damasco, era impiedoso perseguidor dos cristãos. (...) Missionário itinerante como Jesus, criou para a Igreja verdadeira pedagogia catequética, válida até os nossos dias.

Frases de São Paulo muito citadas nos dois milênios de cristianismo revelam a importância do seu legado em épocas bem diferentes, indicando que o Evangelho não tem tempo especial nem endereço exclusivo. É a verdade que liberta o homem em qualquer situação da vida. Apesar das aparentes contradições da sua personalidade - o que ele lamenta neste versículo da Carta aos Romanos (7,15): ‘Sei o bem que quero, mas faço o mal que não quero’ -, Paulo foi o modelo do discípulo-missionário, fiel até o fim. Com muita transparência, confidencia a Timóteo: ‘Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé’ (2 Tim 4:7).

            Indaga o Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo no final do texto a que me reportei: Será que um dia, depois de muitas peripécias de discípulos e missionários, poderemos com sinceridade fazer nossa essa frase paulina?

Sr. Presidente, pela sua total entrega à fé, encerrou sua vida com a missão cumprida, pois, como afirma brocardo latino, a consciência vale por milhões de testemunhos (concientiae mille testis). São Paulo, portanto, encerra sua vida consciente de que combateu o bom combate, guardou a fé e, consequentemente, nos legou um modelo cristão que perpassa séculos e ultrapassa já o segundo milênio.

Não podemos deixar de registrar o papel que ele desempenhou ao longo de sua vida, contribuindo para um melhor e maior conhecimento da mensagem que Jesus Cristo nos deixou.

Muito obrigado a V. Exª.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Eu peço um aparte a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - AP) - Um aparte para a Senadora Marina Silva.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Pois não.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, quero parabenizar o Senador Marco pela reflexão que traz sobre o apóstolo dos gentios, o Apóstolo Paulo. Ele mesmo se colocou na posição de apóstolo dos gentios, né?

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Exatamente.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - E teve a sua conversão marcada por um episódio de perda da visão e, após esse episódio, se transformou em um cristão. O importante na trajetória de Paulo, somando-me aos aspectos já mencionados pelo Senador Marco Maciel, é que Paulo nos traz, com muita radicalidade, a dimensão do humano, porque ainda que ele fosse um judeu, com as características que V. Exª mencionou, bastante, poderíamos dizer, conservador, inclusive conservador em relação às mulheres.... Ele dizia que as mulheres, se tivessem alguma dúvida, deveriam perguntar em casa para os maridos e não na Igreja. Então, as mulheres cristãs que têm uma militância forte, se não fizerem uma leitura correta de Paulo, à luz, assim cremos, do espírito e não à luz da cultura de Paulo, terão uma visão equivocada do último dos apóstolos de Jesus, que é o apóstolo que não conviveu com ele, que é o apóstolo Paulo. Só para mencionar como é importante essa visão de Paulo, a partir da sua conversão, da sua relação com Deus e com o Espírito Santo, que eu creio o iluminava para fazer as suas cartas, nós não temos nenhum embasamento para acusá-lo de preconceitos, porque quando ele se refere a várias situações, como aqui no livro de Gálatas, no Capítulo 3, Versículo 28, ele diz uma coisa que é maravilhosa: “Nisto não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, porque todos vós sóis um em Cristo Jesus.” Aqui ele faz uma desconstrução das barreiras entre nações. “Não há judeus nem gregos”. Isso simboliza que devemos nos entender no conceito de humanidade. O Deus que ele pregava não era mais um deus para um grupo, um deus tribal; era um Deus universal. Quando diz que não há servo nem senhor, ele rompe com a bandeira das diferenças sociais, dos estamentos sociais que impediam a escuta, o olhar e a troca entre quem era servo e quem era senhor. Quando ele radicaliza mais ainda e diz “Não há macho nem fêmea porque todos são iguais em Cristo Jesus”, faz uma desconstrução do preconceito que talvez ele mesmo pudesse ter, mas que não tem como sustentá-lo à luz de uma mensagem que é para a promoção da igualdade e, sobretudo, do amor. Ainda se formos para o Livro de Romanos, não há base para colocarmos na fé, no cristianismo - que é a fé que nós dois professamos, acho que nós três também -, qualquer atitude conservadora em relação aos problemas sociais, aos problemas políticos, em relação à ciência. Ele diz em Romanos 12:2, que deveríamos não nos conformar com este mundo, mas transformar o mundo pela renovação do nosso entendimento. Em uma parte que não lembro exatamente agora, mas ele diz em Tessalonissenses: “Examinai de tudo e retende o bem”. Isso significa que, se você quiser ser ignorante e não entender de Ciências, de Filosofia, de Geografia, de Psicanálise, de Psicologia, que seja. Mas isso não tem base no Cristianismo, porque você deve olhar de tudo e reter o bem, porque a idéia de uma fé viva é aquela que é capaz de transitar pelo conhecimento e se constituir na verdade, porque o próprio Cristo disse: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Por último, a passagem maravilhosa em que ele se coloca como um ser cindido, um ser ambíguo, que tem as mesmas mazelas que nós. Ele diz: “O bem que quero fazer não faço, mas o mal que não quero fazer, esse faço. Miserável homem de mim, que tenho essa guerra interna.” Todos nós temos essa guerra interna. E Paulo aqui se coloca como ser humano, como homem falho, que tem de viver como ser cindido, como somos todos nós neste Planeta Terra.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Obrigado, nobre Senadora Marina Silva. O aparte de V. Exª trouxe contribuição às celebrações no mundo todo pelo bimilenário do nascimento do Apóstolo São Paulo, o Apóstolo dos Gentios.

V. Exª, que conhece bem as cartas paulinas e os Evangelhos, trouxe achegas muito importantes para que possamos refletir sobre a obra de Paulo, integralmente à fé em Cristo..Foi martirizado juntamente com São Pedro, no dia 29 de junho, o que demonstra que ele entregou a própria vida.

Tertuliano disse, certa feita - posso estar equivocado -, que sanguis martyrum semen christianorum, isto é, o sangue dos cristãos é a semente dos mártires.

São Paulo foi um exemplo claro disso. Ao final de toda a sua pregação, foi martirizado com São Pedro. Daí por que a Igreja celebra a 29 de junho o dia de ambos, martirizados dando testemunho da fé.

Mais uma vez, eu gostaria de cumprimentar a Senadora Marina Silva pela contribuição que trouxe e dizer que devemos ter sempre presente essa lição de Tertuliano, que sintetizou como deve ser a conduta do cristão, e, de modo particular, do cristão católico apostólico romano.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2009 - Página 11958