Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de informativo da comunidade espírita denominada Mundo Espírita, intitulado "Impressionante Depoimento".

Autor
Flávio Arns (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Leitura de informativo da comunidade espírita denominada Mundo Espírita, intitulado "Impressionante Depoimento".
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2009 - Página 13404
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • LEITURA, DEPOIMENTO, JORNALISTA, INSUCESSO, EXCESSO, TRABALHO, ACUMULAÇÃO, BENS, PLANEJAMENTO, FUTURO, FAMILIA, OMISSÃO, SITUAÇÃO, FILHO, NECESSIDADE, PRIORIDADE, ATENÇÃO, DIALOGO, PAES, PREVENÇÃO, DEPENDENCIA, VICIADO EM DROGAS, PROSTITUIÇÃO, MENOR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço, Sr. Presidente.

         Quero dizer que é Comissão de Educação, Cultura e Esporte. Estamos muito dedicados na Comissão a discutir a proposta de mudança da Lei Rouanet de renúncia fiscal, objetivando o incentivo à cultura em nosso País.

Sr. Presidente, muito se tem discutido sobre relações pais e filhos, sobre violência nas escolas, preocupação das famílias com filhos dependentes químicos...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Peço permissão para prorrogar a sessão por mais meia hora, para que todos possam usar da palavra.

O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - ...dependentes de drogas, enfim, a preocupação das famílias com a felicidade, com a cidadania, com a dignidade, com o bem-estar e com a felicidade dos filhos - uma palavra que, na verdade, pode reunir todos esses outros aditivos. A gente vê que todos temos de pensar sobre isso, a sociedade toda.

Lendo um informativo da comunidade espírita que se denomina Mundo Espírita, numa das páginas, vi uma reflexão muito interessante sobre esse tema. Na hora em que eu estava lendo, pensei: acho que vou levar isso para o plenário, para lê-lo da tribuna.

Ele vai servir para uma reflexão sobre esse tema tão fundamental para a sociedade, para que não só nós, Senadores e Senadoras e funcionários, mas a comunidade toda possa pensar sobre isso.

Diz aqui, dentro do título “Impressionante Depoimento”. A revista, o informativo inicia o depoimento dizendo o seguinte:

Pouquíssimas vezes temos presenciado declarações públicas de personalidades, a respeito de suas fracassadas experiências particulares, chamando-nos a atenção para as fantasias e os enganos do mundo. Merece aprofundada reflexão [e concordo com isso] o texto a seguir, intitulado “Declaração de Bens” [inclusive todos nós estamos fazendo as nossas declarações de Imposto de Renda], do conhecido jornalista mineiro Hélio Fraga, que circulou pela imprensa brasileira há algum tempo.

“O pai moderno, muitas vezes perplexo e angustiado, passa a vida inteira correndo como um louco em busca do futuro e esquecendo-se do agora. Nessa luta, renuncia ao presente. Com prazer e orgulho, a cada ano, preenche sua declaração de bens para o Imposto de Renda. Cada nova linha acrescida foi produto de muito trabalho. Lotes, casas, apartamentos, sítio, casa de praia, automóvel do ano - tudo isso custou dias, semanas, meses de luta, mas ele [diz o jornalista] está sedimentando o futuro de sua família. Se partir de repente, já cumpriu sua missão e não a deixará desamparada.

Para ir escrevendo cada vez mais linhas na sua relação de bens, ele não se contenta com um emprego só - é preciso ter dois ou três; vender parte das férias, levar serviço para casa. É um tal de viajar, almoçar fora, fazer reuniões, preencher agenda - afinal, ele, um executivo dinâmico, não pode fraquejar.

Esse homem se esquece de que a verdadeira declaração de bens, o valor que efetivamente conta está em outra página do formulário do Imposto de Renda - naquelas modestas linhas, quase escondida, onde se lê ‘relação de dependentes’.

São os filhos que colocou no mundo, a quem deve dedicar o melhor do seu tempo. Filhos, novos demais, não estão interessados em propriedades e no aumento da renda. Eles só querem um pai para conviver, dialogar, brincar. Os anos passam, os meninos crescem, e o pai nem percebe, porque se entregou de tal forma à construção do futuro que não participou de suas pequenas alegrias, não os levou ou os buscou no colégio; nunca foi a uma festa infantil; não teve tempo para assistir à coroação de sua filha como Rainha da Primavera. Um executivo não deve desviar sua atenção para essas bobagens. São coisas para desocupados.

Há filhos órfãos de pais vivos, porque estão “entregues”... - o pai, para um lado, para outro, e a família desintegrada, sem amor, sem diálogo, sem convivência. E esta convivência que solidifica a fraternidade entre irmãos abre o caminho do coração, elimina problemas e resolve as coisas na base do entendimento. Há irmãos crescendo como verdadeiros estranhos, que só se encontram de passagem em casa. E, para ver os pais, é quase preciso marcar hora.

Depois de uma dramática experiência pessoal e familiar vivida, a mensagem que tenho para dar é: ‘não há tempo melhor aplicado do que aquele destinado aos filhos’.

Dos 18 anos de casado, passei 15 absorvido por muitas tarefas, envolvido em várias ocupações e totalmente entregue a um objetivo único e prioritário: construir o futuro para três filhos e minha mulher. Isso me custou longos afastamentos de casa; viagens, estágios, cursos, plantões no jornal, madrugadas no estúdio de televisão... uma vida sempre agitada, tormentosa e apaixonante, na dedicação à profissão - que foi, na verdade, mais importante do que minha família.

Agora, estou aqui com o resultado de tanto esforço: construí o futuro, penosamente, e não sei o que fazer com ele, depois da perda de Luiz Otávio e Priscila.

De que vale tudo o que juntei, se esses filhos não estão mais aqui, para aproveitar isso com a gente? Se o resultado de 30 anos de trabalho fosse consumido agora por um incêndio, e, desses bens todos, não restasse nada mais do que cinzas, isso não teria a menor importância; não ia provocar o menor abalo em nossa vida, porque a escala de valores mudou e o dinheiro passou a ter peso mínimo e relativo a tudo.

Se o dinheiro não foi capaz de comprar a cura do meu filho amado que se drogou e morreu; não foi capaz de evitar a fuga de minha filhinha, que saiu de casa e prostituiu-se, e dela não tenho mais notícias, para que serve? Para que ser escravo dele?

Eu trocaria - explodindo de felicidade - todas as ilhas de declaração de bens por duas únicas que tive de retirar da relação de dependentes: os nomes de Luiz Otávio e de Priscila. E como doeu retirar essas linhas na declaração de 1986, ano base 1985. Luiz Otávio morreu aos 14 anos e Priscila, um mês antes de completar 15.”

É um momento de reflexão importante, que nos leva a pensar em função de todas as coisas que acontecem no Brasil, seja em termos de droga, seja em termos de violência, de educação. E, neste momento em que fazemos a nossa declaração de bens, é mister pensar no valor que temos que dar àquilo que o jornalista aponta: a declaração de dependentes e a nossa relação afetiva, moral, espiritual, de amizade e de diálogo, para que o mundo possa ser melhor através do grande exemplo que deve começar em casa.

Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2009 - Página 13404