Discurso durante a 46ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-Deputado Federal e jornalista Márcio Moreira Alves. Leitura do histórico discurso pretexto para a edição do Ato Institucional 5.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-Deputado Federal e jornalista Márcio Moreira Alves. Leitura do histórico discurso pretexto para a edição do Ato Institucional 5.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2009 - Página 9545
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX-DEPUTADO, JORNALISTA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA, PERIODO, DITADURA, REGIME MILITAR, RESPONSABILIDADE, IMPRENSA, PROCESSO, REDEMOCRATIZAÇÃO.
  • LEITURA, DISCURSO, AUTORIA, EX-DEPUTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CONCLAMAÇÃO, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, REPUDIO, REGIME MILITAR, DEFESA, FORÇAS ARMADAS, EFEITO, EDIÇÃO, ATO INSTITUCIONAL.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Sérgio Guerra disse bem, que a palavra de Márcio Moreira Alves sempre teve grande importância, sabedoria e força. Mas, certamente, seu discurso foi o pretexto para a edição do Ato Institucional nº 5. Outras razões prevaleceram para que o militarismo adotasse aquela providência.

            Veja, Sr. Presidente, o discurso de Márcio Moreira Alves:

Senhor presidente, senhores deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.

É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo.

Vem aí o 7 de setembro.

As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.

Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.

Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.

            Foram as palavras de Márcio Moreira Alves antes do 7 de setembro, que, segundo alguns, seriam a causa da edição do Ato Institucional nº 5, no dia 13 de dezembro de 1968.

            O que se pode destacar do seu discurso é a defesa das Forças Armadas. Se alguém suspeitava ter ele agredido as Forças Armadas, pode, depois da leitura desse texto, eliminar as suas suspeitas, porque, na verdade, Márcio Moreira Alves, no seu discurso, defendeu a essência das Forças Armadas e combateu aqueles que, em nome delas, agiam arbitrariamente, submetendo o País ao regime autoritário.

            Na verdade, Márcio foi vítima da violência e do autoritarismo. Arrancaram-no da tribuna do Congresso Nacional, mas valeu-se da tribuna na imprensa, e suas opiniões, os seus ideais foram sustentados sempre com muita ousadia, inteligência e competência. Por meio, sobretudo, da palavra escrita, não se eximiu da responsabilidade de cidadão brasileiro no enfrentamento necessário na busca da redemocratização do País.

            As nossas homenagens ao parlamentar Márcio Moreira Alves, mas, sobretudo, porque foi assim que o conheci, ao jornalista Márcio Moreira Alves. Como parlamentar, não tive o privilégio de conhecê-lo, mas, como jornalista, tive o prazer, inclusive, da convivência em muitos momentos da atividade pública em Brasília. A sua presença era constante, permanente e imprescindível em cada momento que dizia respeito à institucionalização democrática do nosso País.

            As nossas homenagens póstumas, portanto, a Márcio Moreira Alves, uma ausência que se fará sentir, sem dúvida, pela sua presença durante parte da história do nosso País. Nossas homenagens, sobretudo, e nossa solidariedade aos amigos e familiares.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2009 - Página 9545