Discurso durante a 54ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentário sobre pesquisa do jornalista Sílvio Navarro, publicada no jornal Folha de S.Paulo, sobre repasses de recursos feitos pela Petrobrás para ONGs no Estado da Bahia.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Comentário sobre pesquisa do jornalista Sílvio Navarro, publicada no jornal Folha de S.Paulo, sobre repasses de recursos feitos pela Petrobrás para ONGs no Estado da Bahia.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2009 - Página 12042
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, REPASSE, RECURSOS, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, INDUSTRIA PETROQUIMICA, ALEGAÇÕES, AUSENCIA, VERDADE, ACUSAÇÃO, DEMONSTRAÇÃO, JORNALISTA, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, EMPRESA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, NOMEAÇÃO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO AGRARIO, DIRETOR, Biodiesel, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), DEMONSTRAÇÃO, MANIPULAÇÃO, INDICAÇÃO, CARGO PUBLICO.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, INTERNET, DENUNCIA, CONDUTA, GOVERNADOR, DIRETOR, EMPRESA DE ASSISTENCIA TECNICA E EXTENSÃO RURAL (EMATER), ESTADO DO PIAUI (PI), REPASSE, RECURSOS, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), AUXILIO, PROJETO, HORTICULTURA, MUNICIPIO, RIBEIRO GONÇALVES (PI), QUESTIONAMENTO, DESNECESSIDADE, CONVENIO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, DIARIO DO POVO, ESTADO DO PIAUI (PI), REGISTRO, NECESSIDADE, PRODUTOR RURAL, PAGAMENTO, OBRAS, CONSTRUÇÃO, PONTE, RODOVIA, MOTIVO, ATRASO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), AMBITO NACIONAL, EXCESSO, IRREGULARIDADE, NECESSIDADE, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, SEMELHANÇA, COBRANÇA, OPINIÃO PUBLICA, CONGRESSO NACIONAL.
  • REPUDIO, EXCESSO, CORRUPÇÃO, AUSENCIA, PENALIDADE, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESPECIFICAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), INVESTIGAÇÃO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), IRREGULARIDADE, RECURSOS, SETOR PUBLICO.
  • CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, OBRAS, ESPECIFICAÇÃO, CONSTRUÇÃO, HOTEL, AEROPORTO INTERNACIONAL, CENTRO DE EXPOSIÇÕES, MELHORIA, TURISMO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, ocupei esta tribuna para falar dos exagerados desmandos cometidos pela Petrobras no repasse de recursos para Organizações Não Governamentais (ONGs) no Estado da Bahia. A Folha de S.Paulo, pelo jornalista Silvio Navarro, aprofundou sua pesquisa, e, hoje, já chegam à cifra de R$6,6 milhões esses repasses feitos. Basicamente, os repasses são feitos pela ONG Associação de Apoio e Assessoria a Organizações Sociais do Nordeste (Aanor).

O que estamos vendo aqui, Sr. Presidente, é uma verdadeira farra com o dinheiro público. É curioso, Senador Geraldo Mesquita, que o Ministério Público tenha sido alertado sobre esses fatos pelo Senador Antonio Carlos Magalhães num discurso pronunciado nesta tribuna em 2005 e que nada tenha acontecido, que esses fatos não tenham sido apurados. Eles são graves, porque envolvem a cúpula do PT no Estado da Bahia. E aí o cinismo toma conta, porque começamos a ver declarações de dirigente da Petrobras que diz que contratar ONG facilita a fiscalização - isso é o que diz um diretor da estatal.

