Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestações de aplauso e de pesar, por razões que especifica. Relato sobre a angustiante situação por que passa o interior do Estado do Amazonas, atingido por inundações, e reclamação por providências de socorro às vítimas.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Manifestações de aplauso e de pesar, por razões que especifica. Relato sobre a angustiante situação por que passa o interior do Estado do Amazonas, atingido por inundações, e reclamação por providências de socorro às vítimas.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2009 - Página 12384
Assunto
Outros > HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, A CRITICA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), CUMPRIMENTO, DIRETORIA, FUNCIONARIOS.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, ITACOATIARA (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, POPULAÇÃO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX PREFEITO, MUNICIPIO, AUTAZES (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • GRAVIDADE, INUNDAÇÃO, RIO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), CALAMIDADE PUBLICA, MUNICIPIOS, DETALHAMENTO, SITUAÇÃO, DADOS, PERDA, HABITAÇÃO, DIFICULDADE, PREFEITURA, LOGISTICA, DISTRIBUIÇÃO, CESTA DE ALIMENTOS BASICOS, EXPECTATIVA, ANTECIPAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL.
  • EXPECTATIVA, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, BRASIL, AUXILIO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), FAMILIA, BAIXA RENDA, VITIMA, INUNDAÇÃO, NECESSIDADE, ALIMENTOS, MEDICAMENTOS, VESTUARIO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, antes de mais nada, cumpro, com muito prazer, dois compromissos ligados à vida do meu Estado, que é requerer um voto de aplauso ao jornal A Crítica, de Manaus, pelo transcurso do seu 60º aniversário de criação. É uma homenagem que faço ao meu querido amigo, falecido, jornalista Umberto Calderaro Filho, com quem eu mantinha relações de enorme fraternidade.

E requeiro ainda seja esse voto de aplauso levado ao conhecimento da Diretora-Presidenta do jornal, minha ex-professora Rita de Araújo Calderaro, e, por seu intermédio, à Vice-Presidente Tereza Cristina Calderaro Corrêa, bem como aos familiares do fundador e da Presidente, a começar pelo esposo de Tereza Cristina, Mário Corrêa Júnior, pela minha afilhada de casamento, Tatiana Calderaro Tomaz, pelos jornalistas Dissica Tomaz Calderaro e Umberto Tomaz Calderaro, netos do fundador, e a sua esposa, professora Rita.

Ainda, por intermédio da Diretora-Presidenta, peço que seja esse voto transmitido aos dirigentes e membros da redação e da administração, aos jornalistas gráficos e aos demais funcionários da empresa.

Do mesmo modo, Sr. Presidente, um voto de aplauso ao Município de Itacoatiara, que, no dia 25 de abril, completará o seu 135º aniversário de fundação.

A vila de Serpa, a velha Serpa é hoje um Município extremamente futuroso, o primeiro Município que, quando voltei do Rio de Janeiro, para militar politicamente no Amazonas, recebeu-me com muita confiança em que eu poderia ter algum futuro na vida pública do Estado.

Peço que o voto de aplauso seja levado ao conhecimento do Prefeito municipal Antônio Peixoto de Oliveira e, por seu intermédio, ao Presidente e demais membros da Câmara de Vereadores, ao Poder Judiciário local e principalmente à população desse Município tão querido.

Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, um voto de pesar pelo falecimento de um querido amigo, o ex-Prefeito do Município de Autazes, no Amazonas, José Inácio da Silva Siqueira Melo, figura muito querida, muito honrada e que fez muito pelo Município de Autazes.

Sr. Presidente, faço à Casa um relato da situação angustiante que vive o Estado do Amazonas. O interior está absolutamente invadido pelas águas. As águas do rio Negro sobem 4cm/dia; as águas do rio Solimões talvez atinjam 6cm/dia. A mesma coisa vai acontecendo com o rio Purus, o rio Juruá, o rio Madeira, com todos os rios que compõem aquela malha de águas tão bonita, tão estonteante. Acho que neste momento exercem um efeito devastador sobre a vida dos amazonenses.

