Discurso durante a 55ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Resposta a acusações feitas por ex-assessor contra S.Exa., publicadas no jornal O Globo.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. IMPRENSA.:
  • Resposta a acusações feitas por ex-assessor contra S.Exa., publicadas no jornal O Globo.
Aparteantes
Alvaro Dias, Geraldo Mesquita Júnior, Jorge Afonso Argello, Leomar Quintanilha, Marcelo Crivella, Marina Silva, Marisa Serrano, Mão Santa, Paulo Paim, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2009 - Página 12110
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. IMPRENSA.
Indexação
  • RESPOSTA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), INJUSTIÇA, DECLARAÇÃO, EX SERVIDOR, OFENSA, HONRA, ORADOR, APRESENTAÇÃO, DOCUMENTO, COMPROVAÇÃO, INEXATIDÃO, ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, VIDA PUBLICA, QUALIDADE, GOVERNADOR, SENADOR, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), CALUNIA, VINCULAÇÃO, PESSOA FISICA, PESSOA JURIDICA.
  • CRITICA, IMPRENSA, PUBLICAÇÃO, MATERIA, AUSENCIA, COMPROVAÇÃO, REGISTRO, CARTA, DIVERSIDADE, ACUSADO, SOLICITAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DIREITO DE RESPOSTA, INEXATIDÃO, EX SERVIDOR, ORADOR.
  • QUALIDADE, MEMBROS, ANUNCIO, PEDIDO, AFASTAMENTO, SAIDA TEMPORARIA, CONSELHO, ETICA, SENADO, SOLICITAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ORADOR.
  • SUSPEIÇÃO, OCORRENCIA, MANIPULAÇÃO, EX SERVIDOR, ATUALIDADE, TRATAMENTO, PSIQUIATRIA.
  • REGISTRO, RECEBIMENTO, SOLIDARIEDADE, ELEITOR, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), POLITICO, AGRADECIMENTO, APOIO, SENADOR, REITERAÇÃO, COMPROMISSO, ETICA, VIDA PUBLICA.
  • SAUDAÇÃO, SANÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, REGULAMENTAÇÃO, CONSORCIO, COOPERATIVA DE CREDITO, IMPORTANCIA, MOVIMENTAÇÃO, ECONOMIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado a V. Exª, Sr. Presidente.

Senhoras e senhores, agradeço ao Paim, ao Geraldo, à Marisa, ao Alvaro, ao Sr. Presidente, que compareceram aqui, para que pudéssemos iniciar esta sessão.

Quero dizer, Sr. Presidente, que já utilizei esta tribuna inúmeras vezes para defender o Espírito Santo, os cafeicultores, a agricultura, o agronegócio, os menos favorecidos e, na última vez, com muito orgulho, na sexta-feira, por ter visto o Presidente Lula sancionar a lei complementar do ato cooperativo, do cooperativismo no Brasil.

Quando eu estava exatamente comemorando a aprovação dessa lei, recebo esta notícia e, pela primeira vez, vou ter de usar a tribuna, da qual nunca ataquei ninguém, para me defender de uma injustiça cruel que foi feita contra mim, neste fim de semana.

Sr. Presidente, o jornal O Globo manda a Vitória um repórter que entrevista um rapaz que, efetivamente, trabalhou para mim, que convivia na minha casa, meu amigo, que convivia com a Rita e que, voluntariamente, no ano de 2003, convidado pelo Governador Paulo Hartung para ser Presidente da Seguradora do Estado do Espírito Santo, pediu demissão. Eu, inclusive, na época, falei: “Vou aguardar seu pedido uns 15 dias, talvez você prefira ficar comigo lá no Senado”. Ele disse: “Não, sou um economista, vou exercer”, e foi. Nunca tive nenhuma desavença com esse indivíduo. Soube depois que ele teve lá um problema com o Presidente do Banco e que acabou sendo demitido da seguradora. Os motivos não sei; li nos jornais que havia sido pelos maus resultados que a seguradora apresentava.

Quer dizer, durante todo esse tempo, fui um homem direito, fui um homem correto, e, de repente, não sei instrumentado por quem - mas sei que ele está em tratamento psiquiátrico, com dois psiquiatras, com problemas sérios -, ele foi instrumentado por alguém para, com uma série de inverdades, sem nenhuma comprovação de nada, assacar contra a minha honra. Eu vou me defender, e, para cada acusação, tenho um papel. Fui acusado sem nenhuma prova, e, para cada acusação, tenho prova.

A primeira - preciso do testemunho de todos - é a de que, na minha campanha ao Senado em 2006... Em 2006, não fui candidato ao Senado, todos que estão aqui são testemunhas de que não fui. Fui candidato ao Senado em 2002. Depois, ele começa com uma série de mentiras. Diz que tenho uma grande empresa de vinhos. Eu não tenho, e, se tivesse, não seria ilegal, mas ele coloca isso como um escândalo. Primeira mentira que foi feita.

Depois, ele apresenta, sem nenhuma prova... Porque, segundo o próprio jornal esclarece aqui, o próprio O Globo, assaca contra a minha honra, destruindo-a. Ele diz assim:

Além do bloco, Marcos exibiu papéis. São poucos. Parte mostra os bons resultados da sua gestão à frente da (...) [seguradora, não tem nada a ver] Na outra parte, a ficha de qualificação de Camata na última campanha para o Senado [...], registra o nome do contador como “responsável pela administração da campanha”.

Nenhum documento. E eram, as acusações que foi fazendo, fáceis de o repórter apurar, porque, por exemplo, ele me acusou de ter uma grande importadora de vinho. Era só perguntar na junta comercial. Está aqui a declaração da contadora de que não é verdade.

Depois, ele fez uma acusação que... Esta é interessantíssima. Vou ter de provar, aqui, da tribuna do Senado, que moro no meu apartamento, porque ele disse - e o jornal publicou, sem nem perguntar a mim se era verdade ou não -, como se eu fosse um nababo, que o meu apartamento está alugado a uma embaixada, servindo ao corpo diplomático. Quer dizer, deve ser um marajá com um apartamentão servindo ao corpo diplomático! Então, tive de trazer a conta de gás, a conta do condomínio e a declaração do condomínio de que moro no meu apartamento. Até isto eu preciso provar, que moro no meu apartamento, o que é uma coisa incrível.

Essa foi a primeira grande mentira assacada contra mim. Acho que não é escândalo morar no apartamento da gente. Escândalo é dizer que o apartamento está alugado para embaixada, servindo ao corpo diplomático. Parece um marajá com um apartamento.

Depois, ele afirma que assinei um contrato com a Odebrecht para construir uma ponte em Vitória. Outra mentira! Eu nunca assinei contrato com a Odebrecht. Há uma ponte que foi feita em Vitória - aliás, uma belíssima obra de engenharia -, licitada no Governo do Dr. Elcio Alvares. A vencedora foi uma empresa chamada Usimec, a mesma que está construindo a ponte de ferro lá, também uma belíssima ponte de acesso à ilha de Vitória. Essa ponte, iniciada no Governo do Dr. Elcio Alvares, vai de Vitória a Vila Velha, une a ilha de Vitória a Vila Velha, explicando para quem não mora em Vitória. Eu não assinei contrato. Quando assumi o Governo, continuei as obras. E as obras, de um contrato assinado antes de mim, foram embora.

Eu fui Governador e, em maio de 1986, deixei o Governo. Ninguém me acusou de nada. Tive relacionamento com a empresa, visitando a obra, acelerando a obra. “Está faltando um pouco de dinheiro, precisa de mais recursos”, essas coisas normais que os Secretários trazem quando estão acompanhando uma obra em que, às vezes, o Governador tem de intervir.

Pois bem, mas ele disse o seguinte, que, depois - deixei o Governo em maio de 1986 para ser candidato ao Senado -, em 1998, ele viu um cara me dar, que a Odebrecht tinha mandado para mim, um pacote, e dentro do pacote havia US$5 mil, que era um pedágio da ponte... Uma história... Por que ela ia, doze anos depois, me municiar com algum dinheiro?

E o pior: ele cita um morto, Dr. Sílvio Peixoto. Eu o conheci, era um engenheiro que trabalhou na ponte. Várias vezes, estive com ele. Ele nunca foi ao meu escritório. E não posso ter o testemunho dele de que isso é uma mentira, porque ele está morto. Até essa crueldade se fez. Mas a própria Odebrecht, já em nota remetida e enviada ao jornal O Globo, desmente cabalmente. O próprio O Globo publica:

A Odebrecht também informou desconhecer o pagamento. Por intermédio de sua assessoria, negou "veementemente qualquer irregularidade" e considerou "irresponsável esse tipo de afirmação".

E já está entrando com um processo contra o rapaz também.

Um arranjo, uma instrumentação sem lógica, mas que foi publicada sem que ninguém verificasse se foi verdade, se foi mentira, o que existia atrás disso, contra a minha pessoa.

Depois ele afirma, é isto foi o que mais me feriu, que eu retinha - vejam os senhores - 30% do salário dele. Isso é uma injustiça, vai doer na consciência desse rapaz o resto da vida.

Por causa do feriado e do domingo, ontem, não pude falar, mas tenho aqui inúmeras anotações feitas pela minha secretária. Por exemplo, em 1998, ela anota aqui remessas de dinheiro da minha conta que foram feitas para ele: “Marcos, R$678; casa, R$476; sala, R$202”, que era o condomínio da minha sala. Quer dizer, ela mandava o dinheiro meu para pagar. Ele disse que eu retinha o dinheiro e o obrigava a pagar contas minhas com o dinheiro dele.

Tem outra informação aqui: “Marcos - assunto: IPVA”. Quer dizer, ela estava mandando recursos meus para pagar. Outra anotação dela: “Marcos, R$2.920,97: SPU [porque pago SPU], R$1.256,95; IPVA, R$1.178,14; Jeep, R$383,00” - deveria ser alguma taxa do Jeep, uma reforma, não sei; e uma multa de R$102,00, que deve ser de alguma dessas contas. Total mandado: R$2.920,97. Quer dizer, sempre eu...