O Presidente da Petrobras, Sr. Sérgio Gabrielli, tenta desqualificar as matérias:

Durante o Fórum Econômico Mundial, encerrado ontem, no Rio, o Presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, definiu como mentirosas as reportagens da Folha e de O Estado de S. Paulo sobre a distribuição de patrocínios à festa de São João. “Eu queria comentar, e peço desculpas por que posso soar agressivo, mas essa matéria que a Folha deu hoje e que O Estadão deu ontem são típicas do que antigamente se chamava de jornalismo marrom. São matérias mentirosas, incompletas e que servem a alguns interesses.” Gabrielli disse que a reportagem reflete, provavelmente, a intenção de alguém que está alimentando a Folha com interesses políticos locais. “Quero criticar essa visão e o comportamento jornalístico que não condizem com o histórico da Folha.”

E aí vem um fato interessante. Veja bem, Sr. Presidente: “Gabrielli disse que já declarou, de forma explícita, que não é nem será candidato ao Senado da Bahia, o que poderia motivá-lo a distribuir patrocínio no Estado”. Veja, Senador Mão Santa; vejam, Srªs e Srs. Senadores: “Afirmou ainda que apenas oito das 44 cidades patrocinadas são administradas pelo PT, enquanto 16 têm prefeitos do DEM ou do PSDB”.

Será possível que o Sérgio Gabrieli está tentando enganar a Folha, o Estadão, ou está pensando que está lidando com idiotas? Ora, aqui está exatamente a prova do crime! Ele não precisa dar dinheiro para as prefeituras do PMDB que têm estrutura própria. Ele distribui recursos exatamente para onde não possui estrutura política e quer conquistá-la à custa desse patrocínio. É elementar, meu caro jovem ou “meu caro Watson”, como queiram! É impressionante, é chocante o cinismo com que um homem que dirige bilhões, em nome dos acionistas da Petrobras, dá uma resposta dessa natureza. E aqui está a prova do crime, Senador Mozarildo. Eles estão colocando o dinheiro exatamente onde existem prefeituras adversárias ou em Municípios onde eles querem crescer, até porque esses recursos são passados por meio de ONGs para entidades privadas.

Será que a assessoria do Sr. Gabrieli não procurou alertá-lo sobre isso? Essa informação prestada pelo Sr. Gabrieli é grave. Num País sério, presidido por Fernando Henrique ou por Itamar Franco, já teriam rolado cabeças. Esse dinheiro da Petrobras não pertence ao Sr. Gabrieli, não pertence ao PT; pertence aos acionistas e ao povo brasileiro. Não podemos conviver com esse tipo de procedimento.

O aparelhamento da Petrobras vai além. Agora mesmo, os jornais de hoje noticiam que um Sr. Alan Kardec vai deixar a Diretoria de Biodiesel. E quem vai para lá? Adivinhem! Miguel Rossetto, do PT, que foi Ministro da Reforma Agrária, salvo engano - acho que foi Ministro da Reforma Agrária, sim. São tantos os Ministérios! São quarenta Ministérios. Puxa! O cara sai da área de invasão de terras para uma área específica, que é a de biodiesel. Vai ser Diretor de Biodiesel da Petrobras. É o aparelhamento, Senador Mozarildo, desavergonhado, escancarado, porque, no País, hoje, não existe mais punição para quem comete crime contra o erário. É lamentável!

Senador Mão Santa, o Piauí copia o Brasil. Sempre que se faz algo de errado no Governo Federal, nosso Piauí, Prefeito Elmano Ferrer, segue os passos. Aqui está o GP1, o 1º Grande Portal do Piauí, que - pasme, Senador Mão Santa! - diz o seguinte:

Governo Wellington Dias repassa dinheiro público para ONG de Pernambuco. No dia 24 de novembro passado, o Diretor do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí (Emater), Francisco Guedes, celebrou convênio com o Instituto Nacional de Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável (Inteds), com sede à rua José Bonifácio, 205, Bairro Madalena, na cidade do Recife, Estado de Pernambuco, com o objetivo de realizar ações [preste atenção, Senador Mozarildo, para como é que se furta e como se desvia dinheiro público no País; prestem atenção, Srs. Senadores!] do projeto de apoio à produção do Programa de Hortaliças a Céu Aberto, na comunidade de Serrinha, no Município de Ribeiro Gonçalves [que fica no Piauí].

