Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre a violência no campo, ocorridas no Estado do Pará.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. REFORMA AGRARIA.:
  • Manifestação sobre a violência no campo, ocorridas no Estado do Pará.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/2009 - Página 12497
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, VIOLENCIA, ZONA RURAL, ESTADO DO PARA (PA), SITUAÇÃO, JORNALISTA, ADVOGADO, REFEM, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, COMENTARIO, ESFORÇO, GOVERNO FEDERAL, AGILIZAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), APRECIAÇÃO, PUNIÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, SUSPENSÃO, REPASSE, RECURSOS, PARALISAÇÃO, VISTORIA, PROPRIEDADE RURAL, POSSIBILIDADE, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA, VITIMA, INVASÃO.
  • QUESTIONAMENTO, VIOLENCIA, MOVIMENTO TRABALHISTA, RECEBIMENTO, RECURSOS, FINANCIAMENTO, ASSENTAMENTO RURAL, DESTRUIÇÃO, INSTALAÇÕES, INSUMO, DESTINAÇÃO, REALIZAÇÃO, PESQUISA, GENETICA, LAVOURA, ROUBO, GADO, AGRESSÃO, TRABALHADOR, LEITURA, ARTIGO, CODIGO CIVIL, GARANTIA, DIREITOS, PROPRIETARIO, DEFESA, PROPRIEDADE RURAL, VITIMA, INVASÃO, CRITICA, OMISSÃO, PODERES CONSTITUCIONAIS, MINISTERIO PUBLICO, LEGISLAÇÃO.
  • NECESSIDADE, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, GARANTIA, ESTABILIDADE, SEGURANÇA, CAMPO, CONTINUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, ATIVIDADE ECONOMICA, IMPORTANCIA, ECONOMIA NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta semana começou com uma nova cena de violência no campo. O palco foi o recorrente Estado do Pará. O episódio exibiu para todo o País a redução de jornalistas e uma advogada à simples condição de reféns do MST.

Quem viu as cenas pela TV certamente ficou estarrecido. A área invadida mais parecia uma praça de guerra onde pipocava o tiroteio e o corre-corre. Usados como escudos humanos, os reféns ainda foram obrigados a ouvir desaforos quando alertavam seus algozes dos riscos a que estavam expostos. “Vocês que estão na frente que se virem” - foi a resposta dos raptores ao grupo dominado. Enfim, um confronto que resultou em ferimento de quase uma dezena de pessoas. Na verdade, o radicalismo de certos movimentos já vem incomodando o próprio Governo há um razoável tempo.

Desde 2002, o Supremo está apreciando o mérito de uma ação através da qual são pedidas duas punições aos movimentos:

1) Suspensão dos repasses de dinheiro público a essas organizações;

2) Suspensão das vistorias em fazendas suscetíveis de reforma agrária, mas invadidas.

Hoje o próprio Governo articula para que a Corte Suprema promova logo o desfecho dessa contenda. É um sinal cristalino de que até o Presidente Lula se cansou dessas diatribes. A despeito de uma biografia rica de envolvimento com o MST e com outros movimentos populares, o Presidente não esconde mais a sua reprovação aos métodos adotados. Esse novo episódio não deixa dúvida de que a violência no campo exige mais atenção e mais energia por parte do Governo e de todas as autoridades que têm função institucional para decidir.

As cenas produzidas no Pará e exibidas para todo o País não deixam dúvida: a violência do campo exige determinação por parte do Governo.

A luta de camponeses por um pedaço de chão sempre foi reconhecida como legítima por toda a sociedade brasileira. No entanto, no momento em que ela abre espaço para ações criminosas, o poder público não pode compadecer. Afinal, vivemos num Estado democrático de direito, cuja estabilidade depende da força da lei. Infelizmente é aí que tem ocorrido o maior problema. Transgressores contumazes perdem o medo porque a lei está perdendo vigor. Nosso ordenamento jurídico prevê medidas severas para quem atenta contra a liberdade e o patrimônio. A despeito disso, grupos organizados anunciam que vão demolir e botam para quebrar. Se o Governo fosse avesso à reforma agrária, a reação desses ativistas se explicaria plenamente. No entanto, o Presidente Lula tem arraigados compromissos com a reforma agrária.

É preciso que se reconheça que nunca se destinou tantos recursos para assentamentos rurais em todos os Estados brasileiros. É verdade que há graves defeitos na política fundiária, mas nada justifica o sectarismo que vem orientando esses movimentos.

A violência vem demolindo instalações e insumos, inclusive e especialmente aqueles insumos destinados às pesquisas genéticas, vêm destruindo lavouras, promovendo o roubo de gado e atacando trabalhadores. Nem prédios públicos têm sido poupados pela selvageria. Várias unidades do Incra já foram invadidas e seus servidores humilhados. Até o Ministério da Agricultura já foi depredado por indivíduos que se autointitulam lideranças, mas que agem como verdadeiros delinquentes. São incalculáveis os danos genéticos, os prejuízos materiais e o desgaste à imagem de pessoas e de instituições.

Sr. Presidente, o curioso de todo esse cenário é a cara de pau dos baderneiros: eles afrontam e agridem e depois posam de vítimas. E nessa condição, não se constrangem de lançar acusações contra vigias contratados para guarnecer propriedades. É uma inversão completa de valores, que tem gerado dúvidas sobre a eficácia das leis brasileiras.

Por nosso ordenamento jurídico, o proprietário tem o direito de defender na plenitude a sua propriedade.

Não é uma ilação de minha parte. É da lei.

Veja, Sr. Presidente, o que diz o Código Civil:

Art. 1.210.

§ 1.: O possuidor turbado ou esbulhado poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa ou de desforço não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse.

Apesar da lei, o que está prevalecendo é a leniência de autoridades com tais manifestações.

Quando falo em leniência de autoridades, incluo autoridades dos três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário - aliás, de quatro, incluindo aí o Ministério Público.

Quando o excesso de tolerância é praticado para favorecer quem anda fora da lei, quem paga o preço é a própria sociedade. Lamentavelmente, movimentos sectários têm sido agraciados com a benevolência de autoridades e da imprensa. Foi preciso usar jornalistas como escudos humanos para a imprensa enxergar, em toda sua extensão, o tamanho da truculência.

A propósito, Sr. Presidente, é de se fazer a seguinte indagação: será que a imprensa teria denunciado os vilões desse mais recente vandalismo do Pará se jornalistas não tivessem sido subjugados na condição de reféns?

É lastimável, Sr. Presidente, o que vem acontecendo em nosso País! É lastimável o que vem acontecendo no campo! O campo que precisa de paz para produzir, que tem dado uma grande contribuição para a economia do nosso País e que, infelizmente, vem sendo sacudido pela instabilidade, pela insegurança, que tem prejudicado enormemente a economia brasileira.

Sr. Presidente, encerro meu pronunciamento, deixando a minha palavra, o meu brado como alerta, para que as autoridades que têm responsabilidade meditem sobre este momento que nós estamos vivendo, em que a insegurança, a instabilidade, tem prejudicado enormemente a imagem do Brasil e a economia brasileira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/2009 - Página 12497