Tenho aqui outra anotação que, por sorte, a minha secretária tem. O Banco do Brasil vai me fornecer todos esses dados através dos documentos: “Marcos [isto aqui foi em 2002], SPU, R$1.362,86; água, R$96,00 [era uma conta de água]; luz, R$168,00; celular, R$56,00; lavanderia, R$25,00”. Mandei para ele R$1.708,76. Dizer que eu o obrigava e que só parei de cobrar isso dele quando entrou verba indenizatória! Pois bem, quando entrou a verba indenizatória, ele não era mais funcionário meu, ele já tinha pedido demissão. Quer dizer, uma outra mentira deslavada, sem nenhuma base. E ninguém, ao fazer essas denúncias, observou nada, em nenhum momento.

O primeiro ressarcimento que eu pedi - a verba indenizatória entrou em 2003, no mês de fevereiro - de verba indenizatória foi 1º de abril, que vocês sabem que, naquela época, pagava no mês seguinte, março. Ele já não era meu funcionário. Quer dizer, essa afirmação é uma deslavada mentira. Está aqui provado também. Para cada uma dessas acusações, eu tenho um documento aqui.

Depois, ele disse que ele esquentou dinheiro de campanha. Eu tenho, aqui, a prestação de contas na campanha, com todo mundo que me deu recurso, com todo mundo que recebeu, todas as pessoas que trabalharam na campanha. Quem faz campanha aqui sabe. A gente começa uma campanha e o pagamento é semanal. Às vezes, a pessoa dá um vale uma semana, outro vale noutra semana. No final do mês, assina aqueles vales, assina o recebido, desconta INSS e desconta Imposto de Renda. Mas, durante a semana, os pagamentos são semanais. Então, tudo isso está aqui.

Agora, ele se diz contador, e se ele disse que botou uma nota fria na minha prestação de contas, alguém que o induziu a isso... Ele se autoacusou de ter feito, contra a minha vontade e sem o meu consentimento, uma irregularidade que eu tenho certeza de que não existiu. Minhas contas foram aprovadas sem nenhuma nódoa, sem requisição da Justiça Eleitoral. Mas, se for verdade isso, eu acho que há necessidade de o Conselho Regional de Contabilidade tomar alguma providência com relação a um ato irregular praticado por esse cidadão.

No site do Tribunal Superior Eleitoral todas as minhas despesas, tudo aquilo que eu coloquei na contabilidade, tudo aquilo que eu paguei está lá.

Depois, eu não entendi por que, está havendo esse problema da Agência Nacional do Petróleo, o negócio dos royalties, que envolve, embora sem provas, o Dr. Vítor Martins. Eu não entendi por que, ele põe lá uma outra afirmativa interessantíssima: que eu tinha uma dívida de R$30 mil com o Dr. Nilo Martins, que é irmão do Vítor e irmão do Frank, e que ele me pressionava tanto que eu fui a São Paulo pedir emprestados US$200 mil ao Dr. Paulo Maluf, para pagar a dívida; que, depois, o Dr. Nilo deixou por R$20 mil. Bonzinho ele, não é? Pois bem, é a coisa mais incrível, mais sem nexo que se fez.

Primeiro, todo mundo sabe que eu fiz a Campanha das Diretas junto com Tancredo, com Mário Covas, com todos os Governadores do PMDB, Franco Montoro. Fizemos a Campanha das Diretas. E, depois, nós perdemos a votação aqui das eleições diretas. Eu estou relembrando um pouco para quem mais ou menos tem a minha idade. Quem é mais novo, como o Geraldo, tem que relembrar bem. Então, nós tínhamos de preparar um candidato para a eleição indireta, que ia se dar dentro do Congresso. O Tancredo Neves relutava, porque ele tinha de renunciar ao Governo de Minas, com a incerteza de poder ser eleito ou não Presidente. Eu fui um dos que saíram de Vitória, fui a Belo Horizonte, peguei o Dr. Tancredo e vim com ele a Brasília. Fizemos uma reunião com o Zé Richa, com todos os Governadores do PMDB e conseguimos que o Tancredo renunciasse. E começamos a trabalhar no Congresso - a Arena, que, na época, chamava PDS, tinha maioria - para conseguirmos eleger o Tancredo aqui. Conseguimos. Eu fiquei uma semana aqui. No dia da eleição do Tancredo, houve uma tragédia em Vitória: rolou uma pedra na chuva e matou quarenta pessoas. Ele me emprestou o avião de Minas para eu ir lá, atender e socorrer essas pessoas. E quem era o candidato contra o Tancredo aqui? Dr. Paulo Maluf. Aí, eu trabalhei para o Tancredo, fiz força para o Tancredo ficar, vim pedir voto para o Tancredo e, depois, fui pedir dinheiro ao Dr. Paulo Maluf!

O Dr. Paulo Maluf, sem que eu o provocasse, mandou para o jornal O Globo uma carta, dizendo:

É mentirosa a informação dada ao Jornal O Globo (...) pelo Sr. Marcos Andrade, de que eu teria dado 200 mil dólares para o senador Gerson Camata.

Todos sabem que faço política em São Paulo, e não no Espírito Santo.

O Sr. Marcos Andrade mente, e será por mim processado.

Peço a publicação dessa nota.

Essa a nota que ele, espontaneamente, mandou.

O Dr. Nilo Martins - e era fácil o repórter ter verificado, pois “o Dr. Martins o pressionava tanto que ele foi pedir dinheiro ao Maluf para pagar a conta de R$ 30 mil” - me manda:

Tomei conhecimento por meio do jornal “O Globo” (...), domingo, das denúncias envolvendo o ilustre senador do Estado do Espírito Santo, Exmo. Sr. Gerson Camata, levantadas pelo ex-assessor (...).

Totalmente surpreendido, ainda constatei referência à minha pessoa, citada como credor do Exmo. Sr. Sr. Senador (...).

A partir desse fato, declaro para todos os fins que nunca houve de minha parte nenhuma cobrança de honorários ao senador Gerson Camata pela simples razão de nunca ter existido dívidas do referido Senador para comigo.

Vejam que coisa interessante! Era fácil o repórter ter verificado isso. Era só perguntar: Dr. Nilo, algum dia o Senador devolveu alguma coisa ao senhor?. “Não.” Ele ia dizer na hora que não.

Depois, ele afirma - e agora estou me perdendo aqui, porque é tanto papel que eu precisava trazer - que eu aluguei um carro Golf e pagava o carro Golf com a verba indenizatória. Eu estou perdido, mas eu tenho esses documentos aqui. Vê se a Rita tem ali para mim! Ah, está aqui. Pois bem, que eu pagava o carro Golf com a verba indenizatória. Quer dizer, eu alugava, mas, no final, o carro ficava para mim. Ora, é muito fácil comprovar isso. Fui ao Detran. Todos os carros que tive, todos os carros que tenho; eu nunca na minha vida tive um carro Golf. Mas aí o dono da locadora, onde aluguei o carro, mandou uma carta para mim, dizendo: “Face às notícias veiculadas nesse último Domingo, esta empresa vem prestar os seguintes esclarecimentos: Em momento algum houve compra e venda de veículo intermediada por esta empresa para Vossa Excelência [a carta é dirigida a mim]. Houve sim uma celebração de contrato de aluguel de veículo (um Golf (...), com valor de compra de R$78.772,02, conforme nota fiscal, muito diferente dos 109 mil veiculados pela imprensa) que se findou em agosto de 2007.

Desde então, o referido veículo ficou à disposição da locadora e não com V. Sª, conforme infundadas denúncias. Tal fato é de evidente comprovação, pois, por diversas vezes, foram publicados anúncios de venda do veículo, em jornal de grande circulação, feitos por essa empresa. O referido veículo foi vendido por essa empresa para um revendedor independente, no dia 9/4/2009, tendo sido pago através de uma TED - Transferência Eletrônica Disponível - diretamente na conta desta empresa, conforme extrato de conta e recibo de compra e venda.

           Estamos à sua disposição.”

Está aqui a verdade. Quer dizer, uma infâmia, um injustiça perpetrada e que poderia simplesmente ser comprovada pelo repórter se tivesse telefonado para a empresa. O carro foi anunciado, foi vendido, e eu nunca tive na minha conta nenhum tipo de carro como esse.

Vejam, Srs. Senadores, como é fácil destruir 42 anos de vida pública, de trabalho, de dedicação, com seriedade, e, de repente, sem nenhuma comprovação,... O próprio jornalista diz, ele tem um bloquinho, sem nenhum papel, e o bloquinho fala do sucesso dele como diretor da seguradora. E aí todas essas infâmias são assacadas sem nenhuma prova, sem nenhuma comprovação.

Agora começam a aparecer umas pessoas que eu acho que estão envolvidas com isso ou são delegadas de quem está envolvido. Querem antecipar a campanha política do Espírito Santo, que vai ser no ano que vem.

Pois bem, apareceu um ex-Deputado que diz assim: “o ex-Deputado vai processar”. Esse ex-Deputado foi expulso da presidência do PMDB pelo Diretório Nacional do PMDB há uns anos, porque ele vendeu o horário do Partido a uma pessoa que não era do Partido. E o Partido perguntou-me se eu queria ser o interventor. Eu fui por algum tempo o interventor do Partido. Depois, esse Deputado foi envolvido com o escândalo dos sanguessugas, daquelas ambulâncias. Quando faltava um dia para ele ser cassado, ele renunciou ao mandato para não ser cassado. Que paladino da moral é um homem como esse, para ser o grande moralista do Estado do Espírito Santo? Não é bonito isso, não é bom isso. É impressionante que usem sem dizer, sem colocar nos jornais, o seu currículo. Ele não tem um currículo de um paladino da moral.

O que eu vou fazer agora? Eu vou a Conselho de Ética - a carta está sendo redigida agora. Eu vou pedir ao Conselho de Ética a investigação. Eu que vou pedir, eu! Não é preciso ninguém pedir. Vou à Corregedoria. Eu vou pedir à Corregedoria que investigue. Como eu sou membro do Conselho de Ética, vou pedir licença do Conselho de Ética. Enquanto durar a investigação, eu não quero fazer parte do Conselho de Ética. Eu quero que o Conselho de Ética tenha toda a independência e o faça com rigor, a fim de que essas denúncias sejam apuradas à luz dos documentos que estou fornecendo.

