Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao descobrimento do Brasil. Críticas à atuação da Justiça Eleitoral que tem cassado mandatos de prefeitos e governadores.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ELEIÇÕES.:
  • Homenagem ao descobrimento do Brasil. Críticas à atuação da Justiça Eleitoral que tem cassado mandatos de prefeitos e governadores.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2009 - Página 12202
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ELEIÇÕES.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), FESTA, PARTICIPAÇÃO, POVO, ANIVERSARIO DE MORTE, JOAQUIM JOSE DA SILVA XAVIER, VULTO HISTORICO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), LUTA, INDEPENDENCIA, BRASIL, TANCREDO NEVES, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, RESPONSAVEL, PROCESSO, REDEMOCRATIZAÇÃO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, DESCOBERTA, BRASIL, DETALHAMENTO, HISTORIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, CRIME ELEITORAL, BRASIL, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, JUDICIARIO, CASSAÇÃO, PREFEITO, NEGOCIAÇÃO, LIMINAR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador João Pedro, que preside esta sessão de 22 de abril de 2009, Parlamentares presentes, brasileiros no Senado da República e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Geraldo Mesquita, este é um País rico na sua história e feliz do nosso Presidente Luiz Inácio, que tem dito que não gosta de ler, não gosta de estudar. Ele que disse. E, no seu linguajar muito sincero, franco e verdadeiro, que eu admiro, ele disse, certa vez, que ler uma página de um livro dá uma canseira; que era melhor fazer uma hora de esteira.

Mas ele é feliz. Ele é Presidente deste grandioso País, João Pedro. Não precisa ele se aprofundar, buscar exemplo nas outras histórias, conhecer, pelo próprio estudo, a história universal, a civilização da humanidade. Aqui mesmo, nós temos uma história bonita.

Ontem, aqui, aqui, aqui, que beleza! Um milhão, mais de um milhão, presentes na capital da República, comemorando o 49º aniversário da nossa capital. E é tão rica a nossa história. Isso é para felicidade do Presidente. Basta sentir a história. E, ontem mesmo, não era só aniversário de Brasília. Comemorava-se o enforcamento daquele que quis acompanhar o primeiro grito democrático do povo.

Na França, em 1789, o povo gritou: “Liberdade, igualdade e fraternidade!” E caíram os reis. Quiseram os mineiros fazer o mesmo aqui e foi simbolizado por esse herói que a história coloca como uma imagem - a história! Não estou dizendo que é verdade -, que o assemelha fisicamente até com Cristo.

Então, comemora-se neste País, ainda, para aquele dia, este dia da euforia de ontem, que em Brasília todos nós sentimos, a morte daquele que se imolou pela redemocratização: Tancredo Neves. Ele morreu ali, também.

Mas este País é tão rico e a história nos ensina, não sem razão, a que nós nos curvamos - e é nosso guia, tem sido nossa luz - aos Estados Unidos da América, pelo seu trabalho, pela sua liberdade e pela sua riqueza. Mas são oito anos só mais velhos. Numa história de mais de quinhentos anos, oito anos é tempo insignificante. Nós temos muita história, e hoje é um dia para a gente rememorar isso, essa grandeza.

Além das justas comemorações de ontem, Paim, hoje, dia 22 de abril, comemora-se o descobrimento deste País. Vamos fazer uma retrospectiva para todos os brasileiros saberem que jamais...

Meu querido Presidente Luiz Inácio, esse negócio de “nunca antes...” A gente sabe que a emoção o leva a falar assim, mas vamos dar uma freada nisso. Dizer “nunca antes” é indevido, não é por aí. Primeiro, porque isso é inspiração do Camões, que dizia: “Por mares nunca dantes navegados”. É um país que tem a sua própria história de quinhentos anos. Se foi por acaso ou se foi por consciência mesmo que eles chegaram são outros quinhentos. Mas, desde então, tenta-se governar este País.

