Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre pesquisa realizada pela Embrapa, que reforça os argumentos em favor do uso do etanol brasileiro como fonte alternativa.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Comentários sobre pesquisa realizada pela Embrapa, que reforça os argumentos em favor do uso do etanol brasileiro como fonte alternativa.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2009 - Página 14904
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANALISE, VANTAGENS, MATRIZ ENERGETICA, BRASIL, BUSCA, PRIORIDADE, ENERGIA RENOVAVEL, ELOGIO, PIONEIRO, PROGRAMA NACIONAL DO ALCOOL (PROALCOOL), DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, ATUALIDADE, CRIAÇÃO, FLEXIBILIDADE, MOTOR, VEICULOS.
  • REGISTRO, PESQUISA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), REFORÇO, UTILIZAÇÃO, ALCOOL, FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA, MOTIVO, REDUÇÃO, EMISSÃO, GAS CARBONICO, COMPARAÇÃO, COMBUSTIVEL, MATERIA-PRIMA, MILHO, PRODUÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EXPECTATIVA, RETIRADA, BARREIRA (CE), ALFANDEGA, IMPORTAÇÃO, PRODUTO NACIONAL, ORIGEM, CANA DE AÇUCAR.

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O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre os grandes países, somos o que tem a matriz energética mais equilibrada. Em 2007, 36,7% provinham do petróleo, 28,5% de biomassa, 14,7% de fontes hidrelétricas, 9,3% de gás natural e 6,2% do carvão, sem contar a energia nuclear e outras fontes renováveis, responsáveis por 4,5% em seu conjunto.

Quase metade, portanto, da energia consumida pelos brasileiros vem de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar, da qual é extraído o etanol, e a água. O equilíbrio entre o total de produção de energia renovável e não renovável é um feito notável. Só para efeito de comparação, a matriz chinesa é composta de 70% de carvão mineral e 20% de petróleo. A história demonstra que as matrizes energéticas não mudam da noite para o dia, e sim muito lentamente. Para alterar a composição de sua matriz, a China provavelmente levará décadas.

Em termos globais, os combustíveis fósseis são responsáveis por 81% da matriz. Novas reservas são descobertas, como é o caso dos megacampos de petróleo na camada de pré-sal da plataforma continental brasileira, mas ninguém desconhece um fato: esses combustíveis estão se acabando. A Agência Internacional de Energia prevê que Dinamarca, Noruega e Argentina esgotarão suas reservas em 2014, e os Estados Unidos em 2019. A previsão para o Brasil, que era de 2024, terá que ser alterada em função das novas jazidas encontradas. Mas um dia, num futuro não muito distante, só fontes alternativas poderão garantir nossas necessidades essenciais.

No Brasil, o trabalho está muito adiantado, como reconhecem organismos internacionais do setor de energia. Na verdade, ocupamos uma posição privilegiada. Começamos a desenvolver a tecnologia do etanol ainda no início da década de 1970, pouco tempo depois da disparada dos preços do petróleo. Houve época, na década de 1980, em que o consumo anual de álcool chegou a 8 milhões de metros cúbicos anuais, contra 10 milhões de gasolina. As vendas de veículos novos movidos a álcool superavam em mais de 100% as dos veículos a gasolina.

Passado um intervalo em que a queda nos preços do petróleo e a valorização do açúcar no mercado mundial desestimularam a produção do álcool combustível, ele ressuscitou no começo deste século. Esse renascimento deve-se em grande parte ao desenvolvimento de tecnologias que tornaram os motores movidos a álcool mais eficientes, além da criação do motor flex, que funciona com álcool ou gasolina, em separado ou juntos. Hoje, o setor sucroalcooleiro do Brasil é alvo de interesse de investidores privados, tanto do País quanto do Exterior. Em meia década, o número de usinas de álcool cresceu em 30 por cento.

Agora, uma pesquisa realizada pela Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vem reforçar os argumentos em favor do uso do etanol brasileiro como fonte alternativa. Seus resultados foram mostrados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o recente encontro do G-20 em Londres, e devem merecer a atenção dos países desenvolvidos.

