Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do dramaturgo Augusto Boal. Registro de protestos de trabalhadores em todo o mundo no transcurso do Dia do Trabalho, em primeiro de maio. Crítica à postura da Espanha e do Japão com os desempregados, em razão da crise econômica.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do dramaturgo Augusto Boal. Registro de protestos de trabalhadores em todo o mundo no transcurso do Dia do Trabalho, em primeiro de maio. Crítica à postura da Espanha e do Japão com os desempregados, em razão da crise econômica.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2009 - Página 14877
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, AUTOR, DIRETOR, TEATRO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, TRABALHADOR, COMENTARIO, NOTICIARIO, OCORRENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MUNDO, PROTESTO, DESEMPREGO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, COBRANÇA, VALORIZAÇÃO.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, BRASILEIROS, EMIGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, PERDA, EMPREGO, CRISE, ECONOMIA, INFERIORIDADE, PROPOSTA, GOVERNO ESTRANGEIRO, INCENTIVO, RETORNO, BRASIL, DESRESPEITO, DESVALORIZAÇÃO, TRABALHADOR, FALTA, COMPENSAÇÃO, CONSTRUÇÃO, RIQUEZAS.
  • DENUNCIA, SEMELHANÇA, PAIS ESTRANGEIRO, ESPANHA, TRATAMENTO, TRABALHADOR, ORIGEM, AMERICA LATINA, DESEMPREGO, CRISE, ELOGIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, TCHECOSLOVAQUIA, INCENTIVO, RETORNO, EMIGRANTE, DESEMPREGADO, PAGAMENTO, SEGURO-DESEMPREGO.
  • APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, DESEMPREGADO, COBRANÇA, AUTORIDADE, ATUAÇÃO, PROBLEMA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, quero, como representante desse Estado magnífico, verde, que é o Amazonas, registrar também, como vários Senadores já o fizeram, voto de pesar pela perda dolorosa do grande dramaturgo Augusto Boal.

Sr. Presidente, apresento requerimento de voto de pesar, esperando que esta Casa dê ciência aos familiares do homenageado e à Federação Nacional do Teatro (Funarte).

Augusto Boal, 78 anos, foi um dos mais importantes dramaturgos brasileiros. Nascido no Rio de Janeiro, em 16 de março de 1931, ganhou notoriedade com o seu Teatro do Oprimido, que tem como proposta transformar o espectador em elemento ativo do espetáculo. Segundo o próprio artista, esse conceito “ensinava as pessoas a se inserirem na sociedade”. Ele também foi um dos principais líderes do Teatro de Arena de São Paulo, nos anos 60.

Formado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1950, Augusto viajou para Nova York para estudar teatro na Universidade de Columbia. Quando voltou para o Brasil, passou a integrar o Teatro de Arena de São Paulo, em companhia do Diretor José Renato.

Na direção do espetáculo Ratos e Homens, de John Steinbeck, Augusto Boal conquistou o prêmio de diretor revelação pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), em 1956. Foi nesse período que o artista teve sua carreira consolidada.

Durante a ditadura, Boal dirigiu o show Opinião, com a participação de Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão, no Rio de Janeiro. O evento passou a influenciar a cena artística. Naquela época, Boal chegou a ser preso e torturado. Ele foi ao exílio, e retornou ao País em 1984.

Boal também produziu obras, tais como, O Teatro do Oprimido e outras Políticas Poéticas, Exercícios para Ator e Não Ator com Vontade de Dizer Algo através do Teatro e Jogos para Atores e Não Atores.

         O dramaturgo e diretor de teatro ainda foi nomeado pela Unesco - Organização das Nações Unidas para Educação e Ciência e Cultura - como embaixador mundial do teatro, em março deste ano.

É uma perda grande para o teatro.

Sr. Presidente, faço este registro porque Augusto Boal foi um grande brasileiro, aliás, reconhecido pela ONU, portanto, reconhecido internacionalmente pelo trabalho que fez, pela proposta revolucionária como trabalhou o teatro no nosso País.

Também, Sr. Presidente, gostaria, esta noite, de refletir acerca desta data mundial, uma das poucas datas que todos os países celebram, principalmente os trabalhadores: o dia 1º de Maio, sexta-feira última, feriado merecido. Não pude falar no dia de ontem, mas não poderia deixar de refletir sobre o significado deste 1º de maio próximo passado.

Pude assistir pela televisão, nos jornais, o registro de protestos dos trabalhadores na Europa, na América Latina, com a polícia reprimindo as manifestações legítimas dos trabalhadores, trabalhadores vítimas do desemprego hoje. Desemprego provocado pelo capitalismo, desemprego provocado nas nações ditas como referência em política financeira, em política econômica.

Esta crise, que começou em setembro do ano passado nos Estados Unidos, ganhou a União Européia, entrou pela Ásia. E o Brasil a enfrenta, mobilizando instituições, Governos estaduais, Governo federal, Prefeitos, no sentido de fazer o enfrentamento e minimizar as dificuldades, o desemprego, principalmente.

