Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao centenário de nascimento de Dom Helder Câmara.

Autor
Flávio Arns (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário de nascimento de Dom Helder Câmara.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2009 - Página 13465
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, HELDER CAMARA, ARCEBISPO, LEITURA, OBRA INTELECTUAL, DEMONSTRAÇÃO, IMPORTANCIA, SOLIDARIEDADE, MORAL, ETICA, POPULAÇÃO, EMPENHO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, RESPEITO, DIREITOS HUMANOS.
  • DEFESA, ORADOR, UTILIZAÇÃO, EXPERIENCIA, VIDA, ARCEBISPO, MODELO, ATUAÇÃO, SOCIEDADE, ESPECIFICAÇÃO, JUVENTUDE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente; Dom José Freire Falcão; demais componentes da Mesa; convidados; Senadoras e Senadores, cem anos do nascimento de Dom Helder Câmara. Cem anos do nascimento de um brasileiro, mas também de um cidadão do mundo.

A pessoa de Dom Helder ultrapassa os limites de uma determinada confissão religiosa e se projeta no contexto dos grandes homens que dignificaram a condição humana.

Naquele pequeno físico estava presente a grande alma e o grande coração capaz de acolher a todos sem distinção alguma e, preferencialmente, aqueles excluídos e abandonados de sempre.

A pergunta que nos vem à mente é onde Dom Helder buscou as razões para pregar com a palavra firme e terna e com o testemunho da ação os gestos de profunda humanidade que marcaram a sua vida.

No seu livro Um Olhar sobre a Cidade, de 1976, encontramos:

      Sobe

      tendo sempre o coração preparado

      para descer...

      Fala

      desejoso de ouvir,

      de escutar,

      de atender...

      Ordena

      com alma

      se quem apenas obedece

      Àquele de cujos planos divinos

      devemos participar.

      Ama

      sem medir, sem calcular.

      Amor que exige amor,

      amor com dosagem,

      com cálculo,

      com restrições,

      com medo

      pode ser tudo

      menos Amor.

Dom Helder foi um poeta do Bem e da Justiça. Para ele, falar de amor tinha a mesma importância de falar das relações fraternas e solidárias.

Viveu intensamente o sentido de irmandade. Sofria com os que sofrem. Foi amado incondicionalmente. Foi, por isso também, incompreendido. Repito aquilo que o Senador Tasso Jereissati e o Senador Inácio Arruda já mencionaram, e que todos nós, no Brasil, temos de repetir mil vezes o que, certa vez, nos tempos difíceis da repressão, falando para os jovens em Curitiba, disse: “Quando dou um pão para um pobre me chamam de santo e querem me colocar nos altares; quando questiono as causas da pobreza, me chamam de comunista e querem me matar".

Este seu poema no mesmo livro mencionado traz uma resposta à pergunta:

      Quando passares

       abrigado contra o frio,

      protegido contra a chuva

      e vires,

      na Pessoa de um pobre

      Jesus Cristo ensopado,

      de roupa colada ao corpo,

      de ossos gelados,

      de alma tiritando de frio,

      mesmo que não possas parar

      mesmo que não haja lugar em teu carro

      ou não te seja possível

      levar para casa

      o teu Senhor -

      vai rezando

      para que um dia

      sem grande demora

      haja lugar para Ele

      em todos os carros,

      em todas as casas,

      em todas as almas...

Este profundo sentimento de respeito e acolhida a todas as pessoas que sofrem e recebem menos, bem como o respeito aos direitos humanos em todos os sentidos, porque compreendia o significado da pessoa humana, independente de qualquer circunstância, fez de Dom Helder um paladino da humanidade, modelo para todos e, principalmente, para os jovens.

Por tudo isto, Dom Helder merece este registro, mais do que para o seu currículo marcado por grande humildade, mas para que sirva como um referencial para todos nós e para a Nação, que deve se orgulhar de ter podido contar com filho tão ilustre.

Obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2009 - Página 13465