O Governo do Piauí desembolsou para a ONG a quantia de R$155.073,00 (cento e cinqüenta e cinco mil e setenta e três reais). O convênio foi assinado pelo Diretor Geral da Emater - PI, Francisco Guedes Alcoforado Filho, e pelo Presidente do Inteds, Wilson Cavalcante Brito.

Senador Mão Santa, Francisco Guedes é aquele que passou seis meses para ser nomeado Presidente da Codevasf no começo do Governo Lula. V. Exª se lembra disso. Toda semana, eu fazia um apelo aqui para que fosse honrado o compromisso. Eu não queria ver o Governador do meu Estado desprestigiado e desmoralizado naquela época. E o Ministro Ciro Gomes evitava essa nomeação. Acho que ele não passou nem seis meses na Codevasf ou, talvez, tenha ali ficado um pouco mais. Foi demitido por incompetência, por incompetência! Se duvidarem, perguntem ao então Ministro Ciro Gomes o que o levou a demitir o Sr. Francisco Guedes. E aí fizeram com Francisco Guedes o que fizeram com Rosseto. Ele não podia ficar desempregado, e aí o botaram na Emater. E, na Emater, ele faz esse convênio.

Pergunto, Senador Mão Santa: qual a lógica de, numa ONG de Pernambuco, o dinheiro sair do Piauí para Pernambuco, para voltar para Ribeiro Gonçalves? Por que esse dinheiro não foi distribuído diretamente a Ribeiro Gonçalves? Precisamos saber exatamente o que foi feito com esse Programa de Hortaliças a Céu Aberto naquele Município.

Isso é uma vergonha, isso é um absurdo, isso é um desrespeito! O Piauí passando dificuldades, o Governador anunciando cortes, e o Sr. Guedes passando recursos para ONGs pernambucanas, para que os pernambucanos - e os estimo muito, a eles quero bem - venham resolver os problemas de Ribeiro Gonçalves. E Ribeiro Gonçalves, para quem não sabe, fica naquele cinturão da fronteira agrícola onde há grande produção de grãos.

E aí, Senador Mozarildo, na mesma região, um pouco mais abaixo, o Diário do Povo traz hoje, Senador Mão Santa, uma matéria sob o título: “Produtores fazem cota para construir estradas”. É a estrada ligando Gilbués a Santa Filomena, a BR-235, de cerca de 140 quilômetros. Quando eu ainda era Deputado da Liderança do Governo Fernando Henrique - o Senador Mão Santa é testemunha disto -, alocamos recursos para a construção da ponte de Santa Filomena. Esse recurso atravessou de um governo para outro, e, até hoje, essa obra não foi feita. Agora mesmo, na discussão da incorporação do Banco do Estado do Piauí, o Governador, por intermédio do Secretário da Fazenda, assumiu o compromisso de, com os recursos da venda do Banco, construir a ponte, o que estaria entre as obras anunciadas no Estado. Não fizeram a ponte. E, agora, estão aqui os produtores desesperados, porque estão perdendo sua produção - é uma região que produz duzentas mil toneladas de grãos aproximadamente -, querendo fazer a estrada com os próprios recursos.

Senador Mozarildo, ouço-o, com o maior prazer.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Heráclito, V. Exª abordou um ponto aí, mostrando por onde é que está exatamente o esquema de desvio de dinheiro, de má aplicação de recursos públicos: justamente essa manobra de ONGs.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - É o bumerangue aqui.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Então, na verdade, tive oportunidade de ver isso quando presidi a primeira CPI das ONGs, que identificou dez ONGs na Amazônia e uma no Centro-Oeste que, segundo veementes indícios, teriam cometido ilícitos. E isso está encaminhado para o Ministério Público e para a Receita Federal, para tomarem as providências. Nós, aqui, apuramos os fatos e os mandamos para os setores competentes. V. Exª, que está presidindo a segunda CPI das ONGs, tem visto como é difícil fazer reunião da CPI, como é difícil aprovar requerimentos para pedir informações ou para convocar alguém.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O Governo boicota tudo.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Exatamente. Era aonde eu ia chegar. O que acontece? Desde a que presidi até esta agora, tudo no Governo Lula - não gosto muito de classificar postura, acho até démodé essa história de esquerda, de direita e de centro -, de qualquer maneira, esses que se orgulham de dizer que são de esquerda, uma esquerda enferrujada e comprometida, não deixam aprovar requerimentos para convocar certas pessoas, não deixam aprovar requerimentos que pedem informações e muito menos aqueles que pedem quebra de sigilo bancário e fiscal. Se estão corretos, por que têm medo de ser investigados?