É um requerimento ao Conselho de Ética, para que o Corregedor-Geral da Casa determine a apuração dos fatos, em forma de juntada de documentos; uma solicitação de afastamento temporário das atividades do Conselho de Ética enquanto durarem as investigações; comunicado ao Presidente da Casa, de que se dá por impedido de participar de qualquer reunião da Mesa Diretora que vá discutir algum fato relativo a esse episódio, para mostrar a minha isenção.

Eu é que vou pedir, eu é que vou fazer. Eu quero fazer isso. É uma maneira que eu tenho de mostrar que todas essas acusações são infundadas, foram feitas sem nenhum papel, sem nenhum testemunho, sem nenhuma prova, enquanto eu apresentei, para cada uma aqui, uma prova de que a acusação é mentirosa e de que o fato não existiu, acusações delirantes.

           Tenho certeza de que essas pessoas que se utilizaram desse rapaz - que eu disse no início estar sob tratamento de dois psiquiatras, com sérios problemas - não tiveram pena dele, não tiveram dó desse rapaz, porque o levaram até a se autoincriminar, dizendo que ele havia colocado documento falso dentro da minha prestação de contas, da qual ele se proclama o contador.

É grave isso, e eu também vou querer saber isso. Embora as minhas contas tenham sido aprovadas unanimemente no Tribunal Regional Eleitoral, ele teria que dizer onde está esse documento falso, essa nota fria que ele colocou lá sem o meu consentimento e sem que eu pudesse ter sido consultado.

Então, Sr. Presidente, são esses os documentos, são esses os fatos e essa satisfação que eu quero dar a todos os meus companheiros. Eu continuei na minha luta, no meu trabalho, continuarei na minha luta, no meu trabalho, no meu esforço, na minha vontade de servir ao País com o meu mandato, de servir ao Estado do Espírito Santo, e não me acovardarei: vou até o último minuto na defesa da minha honra, da honra da minha família - tenho filho e tenho esposa que sentem isso; tenho irmãos, tenho parentes, com esse monte de mentiras que são assacadas contra mim.

Ouço, com muito prazer, primeiro o Senador Geraldo Mesquita que levantou o microfone antes.

Desculpe Senadora. Aliás, V. Exª devia ter preferência.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Devia não. Ela tem preferência. Pode falar Senadora Marisa.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senadora Marisa. Obrigado. É um gentleman.

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Aqui mulheres tem os mesmos direitos dos homens.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Olha, que lição!

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Tá vendo? Senador Gerson Camata, é claro que eu li a matéria do jornal O Globo, mas li também - acho que ali - uma declaração do nosso Colega Heráclito. Ele dizia o seguinte, perguntado, confrontado e tal: “Olha, o Senador Gerson Camata tem três mandatos. Eu o conheço há muito tempo e, na dúvida, prefiro acreditar nele”.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Que bom!

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Não sei como o senhor teve tempo de reunir tanto documento num espaço tão curto de tempo.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - E num domingo!

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Num domingo, para segunda-feira.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - O pessoal é aguerrido. A Rita comandou a equipe.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Mas o que V. Exª demonstra aí, Senador Camata, eu diria até que não há mais nem dúvida, não é? Eu, que já fui vítima aqui de uma armação muito parecida, também como V. Exª, e pedi ao Conselho de Ética que apurasse. Coloquei-me à inteira disposição e, no final, tive de demonstrar a minha cabal inocência, que foi reconhecida por unanimidade no Conselho de Ética, tendo como Relator o duro Senador Demóstenes Torres.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Esse é casca de ferida.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Eu imagino o que V. Exª está passando, o que a Deputada Rita Camata está passando, a sua família. Isso é um tormento, é um sofrimento. Acho que deveria existir, por parte da mídia, da imprensa brasileira, um grau de responsabilidade maior com a divulgação de matérias dessa natureza, porque isso causa um estrago, Senador Gerson Camata, que V. Exª não imagina. E, como V. Exª disse, trata-se de fatos que o repórter, responsável pela matéria, teve toda a oportunidade de checar em fontes: junta comercial, a locadora do veículo, enfim, fontes várias que poderiam ter afastado ou todas ou algumas das questões suscitadas por esse rapaz que assaca acusações contra V. Exª. Eu repito aqui o Senador Heráclito, ao dizer: olha, na dúvida, eu acredito no Senador Gerson Camata. E agora, com base em documentos que V. Exª apresenta, eu diria até que não há dúvidas, Senador Camata. Eu espero que V. Exª, de fato, provoque o Conselho de Ética. É assim mesmo que temos de fazer. Estamos submetidos a um processo quase de inquisição. Estou refletindo muito. De onde está partindo tudo isso, Senador Gerson? Porque essas coisas não acontecem à toa nem caem do céu, nem são de graça. Tenho refletido muito acerca da origem, da fonte de isso tudo que está acontecendo com o Congresso Nacional, com os Parlamentares, para nós verificarmos. Isso precisa vir a público e ser esclarecido exatamente: o que é que está acontecendo? Qual é a origem desse furor investigador, desse furor inquisitorial quase? Há erros cometidos nesta Casa? Acredito que sim. Agora, não consigo admitir que seja na extensão colocada para o País. Há um processo claro de desmoralização do Congresso Nacional em curso. É necessário que a gente descubra de onde isso está partindo. Tenho certeza absoluta que, amanhã, a imprensa vai dizer que estou aqui com mais uma desculpa. Não se trata de desculpa não. Eu acho que a imprensa tem o dever cívico de acompanhar os fatos. Não só aqueles que ocorrem no âmbito do Congresso Nacional, mas em todo o País. A imprensa tem o dever de informar a população brasileira acerca de todos os fatos ocorridos. Agora, ela precisa fazê-lo com extrema responsabilidade. Tenho notado que há um certo furor, beirando a irresponsabilidade, na divulgação de notícias como essas que V. Exª acaba de destruir em 15 minutos, apresentando documentos que poderiam ter sido localizados pelo repórter do jornal com a maior facilidade, porque não são documentos sigilosos e não estão no arquivo secreto. São documentos que poderiam estar ao alcance de qualquer um. Portanto, eu lastimo profundamente que V. Exª esteja nessa circunstância, nessa situação. Apesar do seu semblante de quem nada deve, de quem está tranquilo, não se pode deixar de considerar, Senador Gerson, que o senhor deve estar sofrendo uma barbaridade, a sua família, por algo que configura uma extrema injustiça. Fico com V. Exª. Acredito no que V. Exª está aqui demonstrando e acho lamentável que isso tudo esteja acontecendo. Obrigado pelo aparte.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador Geraldo Mesquita. Recolho com emoção o seu aparte. Veja V. Exª que fui acusado, julgado e condenado sem nenhum papel. Agora, depois de julgado e condenado, tenho de apresentar as provas. A quem me acusou não pediram um papel, uma testemunha, enfim, não pediram nada. Está invertido o processo. Sou economista, mas sempre ouvi dizer que ao acusador cabe o ônus da prova. A nós, os políticos, é o contrário: a nós cabe o ônus de provar que aquilo não é verdade. Quer dizer, em 24 horas, pegaram o Gerson Camata, 42 anos de vida limpa, acusaram, julgaram e condenaram. Agora, o Senador Gerson Camata tem que se defender; ele vai ter que provar que tudo aquilo, sem nenhum papel, sem nenhum documento, não é verdade. Isso é de uma crueldade. E V. Exª viu que são coisas fáceis de se apurar

Sou jornalista. Quando eu era jornalista - comecei como repórter policial -, entendia quando um delegado estava querendo me usar. Ele dava uma informação, não conferia; ele dava outra, e na outra fonte não conferia, ele estava querendo me usar, eu ficava com um pé atrás. É do profissional criterioso esse tipo de comportamento. E aprendi no jornalismo assim; sou jornalista e sou economista. Nunca aconteceu de eu fazer uma acusação, uma reportagem contra uma pessoa que não fosse verdade. Eu tive até um episódio uma vez, o General Syzeno Sarmento, que, depois, foi ser da Junta Militar, ele foi a Vitória porque ele queria cassar o Governador do Espírito Santo, um problema que estava havendo lá. E eu trabalhava para a Televisão Vitória que era do Senador João Calmon, a quem homenageio a vida inteira como um grande mestre. E o João Calmon disse assim: “olhe, você vai lá no prédio da Vale do Rio Doce e entrevista o General Sarmento”. E eu preparei dez perguntas para entrevistar o General Sarmento. Quando eu fiz a primeira pergunta, ele falou: “Não, você só vai fazer uma pergunta”. E me deu a pergunta. Então, não faço nenhuma. Desliguei, entreguei o microfone para o câmera e fui embora. Quando eu cheguei ao estúdio, recebi um telefonema do Dr. Calmon: “Cadê a entrevista do General?”. E eu lhe respondi: Ele não quis falar. O Dr. Calmon disse: “Não, não, e você não deixou ele falar. Volta lá e entrevista o General.” Aí eu respondi: Então, eu vou perder o emprego, mas não vou voltar lá.

Quer dizer, eu tinha um pouco de critério e dignidade, o que todo profissional de imprensa... Estou contando o caso para demonstrar que há certos momentos em que a pessoa tem que ter um pouco de consciência e um pouco de apreço à honra dos outros.

Senadora Marisa, com muito prazer ouço V. Exª.

