Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários à carta lida pelo Senador Eduardo Suplicy em seu pronunciamento, de autoria da Governador do Estado do Pará. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA FUNDIARIA.:
  • Comentários à carta lida pelo Senador Eduardo Suplicy em seu pronunciamento, de autoria da Governador do Estado do Pará. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2009 - Página 13766
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA FUNDIARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, CARTA, AUTORIA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), CONTESTAÇÃO, CRITICA, INEFICACIA, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.
  • REITERAÇÃO, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), PRECARIEDADE, SAUDE, EDUCAÇÃO, RODOVIA, SEGURANÇA PUBLICA, AMPLIAÇÃO, VIOLENCIA, EXCESSO, HOMICIDIO, REGIÃO.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, DENUNCIA, DIFICULDADE, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), DIVULGAÇÃO, PESQUISA, QUANTIDADE, CRIME, DETALHAMENTO, DADOS, SISTEMA INTEGRADO, SEGURANÇA PUBLICA, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATISTICA E ESTUDOS SOCIO ECONOMICOS (DIEESE), DEMONSTRAÇÃO, EXCESSO, INFRAÇÃO, REGIÃO.
  • CRITICA, ALEGAÇÕES, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), BUSCA, REFORMA AGRARIA, INCOMPETENCIA, GOVERNO ESTADUAL, REGISTRO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), DESCUMPRIMENTO, REINTEGRAÇÃO, POSSE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Ainda há pouco saiu um Senador de São Paulo. Ele estava falando do Pará, mas é de São Paulo. Agora, entra um paraense legítimo, de sangue paraense mesmo.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero, primeiramente, agradecer ao Senador Suplicy por ter até solicitado a mim que esperasse a leitura da carta. Sinceramente, Senador, espero que V. Exª possa me ouvir. (Pausa)

Deixa o Senador acabar de atender ao telefone celular, porque eu o escutei atentamente e quero que ele me escute.

Sinceramente, Senador, quando V. Exª disse a mim “Senador Mário, tenho uma carta da Governadora do Pará para ler na tribuna do Senado”. Aí eu bati no Flexa Ribeiro e disse: “É de renúncia. É uma carta de renúncia.” O Flexa perguntou: “De renúncia? Eu disse: “É. Só pode ser, pelo estado em que o Estado - desculpem-me pelo trocadilho - do Pará se encontra, Senador.”

         Lamento, Senador, que a Governadora Ana Júlia não tenha um Senador aqui para defendê-la, um Senador sequer para ler uma carta sua. Teve que recorrer a um membro do Partido, que se prontificou a ler a carta. São três Senadores para cada Estado e nenhum comunga com o Governo da Governadora Ana Júlia.

Eu, sinceramente, Senador, só vou comentar essa carta porque ela foi lida por V. Exª, que eu respeito muito. V. Exª é uma referência nacional, V. Exª merece o respeito de todos neste Senado. Por isso eu vou comentar essa carta. Senão, nem isso faria, porque é difícil discutir os problemas do nosso Estado com um Senador de um Estado tão distante do Pará.

Na leitura da carta, que foi muito bem lida pelo Senador, eu notei a dificuldade dele, porque esses Municípios têm nomes esquisitos. Por exemplo, Parauapebas é um nome bonito, mas difícil de se falar. E o Senador teve dificuldade de falar os nomes do Municípios paraenses. Imagine, Senador, se fôssemos abordar temas complicados, difíceis, do Estado do Pará com V. Exª. Não teria a menor condição de nos responder.

Pasmem, Senhores, vou ler aqui. Hoje, o Estado do Pará, Senador, - é porque V. Exª não conhece - vive um caos, vive um drama. Não somos nós Senadores do Pará que estamos inventando. São as estatísticas que mostram, é a imprensa nacional! Não é só a imprensa do Pará, meus nobres queridos paraenses.

É a imprensa nacional que divulga, a cada semana, a cada mês, um escândalo no Estado do Pará, Senador. Lembra da menina? Lembra dos 218 bebês? A saúde do Pará é precária. De violência eu falo todos os dias aqui.

Veja bem, Senador, o que diz a Governadora na carta: “O Pará, nas palavras desses senhores - nossas palavras, ela quer se referir a mim, ao Senador Flexa, ao Senador Nery, aos três Senadores do Pará - seria uma terra sem lei”.

