Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso dos 61 anos do Estado de Israel. Repúdio a declarações do Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad a respeito do Holocausto.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Homenagem pelo transcurso dos 61 anos do Estado de Israel. Repúdio a declarações do Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad a respeito do Holocausto.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Roberto Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2009 - Página 13392
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, SAUDAÇÃO, ANTIGUIDADE, POVO, VITIMA, EXILIO, PERSEGUIÇÃO, VIOLENCIA, REGISTRO, HISTORIA.
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, IRÃ, OFENSA, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, OBSTACULO, PAZ, JUSTIÇA, COMENTARIO, PROXIMIDADE, VISITA, BRASIL, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, EXPECTATIVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INFLUENCIA, ALTERAÇÃO, OPINIÃO, CHEFE DE ESTADO.

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O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, venho hoje fazer uma homenagem aos 61 anos do Estado de Israel.

         Daqui a pouco, na Embaixada de Israel, vários Parlamentares, várias autoridades vão celebrar com esse povo que já esteve na primeira fila do ódio do maior demagogo da história. Aquele homem, aproveitando-se das dificuldades econômicas, envenenou o povo alemão com as quimeras da vingança, fazendo com que inocentes marchassem para as piras ensanguentadas de Auschwitz, de Treblinka, de Terezin, de Sachsenhausen, de Lotz e de outros tantos campos de concentração, onde a humanidade foi envergonhada.

Sr. Presidente, quero hoje celebrar, celebrar um povo que renasce desde a época de Abraão, de Isaac e de Jacó. Abraão era de Ur, na Caldeia, mas ele fez a sua peregrinação até a Palestina e ali recebeu, em aliança, uma promessa de que o povo de Israel iria habitar aquela terra, Sr. Presidente. Foram gerações de heróis, foram exílios, tanto com Nabucodonosor, a parte sul, Reino de Judá, como também na Assíria, em Nínive, a parte norte de Israel, chamado, na época, o Reino de Israel, com capital Samaria.

Eu relembro e homenageio Moisés, o grande legislador, que trocou quarenta anos no palácio e o futuro de ser, como filho do faraó, imperador do Egito, para sofrer com seu povo, que, na época, era escravo. Moisés passou quarenta anos no deserto e depois voltou, nos últimos quarenta anos de sua vida, a ser o grande líder. Liderou os judeus, o povo hebreu, na sua saída do Egito, na travessia do Mar Vermelho, e, na borda, na fronteira, no limiar da terra santa, ele morre. Aí assume seu sucessor, Josué, que vai comandar o povo, as doze tribos de Israel, na tomada gloriosa da terra prometida, que hoje é a área de conflito do Oriente Médio.

Quero lembrar que, depois do Holocausto, Sr. Presidente, as nações resolveram, em sessão solene da ONU, nessa ocasião chefiada por um Embaixador brasileiro, determinar que Israel voltasse e ocupasse a terra de Abraão, a terra de peregrinação de seus antepassados, onde hoje está o povo de Israel.

Negar essa saga, negar a importância desse povo, da sua história, do seu exemplo de vida, das páginas sagradas da Bíblia, que inspiram a fé de tantos povos no mundo, inclusive a minha, Sr. Presidente - mas eu o mais obscuro, o mais anônimo, o menor de todos os filhos da fé de Abraão -, é negar, eu diria, as páginas mais lindas da humanidade.

Sr. Presidente, na praça oprobriosa do embarque, quando os judeus inocentes partiam para os campos de concentração, ficou marcada uma imagem na consciência: um menino, um menino que levanta os braços inocentes, maltrapilhos, com um olhar inocente, humilde e triste diante de um soldado de Hitler com o seu fuzil apontado para ele, para aquela criança.

Eu não sei qual foi o fim que aquele menino teve, aquele menino que viveu no mundo da marcha da insanidade, do apocalipse. Quando o maior demagogo da história tomou o poder, Sr. Presidente, foi a marcha realmente da loucura e da insanidade, porque amordaçou-se a imprensa, assassinaram os líderes políticos, incendiaram o Parlamento. Depois, foi a adesão covarde do grande capital e a submissão das Forças Armadas. Aí, deu no que deu. O mundo entrou em chamas. O mundo, desarvorado, caiu na hecatombe, um dilúvio de fogo, de ferro e de sangue. A imagem daquele menino - eu não sei que fim levou aquele menino, vivendo num mundo como esse - ainda é um grão de remorso na consciência dos homens democratas e dos povos livres. Negar isso tudo, Sr. Presidente, eu diria, é o maior ato de tentar negar a construção da justiça e da paz, que foi a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial.

Sr. Presidente, precisamos ficar vigilantes, porque as conquistas não são apenas conquistas; elas precisam ser mantidas. E está provado, nas páginas da História, que aqueles que descansam ao construir a liberdade e paz, razão maior da política, acabam sendo surpreendidos pela retaguarda, quando esses loucos novamente conseguem dominar as massas e lançar a humanidade na guerra, no ódio, na loucura.