O Sr. Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Gerson Camata. Quero cumprimentá-lo, cumprimentar a Deputada Rita, minha querida amiga e companheira de trabalho na Câmara dos Deputados, e dizer que tenho mais de 30 anos de vida política, que não é pouco, e tenho muito orgulho de ser política, como todos, tenho certeza, nesta Casa. Trabalho como todos trabalhamos, discutindo, participando, acompanhando a vida do cidadão que nos deu o voto e que confiou em nós para estamos aqui defendendo as necessidades do povo brasileiro. Mas, Senador Gerson, ultimamente, o Brasil tem estado muito diferente. Os valores que nós aprendemos, os valores que os nossos pais nos legaram, nem sempre estão sendo encucado nessa geração que está vindo. Nesses dias, eu ouvi dizer e todos os jornais colocaram que o Brasil está vivendo um Estado policialesco, mas também está virando um Estado denuncista. As pessoas estão denunciando qualquer coisa sem nenhum embasamento. Às vezes, me dá a impressão de que é um jogo em que um quer estar à frente do outro e quer ter fatos que possam abalar e fazer com que as pessoas se fidelizem a determinadas empresas jornalísticas. Mas não é assim que se constrói a verdade, a decência e a seriedade de um povo. Não estou falando apenas e não estou generalizando para toda a imprensa. Eu quero dizer que o povo brasileiro, a Nação brasileira, está precisando de um choque de austeridade e decência, de um comportamento mais sério de todos, de todas as autoridades, começando pelo Presidente da República. Esta Casa tem que mudar? Tem que mudar. Todos nós temos que concordar com isto. Temos que ter regras claras e que a Nação saiba; que não haja nenhuma caixa-preta, que não haja nada aqui que se possa esconder; que a Mesa Diretora desta Casa - na qual votamos e apoiamos - e o nosso Presidente que está aqui, hoje, presidindo a sessão, é um membro da Mesa. A Mesa foi votada por nós para dirigir esta Casa, para comandar a nossa instituição, e tem a obrigação de passar uma borracha em cima daquilo que, historicamente, aconteceu para dar uma outra visão, uma visão que nós acreditamos de seriedade e de dignidade que o senhor está aí na tribuna buscando. Isso nós queremos para o País como queremos para esta Casa também. Mas, Senador Gerson, dói o coração. As pessoas, às vezes, não pensam que uma questão como essa abala a família; não abala uma pessoa, abala a família, abala uma instituição, porque essa Instituição também foi abalada com este caso, abala todos aqueles que acreditam que a política é importante e é imprescindível no Estado democrático de direito. Como o Senador Geraldo Mesquita, às vezes, eu não sei bem onde é que querem chegar ou se é que querem. Mas a resistência nossa daqueles que acreditam na seriedade, daqueles que acreditam na política como uma forma de garantir ao povo a sua voz. Então, Senador Gerson Camata, nós temos que estar unidos e acreditar que ninguém tem o direito de enxovalhar a honra de uma pessoa e de propagá-la a todos os ventos sem ter, primeiro, a prova de que aquilo é verdade. Há um ditado que diz que, se nós subirmos a um décimo andar de um prédio e jogarmos fora um travesseiro de pena e o vento levar por toda a cidade, como é que vamos catar depois uma por uma? Essas coisas é que machucam o coração da gente. E imagino o quanto deve machucar seu coração, imagino também como deve machucar o coração da Rita e dos seus filhos, da sua família. Isso não se faz com pessoas dignas e sérias. Aliás, não se faz isso com ninguém, se acreditamos na Justiça e nos preceitos que esta Casa fez por intermédio das leis que visam a garantir aos cidadãos o direito a se defender, o direito a ter uma resposta à sua vida, a tudo o que faz cotidianamente. E isso não pode ser afrontado, vilipendiado por qualquer pessoa, sem nenhuma razão. V. Exª está sendo hoje... Ontem, também li as notícias e fiquei indignada.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado.

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - V. Exª tinha de ter tido o direito de ser ouvido. Nesta Casa, quando tocamos no nome um do outro, já se levanta e se diz “tenho o direito a me defender, o direito ao contraditório”. A V. Exª não deram esse direito. Eu queria aqui me solidarizar e dizer que temos de trabalhar muito pela seriedade deste País, desta Casa e da nossa Nação. Muito obrigada.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senadora. Tocam meu coração e o da minha família suas palavras. Digo que isso não atinge só a minha pessoa e minha família, mas também meus eleitores, meus amigos, os vereadores que me acompanham há 42 anos. Todo mundo é atingido numa hora como essa. Fiquei emocionado ontem. Cheguei rouco aqui por causa dos muitos telefonemas que recebi de companheiros meus, de vereadores, de prefeitos, do Governador Paulo Hartung, do Senador Casagrande, do Presidente do PMDB, o Lelo, enfim, de pessoas que me conhecem há quarenta anos e que sabem da minha vida, sabem de tudo. Fiquei grato pelas manifestações, mas, na vida pública, temos de estar acostumados a tudo. É difícil se acostumar com uma coisa dessa, mas vou tocar minha vida, não vou desanimar, vou brigar. Sou muito bom de briga, Senadora.

Vou até esclarecer: sou o único Senador e, acho, o único político brasileiro - não vou dizer o nome, porque fiz um acordo com o órgão de imprensa na hora da indenização - que processei um órgão de imprensa nacional por dezoito anos, Paim. Ele arranjou testemunha na Bolívia, para retardar o processo, mas o ganhei. Então, ele foi obrigado a me pedir desculpas - o juiz redigiu o pedido de desculpas - e a me pagar R$74 mil por danos morais. Depois, fiz um acordo, porque a situação estava difícil, e não recebi tudo isso. Recebi uma parte para pagar meu advogado.

Veja: acho que sou o único político brasileiro que, por dezoito anos, moveu um processo. Pergunto: se eu tivesse morrido nesses dezoito anos, eu morreria desonesto? Em caso de crime contra honra, a tramitação deve ser diferente. Não pode ser desse jeito. Se eu tivesse morrido nesses dezoito anos, eu teria morrido como desonesto. O órgão demorou dezoito anos para me pedir desculpas e para me pagar uma indenização, por danos morais, de R$74 mil, com a qual fiz uma composição para pagar o advogado.

Senador Alvaro Dias, ouço-o com muito prazer e com agradecimento.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Gerson Camata, trago minha solidariedade a V. Exª, à sua família, à Deputada Rita Camata. Eu o conheço há muito tempo.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Desde Deputado, em 1976.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Exatamente. Quando cheguei a Brasília...

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - A Senadora Marisa nem tinha nascido.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Quando cheguei a Brasília, no meu primeiro mandato de Deputado Federal, V. Exª também exercia o mandato de Deputado Federal.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Com Joaquim Guerra, com Carlos Wilson, não é?

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Bastante jovem, tive a oportunidade de conhecer seu caráter, sua personalidade, a dignidade e a decência de um homem de bem, que só tem feito o bem, principalmente para esta atividade pública, tão desgastada, incompreendida e, muitas vezes, injustiçada. Não tenho dúvida a respeito do comportamento de V. Exª. Por isso, não me quero deter em detalhes sobre as denúncias, apenas lamento que V. Exª seja exposto a esse constrangimento, porque, sem dúvida, como disse a Senadora Marisa Serrano, isso é irrecuperável. Não há como recuperar os danos. Não é uma indenização moral que V. Exª pode receber daqui a dezoito anos ou vinte anos que vai reparar o dano causado por uma calúnia, por uma difamação, por impropérios proferidos, por uma inconsequência. Enfim, expresso minha solidariedade a V. Exª. Estamos vivendo um momento complexo. Tenho procurado refletir bastante sobre este momento e não estou ainda em condições de fazer uma avaliação correta sobre o que está acontecendo, sobre o que é correto e o que é incorreto em matéria de denúncias, sobre o que tem a boa-fé e o que tem a má-fé, sobre o que tem o propósito da construção e o que tem o propósito da destruição. O que sei é que temos o dever de preservar a instituição que representamos, o Parlamento brasileiro, onde estão fincados os alicerces básicos do Estado democrático de direito. É um patrimônio da democracia que tem de ser preservado por todos nós. Temos o dever da transparência. Transparência devem nos cobrar, não há dúvida, mas o que desejamos, Senador Gerson Camata - e tenho certeza absoluta de que V. Exª está entre aqueles que desejam isso, como todos que se encontram no plenário neste momento -, é a edificação de uma nova instituição sobre esses escombros, os escombros provocados pelas denúncias dos últimos dias, denúncias que se justificam, denúncias que não se justificam, denúncias justas, denúncias injustas. Mas temos de aproveitar este momento para edificar uma nova instituição, que seja mais bem gerida, com maior transparência, com maior eficiência, com economia, para que possamos reconquistar a credibilidade que perdemos ao longo do tempo. Não há dúvida de que há uma descrença, que se generaliza. A descrença cresce em relação à instituição. Por isso, chega-se até a ouvir a pergunta “por que não se fecha o Congresso?”, como se ele fosse substituível, como se isso fizesse com que andássemos para frente, como se isso fosse contribuir para que o processo democrático estivesse a serviço dos interesses do povo brasileiro. Enfim, esse é o desespero. Isso é resultante da angústia do momento que estamos vivendo. Então, Senador Gerson Camata, nosso desejo é o de que realmente seja possível darmos a volta por cima, reconstruirmos a instituição, tornando-a valorizada e respeitada pela população brasileira. E V. Exª sempre contribuiu e vai continuar contribuindo para isso. Não será uma denúncia inusitada e injustificável que vai abater V. Exª. Ao contrário, V. Exª tem uma longa experiência, percorreu um itinerário na atividade pública que só dá motivo para aplausos. Não será essa denúncia, nem este momento que vai abatê-lo. V. Exª tem nossa amizade e nossa solidariedade.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço-lhe, Senador Alvaro Dias. V. Exª relembrou bem: começamos aqui em 1976, com Miro Teixeira, com V. Exª, com Henrique Alves, com Carlos Wilson, com Joaquim Guerra. Era uma geração nova de Parlamentares que chegou aqui, em tempos um pouco difíceis. Depois, fecharam o Congresso. Vimos colegas nossos serem cassados. Então, foi uma luta difícil. Lembro-me de Getúlio Dias, de vários bons companheiros. Lembro-me de que Getúlio Dias dizia que o Brizola ia voltar para o Brasil: “O engenheiro está voltando”. Ele, gaúcho, colega de Paulo Paim e de Pedro Simon, anunciava isso sempre.