         É uma terra sem lei. Hoje, o Pará é uma terra sem lei. Quando nós fazemos isso aqui, Senador, estamos defendendo o nosso Estado. Calcule se V. Exª morasse no Estado do Pará, se convivesse com a alta criminalidade que hoje existe no Estado do Pará, se não bastassem os problemas das terras, a criminalidade...Vou ler já uma matéria aqui comprovando que a criminalidade tomou conta do Estado do Pará. Vai ser muito difícil repor a ordem no Estado do Pará. No ponto a que chegou o Estado, Senador Valter, vai ser difícil repor a ordem no Estado do Pará. Vai ser preciso, Senador, pulso, muito pulso para se repor...

(Interrupção do som.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - ... a ordem no Estado do Pará.

         Continuo a leitura. “O Pará, nas palavras desses senhores, seria uma terra sem lei. Esses senhores, cuja obrigação constitucional é defender nosso Estado - [lógico, lógico que é] -, pasmem, são os primeiros a denegri-lo.” Ninguém está denegrindo nada aqui. Estamos aqui, Senador, para defender o nosso Estado, doa a quem doer.

Eu vim para cá, Senador Valter, com a responsabilidade, nas costas, de 1,5 milhão de votos. Um milhão e meio de votos! Só no interior do Estado do Pará, foram 1,2 milhão votos. Já pensou, Senador, se eu chego aqui todos os dias e cruzo meus braços? Já pensou, Senador, se eu não venho à tribuna denunciar? Já pensou, Senador, o que iam dizer os paraenses deste Mário Couto?

Hoje, só na zona metropolitana do Estado, morrem três pessoas... Morrem, são mortos à bala! Provo tudo que estou falando aqui. Se eu não provar, denunciem-me. Por dia, na grande capital, morrem três pessoas à bala! São três famílias que choram a perda... De oito em oito horas, cai um paraense ou uma paraense! De oito em oito horas! Não sou eu, é a realidade. Eu vivo lá, eu moro lá, eu vou lá, eu não me descuido. 

Agora mesmo, Senador, eu conheço a realidade na palma desta mão. Não peço para ninguém ir por mim, não. Eu vou aos interiores. Fui agora, Senador, de ônibus, 2.100 quilômetros; fui pela Belém-Brasília de ônibus. Percorri 15 Municípios recentemente, há duas semanas. Percorri 15 Municípios de ônibus para ver a realidade, para ver como está a Belém-Brasília, terrivelmente abandonada, para ver como está o Estado do Pará, andar, conversar com o povo, sentir o povo, sentir a tensão do paraense. O paraense anda com medo. O paraense tem medo de andar nas ruas.

Aí a Governadora não quer que a gente fale? Ela diz na carta que nós estamos diminuindo a imagem do Estado!

O que iriam pensar os paraenses se V. Exª ficasse sentado na sua cadeira e fizesse de conta de que tudo andava bem no Estado do Pará?

Já vou descer.

Outra coisa, meu caro Senador Paim: nós temos que estar do lado do povo, nós temos que estar do lado do povo, gente. Nós não podemos ver o que acontece no Estado e ficar calados. Não ficarei. Não ficarei em momento nenhum, paraenses. Podem ter certeza de que este Senador, falem o que quiserem falar... Esse jornal de que o Flexa Ribeiro reclamou pode colocar o que quiser colocar de mim, pode falar o que quiser falar de mim, que este paraense aqui não vai calar a sua voz nunca, em defesa do seu povo!

É engraçado tudo o que acontece, Senador. Tenho certeza de que V. Exª tem sensibilidade, é um homem com quem aprendi, vi na televisão, conversei com V. Exª, convivi de perto, foi um dos primeiros que me deu a mão quando cheguei aqui, não me esqueço. V. Exª, Senador Paulo Paim, Senador Mão Santa; por isso, respeito muito V. Exª.

Outro dia comentava com um paraense, e ele perguntava pelo senhor, e eu dizia: “O Senador Eduardo Suplicy é um homem sério, um homem direito, um homem de grande conceito”. E é isso que penso de V. Exª. Tenho certeza de que V. Exª - logicamente era uma companheira, leu a carta, e não tem problema nenhum - fez sua obrigação. Mas tenho certeza de que, se V. Exª verificar de perto a situação do Estado do Pará, V. Exª também virá à tribuna dizer a verdade, também virá à tribuna dizer a verdade.