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - A lógica seria essa.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - No entanto, é um absurdo ver isso. E eles, que sempre gostam de comparar o Governo do Presidente Lula, que está no sétimo ano, com o do Presidente Fernando Henrique Cardoso, fazem pior do que o que fizeram no Governo Fernando Henrique, porque não deixam funcionar CPI nenhuma que chegue pelo menos próximo ao Presidente Lula ou a seus Ministros queridos. Lamento que uma das funções principais deste Congresso, que é justamente a de investigar e fiscalizar a aplicação dos recursos públicos, não possa ser exercida por que o Governo do Presidente Lula, nunca dantes visto neste País, não deixa o Congresso funcionar. Eu até queria aconselhar aos nossos telespectadores da TV Senado e aos ouvintes da Rádio Senado que lessem um livro intitulado A Revolução dos Bichos ou assistissem ao documentário Quanto Vale ou é por Quilo?, que fala muito bem sobre o modelo de governo ou sobre o sistema de ONGs que dominam esse modelo. Na verdade, as ONGs são usadas, Senador Heráclito, para financiar, inclusive, campanhas políticas.

O SR. HERÁCLITO FORTES ((DEM - PI) - É verdade.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - E nós precisamos ir fundo nisso, não desistir. Eles não querem investigar, mas o povo o quer, sim. E pelo menos uma coisa já é verdade no Brasil: acabou aquela história de que toda ONG era sacrossanta. Falava-se em ONG, e era uma coisa em que não se podia mexer. Só havia gente boa, só gente puríssima. Está provado, como disse o ex-Senador Bernardo Cabral, que muitas delas têm fachada de catedral e fundos de bordel, com todo respeito aos bordéis.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - V. Exª tem toda razão. Isso é inaceitável, até porque a lógica manda que, se as ONGs são lícitas, se as ONGs atendem ao apelo e ao chamamento social, o Governo deve ser o primeiro, dando o bom exemplo, a abrir suas contas. No momento em que se cobra, por exemplo, que a cota de passagem dos Senadores ou a despesa indenizatória seja colocada na Internet, por que não se cobra o mesmo dessas ONGs? Passagem, usada ou mal usada, é usada. Ninguém sabe o que se faz é com dinheiro de ONG. E esse pessoal vem para cá para tentar nos colocar na lona, na corda, contra a parede, meu caro Presidente, apenas com o objetivo de que os fatos graves que acontecem com ONGs, com Oscips e com derivados não sejam verdadeiramente apurados.

Desafio que se mostre um Estado brasileiro em que não haja um escândalo envolvendo ONGs, ONGs ligadas, direta e umbilicalmente, ao Governo. O caso dessa ONG protegida pela Petrobras é presidida por ninguém mais ninguém menos do que a Vice-Presidente do PT estadual. E o coordenador ou orientador - deram um termo aqui para ele, acho que é orientador -, o distribuidor de verbas, é nada mais nada menos do que um assessor do Presidente da Petrobras, Sr. Sérgio Gabrielli.