Senador Pedro Simon, com muito prazer, ouço V. Exª, que é um mestre nosso.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Prezado Senador, não nego que é com profunda mágoa que falo, mas acho que temos a obrigação de dar o testemunho de quem é o Senador Gerson Camata, de quem é sua esposa, Rita Camata, esse casal que honra o Estado e que dignifica a vida política ao longo de toda uma história. Conheço V. Exª lá de trás, lá das épocas difíceis, amargas. E diz muito bem V. Exª. V. Exª chegou aqui num momento, aí sim, de afirmação, de se indagar: “Para onde é que vamos, o que vai acontecer, o que podemos fazer?”. E V. Exª foi um herói naquela oportunidade. V. Exª foi daquelas pessoas mais dignas, mais corretas, mais brilhantes ao longo da luta pela redemocratização. Hoje, nesta segunda-feira, estou aqui, não é o normal. Quis Deus eu estivesse aqui! E estou feliz comigo por este aparte, mas vim para falar sobre Tancredo. Amanhã, será o aniversário da sua morte. Queria lembrar exatamente que, amanhã, será o aniversário de Brasília, o aniversário de Tiradentes e o aniversário de Tancredo. E tenho de falar a V. Exª sobre o que V. Exª representou. Eu me lembro de V. Exª jovem, guri, de uma geração que o Dr. Ulysses dizia de gente nova que ia sacudir a política brasileira. E sacudiu. Eu me lembro da vitória espetacular de V. Exª para o Governo de Estado, em 1982. Eu me lembro de quando V. Exª, Governador com cara de gurizinho, Tancredo, Montoro e outros iniciaram a caminhada das Diretas Já.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Junto com José Richa, com Íris Rezende.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Iniciaram a caminhada pelas Diretas Já. Parecia um absurdo, parecia ridículo, parecia algo que não ia chegar a fim algum. Eu me lembro de quando 298 parlamentares votaram a emenda das Diretas Já, mas faltaram catorze votos para que ela fosse aprovada.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Faltaram catorze votos.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu me lembro do Dr. Ulysses, chorando no gabinete da Presidência do MDB: “Não tenho mais o que fazer. Com essa derrota, em que o povo, com milhões na rua, não teve o que fazer, não temos mais o que fazer e para onde ir”. Foram V. Exª, o Richa, o Montoro que tiveram a coragem - porque precisava de muita coragem - de falar: “Vamos para o Colégio Eleitoral”. Para nós, do MDB, Colégio Eleitoral era uma expressão maldita, que significava o escândalo, a imoralidade, a eleição dos generais. E V. Exªs tiveram essa coragem. Eu me lembro de que, quando o Dr. Ulysses ouvia falar em Colégio Eleitoral, dizia: “Eu saio deste Partido e não boto mais os pés aqui dentro”.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Eu me lembro disso.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu disse: “Calma, Dr. Ulysses!”. Aí, veio a tese que V. Exª levantou, com o Tancredo: “Nós vamos para o Colégio para destruir o Colégio, vamos para o Colégio para salvar a democracia!”. Lá estava V. Exª, com sua competência e com sua capacidade. V. Exª, que era um grande amigo do Dr. Ulysses, dizia: “O Dr. Ulysses era nosso grande candidato às Diretas Já”.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Exatamente.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - E completava: “Mas, agora, tem de ser o Tancredo, para unir, para derrotar, para ganhar no Colégio. Agora, não é de mentirinha, não pode ser outro candidato, tem de ser um candidato para ganhar. Tem de ser o Tancredo”. V. Exª veio me procurar. Nós, do Rio Grande do Sul, queríamos Ulysses, só Ulysses. Lembro-me, como se fosse hoje, da forma como V. Exª me explicou: “Simon, vai falar com o Dr. Ulysses, que reconhece que tem de ser o Tancredo, porque o homem é o Tancredo”. Lembro-me do Governo de V. Exª. Lembro-me da atuação de V. Exª. Lembro-me de quando fui pedir a V. Exª que se candidatasse, e todo mundo lá no Espírito Santo queria que V. Exª fosse novamente candidato a governador. E V. Exª disse: “Simon, não vou ser candidato a governador. Eu já fui candidato, já fui Governador. Governei com a dignidade e com a respeitabilidade que tenho, mas acho que este momento está tão difícil, tão complicado, que não reúno condições. Não quero ser candidato”.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - É verdade, verdade. Exatamente.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Lembro-me de V. Exª na bancada do MDB. Em todos os momentos, V. Exª esteve na linha de frente: na linha de frente da honra, da dignidade, da seriedade, da firmeza e do caráter. Sempre, sempre foi assim; isso não é de hoje. O que saiu no jornal é uma coisa. Poderia aparecer aí, de repente, uma notícia contra o Joaquim da Silva. Quem é esse cidadão? Não sei, não conheço. Mas o Camata o Brasil inteiro o conhece, ao longo da história e ao longo de uma trajetória em que passou por tudo, por todo sofrimento e por toda luta. Sua esposa foi candidata a Vice-Presidente da República e saiu do pleito com a dignidade que entrou. Tenho muito orgulho de ser amigo de V. Exª, Camata. Ninguém atingiu V. Exª. Atingiu-se a instituição; nós, sim, fomos atingidos. Mas, com toda a sinceridade - e falo com minha tradição, com minha luta, com minha posição de denunciar o que deve ser denunciado -, não tenho preocupação alguma com V. Exª, em particular. Tenho preocupação com a gente. O que vejo é o seguinte: há vigarice, corrupção, bandalheira toda hora; isso aparece toda hora. No meio disso, de repente, sem mais nem menos, um cidadão que, por dezenove anos, trabalhou com V. Exª, que estava na direção de um cargo no seu governo e que foi demitido por incompetência ou sei eu lá por quê, resolve falar não sei o quê, e aparece o nome de V. Exª. O que temos de analisar hoje é uma coisa só, V. Exª tem toda a razão. Na outra vez, V. Exª levou dezoito anos ou dezenove anos para ganhar uma causa. E se tivesse morrido no meio da causa? Isso não pode continuar acontecendo no Brasil. Não sou contra que a imprensa publique, Senador. Publique, diga o que disser. Mas temos de terminar com a impunidade. Temos de mostrar quem é e quem não é. No caso de V. Exª, sabemos que não é; no caso de V. Exª, temos a convicção de que não é. Deveria haver um instituto que, com um prazo razoável, desse condições a V. Exª para dizer, para provar e para ser absolvido. Este é o mal do Brasil: mistura-se tudo. E, no meio dessa mistura de tudo, entram o Camata e um bolo de gente que nada tem a ver com o Camata. E misturam. Esse é o mal, esse é o mal da generalização, esse é o mal que atinge todos nós, não só V. Exª. Escolheram V. Exª, pinçaram V. Exª, como poderia ter sido eu, para atingir o contexto da instituição. Senador Gerson Camata, sei que isso dói, mas V. Exª tem firmeza. Quem o conhece como eu o conheço acostumou a ver sua jovialidade e sua alegria, mas, agora, vemos V. Exª contido e tenso - é como vejo que V. Exª está. Devo lhe dizer e à sua querida esposa, nossa irmã Rita, que aqui se encontra: dou-lhes minha total solidariedade. E todas as pessoas, ontem lá em Porto Alegre e hoje aqui em Brasília, com quem tenho falado dizem a mesma coisa com relação ao nome de V. Exª.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Disse o Senador Alvaro Dias, e concordo: não sei para onde querem ir, para onde estamos indo, o que está acontecendo e como vai terminar. Mas não vai ser brincando com o nome de pessoas como V. Exª que vão atingir o que quer que seja. Eu, como V. Exª, continuo na mesma caminhada, para buscar o que deve ser buscado, mas recebo as acusações a V. Exª como se fossem feitas a mim e coloco-me na posição de V. Exª. Vamos redobrar nosso trabalho. Se pensam que, com isso, haverão de nos atingir e que pessoas com a garra de V. Exª vão se perder no caminho, estão muito enganados. Meus cumprimentos por V. Exª estar aqui hoje, num dia em que o normal seria não estar aqui, pois amanhã é feriado, estamos num feriadão. Mas V. Exª, exatamente hoje, numa segunda-feira, às 14 horas, estava aqui para fazer o seu pronunciamento. E é com muita emoção que, hoje, às 14 horas, estou aqui para dar-lhe este aparte e para lhe dizer, de irmão para irmão, que estou solidário, na manchete negativa e na positiva, porque V. Exª é um dos homens de quem tenho orgulho, por quem tenho respeito, admiração. V. Exª merece a admiração de todo o Brasil. Expresso muito carinho a V. Exª, Senador.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador Pedro Simon, eu estou aqui pensando: eu acho que essa acusação até foi boa, porque ouvir as palavras de V. Exª é um conforto extraordinário para mim, para a minha vida e para a minha família.

V. Exª dá esse testemunho e me emociona, lembrando daquelas nossas histórias daquele tempo da resistência. Eu vou começar com o Alvaro Dias - é bom a gente lembrar um pouco - quando cassaram o Lysâneas Maciel. O Lysâneas tinha um carro, um Mercedes-Benz velho, e aí o pessoal resolveu fazer um rifa para ajudar o Lysâneas Maciel a fugir do Brasil. E ele insistiu: “Olha, compra um bilhetinho”. O Chico Pinto me deu um bilhete para vender, cada um tinha que vender dez bilhetes, e eu, inocentemente, no lugar de vender aqui dentro, fui a um restaurante, à noite, vender. Ofereci a uma pessoa, a outra, e um Parlamentar que estava à mesa disse assim: “Vai direto para o banheiro”. No banheiro: “O cara que está aqui comigo é um Coronel. Você vai oferecer rifa do Lysâneas, ainda dizendo que é para ele fugir do Brasil...”. O Alvaro estava vendendo o bloquinho dele também, ajudando, por causa da situação difícil em que o Lysâneas se encontrava naquela época. Vejam como é que as coisas são.

Outra coisa interessante, V. Exª deve se lembrar também: a reunião de Foz do Iguaçu, quando os Governadores do PMDB resolveram fazer a campanha das Diretas. Nós fomos para Foz do Iguaçu. Os jornais insistiam que os Governadores estavam provocando os militares, “cutucando a onça com vara curta”.

E aí o Tancredo me liga. O José Serra até era o escrivão, ele que escreveu a carta de Foz do Iguaçu, na qual os Governadores do PMDB exigiam eleições diretas. E aí o Tancredo me convidou, e eu falei: “Mas, Tancredo, é longe, lá, em Foz do Iguaçu”. E ele falou: “Isso é coisa do Montoro, Gerson. Se os militares correrem atrás da gente, a gente foge para o Paraguai”. Era brincadeira dele, mas fomos fazer essa reunião lá, e, depois, a luta para colocar o Tancredo, porque o Tancredo hesitava em renunciar ao Governo de Minas e depois não se eleger. Foi um trabalho que agora lembramos e que me anima cada vez mais, de tudo aquilo que fiz, e não me arrependo de nada do que fiz.