A nossa civilização é a dos europeus, que nos descobriram. Eram grande gente, inclusive os portugueses, que não podemos minimizar. Aliás, há um vício horrível de se minimizar a inteligência dos portugueses. Isso é feio. Primeiro, porque não é isso que a história nos ensina: eles eram tão grandiosos que este mundo foi dividido, por um tal de Tratado de Tordesilhas, em dois, metade - não interessa o caso - da Espanha, metade de Portugal.

Eles têm muita história. Eles são os pioneiros desta globalização. Mas o fato é que eles, chegando aqui e vendo esta civilização... Nós agradecemos, o mundo está ai com civilizações múltiplas, mas a nossa é européia, é essa que nós temos. Eles procuraram governar o nosso Brasil.

A emoção com que se fala esse negócio de parceria público/privada não é satisfatória não. Eu nunca falei bem nem mau. Eu ficava com uma interrogação, porque foi a primeira idéia, Senador João Pedro, foi essa. A capitania hereditária, Pedro Simon, foi uma parceria público/privada. O que fazer com aquele montão de terra? Os portugueses, que não são burros, pensaram: “Vamos dividir isso aí, vamos retalhar em catorze áreas de terra e dar para portugueses ricos”. Muitos deles foram degredados, havia um bandido mesmo que era da elite; viram-se premiados para trazer seus capitais e desenvolver o Brasil.

Não deu certo, João Pedro. Não deu certo, porque não havia o que hoje sabemos ser necessário: unidade de comando e unidade de direção. Isso é o que se aprende na Administração moderna.

Aí eles mudaram para o governo geral. Colocaram três homens, cada um com suas características culturais, mas européias: o Tomé de Souza, o Duarte da Costa e o Mem de Sá, que ainda trouxe um sobrinho que fez o Rio de Janeiro. Foram governos eficientes e profícuos.

O grande desenvolvimento deste País, porém, começou foi em 1808.

Em 1808, veio para o Brasil o Rei de Portugal. Era um homem inteligentíssimo - não se pode, como querem alguns, dizer que ele era um glutão, que só sabia comer. Tirando o folclore, D. João VI era um homem de inteligência privilegiada. Dom João VI foi o único que Napoleão não venceu. Quando viu que ia perder, que Napoleão já tinha invadido a Espanha e que ia tomar Portugal, aliou-se aos inimigos da França, que eram os ingleses.

E a nossa dívida começa aí, com os ingleses, que salvaguardaram a vinda de D. João VI. A força inglesa era tão grande que a importação dos produtos ingleses pagava imposto menor que aquele que se cobrava de Portugal: se cobravam 15% sobre um produto inglês - e eles foram os primeiros industriais -, o imposto cobrado sobre produtos de Portugal era maior; para os outros, era 23%

Essa dívida vem daí, mas veio também o progresso, e foi em pouco tempo. Atentai bem! Foi um grande progresso: trinta mil portugueses, burocratas, criou-se Salvador, a primeira Faculdade de Medicina, os primeiros jornais, teve início o desenvolvimento, tudo.

D. João teve de voltar para participar da divisão da Europa quando Napoleão foi derrotado. Fez-se um tal Reino Unido - Brasil, Portugal, Algarve - para poder participar. Deixou o filho, que aqui ficou e cumpriu sua missão de tornar o Brasil realmente independente - cada um tem a sua missão.

Depois veio o Pedro II, que deixou um grande ensinamento. Era um homem estudioso, pacato, tolerante, respeitoso, e governou este País por 49 anos. A unidade deste País grandão, com uma língua única, deve-se a Pedro II.

E um ensinamento que ele nos dá e que eu queria repetir para o nosso Presidente: ele viajou pouco. Hoje comemora-se que Luiz Inácio foi para o pódio como o Presidente que mais viajou: já passou do Fernando Henrique. Vai deixá-lo na poeira, porque ainda faltam - e nós desejamos que seja assim - muitos anos de governo.

Em 49 anos, Pedro dos dias de hoje, Pedro Simon, ele viajou poucas vezes: duas vezes para a Europa, algumas vezes aqui para a América do Sul. Para a Europa, duas vezes só. Em uma delas, escreveu para sua filha: “Isabel, minha filha, estrada é o melhor presente que você pode dar a um povo”. A importância das estradas! Isso é tão atual...