Louvo a Folha de S.Paulo, louvo o Estadão e só espero que eles não se dobrem ante a arrogância do Sr. Sérgio Gabrielli, que é um homem importante, que é um homem de visão mundial, de projeção mundial. Agora mesmo, vai receber o título de Homem do Ano, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Em maio, vai receber o título de Homem do Ano. Espero que tenha noção da dimensão do prêmio que recebe e não permita macular essa organização pelo fato de dar um título a um homem que é abastecedor de falcatruas cometidas pelas ONGs pelo Brasil afora.

Senador Mão Santa, com o maior prazer, escuto V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, quero falar desse negócio de prazer. Eu fazia o milésimo pronunciamento, e V. Exª relembrou o erro, o pecado que cometi por votar no PT em 1994. Mas já pedi perdão a Deus e ao povo, já sofri e tal, mas realmente o pecado foi grande. Mas quero dizer que, na nomeação desse Francisco Guedes, eu os elegi e fui convidado. Tenho um relacionamento muito respeitoso com o Líder Ciro Gomes, pela proximidade do Ceará, e votei nele em 1998. Em 1994, votei no Quércia, que era do meu Partido. Em 1998, não era do PSDB, e votei. Então, por isso, ele tem sempre uma gratidão, um respeito. E fui à posse. Tinham votado no povo do PT que era do Piauí, e esse era o maior cargo que o PT deu ao Piauí. Nunca antes um Governador foi tão desmoralizado! Fernando Henrique deu Ministério, como todo mundo. Petrônio foi Ministro. V. Exª foi Líder do Governo e me ajudou muito do outro lado. E o maior cargo que existia era esse da Codevasf. Então, fui chamado. Incompetência houve, mas houve corrupção mesmo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Corrupção?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Foi. Mostraram-me isso e me disseram que eu não reagisse, porque não dizia respeito ao Piauí. Daí, eu nunca... O Ciro estava ali com sua austeridade, com sua moral. Atentai bem para a coragem de admitir, já que o Governador dizia que era o menino de Luiz Inácio, que era da mesma linha. Era o único cargo que existia no Piauí. Nunca conseguiu nenhum cargo de prestígio, de moral e de dignidade. Tirou mesmo. E não houve reação. E está aí V. Exª. É a sabedoria popular, que diz: “Quem faz um cesto faz um cento”. E digo o seguinte: em São Paulo, dizem que esse PT já matou, rouba e mente; no Piauí, ainda não matou, mas rouba e mente como nunca dantes na história.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Mão Santa, e eu que pensava que era só incompetência! Agora, V. Exª nos dá a informação de que também era corrupção. Não há nada mais desastroso para a atividade pública do que casamento entre corrupção e incompetência. Aliás, no Brasil, havia os que tinham como símbolo de governo “rouba, mas faz”. Mas o incompetente só rouba, não faz. É um desastre! E fico muito feliz por ter recebido essas informações, porque delas não tinha conhecimento, e elas foram prestadas ao Senador Mão Santa pelo Ministro Ciro Gomes.

No Brasil, estamos vivendo uma fase em que o corrupto não é punido, é premiado. E aí se estimula, cria-se escola. Mas eu queria que alguém me mostrasse a lógica desta questão: o que justifica pegar uma ONG de Pernambuco, cuja sede está em Madalena, bairro tradicional da capital pernambucana, e colocá-la para administrar os recursos dados a um projeto do Piauí? Vamos admitir que eles se dirijam para lá uma vez a cada mês, para administrar, para fiscalizar os R$150 mil empregados. Quanto não se gasta em despesa com viagem, com combustível, com hospedagem, com idas e voltas, com diárias?

O velho Dinarte Mariz, na época da revolução, tinha acesso ao terceiro ou quarto escalão do Palácio do Planalto, o que era uma grande vantagem, porque aqui ninguém tinha acesso a coisa nenhuma. Quando ele voltava do Palácio, a imprensa o cercava para saber de notícias. Ele, muito esperto, muito vivido, voltava do Palácio e sentia, pelo semblante das pessoas, como estava o clima. Então, em ar de mistério, dizia o seguinte: “O que é não sei bem, mas que há ‘caquer’ coisa nisso, há”. A mesma coisa digo com relação a esses contratos: que há “caquer” coisa. Peço permissão à História para parafrasear o velho Dinarte Mariz.