Digo isso, Sr. Presidente, porque estou aqui para parabenizar e celebrar a existência do Estado de Israel. Daqui a pouco, estaremos lá com tantos brasileiros e judeus que estão festejando essa data. Aqui, também saúdo o Presidente da nossa CPI dos grampos, Marcelo Itagiba, que também é representante nesta Casa, no coração, do povo hebreu. É claro que ele é brasileiro como eu, mas traz, com certeza, na sua consciência, o dever de lembrarmos essas páginas tristes da História, de lembrarmos a maldição da cruz ariana, que é o contrário da Cruz de Cristo e da Estrela de Davi, o grande guerreiro.

V. Exª é um grande admirador do Rei Davi. Na verdade, Sr. Presidente, o povo de Israel celebra três grandes líderes. Houve muitos, mas Abraão, Moisés e Davi são vultos nacionais que se destacam numa constelação de profetas, apóstolos e homens ilustres que, até hoje, marcam a intelectualidade, sobretudo a fé dos povos.

Sr. Presidente, infelizmente, restam-me apenas três minutos. Eu queria ter mais tempo para divagar um pouco mais sobre essa história tão bonita. Mas eu dizia, Senador Roberto Cavalcanti, apenas para concluir e ceder o aparte a V. Exª, que lamento o pronunciamento de Ahmadinejad, Presidente do Irã. Ele, diversas vezes, extravasou seu ódio em palavras absurdas, palavras que sofreram repúdio de todo mundo e que eu lamento, Sr. Presidente, porque aqueles que não constroem a paz e a justiça acabam lançando os povos ou tornando suas nações imensos campos de concentração, porque as pessoas acabam sofrendo lavagem cerebral, as pessoas se estiolam no medo, na mediocridade e na covardia.

Esse apóstolo do ódio, esse homem da intolerância nega essas páginas, que nós devemos lembrar e relembrar para que não saiam da consciência dos democratas e todos possamos vigiar, para que novamente crianças como aquelas, da praça oprobriosa do embarque, não sofram sob a mira do fuzil de um soldado ensandecido.

Então, eu quero lamentar. Ele virá ao Brasil agora. O Presidente Lula é um democrata, há de recebê-lo. O Brasil tem negócios com o mundo árabe, mas nada pode ser mais importante do que os princípios da democracia, da liberdade e da paz.

Então, eu aqui, em nome deste Parlamento, em nome do meu Partido, em nome dos democratas brasileiros, faço uma moção de repúdio, de inconformidade, de tristeza pelas palavras desse líder, que será recebido no meu País, mas que saberá interpretar o sentimento da maioria do povo brasileiro, que é de solidariedade ao sofrimento do povo judeu, e é também de vigilância, para que o Holocausto não surja novamente pelas mãos de mais um louco, como aquele maior demagogo da história chamado Hitler.

(Interrupção do som.)

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Sr. Presidente, peço a V. Exª para conceder um aparte ao nobre Senador da Paraíba, Roberto Cavalcanti, que é do meu Partido.

O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Sr. Presidente, meu Líder, Senador Marcelo Crivella, Líder do nosso Partido, meu Líder aqui no Senado, parabenizo V. Exª pelo pronunciamento. A questão realmente preocupa a todos nós, é um fato extremamente grave. Se olharmos para trás, a vida é feita de história. Quem não se apegar à História não tem uma projeção de futuro. A História nos ensina que fatos que ocorreram há tão pouco tempo podem, no mundo de hoje, ter o potencial de se repetirem. Mas, além de congratular-me com V. Exª no tocante ao tema abordado nessa explanação, eu queria fazer um registro que muito me envaidece por ser seu liderado e me envaidece por ter constatado, há três dias, na cidade de Milão, Itália, a marca que V. Exª deixou na Itália, no Consulado do Brasil, especificamente junto ao Embaixador Luiz Henrique Fonseca e do Adido Comercial da Embaixada, Carlos Henrique, no sentido do espírito público político de V. Exª. Muitas vezes um Senador vai à Europa, a uma cidade como Milão, e se distrai com atividades...

(Interrupção do som.)

O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) -...fantásticas que aquela cidade oferece. Mas o testemunho das pessoas que fazem a Embaixada é de elas ficaram impressionadíssimas com a vocação política de cidadão de V. Exª, no sentido de que V. Exª, em Milão, foi visitar os brasileiros presos nas diversas prisões daquela cidade. V. Exª prestou assistência pessoal àqueles brasileiros que estão lá enjaulados, pagando realmente por algo que fizeram, mas que tiveram o abandono de muitas outras pessoas, muitos familiares até. E V. Exª, na Europa, numa cidade como Milão, gastou tempo praticando cidadania, usou seu tempo visitando esses brasileiros que lá estavam, fruto de circunstâncias que a nós não cabe julgar. Parabenizo V. Exª e me envaideço de pertencer ao PRB e ser liderado por V. Exª. Meu muito obrigado.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Eu que agradeço as palavras generosas de V. Exª. É um prazer e privilégio tê-lo como companheiro no Partido. Nossa bancada é tão pequena, mas é lutadora, é valente e há de defender sempre aqui os maiores ideais e as causas do nosso povo, sobretudo os mais humildes.