O estudo comprova que a produção de etanol pode reduzir de forma expressiva as emissões de gases causadores do efeito estufa, tema que ocupa lugar predominante entre as preocupações dos países industrializados, especialmente dos Estados Unidos, desde a posse do presidente Barack Obama.

Feito pela unidade Embrapa Agrobiologia, com sede em Seropédica, no Estado do Rio, o estudo chegou a conclusões surpreendentes. Mesmo levando-se em consideração todo o processo de produção - o plantio da cana-de-açúcar, a fabricação do álcool, o transporte, a distribuição e a comercialização do combustível -, o etanol brasileiro reduz em 73% a emissão total de dióxido de carbono, do óxido nitroso presente no nitrogênio de fertilizantes, e do gás metano liberado pela queima da palha na atmosfera.

Se toda a frota de veículos brasileiros movidos a gasolina passasse a queimar etanol em seus motores, haveria uma economia de 53 milhões e 300 mil toneladas ao longo de um ano nas emissões, o equivalente a 14% das emissões de dióxido de carbono por um país como a França. Movida a etanol, uma caminhonete modelo S-10, da Chevrolet, com motor flex, emite 9 quilos e 400 gramas de dióxido de carbono a cada 100 quilômetros rodados. Com gasolina, descarrega mais de 35 quilos de dióxido de carbono no ar.

A Embrapa Agrobiologia está preparando estudos com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, para comparar a economia de dióxido de carbono na produção de etanol de milho americano. Técnicos já prevêem que os resultados devem ficar bem abaixo dos obtidos com o etanol de cana. Existem estudos que apontam para uma redução de gases do efeito estufa de apenas 12%, com o etanol de milho.

Concluída a comparação, teremos evidências decisivas de que o poder competitivo da cana-de-açúcar em relação ao milho, na produção de etanol, não fica restrito ao preço. O chefe do setor de agroenergia da Embrapa, Frederico Durães, calcula que o litro de etanol norte-americano custa cerca de 50% a mais do que o feito da cana-de-açúcar.

Quanto à produtividade, a cana também tem grande vantagem, já que produz duas a três vezes mais litros de etanol por hectare que o milho. Em outro item, o da conversão em combustível, também é superior, já que, no caso do milho, o amido precisa de tratamento especial de pré-cozimento.

Os Estados Unidos utilizaram, em 2007, 81 milhões de toneladas de grãos para a produção de etanol. Lá, em cada 10 litros desse combustível, 9 litros e meio são extraídos do milho. Não são poucos os problemas associados ao seu uso como fonte de etanol. Como já disse um jornal norte-americano, “o lugar do milho não é no tanque de gasolina”.

Em primeiro lugar a cultura do milho exige um alto consumo de água e o uso intensivo de nitrogênio como fertilizante, o que pode contaminar o lençol freático e os rios. De acordo com o Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, a quantidade de água usada para abastecer uma usina que produz 100 milhões de galões de combustível por ano poderia abastecer uma cidade de 5 mil habitantes. Por fim, só um gigantesco subsídio governamental, de 4 bilhões e 100 milhões de dólares anuais, garante a existência da indústria de etanol de milho nos Estados Unidos.

O álcool brasileiro enfrenta uma tarifa de importação de 54 centavos de dólar por galão, para proteger o álcool de milho. A ênfase que o presidente Barack Obama tem dado à promoção, em escala mundial, de uma “economia verde” - com a redução de emissões de gases nocivos e investimentos intensivos em energias renováveis - representa uma mudança de enfoque radical em relação à política do governo anterior.

É também uma oportunidade inigualável para que o Brasil insista na derrubada das barreiras à entrada do etanol de cana-de-açúcar nos Estados Unidos. Acumulam-se as provas de que o etanol de milho não é uma alternativa inteligente como fonte renovável de combustível, enquanto a cada dia surgem novos dados que expõem as vantagens do etanol de cana. O balanço energético é claramente favorável ao álcool brasileiro e, por isso mesmo, ele desempenhará um papel essencial em suprir as necessidades do País e do mundo nas próximas décadas.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2009 - Página 14904