E, a cada dia, Senador Mozarildo, somos surpreendidos com fatos dessa natureza. Não estou falando de um Governador que está estreando nessa prática, mas que convive com ela, que com ela se acostumou, como um viciado em droga. O Governador do Piauí está condenado pelo Tribunal de Contas por uso indevido de recursos públicos numa conta única do Estado. Condenado e multado. Obras suas estão paralisadas. Enfim, qual é a autoridade que tem um Governador para coibir um contrato dessa natureza, se não dá o bom exemplo?

Qual é a autoridade?

Lá, no Piauí, há outro escândalo, é o escândalo das obras virtuais. O Senador Mão Santa até já falou nisso certa vez. Há um álbum fotográfico com obras anunciadas pelo Governador, como o Aeroporto Internacional de São Raimundo - a casa de passageiros é uma coisa fantástica! Aí se incluem obras na área de turismo em Parnaíba; colocam-se obras em Cristino Castro. Se V. Exªs tiverem acesso a essas fotografias... E vou mandar a cada um dos senhores uma cópia, vale a pena ver isso, parece que estamos vivendo em outro planeta. Parece.

Ontem mesmo, vi alguém em um jornal de Teresina - tive acesso aqui, pelo laptop - falando que o Piauí terá três aeroportos internacionais.

Parem de mentir e enganar os piauienses! Nós poderemos ter um aeroporto cuja pista pode receber um avião que venha do estrangeiro, que venha de um país vizinho ou distante, mas, para se ter um aeroporto internacional, é preciso que haja a autorização de uma organização internacional que trata da matéria, que autoriza, e não há sequer um pedido por parte do Governo do Piauí, ou da Anac, ou de quem quer que seja para essa regularização.

Aliás, o Governador, com sua megalomania, prometeu vôos regulares entre a Itália e o Brasil. Chegou a fazer um vôo, Senador Mozarildo, um vôo charter, gastando milhões, deslocando caminhões de combustível de Teresina para Parnaíba - naquela época, não tínhamos posto de abastecimento de gasolina de aviação em Parnaíba. O avião desceu uma vez, nunca mais.

S. Exª promete a construção de três ou quatro hotéis, que serão os melhores do mundo, com campo de golfe, e os hotéis dos empresários locais estão fechando por vários motivos, inclusive por insensibilidade do Governo, que manda cortar a luz, que permite que cortem a luz, corta o serviço de água e dá um arrocho com relação a impostos.