Sr. Presidente, é preciso refletir sobre a distribuição da riqueza. É preciso refletir, Sr. Presidente, sobre direitos. É preciso que, desta crise, possamos tirar lições, porque, no capitalismo, o sistema financeiro fala da mão de obra, mas não trata do ser humano. Os trabalhadores, na hora da crise, padecem, são os primeiros a serem jogados de lado sem nenhuma providência, sem nenhuma política que possa valorizar o ser humano, o pai, a mulher, a mãe.

O 1º de maio me fez olhar para o mundo, Sr. Presidente, e não poderia deixar de registrar aqui, nesta Casa, os milhares de brasileiros que estão no Japão sem perspectiva, mas esses milhares de brasileiros construíram a economia do Japão, principalmente na década de 90. O Japão chegou a ter, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, 366 mil brasileiros e peruanos; peruanos e brasileiros, participando da riqueza, da pujança da economia japonesa. Agora, na hora da crise, não há nenhuma política do governo japonês para estender a mão aos brasileiros que lá estão. E o Japão, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está oferecendo US$3 mil aos trabalhadores do Brasil, da América Latina, para regressarem aos seus países. Só isso, Sr. Presidente! Esse é o reconhecimento do Japão, uma economia referencial do capitalismo no mundo: US$3 mil para voltar. E mais: impõe que se assine um termo de declaração de que, nos próximos três anos, o cidadão não volta ao Japão. Esse é o tratamento do governo japonês.

Fico a me perguntar por que essa perversidade de dizer que “nos próximos três anos não se pode voltar para o Japão”? Como se o Japão não fosse reverter a recessão em que vive. E o país, hoje, é dependente da mão de obra de milhares de brasileiros, de milhares de latino-americanos. Quero registrar aqui essa perversidade, esse desrespeito aos trabalhadores brasileiros que estão no Japão.

Sr. Presidente, um outro país me chama a atenção pela forma como trata os trabalhadores que para lá foram construir economias. Refiro-me à Espanha. A Espanha chegou, Presidente Mão Santa, a ter 11% de sua população de imigrantes. Na hora da crise, a mesma postura. A Espanha está dando uma passagem para o latino-americano voltar para a América Latina - e lá estão milhões de brasileiros. E a Espanha, ao dar uma passagem para o cidadão desempregado sair de lá, um cidadão que construiu toda uma perspectiva de vida, dá um castigo, mostrando o desprezo à mão de obra especializada que foi lá para a Europa, em especial para a Espanha.

Sr. Presidente, nós não podemos achar que as coisas estão correndo como se nós não pudéssemos falar. Venho aqui para dizer isso ao governo espanhol, à União Européia, que cresceu à custa da mão de obra do mundo, da América Latina, dos asiáticos, dos africanos, e que, na hora da crise, não têm uma política compensatória para salvá-los do desemprego que aqueles governos criaram. Repito: que aqueles governos criaram!

Senador Wellington Salgado, estou estudando a situação dos países da Europa. Estou fazendo uma crítica dura à postura da Espanha e do Japão com os desempregados, fruto da crise. Mas um país merece ser destacado: a Tchecoslováquia está dando passagem de volta a todo tcheco desempregado na Europa. Se há um desempregado na Espanha, que volte para o seu país. O governo da Tchecoslováquia está dando uma passagem para o desempregado retornar ao seu país, com direito a salário-desemprego. Dá a passagem para voltar e uma bolsa-desemprego.

Essa é uma postura respeitosa para com os trabalhadores e seus filhos, mas é inaceitável a postura da Espanha e do Japão em relação a brasileiros, a latino-americanos. Veja que é uma coisa para a América Latina. A Espanha está dando uma passagem para quem está desempregado. “Está desempregado aqui? Volta para lá”. Não pode ser assim. Tem que ter humanismo, tem que ter respeito, tem que ter um olhar solidário. É por isso que sonho com um mundo melhor, com um outro mundo e não este, onde os trabalhadores pagam caro por uma crise não gerada por eles.

E quero, ainda, Sr. Presidente, registrar aqui que são também milhões de chineses que estão ao relento em frente a Embaixada da China, em Bucareste.

Estou falando isso por conta do 1º de Maio.

A crise, felizmente, no Brasil, foi menor, mas provocou desempregos no meu Estado, na minha cidade, Manaus, que concentra a economia do Amazonas. Há ali o Polo Industrial da Zona Franca de Manaus. Foram muitos os desempregos, mais de vinte mil desempregados. A economia começa a chamar uma parte dos desempregados. Eu acho isso positivo. A economia dá sinais, aqui no Brasil, de uma retomada.

         Espero que o Governo do Presidente Lula, que, na minha opinião, conduziu com muita firmeza, com muita sabedoria.. Inclusive, Sua excelência acabou se tornando, exatamente na hora da crise, uma referência internacional por ter participado do G20, por ter participado de fóruns importantes no sentido de responder a esta crise, a crise do capitalismo provocada pelos Estados Unidos e por países como a Inglaterra, que também tem um desemprego altíssimo.

Mas, Sr. Presidente, é em nome dos trabalhadores, vítimas do desemprego, que venho aqui prestar minha solidariedade aos milhões de desempregados pelo mundo afora e chamar a atenção das autoridades no sentido de mudar a relação e construir políticas solidárias em defesa daqueles que produzem a riqueza do mundo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Modelo1 8/18/248:19



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2009 - Página 14877