Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a reunião do G-20, realizada em Londres, e a relevância assumida pelo Brasil em encontros do gênero.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre a reunião do G-20, realizada em Londres, e a relevância assumida pelo Brasil em encontros do gênero.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2009 - Página 12441
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, REUNIÃO, GRUPO, PAIS INDUSTRIALIZADO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, ANALISE, CRESCIMENTO, RELEVANCIA, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, ELOGIO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECEBIMENTO, APOIO, CHEFE DE ESTADO, PRIMEIRO MUNDO, CONCLAMAÇÃO, BUSCA, SOLUÇÃO, CRISE, CONTROLE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, NECESSIDADE, REGULAMENTAÇÃO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, BANCOS, CONCESSÃO, CREDITOS, COMBATE, LAVAGEM DE DINHEIRO, COMPROMISSO, PARTICIPANTE, AUSENCIA, PROTECIONISMO, IMPORTANCIA, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Encerrada em Londres a reunião do G-20, que reúne representantes de 19 países, responsáveis por 90 por cento do Produto Interno Bruto mundial, podemos destacar 3 resultados positivos dos debates: o primeiro é a nova relevância assumida pelo Brasil em encontros do gênero. Tudo indica que os próximos anos serão marcados pelo fortalecimento, em bases consolidadas, de países emergentes como os chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China).

            Nosso país já começa a ganhar voz e assento na mesa da comunidade internacional. Menos afetado pela crise, e com possibilidades de se recuperar mais rapidamente, tem condições, devido à menor vulnerabilidade, de ser um dos líderes da fase de crescimento que virá depois da tempestade.

O segundo ponto é a positiva desenvoltura demonstrada pelo presidente Lula no encontro. O jornal “O Estado de S.Paulo” diz, em editorial, que seu desempenho “combinou sensibilidade, simpatia e lucidez”. Na verdade, Lula saiu consagrado da reunião. Sentou-se ao lado da Rainha Elizabeth II da Inglaterra, e ouviu do presidente norte-americano, Barack Obama, o homem mais poderoso do planeta, coisas como “eu adoro esse cara, ele é boa pinta”. Não lhe faltaram também elogios do primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy.

A espontaneidade do presidente serviu para amenizar a aridez dos temas tratados na reunião e também para proporcionar uma dose de otimismo e objetividade. Ao dizer que a hora é de olhar para a frente, em busca de soluções, e de compartilhar responsabilidades, chamou os líderes a encontrarem remédios que não sejam paliativos, que atinjam o coração da crise e livrem o mundo de novas ameaças. Suas intervenções foram, enfim, um chamado ao bom senso, à busca de mecanismos globais para acabar com o desgoverno do sistema financeiro.

A reunião, em parte graças à ação do presidente brasileiro, terminou com uma nota de esperança e confiança. No conteúdo, os líderes acertaram, como ao concordarem com uma nova estrutura de poder para o FMI, o Fundo Monetário Internacional, a partir de 2011 - para o qual, por sinal, o Brasil emprestará dinheiro, pela primeira vez em sua história.

            Aguarda-os, entretanto, uma tarefa gigantesca, que é a mudança da regulamentação financeira, nos países e no mundo. Como garantir a existência de sistemas bancários transparentes, ao contrário dos atuais, e ao mesmo tempo capazes de conceder crédito? Serão necessárias regras internacionais rigorosas e uniformes, para fiscalizar os mercados.

Como eliminar os “paraísos fiscais” onde se escondem fortunas ilícitas, ao abrigo de legislações complacentes, ou mesmo cúmplices com o crime organizado, o tráfico de drogas, a corrupção? Quanto ao perigo sempre presente do protecionismo, o compromisso do G-20, de não adotar medidas protecionistas, assinado em novembro, foi prorrogado até o fim de 2010. Mas isto não está impedindo que muitos países, nos últimos meses, tenham recorrido ao protecionismo como remédio para seus problemas, ignorando o fato de que ele foi um dos fatores agravantes da crise iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Um levantamento da Organização Mundial do Comércio revela que, nos últimos 5 meses, 17 dos 20 países recorreram a medidas protecionistas.

De qualquer maneira, o encontro em Londres foi essencial para restaurar a confiança que, nos últimos meses, parecia definitivamente perdida. Vale lembrar que 76 anos atrás, na mesma cidade de Londres, delegações de 66 países reuniram-se durante 6 semanas para encontrar soluções que ao menos amenizassem a Grande Depressão em que o mundo mergulhara.

Na época, dizia-se que “a conferência mais importante de todos os tempos não podia fracassar“. Divididos, os países participantes não conseguiram chegar a um acordo. A “conferência mais importante de todos os tempos” acabou em fracasso.

Seguiram-se anos de profunda recessão em todos os continentes, que favoreceram a ascensão de regimes totalitários e agressivos, e, por fim, veio a Segunda Guerra Mundial. Os líderes globais parecem ter aprendido com as lições do passado, tanto que se comprometeram com a adoção de medidas que, combinadas, chegam a um total astronômico, 1 trilhão e 100 bilhões de dólares. O mundo deve entender de uma vez por todas que o preço do fracasso no combate a uma crise econômica mundial pode ser alto demais.

Muito obrigado.

Era o que tinha a dizer.


Modelo1 5/18/247:23



Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2009 - Página 12441