Senador Mozarildo, mais uma vez.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Ouso pedir novamente um aparte a V. Exª, porque há um ponto também fundamental no pronunciamento de V. Exª. Primeiro, as ONGs, que também têm a ver com a corrupção diretamente. Mas, agora, exatamente quando V. Exª faz essas ponderações sobre a corrupção no seu Estado, e que está generalizada no Brasil, acho que é um momento muito oportuno para pensarmos - quando digo nós, refiro-me a todos os Poderes da República e a todas as instituições -, para haver um trabalho sério junto aos jovens, para educá-los contra a corrupção. V. Exª diz que, de tanto ver as pessoas fazerem corrupção e não acontecer nada, cria escola. Então, isso é preciso. Quero fazer dois registros aqui: um sobre o Ministério Público de Santa Catarina, e outro, do Estado de Roraima, meu Estado, que estão indo às escolas para fazer palestra para as crianças e mostrar, por exemplo, que furar a fila da merenda é um ato de corrupção, que ficar com o lápis do coleguinha é um ato de corrupção. Isso, muitas vezes, as famílias não têm tempo para fazer, lamentavelmente. É uma coisa que, antigamente, se dizia que vinha do berço. Às vezes não vem. Então, é preciso que se tenha na escola. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em parceria com o Governo do Distrito Federal, está fazendo esse mesmo trabalho nas escolas. Até quero, com muita honra, dizer que tenho a felicidade de ver a minha filha coordenando esse projeto. Ela está indo lá, justamente, para dar essas palestras para as crianças, para mostrar que esse exemplo de corrupção não deve ser seguido por elas. Também acho que aqui há um outro ponto: o eleitor. Ele tem de ter a consciência de que é ele que coloca o prefeito, o vereador, o deputado estadual, o governador, o deputado federal, o senador e o presidente da República. E, agora, teremos, em 2010, uma oportunidade de ouro para o eleitor tirar da vida pública ou não deixar entrar nela aqueles que não prestam. Então, quero acrescentar ao pronunciamento de V. Exª esse trabalho que precisa ser feito com jovens, desde a infância, e com o eleitor, para que eles tenham, realmente, consciência de que, só se muda, se toda a sociedade quiser.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Eu agradeço a V. Exª, mas quero dizer que, antes de o PT assumir o Governo, não vivíamos num País de puros. Havia irregularidades, denúncias de corrupção, mas os governantes apuravam: demitiam Ministro, afastavam diretores. Agora, não. Há um mutirão recuperando ou tentando recuperar os punidos e os envolvidos em escândalos. Houve uma profissionalização, uma generalização, uma banalização da corrupção no País.

Pois é! O nosso Presidente fala sobre o retorno do Delúbio, que divide corações no PT. Uns são contra, outros, não; uns com sinceridade, outros nem tanto. Mas esse é um tema que está na moda.

Eu fico triste. A coisa que mais peço é não ter de vir para a tribuna para falar dessas mazelas que acontecem no meu Estado, porque faço isso com muita tristeza.

Como seria bom se todas as placas colocadas pelo Governador, no seu primeiro ano de Governo, prometendo estradas, obras de turismo, infraestrutura, hidrelétrica, tudo aquilo fosse verdade! Como seria bom se, em Luiz Correia, tivéssemos hoje um canteiro de obras funcionando a pleno vapor para inaugurar, cumprindo o que o Governador prometeu, agora em dezembro próximo, o nosso porto! Como seria bom! Como seria bom, por exemplo, se estivéssemos já com o novo Centro de Convenções, com o projeto do Ohtake, inaugurado no Piauí, e não aquele construído por Dirceu Arcoverde, que passou por um processo de reforma, paralisado, por denúncia de corrupção! É lamentável!

Amanhã, segunda-feira, os ventríloquos do Governador vão-me atacar, vão dizer que não gosto do Piauí, que não amo o Piauí, que denuncio isso porque não faço nada para ajudar o Piauí. A maior ajuda que tenho dado ao Piauí é alertar os piauienses para o perigo que se está vivendo pela falta de projeto.

O Piauí envergonha a nós, piauienses, pelos índices baixos de crescimento, de desenvolvimento. Está-se governando o Estado na lábia, na conversa, no engodo. Num momento em que o País se debate com uma crise, no momento em que o mundo enfrenta uma crise, a economia do Estado padece, mas o Governador não se cansa de enaltecer obras que só se encontram no seu sonho e na sua imaginação.

Lá, nem pão nem circo. É sofrimento, sofrimento nas filas de hospitais, e o Secretário de Saúde, meu caro Mozarildo Cavalcanti, marcando a abertura de uma concorrência na Sexta-Feira da Paixão. Nem a Cristo ele respeita, a não ser que seja homenagem aos ladrões que cercaram Cristo naquele momento de dor e de sofrimento. É triste, é lamentável, mas é verdade.

Só uma coisa de mim eles não vão conseguir, é que eu siga, para o bem deles, a filosofia do macaco: não vê, não ouve, não fala. De mim, não. Vou falar, honrando os piauienses que me colocaram nesta Casa, para denunciar as mazelas constantes que se cometem naquele Estado, num atentado ao nosso povo e à nossa gente.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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