Agradeço a V. Exª.

Senador Paulo Paim, desculpe-me a emoção. Quero ouvir V. Exª.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Naturalmente. Senador Gerson Camata, ouvi, aqui, a Senadora Marisa Serrano e os Senadores Alvaro Dias, Mesquita Júnior e, agora, o meu amigo Senador Pedro Simon - e me diz sempre o Presidente Mão Santa: “nunca fale depois do Simon, fale antes”, porque todo mundo sabe a capacidade de oratória e a sinceridade de cada pronunciamento seu, como esse que ele fez agora, dando-nos até uma aula de história e tendo V. Exª como referência de todo esse momento que aqui ele relatou. Mas quero, além de mostrar a minha solidariedade a V. Exª, também solidarizar-me com a Rita - permita-me a Rita dizer isso -, a Deputada Federal Rita Camata. Tive orgulho de ser Deputado Federal ao lado dela e vi seu esforço para escrever o Estatuto da Criança e do Adolescente, em que ela foi Relatora. Foi inspirado no trabalho dela - e ela já me falava do trabalho de V. Exª - que criei o Estatuto do Idoso, que hoje é uma realidade. Ela fez um belíssimo trabalho e criou o Estatuto, e diz o Simon: “E você com o idoso”. Correto. Mas, Gerson, eu, quando cheguei aqui - vou te dizer uma coisa que nunca te falei - perguntei um pouco mais para os colegas sobre você, e eles me disseram: “Olha, ele marcou sua atuação...”. Vou dizer isso aqui agora, e me entenda o Espírito Santo, porque em todos os Estados existe corrupção: “Ele marcou sua atuação como Governador do Estado no combate à corrupção. Alguém me disse isso, e essa frase eu guardei e, no momento, trago-a porque é um retrato que você nem sabia. É um retrato que recebi do seu trabalho como Governador. Quase todo dia chego aqui mais cedo, V. Exª chega cedo também e me diz: “Paim quem é o primeiro, você ou eu?”. Isso mostra o trabalho, a competência, o preparo e a história. Bom, Gerson, você, para nós, aqui, é uma das nossas referências, sem sombra de dúvida, inclusive em relação ao Regimento Interno da Casa, a sua luta histórica, a aprovação desse brilhante projeto, depois de tantos anos, que a Casa agora reconheceu e aprovou. Permita-me só que eu diga isso. Há um tempo, há algumas semanas, saiu uma crítica à Comissão de Direitos Humanos que presidi. Em vez de eu fazer um relatório da Presidência desse tamanho - e o Senador Pedro Simon até recebeu um e o leu aqui no Plenário - fiz um livrinho: Relatório da Comissão de Direitos Humanos, dois anos de trabalho. E o inicio falando sobre o Thiago de Mello, a Declaração dos Direitos do Homem, e, depois, falo do trabalho da Comissão. Mas a única coisa que saiu foi a seguinte: “o Senador Paim descreve um trabalho que diz belíssimo, mas a primeira coisa que fez foi colocar sua foto na Comissão de Direitos Humanos”. Até hoje não está lá minha foto. Até hoje. Nunca coloquei e não está lá. E está escrito que o que eu fiz foi colocar a foto. Não tinha como criticar o trabalho, um livrinho tão pequeno, do tamanho desse celular mais ou menos. Não fui à tribuna, não falei nada, considerei que foi um equívoco do repórter, desconheci, não falei, e comentei aqui, agora. Veja bem o que estou dizendo: de todo o livrinho, que fala de toda a luta na Comissão de Direitos Humanos, sobrou isso, que eu tinha botado uma foto na Comissão de Direitos Humanos. Nunca botei, mas vou cobrar do Senador Cristovam. Como ex-Presidente, eu teria direito de ter a minha foto lá, até vou falar com o Senador Cristovam para que a coloque. Quero dar esse exemplo típico. Eu não ia tocar neste assunto, porque, infelizmente, depois que é dito, está escrito, até você explicar para alguém, ir lá e dizer que não tem foto minha, mas que terá, se depender de mim, é outra novela, é outra história. Então, meus cumprimentos. Acho que foi uma injustiça, espero que a verdade venha - e há de vir, como V. Exª mostrou muito bem da tribuna do Senado para todo o Brasil. Minha solidariedade a V. Exª.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim. V. Exª viu que, para cada acusação assacada, coloquei um papel, um testemunho, uma prova e, nas remessas que eu fazia, às vezes, para ele pagar uma ou outra...

Sr. Presidente Sarney, muito prazer.

Eu tenho as anotações feitas...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Camata, desculpe interrompê-lo. A solidariedade é tamanha que nosso Presidente veio presidir e dar solidariedade a V. Exª em nome de todos nós..

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Com muita honra para mim. Muito obrigado.

Mas, então, V. Exª se referiu ao meu trabalho na reforma do Regimento, é a Presidência do Marco Maciel. O que estou objetivando ali? É dar à Casa resolutividade, dinamismo no trabalho, estar presente em todo o momento, mudando, legislando, fiscalizando. Equiparar um pouco, equilibrar o Senador com o Líder para não ter muito cacique e pouco índio, fazer um Regimento mais moderno, o nosso já tem quase 20 anos.

O objetivo é de amor à Casa, para que ela preste mais serviços, faça mais leis, faça leis justas. Este é o objetivo do que tenho feito por amor à Casa. E quero dizer a V. Exª que o conselho de V. Exª, a história de V. Exª sobre a foto é muito interessante para mim. Eu fui Presidente da Comissão de Educação e vi lá, um dia desses, encostada, uma foto minha que eles querem colocar. Eu vou pensar muito bem, no dia em que forem colocar essa foto, para fazer isso com muita discrição, para não ser vítima de uma nota perturbadora e pouco elegante como esta da qual V. Exª foi vítima.

Mas, então, eu queria, agradecido....

Senador Mão Santa, ouço V. Exª, que presidiu até agora, que foi condescendente, como os demais companheiros, com o tempo que me foi concedido.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Gerson Camata, quis Deus que eu estivesse ali, presidindo. Realmente, eu estava me preparando, mas a figura de V. Exª significa tanto para esta Casa, para o PMDB, para o Espírito Santo, para o Brasil e para a democracia que o nosso Presidente Sarney, esse grande estadista, com a sua sensibilidade histórica, que eu conheço, veio representar o sentimento de toda a Casa.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Hoje é uma segunda-feira, e isso traduz a grandeza que nós representamos. Presidente José Sarney, aqui, não tem negócio de enforcar, não. Na segunda-feira, o Senado aberto. Isso, na história política e democrática do mundo, é raro. No Brasil, só conosco. Digo, com toda a convicção, que este é um dos melhores Senados da história da República. E eu digo com essa convicção porque eu o conheço. Eu o conheço antes de conhecê-lo fisicamente, porque V. Exª foi um patrimônio da redemocratização. Somos mais ou menos da mesma idade. Eu lá, na minha Santa Casa, na Parnaíba, também lutando pelo MDB, mas V. Exª já era uma proeminência nacional. V. Exª, para estar aí, precisa... A imprensa... Como Cristo dizia, “em verdade, em verdade eu vos digo”, uma imprensa, seja qual for, não tem valor nenhum se não leva a verdade. Ela vale pela verdade que diz. E foi infeliz a imprensa com V. Exª; queimou-se mais do que a quem ela quis queimar, se foi esta Instituição, porque V. Exª é um patrimônio, mas não é de agora, não! V. Exª nasceu do amor, muito antes, de Gino e Júlia, seus pais. Aquela formação austera, cristã, que a nossa geração teve. A nossa geração tinha aquele tripé que o Pedro Simon sempre rememora: a família, a escola e a Igreja. V. Exª é dessa geração. E V. Exª foi vereador, deputado estadual, duas vezes deputado federal, governador do Estado - não um simples governador, mas um extraordinário, respeitado governador -, três vezes Senador da República. O meu irmão camarada Heráclito Fortes - porque ele se sai bem -, eu acho que ele ali disse: em dúvida? Eu estou com o Camata. Não tenho dúvida, tenho a certeza e a convicção. Aonde houver a dúvida, que se leve a verdade. A verdade está aqui, foi dita pelos seus companheiros Senadores. Pedro Simon, com essa virtude que Deus lhe deu, de grande orador - diziam que Cícero era o maior, mas é porque ele ainda não tinha nascido -, transmitiu por todos nós. Todos foram brilhantes, mas o Pedro Simon é como o Paim, disse. Aliás, sexta-feira, comemorando aqui o meu milésimo pronunciamento, eu o escolhi, ofereci ao Pedro Simon - o Pelé ofereceu às crianças os gols dele; o Romário, aos deficientes -, enquanto ele oferecia um decálogo de caminhar com virtudes, para a mocidade abraçar a política. Então, V. Exª significa muito. V. Exª parece ser de 1941, eu sou de 1942, nascemos na guerra, mas V. Exª faz guerra contra a corrupção, contra a bandidagem, contra a malversação. V. Exª é do bem, V. Exª é do amor, V. Exª é como dizia o Francisco: “Aonde houver dúvida, que eu leve a verdade”. Então, eu quero dizer que V. Exª já foi tão julgado, tão julgado. Aquilo a gente tem que entender como a sabedoria popular que diz: só se atira pedras em árvores boas que dão fruto.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - E V. Exª, pelo amor, com essa extraordinária mulher, que empata com Adalgisa, construiu uma família exemplar. Eu aprendi, também, dos mesmos filósofos, olhando para o Presidente Sarney: a inveja e a mágoa corrompem os corações. O que devem ter é muita inveja de V. Exª.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Pela sua vida, pelas suas obras, por tudo que tem realizado, tem de ser respeitado. V. Exª é tão forte que eu vou dizer a minha fraqueza: eu queria estar na Mesa desde a vez passada. Eu sabia que o PMDB tinha duas vagas. Aí quando eu vi o nome do Camata, eu disse: eu não vou, porque eu perco. Ninguém ganha de um homem desse.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Bondade de V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Aí eu manifestei essa história. Você vai ser meu candidato, como foi do Pedro Simon, como foi do Sarney, como tivemos todos os votos do nosso Partido. Mas V. Exª é essa figura, e eu falo isso com emoção e gratidão. A minha mãe - assim como V. Exª se lembra da Dona Júlia, do colo dela, das rezas, das orações, do consolo -, ela me dizia que a gratidão é a mãe de todas as virtudes. Presidente Sarney, eu governei o Piauí como V. Exª o Maranhão. V. Exª foi um extraordinário Governador do Maranhão, mudou tudo. Eu queria dizer o seguinte: que, com dificuldades, tinha um Prodetur. Eu não tinha Senador, e eles queriam que não fosse para lá. E V. Exª, Senador Camata, eu nunca pedi, e V. Exª defendeu. Eram US$15 milhões... Como é que se pode negar ao Piauí? Então, além de tudo, da admiração, eu tenho, assim como o Piauí, essa gratidão com V. Exª. Eu quero dizer o seguinte: o Sarney que está ali me inspira a cultura. Eu aprendi que, na velha Grécia, havia um filósofo que andava atrás de um homem, com a lanterna. “O que você procura Diógenes? Um homem que tenha vergonha, um homem honesto.” Aquilo que eles procuravam na velha Grécia está aí, é o Senador do Espírito Santo, é o nosso Senador, é o Camata. V. Exª não é o réu. V. Exª é o justo. V. Exª é um homem de bem do Brasil.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador Mão Santa, V. Exª se lembra de meu pai e de minha mãe, e eu não os tenho mais, sou um órfão. Acho que foi até uma bondade de Deus levá-los, para que eles não sofressem o que estou sofrendo com tanta injustiça. Isso me toca o coração; desculpem a emoção.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que vou fazer agora? Vou comunicar também ao Sr. Presidente Dr. José Sarney. Estou requerendo ao Conselho de Ética e ao Corregedor-Geral da Casa que determinem a apuração dos fatos com todos esses documentos que eu apresentei, provando a falácia, a mentira, a injustiça de cada acusação feita sem nenhum papel, sem nenhum testemunho, sem nada, e uma solicitação de afastamento temporário do Conselho de Ética. Se o Conselho de Ética vai investigar, eu não quero fazer parte dele, eu saio do Conselho de Ética.