Atentai bem! Veio outro Presidente, que dizia: “Governar é fazer estradas”. Veio o maior de todos, o pai de Brasília, o que mostrou o sofrimento deste Senado - vimos o melhor de todos ser sacado bem daqui, humilhado, cassado, mostrando como a nossa história é rica e como é difícil a democracia. Bem aqui! Estou falando de Juscelino. Ele disse que governar é energia e transporte.

Então, esse dia foi de ensinamento. Cada um cumprindo a sua missão. Depois dos ensinamentos desse Pedro II, vieram as Repúblicas, Deodoro, Floriano.

         E o maior ensinamento não foi de um Presidente, foi do Pedro Simon daquela época: Rui Barbosa. Quando ele viu que queriam colocar o terceiro militar, disse: “Tô fora!” - ofereceram-lhe um ministério que ele já tinha ocupado, o da Fazenda. “Não troco a trouxa de minhas convicções por um ministério”, esse é o grande ensinamento. Hoje, Pedro Simon, estão trocando não é por ministério não: estão pegando carguinho, DASzinho, facilidades de passagens e desmoralização para se manter isso. Ele não chegou à Presidência da República, mas nos deu grandes ensinamentos.

Cada um tem, Luiz Inácio, a sua missão. Não vou dizer que todos eles cumpriram tudo...

Mais recentemente, tivemos Getúlio Vargas, o primeiro período de exceção. Foi um extraordinário estadista que deu o exemplo do trabalho. Pedro Simon, acabei de ler de um jornalista de vocês A Era Vargas. Que beleza essa obra sobre Getúlio Vargas! Que homem estudioso, que homem trabalhador, que homem competente! Tudo, tudo, tudo. Tudo. Então, ninguém pode dizer, meu caro Presidente Luiz Inácio, nunca antes. Muito antes.

Getúlio, bondoso, generoso! O homem não escolhe a época de governar. Ô João Pedro, não escolhe. E ele, para entrar, teve que fazer uma guerra, por corrupção eleitoral, que está ganha. A corrupção eleitoral neste Brasil está mais vergonhosa.

Esses processos de cassação são só para dar dinheiro a esse Poder Judiciário. É uma malandragem no Brasil afora, degolando os prefeitinhos por liminares que são vendidas e, no outro dia, renegociadas. E foi por isso que o Getúlio entrou. Porque achava que estava um sistema eleitoral - está entendendo? -, um sistema corrupto, que nós estamos vivendo hoje. Isso não é justo. Pode fazer a reflexão. E o povo brasileiro já está começando a fazer.

Então, queria lhe dizer... Mas ele teve três guerras. Uma para entrar; uma, os paulistas quiseram derrubá-lo, e outra, para fazer renascer a democracia.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - V. Exª está falando para uma comunicação inadiável, que são cinco minutos. V. Exª já falou quinze, mas V. Exª tem mais um tempo aqui.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Do tamanho do Amazonas.

Mas o que eu queria dizer era isso: três guerras. Exemplos. Depois, se seguiram aí os eleitos, esse Juscelino, de que falamos. Todos. Mesmo rápido, o Presidente Collor reviveu o D. João VI. Tentou aí modernizar. Esse Juscelino, que fez Brasília no centro, industrializou o Sul, que não tinha nada, nada, nada: automóvel, avião, nada. Ele colocou essas superintendências de desenvolvimento do Norte e do Nordeste para tirar a desigualdade.

Esse Sarney, de que ninguém pode dizer nada, teve o grande mérito: a transição democrática na paz. Um homem do bem, na paz, do qual nos orgulhamos.

O Fernando Henrique Cardoso enfrentou o monstro que tinha que enfrentar. Eu não sei, cada um fique com o DNA, se foi o Itamar ou ele, mas sei que o monstro era a inflação.

Agora, Presidente Luiz Inácio, o nosso monstro está aí. O nosso monstro é a verdade da insegurança, da violência. Esse é o monstro que...