Quero ceder um aparte ao Senador Suplicy e fazer aqui uma menção ao pronunciamento que V. Exª fez hoje, antecedendo-me, no início da nossa sessão, sobre exatamente o Ahmadinejad, suas declarações e o sentimento de V. Exª com respeito a isso.

Com muita honra, ouço o nosso nobre Senador de São Paulo.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Marcelo Crivella, coincide de termos tratado do mesmo tema, pois, neste domingo, o Dr. Cláudio Lottenberg, que é um dos diretores e melhores médicos do Hospital Albert Einstein, como Presidente da Confederação Israelita do Brasil, convidou-me para participar da Marcha da Vida, que acontece mundialmente. Muitos vão à Polônia para fazer uma caminhada em direção aos lugares onde antes estavam os campos de concentração, para recordarem os fatos. Em diversas regiões do mundo, também se faz a caminhada. E, em São Paulo, se fez com a participação de cerca de 2.500 pessoas. Inclusive alguns senhores sobreviventes do Holocausto deram o seu testemunho dos problemas ali havidos. E eu percebi, tal como V. Exª aqui agora expôs, um sentimento forte com respeito às palavras do Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que, ainda na Conferência sobre o racismo, fez uma exposição, chamando de racista o Estado que existe em Israel, por causa dos problemas ali havidos com a Palestina. É interessante que o Governo brasileiro, através de nosso Ministro de Igualdade Racial, Edson Santos, lá presente, tenha manifestado, de pronto, sua discordância em relação ao conteúdo, sobretudo nesse aspecto. O Itamaraty também fez uma nota a respeito. Como naturalmente já está marcada a visita, e o Presidente Ahmadinejad virá ao Brasil, pelo que sei, haverá oportunidade de um diálogo do Presidente - eventualmente, até de nós Senadores - com ele. Acredito que seja importante que nós possamos transmitir a ele que esse sentimento não condiz com a realidade que nós daqui avaliamos. Nós brasileiros temos tido a postura, muito construtiva, de promover a paz entre palestinos e israelenses, entre judeus e árabes, e acredito que muito podemos fazer nessa direção. Ainda hoje, o Embaixador do Irã, Mohsen Shaterzadeh, fala da cooperação entre o Irã e o Brasil, em um artigo na Folha. Ali, naquela manifestação, eu ouvi que as relações comerciais importantes que possam existir entre o Brasil e o Irã não podem sobrepujar a questão dos direitos humanos, dos direitos à cidadania e das boas relações que nós precisamos promover entre povos de todas as raças e origens. E eu acho importante que venhamos registrar esse sentimento. Mas eu disse ali na manifestação, no cemitério israelita, que estou muito otimista com as iniciativas que o Presidente Barack Obama, com muita sintonia com o Presidente Lula, tem tido. Inclusive, no discurso importante que fez há pouco mais de um mês, dirigido exatamente aos iranianos, procurou mostrar que, se houve tantas diferenças e atritos entre os Estados Unidos e o Irã, que estão com suas relações cortadas, muito poderá acontecer, levando-se em conta os anseios comuns que têm ambos os povos: o iraniano e o norte-americano. Então, acho muito importante que V. Exª aqui registre este sentimento também de discordância em relação a se dizer que não existiu holocausto, porque precisamos, sim, saber da história, dos fatos trágicos, para que eles não se repitam na história da humanidade.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Agradeço a V. Exª. E, Sr. Presidente Mão Santa, eu peço a V. Exª apenas um minuto para concluir o meu pronunciamento.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu peço permissão para anunciar aqui a presença desse líder do Brasil, Paulo Salim Maluf, cuja vida foi muito importante para a democracia. Se ele não tivesse a coragem democrática de enfrentar, no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, este País não teria voltado à democracia.

Seja bem-vindo a esta Casa.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Nós saudamos também, Sr. Presidente, o nobre Deputado.

E apenas para concluir, Sr. Presidente, quero dizer que eu comecei o meu discurso Senador Suplicy, falando sobre Abraão, o patriarca, um homem que veio de Ur, na Caldéia, provavelmente entre o Irã e o Iraque; um árabe, portanto. Ele peregrinou pela Terra Santa, e seu primeiro filho, Ismael, é considerado o pai dos árabes; e seu segundo filho, Isaque, pai dos hebreus. Portanto, árabes e hebreus são povos do Crescente Fértil, têm a mesma história e são ambos monoteístas. Mas, desgraçadamente - e aí fiz menção também ao maior demagogo da História -, envenenadas com as quimeras do ódio e da vingança, acabam as massas, muitas vezes, se lançando em conflitos, ensanguentando a terra, quando só há uma razão para a política: é a construção da paz. Só há uma razão para estarmos aqui: é construirmos a paz.

E espero que o Presidente Lula, na sua função de estadista - afinal, ele tem uma influência até hoje no líder Obama -, possa transmitir, de maneira firme, o pensamento, o espírito, a alma do povo brasileiro com respeito à paz, e que Ahmadinejad saia daqui com outra visão de mundo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2009 - Página 13392