Pedi a constituição de uma comissão externa do Senado, para visitarmos os Estados da Região Norte. Pedi que dessa comissão externa fizessem parte Senadores e Senadoras de outros Estados, até para perceberem como é difícil a vida na minha Região.

Mas vejo que os Municípios que estão bastante acima do nível do mar, como é o Município de Tapauá, por exemplo, 33 metros acima do nível do mar, só sofrem os efeitos da enchente na sua zona rural. Isso é preocupante. Mas, ao lado de Tapauá, tem Canutama, que está literalmente embaixo de água. Suas avenidas viraram rios, com talvez 80 cm de profundidade em alguns trechos. Nós sabemos que, quando as águas baixam, vêm as doenças, entre elas a leptospirose, que é transmitida pela urina dos ratos. Os ratos atraem as cobras, que têm nos ratos uma parte da sua cadeia alimentar - animais perigosos que se defendem, como a arraia; escorpiões aparecem.

Em alguns Municípios, portanto, a situação é mais controlada. Em Parintins o prefeito está muito atento, tem recursos em caixa. Está dando assistência às vítimas da enchente. Mas ao lado tem Barreirinha, que está literalmente alagado o Município, na sede e na zona rural.

O Município de Itamarati, no rio Juruá, está alagado, enfrentando muitas dificuldades. Outro dia eu passei por lá rapidamente e me disseram que uma mãe de família, uma senhora entrou na casa e viu uma cobra dentro da casa e com sua filha dentro, uma cobra grande, gigante. Então foi Deus que a levou a retornar a casa naquele momento.

Uma outra casa sofreu um choque, uma pequena casinha, de um peixe chamado poraquê, que transmite um grande choque elétrico, capaz de acender não sei quantas lâmpadas, conforme já foi demonstrado no Fantástico. Então, eu poderia citar todos os Municípios do Estado do Amazonas, todos. Todos estão com problemas. A previsão de desabrigados em Manaus, segundo a Prefeitura de Manaus, vai da previsão otimista de trinta mil desabrigados à previsão pessimista de cinqüenta mil desabrigados.

O Governo Federal e o Governo Estadual têm liberado cestas básicas, mas é preciso mais do que ter as cestas básicas. É preciso a logística que tem sido coberta pelos Prefeitos. Os Prefeitos vão buscar um caminhão, vão despachar as cestas básicas, enfim, e às vezes os Municípios não contam com embarcações, como é o caso de Barreirinha, prontas para esse trabalho. Foi preciso ajuda do Município de Parintins, que tem um convênio de cidade-irmã, de cidade-amiga, com  
Barreirinha.

Portanto, é preciso muita atenção. Sei que é um fenômeno que deverá ser maior nos seus efeitos do que a grande cheia de 1953, mas é preciso que os Governos se antecipem e estabeleçam uma reação padrão, como se faz em cinema: não vai ter incêndio, a gente sabe que não vai ter e torce para não ter, mas, se tiver, as instruções estão todas dadas nos cinemas modernos. É preciso que se tenha sempre uma prevenção, para não se remediar uma situação que é extremamente difícil.

Eu faço aqui uma comparação. Houve aquela situação de enorme desgraça em Santa Catarina, que tocou a todos nós. Todos nos mobilizamos para ajudar o povo de Santa Catarina. Foi um momento muito bonito, em que eu vi irmanada a Bancada de Santa Catarina, que pode até entre ela divergir politicamente. Mas, naquele momento, estavam todos juntos, solidários àquele povo, o Senado inteiro.

Eu me ressinto de mais solidariedade em relação ao meu Estado e à minha região, porque seria o caso de já estarmos trabalhando, em termos do País, num SOS Amazonas; um SOS Amazonas, porque as pessoas precisam de roupas, precisam de alimentos, precisam de remédios, precisam de assistência. Precisam muito disso.