Comunicarei a V. Exª, Sr. Presidente - está aqui comigo, vou assinar agora -, que me dou por impedido de participar de qualquer reunião da Mesa Diretora, da qual faço parte, destinada a discutir questões relativas a esse episódio.

Toda vez que algo chegar à Mesa sobre isso, eu não participarei. Vou me considerar impedido.

No Espírito Santo, o meu advogado é o Dr. Antônio Genelhu, Presidente da OAB do Estado do Espírito Santo, um homem honrado. É o meu advogado e vai entrar com uma interpelação na Justiça. Espero que não demore, como a outra, dezoito anos, porque não sei se ainda terei tempo de esperar este tempo todo até que ocorra uma reparação dessas injustiças que estou sofrendo.

Chega aqui o Presidente do Conselho de Ética. Estou mandando para V. Exª, Senador Leomar Quintanilha, todos os documentos, todas as provas que mostram a mentira, a injúria, a calúnia, a difamação de cada item desses que foi assacado contra mim; tudo com papel, tudo com prova. Há uma inversão: o acusador acusa e não apresenta provas, e o acusado é que tem de sair caçando prova para se defender.

Ouço V. Exª, Senador Leomar Quintanilha.

O Sr. Leomar Quintanilha (PMDB - TO) - Senador Camata, antes de chegar aqui, passei no meu gabinete, tive a oportunidade de acompanhar parte desta sessão e ouvi vários dos testemunhos apresentados aqui por seus pares, por seus amigos, por seus colegas, sobretudo, que convivem politicamente com V. Exª ao longo de sua trajetória política. E ninguém melhor do que eles para trazer o testemunho da sua honradez, do seu compromisso com este País. Fica avaliar o grau de indignação, o sofrimento por que passa V. Exª e a família de V. Exª quando notícias desse jaez são estampadas em jornal, sem que tivessem tido o cuidado, como aqui outros colegas reafirmaram, de buscar com V. Exª a versão, a resposta, as informações e os esclarecimentos que V. Exª já trouxe a esta Casa. Eu estou seguro de que V. Exª é maior do que esses assaques contra a sua honra, contra a pessoa de V. Exª. V. Exª haverá de superar, com a mesma firmeza, com a mesma seriedade, com a mesma serenidade, este episódio como todos aqueles desafios que V. Exª superou, com brilho, ao longo de sua vida.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado a V. Exª.

Eu quero, ao final, Sr. Presidente, dizer que me conforta a palavra de todos os meus companheiros, da Senadora Marisa Serrano, do Senador Pedro Simon, do Paulo Paim. Conforta-me a fala do Senador Geraldo, do Quintanilha, do Mão Santa, a presença da Rita, minha companheira de tantas batalhas, de tantas lutas. Tudo isso representa um grande conforto para mim. Quero agradecer à Senadora Marina Silva, com quem fiz a permuta do horário para que eu pudesse falar logo no início da sessão.

Eu não desanimo. Eu continuo achando a política uma atividade, como disse a Senadora Marisa Serrano, nobre, quando exercida com dignidade, com honradez, com vontade de servir. Vou continuar lutando para que tenhamos um Regimento melhor, para que tenhamos novos projetos de lei, para que o Senado prospere e lidere um processo democrático de que este País está precisando tanto agora nesta crise que vivemos.

         Essa crise que estamos vivendo não é só econômica. Atrás da crise econômica há uma crise política, uma crise moral, uma crise que abala todas as instituições.

Vi outro dia um trabalho feito pelo Senador Pedro Simon sobre a interiorização da violência. Ele faz essa apreciação de que esses crimes hediondos, essa violência institucionalizada não é mais algo privativo das grandes cidades e vai para o interior. Mas Pedro Simon dizia, em seu trabalho, que não se trata da interiorização da violência, mas da universalização da barbárie. Esses tempos estão representando exatamente isso.

Quando se assaca contra a honra, quando de apunhala sem nenhuma prova, quando se julga, condena, e depois a gente tem de se defender, também é uma violência inominável contra quem preza a honra, a sua família, contra quem gosta do seu trabalho, ama sua vida, ama o trabalho que faz.

Sinto-me confortado. Sinto-me confortado não só pelas palavras, mas pelo estímulo que me foi dado aqui. Com certeza, não vou desanimar. Vou brigar pela minha honra, vou brigar pela limpeza da vida pública, vou continuar brigando por princípios dos quais nunca abri mão. Não será por causa de uma coisa dessas que vou abrir mão. Anima-me mais, reforça-me mais, dá-me mais vontade de lutar contra as indignidades que normalmente acontecem contra a honra, não só minha, mas de tantas e tantas pessoas por este País afora.

Muito obrigado a todos. Daqui, então, vou dar entrada nesses requerimentos. Sou eu que vou pedir a investigação; sou eu que vou pedir que sejam apurados os fatos. Eu tenho dignidade para pedir isso. Não vou permitir isso de um ex-Deputado cassado, que renunciou ao seu mandato na véspera de ser cassado, envolvido com o escândalo dos sanguessugas, que foi expulso da Presidência do PMDB do Espírito Santo por práticas de atos não recomendáveis e que o Partido abominou. Não vou permitir. Quem abre a investigação, quem pede a investigação sou eu, que fui atingido na minha honra e que tenho certeza da minha inocência. E quero defender a minha honra em nome dos meus filhos, em nome da minha mulher, em nome dos meus eleitores, em nome dos meus amigos e em nome desta Casa da qual eu faço parte, com satisfação e orgulho, há vinte e dois anos.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Senador Camata, a indignação de V. Exª, a sua revolta e a sua emoção dão às suas palavras a profundidade da injustiça que o atingiu. E as providências que V.Exª pede ao Senado mostram, de outra maneira, como V.Exª se sente um alvo errado, indevido, dessas insultos que lhe fizeram - eu não digo infâmias, eu digo insultos que lhe fizeram. A solidariedade da Casa é sem dúvida alguma um conforto, mas ela é incapaz de fazer com que as pessoas não sintam o ferimento de que são vítimas em episódios dessa natureza. Sou testemunha, de longos anos, aqui nesta Casa e fora desta Casa também, do seu espírito público. Vi V.Exª como Governador. Foi governador quando eu era Presidente.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - V. Exª era Presidente.

O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Ali está Rita Camata, a quem eu quero estender esta solidariedade minha, em nome do Senado. Sei que V.Exª é um homem correto, um cidadão exemplar.

         Aqui nesta Casa, V. Exª tem sido um Senador dedicado, que se aprofunda nos problemas, que vai a fundo nas missões que lhe são entregues e que sempre teve o respeito de todos nós. Não será, sem dúvida, um episódio dessa natureza que diminuirá um centímetro daquele apreço que V. Exª tem de todos nós e que quero reiterar neste momento. V. Exª é um homem que tem ainda outra coisa que é difícil ter hoje: profunda religiosidade. E, sem dúvida alguma, isso lhe dá força para que V. Exª sempre possa compreender as injustiças da política. Destaco essa missão que foi dedicação de toda a sua vida, sempre trabalhando pelo povo do seu Estado, pelo povo do seu País. Eu mesmo sou testemunha também do seu desprendimento. Já vi V. Exª duas vezes ser convidado para voltar ao Governo do Estado e recusar, achando que melhor serviria ao País aqui na nossa Casa, como eu acho que tem servido e vai continuar a servir.