Permito ao Pedro Simon, em uma homenagem ao Descobrimento do Brasil, fazer esse aparte.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Meu querido Presidente, meu grande companheiro Mão Santa, eu tenho que me desculpar. Lamentavelmente, um chamado urgente me levou para Porto Alegre e eu tinha que estar aqui na sexta-feira para assistir a seu milésimo pronunciamento. Eu sei, já me informaram, e eu assisti. A assessoria de meu gabinete teve a gentileza de preparar para mim e, na segunda-feira, assisti, em meu gabinete, ao pronunciamento de V. Exª. Meus cumprimentos pelo seu milésimo pronunciamento. Se o Pelé comemorou os mil gols e se o Romário comemorou os mil gols, por que nós não vamos comemorar o milésimo pronunciamento de V. Exª nesta Casa? Geralmente é uma linha como hoje.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha)

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Hoje V. Exª se prende a um período importante da formação deste País, quando se tornou independente e quando ele formou sua personalidade. E V. Exª está lembrando três nomes fantásticos da História deste País, na minha opinião: Dom Pedro II, que considero uma das figuras mais memoráveis que conheço, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck. Não há dúvida nenhuma. O Brasil, a História do Brasil, o eixo do Brasil, passa por esses três grandes nomes da História brasileira. Agradeço a V. Exª. Assisti à gentileza de suas referências à minha pessoa. Inclusive referindo-se a mim em seu pronunciamento. Realmente, a seu pedido - e foi uma bela idéia, não calcula a aceitação que está tendo -, eu lhe entreguei o decálogo de como vejo e como sinto a vida política brasileira. E para surpresa minha, Senador, o senhor não calcula, o gabinete de V. Exª - deve ser, porque não fiz nada, só mandei para V. Exª -, deve ter enviado com o discurso de V. Exª. E estou recebendo todo dia manifestações de carinho com relação ao pronunciamento que V. Exª fez com relação à minha pessoa e ao decálogo que V. Exª teve a gentileza de ler dessa tribuna. Eu lhe agradeço muito. Se fui à emoção assistindo, na segunda-feira, no meu gabinete, ao seu pronunciamento, qual não teria sido a minha se eu estivesse aqui? E venho aqui, pois, lhe dizer muito obrigado. E venho aqui para lhe dizer muito obrigado. Daqui a pouco, vou subir à tribuna, fazer um pronunciamento importante para a minha Nação com relação à minha pessoa. Mas lhe digo com muito carinho: muito obrigado. Fico lhe devendo mais essa, na simpatia, na amizade, no carinho que temos um pelo outro.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pedro Simon, nós que agradecemos. E quero convidar V. Exª, pois já está em confecção aquele decálogo para a 3ª Secretaria, que nós ganhamos apoiado por V. Exª. Não tem nenhum quadro ainda, ele vai ser gravado lá.

Então, nós fomos premiados com a convivência dele, com o aprendizado dele, que isso deveria ser passado à atual juventude política do Brasil, como Abraham Lincoln fez o seu decálogo, Benjamin Franklin, outro dia o Fernando Henrique fez um livro aos jovens. E hoje mesmo recebi oferta de um empresário do Piauí, para colocar 10 outdoors com o decálogo de V. Exª nas ruas das cidades do Piauí. Então, são fatos como esses, mas comemorando o Brasil.

Eu canto o Piauí. Olha, nós do Piauí... Peço um minuto só para explicar a grandeza dele. Ele é o que é, mas acontece que nós, nesse emaranhado de governabilidade, de capitanias hereditárias, governos gerais, regência, ficamos 200 anos dependentes de Pernambuco. Quando nos livramos, fomos dependentes do Maranhão. Então, agora, que temos 158 anos da nossa capital, que ensinou a todos, foi a primeira planejada. Se teve festa em Brasília foi porque o piauiense fez a sua primeira capital planejada, antes de Goiânia, antes de Belo Horizonte, antes de Sergipe, antes de Brasília e antes de Palmas. Nós tivemos a coragem, numa batalha sangrenta, de expulsarmos os portugueses para que esta Pátria fosse una.

Então, os meus parabéns pelo Dia do Descobrimento, que comemoramos, mas nós temos que descobrir aquela justiça social, que é dinheiro no bolso de quem trabalha.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2009 - Página 12202