E eu estou muito consternado com esse quadro, que é um quadro de absoluta gravidade, porque vai acabar envolvendo a vida, talvez, de cem mil pessoas ou mais, não sei, vai depender muito da evolução das águas, que estão subindo de maneira desmedida, desmesurada. Com prefeituras com arrecadações cadentes, em função da própria crise econômica brasileira e das concessões que o Governo Federal faz em relação à isenção de Imposto sobre Produto Industrializado - IPI. A arrecadação cai, as compensações não são certas, o Governo anuncia, mas de maneira vaga, não diz a fonte, e os prefeitos têm de assistir os moradores colocando em casas, geralmente em abrigos, famílias, inúmeras famílias. Depois, essas famílias terão que receber madeiras para reconstruírem as suas casas. Para as famílias, isso é um drama comovente. É preciso conhecer muito a região. As famílias hesitam em sair de casa, elas não querem sair de casa, porque é só o que elas têm, é a única coisa que elas têm. Elas não querem sair de casa. Elas, em ultimíssima instância abandonam o lar. Alguma pessoa mais abastada poderia dizer: “Puxa vida, mas por que tanto apego?” Dá para entender: é o que elas conseguiram ao longo de uma vida, pessoas muito pobres, muito humildes, é o que elas conseguiram ao longo de uma vida.

Então, não querem abandonar de jeito algum aquele pouco que elas detêm como patrimônio de uma vida. Então, é muito triste quando se passa e se vê a fechadura nas casas já abandonas; quando se vê o esforço de alguns empreendedores que estão torcendo para o rio não subir mais, porque se isso ocorrer vão ter de retirar rapidamente dali os eletrodomésticos que vendem, que custaram caro e que precisam repassar aos consumidores.

É uma situação extremamente dura, constrangedora para a qual chamo a atenção, reiterando a urgência de se constituir essa comissão externa, de preferência colocando Senadores e Senadoras também de outros Estados, para que percebam um pouco como é a vida na região amazônica, para que percebam como é difícil, como é heróico viver-se ali, lutar como se luta naquela região.

Portanto, não me alongo, Sr. Presidente. Quero apenas marcar que estamos vendo tomar corpo uma tragédia, uma enchente maior do que a de 1953, uma verdadeira tragédia! Essa tragédia fará muitas vítimas, e essas vitimas precisam ser assistidas com muita rapidez pelos Governos Federal e Estadual. Os prefeitos precisam ser socorridos, porque estão com pouco dinheiro no tesouro municipal. É preciso muita solidariedade, muita ação, muita presença, é preciso muito sentimento de justiça, porque o que está acontecendo lá é o que deveria chamar mais a atenção do País. Até agora, chamou muito pouca atenção, é como se não estivesse havendo esse drama.

Estou aqui relatando que existe o drama e que esse drama machuca algumas das pessoas menos favorecidas deste País; algumas das famílias mais empobrecidas do Brasil; algumas das famílias mais sofridas do nosso País.

Portanto, insistirei nesse tema, porque estou vendo que preciso sensibilizar o Brasil para atitudes mais abertas e mais sensíveis em relação a quem garante a soberania brasileira sobre uma região tão estratégica, e garante a esse peso, a peso de tantos riscos. E agora vivendo um drama que está aí como uma resposta da natureza - a natureza dá suas respostas - mas, precisa da intervenção do homem também e dos governos, para se ter a certeza de que se está efetivamente sendo solidário com quem está tão abandonado e tão sofrido como é o povo de todo o interior do Amazonas. E agora já começa a haver alagação em Manaus também.

É absolutamente incrível como a área alagada, antes de baixarem as águas, já se torna insalubre naquelas regiões das palafitas, em Manaus mesmo. É o rato, a cobra, o escorpião, são as doenças, virão as hepatites. Então, quanto mais se faça de esforço para minorar tanto sofrimento daquela gente, significará, por parte dos governos, por parte de qualquer brasileiro que possa contribuir com o mínimo, significará algo justo e que só fará bem ao coração de quem praticar esse gesto, Sr. Presidente.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.


Modelo1 6/30/243:23



Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2009 - Página 12384