Vou ler rapidamente um blog - rapidinho, Senador Mão Santa -, só para lhe mostrar como está o Estado do Pará. Esse é o blog mais lido no Estado.

O repórter Paulo Bemerguy, em seu blog, diz o seguinte:

Agora já se sabe exatamente o porquê da segurança pública do Pará ter resistido tanto em divulgar os números sobre a criminalidade, desde o início de 2007, quando a Governadora Ana Júlia, do PT, assumiu o Governo do Estado, até agora, quando o seu governo já ingressou no terceiro ano.

         Não divulgou nenhum dado e não informou nenhum dado sobre segurança.

A resistência deve-se a que os números são avassaladores, assustadores, demolidores..

Os números são assustadores! Os números são demolidores! É uma guerra sem precedentes, interminável! Interminável!

E são números, vale ressaltar [aí é importante, Senador Valter], fornecidos pelo próprio Sistema Integrado de Segurança Pública do Estado do Pará (Sisp), baseados nas ocorrências policiais sistematizadas pelo Dieese/PA. Revelam uma situação de criminalidade crescente e incontrolável.

Em 2008, foram registrados 128.288 as ocorrências delituosas na região metropolitana de Belém e arredores.

De janeiro a dezembro de 2007, quando completou um ano de Governo Ana Júlia [Carepa], esse número chegou a 105.995. Faça as contas: de 2007 para 2008, foram nada menos de 22.295 crimes a mais. [Vou repetir, paraenses: 22.295 crimes a mais do que no governo anterior].

Hoje, o crescimento da violência no Estado do Pará é de 40%, quase o dobro, 40%!

Teima a Governadora do meu Estado e diz aqui na carta que isso aí é responsabilidade dos governos anteriores. Deus meu, minha Nossa Senhora de Nazaré, minha Santa Filomena, a Governadora está acabando o seu mandato, está terminando o seu mandato, falta um ano e meio para ela sair do governo, e ela continua falando isso. Tudo aqui, em tudo o que ela compara, ela põe a culpa nos governos anteriores.

Vamos admitir, Senador Suplicy, vamos admitir que era uma bagunça nos governos anteriores, vamos admitir. Mas foi a Ana Júlia. Eu tenho filmes, eu tenho filmes. Eu provo. Eu me preocupei em guardar, porque eu queria também, se fossem verdades as promessas, aplaudir. Eu queria aplaudir.

Na hora em que o Lula resolver o problema dos aposentados, vocês vão ver este Senador elogiando o Presidente da República. Eu venho aqui elogiar o Presidente da República, eu mandarei uma carta minha dizendo a ele, parabenizando-o pelo ato.

Na hora em que Ana Júlia conseguir colocar o Pará nas suas rédeas, na hora em que Ana Júlia não deixar que o meu povo sofra na área da educação, da saúde, das estradas...

Está tudo, Senador, tudo. Eu lhe levo. Eu sei que o senhor é um homem de caráter, eu sei que o senhor é um homem de consciência, um homem de coração bom, um homem que vive combatendo a pobreza, a miséria, como há muitos no seu Partido de que me honro de ser amigo. Está aqui um do meu lado, o Senador Paim.

Agora, eu não posso ficar calado, Senador Flexa Ribeiro, diante da miséria, da pobreza, da estupidez que estão fazendo com o povo do Pará. Matam abertamente, tomam as cidades do interior. Senador, cinco cidades foram tomadas de assalto. O senhor poderia dizer: “Está exagerando, Mário Couto”! Estou nada, Senador. Eu lhe dou o nome dela e lhe dou a filmagem dos acontecimentos.

Os bandidos entraram, prenderam todos os PMs, prenderam o delegado e fizeram o que quiseram.

(Interrupção do som.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - O Pará é terra de direito? Não é. Hoje não é, infelizmente. Se a Governadora - já vou descer - do meu Estado dissesse publicamente o que ela ainda tem tempo de ajeitar, eu teria um fundo de esperança. Mas não vejo nenhuma providência. A única providência é ela dizer que é dos governos anteriores a culpa.