         Receba, portanto, de minha parte, minha solidariedade como Presidente. Vim aqui para dizer estas palavras que lhe estou transmitindo neste instante, que V. Exª merece de todos nós, Senadores. Que elas sejam um conforto para V. Exª em meio ao sofrimento que está vivendo.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - É bom ouvir isso de V. Exª, Sr. Presidente. Acompanhei a vida e a luta de V. Exª, tive a oportunidade de vê-lo quando V. Exª era Presidente da República, levado que foi à Presidência pelas mãos de Deus, pelas mãos do destino, com a morte de Tancredo, e vi quando V. Exª, no início, sofreu, às vezes até também com achaques e ataques. Um dia, eu disse a V. Exª que V. Exª seria um Presidente sempre querido, que V. Exª tinha a mansidão bíblica que está no Sermão da Montanha, quando Jesus diz “bem-aventurados os mansos de coração, porque eles possuirão a Terra”. V. Exª foi um manso de coração. Se não fosse a mansidão do coração de V. Exª, talvez aquela transição não tivesse acontecido tão pacificamente como aconteceu. O Brasil lhe deve isso.

Quando vi, ontem, os Presidentes reunidos no Caribe, eu lembrei de V. Exª, junto com Alfosín, na Argentina, começando a construção do Mercosul, uma profecia que V. Exª fez naquela época. Depois, houve o encontro de Ouro Preto, em que foi solidificado e criado esse grande mercado que é o Mercosul, que nasceu das mãos de V. Exª, mesmo com a desconfiança que o Brasil tinha da Argentina: havia projetos militares do Brasil contra a Argentina e da Argentina contra o Brasil. V. Exª trouxe a Argentina para dentro do Brasil, numa convivência pacífica e maravilhosa, que hoje rende frutos de mais de US$4 bilhões para os dois países. V. Exª merece, por isso, respeito.

As palavras de V. Exª me encantam e me enchem de gratidão.

Eu pediria licença a V. Exª para ouvir o Senador Marcelo Crivella.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Senador Gerson Camata, eu não poderia deixar de vir aqui ao plenário para prestar um testemunho a V. Exª, que tem sido um Senador muito devotado às causas públicas e, embora com um passado de serviço que engrandece e honra esta Casa, V. Exª é sempre presente às comissões, apresentando seus projetos. Agora mesmo, sou relator de um projeto seu que trata de diminuirmos a libido daqueles que praticam a pedofilia ou atos atentatórios ao pudor. E fiquei triste, triste em ver mais um membro da minha Casa atacado. Agora, V. Exª, com certeza, há de encontrar, em seu caráter e humildade cristãos, a força da altivez e da honra para enfrentar e suplantar essas maquinações do ódio, esse dilúvio de injúrias, insultos, calúnias e infâmias que, na vida pública, somos obrigados a suportar diariamente. Nas minhas campanhas, quando acordo de manhã, já vou pegar o jornal com uma certa dor de estômago, porque todo dia há uma calúnia. Ligam-me ao tráfico de drogas, o meu partido à corrupção... É uma coisa impossível. E depois nada se prova na Justiça. Mas, hoje, conversando com sua esposa, ela me relatou seu final de semana, e fiquei pensando nos meus e nos de tantos. Esse é o preço que pagamos pela honra de nos engrandecer servindo ao nosso povo. Não sei se há aqui um Senador que tenha tanto amor pela sua terra como o Senador Gerson Camata, que conhece, que tem o jeito, o cheiro, o olhar, a cara do povo da terra do Espírito Santo. O senhor jamais trairia esse povo.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Obrigado.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Jamais trairia esse povo. Seria capaz até de perder a vida por amor a esse povo, mas traí-lo, jamais. Eu queria, então, dar apenas este singelo, mas respeitoso e do fundo do coração, testemunho. Espero que V. Exª, como disse nosso Presidente Sarney, na fé, consiga encontrar forças para suplantar isso tudo. Que Deus o abençoe e o ilumine. Conte sempre com a solidariedade dos seus companheiros, que o respeitam, admiram e, nessas horas difíceis, estão ao seu lado.

         O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador Marcelo Crivella, muito obrigado.

         Lembrando a religiosidade a que se referiu o nosso Presidente, tanto V. Exª quanto eu temos raízes cristãs profundas. Hoje é o dia da padroeira do Espírito Santo, Nossa Senhora da Penha. Eu tenho certeza de que ela há de me guiar para que eu não conserve disso ódio, mas que aumente em mim uma vontade de abraçar, de perdoar, de não alimentar desejos ruins, más intenções contra nenhum daqueles que me caluniaram e que fizeram a mim e a minha família sofrermos tanto. E peço a Nossa Senhora que nunca aconteça nem com eles nem com a família deles o que eles fizeram comigo e com a minha família.

         O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Perdoe-me, Senador Gerson Camata, mas neste final de semana, um dia antes, eu estava me regozijando porque vi um levantamento da ONG Transparência Brasil, uma ONG muito séria, referência no controle do Congresso Nacional, que apontava uma lista de Senadores que têm proposituras de impacto, relevantes. V. Exª era um deles. V. Exª encabeçava essa lista como uma dos Parlamentares.... Testemunho da ONG Transparência Brasil, que é rígida. Ela não é uma ONG que concede elogios aos Parlamentares; pelo contrário, ela é crítica, ácida. V. Exª estava lá, entre os dez Parlamentares do Senado Federal, num levantamento de 2003 para cá, que cobre toda a Legislatura, como o Parlamentar com melhores propostas de impacto para o Brasil.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço a V. Exª. É uma boa notícia que me dá, no meio de tanta notícia ruim. Há poucos dias, o Presidente Lula me disse que, do mandato dele, sou o recordista de projetos sancionados. Em dois meses, tive dois projetos interessantes meus sancionados para este momento de crise.

Desculpem-me por aproveitar para fazer uma promoção. Mas veja V. Exª: junto com o Senador José Fogaça, desde aquele tempo, fui o autor do substitutivo da lei que regulamenta os consórcios. Foi para a Câmara, voltou, Fogaça se candidatou e se recandidatou a prefeito, aprovou, e o Presidente Lula sancionou.

Nesta época de crise, em que minguam os créditos, a regulamentação dos consórcios foi uma vitória. Por quê? Agora, tem consórcio de viagem, consórcio de operação plástica, consórcio de casa, consórcio de apartamento... Movimenta a economia. Eu dei um instrumento bom para esta hora.

Anteontem, o Presidente Lula sancionou a lei complementar que regulamenta as cooperativas de crédito cooperativo. Importantíssima lei. Briguei por ela desde o início do Governo Lula, em 2003. Corri para lá, foi para a Câmara, demorou 10 anos, mas a lei foi aprovada, e o Presidente sancionou, sem nenhum veto. Veja V. Exª. É importante também, porque o crédito cooperativo capilariza pelo interior, pelos lugares mais humildes, mais pobres, onde as pessoas se conhecem, e com confiança. Então, esse crédito supre, neste momento, esse vácuo de créditos que temos no País. Mas era só...

A Srª. Marina Silva (Bloco/PT - AC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Gerson Camata?

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senadora Marina, com muita alegria. E muito obrigado pela permuta que V. Exª me permitiu.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Quando cheguei, V. Exª já estava no final do seu pronunciamento. Então, eu havia me recolhido, mas o Senador Crivella encorajou-me a retomar e, vendo aqui sua emoção, gostaria de dizer que a iniciativa, de motu proprio, de V. Exª para que as investigações sejam feitas - e V. Exª é o mais interessado em que isso aconteça - é uma atitude positiva, no sentido de ser pró-ativo em relação às acusações que lhe são feitas.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Obrigado a V. Exª.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Enfim, já que o senhor também é um homem de fé, uma das coisas que sempre digo é que, sempre que nos encontramos diante de dificuldades, é melhor sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Olha, que bonito!

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - É melhor. Porque sempre que você sofre a injustiça sabe que a reparação virá, e virá de Quem conhece todas as coisas. Quando você pratica a injustiça, a justiça também virá, e virá Daquele que conhece todas as coisas. Então, eu sempre peço a Deus para nunca me colocar no lugar de praticar as injustiças, porque, ainda que seja doloroso, ainda que seja difícil, é preferível sofrê-la do que praticá-la.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - É uma lição de vida. E vou me mirar nas palavras de V. Exª para lembrar um episódio que houve aqui um dia. V. Exª era Ministra quando veio aquela mensagem da exploração racional, da preservação e do uso econômico da floresta racionalizada, um belíssimo e avançado projeto que chegou aqui. Naquele debate todo, eu me levantei aqui e disse: “Veio das mãos da Marina. As mãos da Marina são limpas, e eu voto pelo projeto”. E nós aprovamos o projeto aqui. Foi um avanço extraordinário, uma grande contribuição, entre tantas que V. Exª deu a este País.

Muito obrigado a V. Exª.

Concedo o aparte ao Senador Gim Argello, com prazer. Muito obrigado.

O Sr. Gim Argello (PTB - DF) - Eu que agradeço, Senador Gerson Camata. Dentro da mesma linha dos demais que me antecederam, apenas para dizer que V. Exª não tem com o que se preocupar. Sua história diz tudo. V. Exª tem 22 anos nesta Casa, uma história de vida nesta Casa, em que todos o conhecem e o respeitam. Todos os funcionários, quando eu estava vindo para cá, me pararam e perguntaram: “O senhor está indo para o plenário falar do Gerson Camata?”. Eu disse: “Estou. Estou indo lá falar sobre o Gerson Camata sim”. Porque, como disse nosso Presidente, o mais experiente político deste País, o senhor é um homem que merece o nosso respeito e o nosso acatamento. V. Exª, de nossa parte, em meu nome e em nome do Partido Trabalhista Brasileiro, pode ter certeza, se isso conforta o seu coração, de que todos nós, não só o nosso Partido, mas o Brasil sabe quem é V. Exª. Sua esposa está aqui, sua família, V. Exª é um bom pai, um bom marido, foi um bom filho, um bom político, um exemplo de homem público para o seu Estado e para o Brasil. São minhas poucas palavras para dizer ao senhor do nosso respeito e da nossa admiração por V. Exª, tendo em vista sua carreira política, a forma de conduzir sua vida pública. Parabéns, Senador Gerson Camata. A maioria dos Senadores não está presente na sessão de hoje, mas se aqui estivessem, todos eles, tenho certeza, todo este Senado lhe renderia homenagens. V. Exª é merecedor delas.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado a V. Exª. Obrigado a todos os meus companheiros. Todas as palavras que ouvi agora me animam mais, me dão mais força e me dão mais orgulho de dizer que sou um Senador brasileiro.

Muito obrigado.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2009 - Página 12110