Vou repetir. Como seria culpa dos Governos anteriores, minha amiga Ana Júlia, minha prezada Governadora, se a senhora está nos ouvindo, se senhora tem só um ano e meio para sair e teve a oportunidade...

(Interrupção do som.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - ... de fazer em dois anos e meio e não fez, Governadora? Piorou, Governadora. Não tem absolutamente ninguém, ninguém que possa contestar os fatos. Os fatos são visíveis! Os fatos são reais!

Formem uma comissão de Senadores, e vamos lá ver a desgraça em que se encontra o Estado do Pará. Eu não posso ficar calado! Eu não devo ficar calado!

Assuma, Governadora, a sua responsabilidade. V. Exª disse nos palanques. Eu tenho o filme. Eu me preocupo em guardar provas, principalmente de palanques. Eu tenho os filmes em que a Governadora, nos palanques, prometeu acabar com a violência.

(Interrupção do som.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Sobre a intervenção, façam uma idéia, Senador Suplicy, Senador Paim, se fosse eu, Flexa Ribeiro ou o Nery que pedisse uma intervenção no Estado do Pará. Foi a Presidenta da Confederação Nacional dos Agricultores, a Senadora Kátia Abreu. Não fui eu e nem quero que isso aconteça no meu Estado, mas a Senadora está certíssima.

         A Senadora está vendo o que está acontecendo no Estado. Os agricultores estão falando com ela.

         Senador, ela não devia colocar isso no documento. Eu até falei ao Flexa: vamos falar com o Senador Suplicy -- não foi isso, Senador? -- para que ele não leia essa última parte, onde ela diz que está fazendo a reforma agrária. Isso não é competência da Governadora. E se ela está fazendo, ela está fazendo de uma maneira brutal, porque hoje o Pará, no campo, é uma pólvora. O que aconteceu agora pode ser três vezes pior amanhã, porque não houve a reintegração. E quem está dizendo isso não é a Senadora Kátia Abreu. Quem está dizendo isso é o Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, é ele que está dizendo que a Governadora não está fazendo a reintegração. Não é a Senadora, não é a Presidenta da Confederação, é o Ministro e Presidente do Supremo Tribunal de Justiça do Brasil que está dizendo isso!

         Eu lamento, Senador. Eu lamento, porque é o meu Estado, que eu amo muito, amo muito. E aqui eu venho, Senador, dar o meu suor por ele, eu venho suar aqui todas as tardes. O Senador Flexa está junto comigo. E eu sempre digo que eu tenho respeito pela Governadora, eu sempre digo que aqui eu defendo o meu Estado. Eu não sou nada a favor da destruição do Pará.

O meu Estado é querido, muito querido. O paraense é apaixonado pelo Pará, como eu e como outros. Somos apaixonados, como o Mão Santa é pelo Piauí. O Mão Santa vive a mesma situação que vivemos no Pará, mas a nossa é muito pior que a do Mão Santa. É muito pior, Mão Santa. Pode ter certeza disso.

Então, Senador, só me resta, primeiro, agradecer a V. Exª pela postura e por ter me deixado esclarecer tudo e, segundo, dizer que, sinceramente, temos uma santa muito forte, uma protetora muito forte, uma santa que recebe nas ruas, no mês de outubro, mais de 1,5 milhão de pessoas a pedirem a ela. Tenho certeza de que, na próxima procissão deste ano, milhares e milhares de paraenses vão pedir proteção aos seus familiares, porque não têm hoje. Se a Secretaria de Segurança do Estado responder as informações, o Pará é o Estado mais violento do Brasil e, proporcionalmente, um dos mais violentos do mundo. Amanhã estarão mais três paraenses chorando a morte dos seus parentes, mais três.

O Senador Papaléo, outro dia, disse-me: “Senador, eu jamais passo por Belém. Perdi um parente ontem. 

Ela saiu do aeroporto com o carro. Os bandidos disseram ‘pare’. Ela não parou e eles a mataram”.

Eu disse a ele: são três por dia. E eu tenho certeza, Senador Flexa, que os milhares e milhares de peregrinos que vão acompanhar o Círio neste ano - e eu sou um deles - vão pedir a minha querida Nossa Senhora de Nazaré que proteja suas famílias, que não as deixem cair nas mãos dos bandidos que sabem que hoje o Pará é uma terra sem lei.

Muito obrigado, Senador Mão Santa.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2009 - Página 13766