O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Senadora Rosalba Ciarlini, Srªs e Srs. Senadores, neste momento, quero expressar o sentimento de cumprimento, de solidariedade ao aniversário de 50 anos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que antes era o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Depois, esse sindicato congregou todos os sindicatos, englobando o de Santo André, o de São Caetano nesse Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde, sobretudo, nos anos 60, 70, 80, brotou, num movimento extraordinário de trabalhadores, formidável consciência sobre como se deveria dar voz e vez, direitos à cidadania aos trabalhadores.

Foi justamente no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que Luiz Inácio Lula da Silva, pelos caminhos propiciados pelo seu irmão Frei Chico e seus companheiros, tornou-se, em meados de 1970, Presidente daquele sindicato, substituindo, então, o Presidente Paulo Vidal, em 1974.

Eleito Presidente com seus companheiros, tais como, Djalma Bom, Devanir Ribeiro, Vicentinho e tantos outros, acabou liderando um movimento simplesmente formidável.

Nos anos de 1977, de 1978, de 1979 e 1980, houve uma movimentação de trabalhadores, sobretudo ali, nas ruas de São Bernardo do Campo, nas portas de fábricas, no Estádio de Vila Euclides, que chegou a reunir mais de cem mil pessoas para tomar decisões de como seria o destino daquele movimento, em algumas ocasiões, definindo o direito de greve para todas as indústrias de autopeças, indústrias metalúrgicas e da própria indústria automobilística naquele que é o maior centro de desenvolvimento da indústria automobilística.

Eu fui convidado para estar presente neste momento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde se encontraram o Presidente Sérgio Nobre e toda a diretoria e companheiros de batalha desses anos todos, dentre os quais o próprio Presidente Lula, acompanhado da Ministra Dilma Rousseff, mais Djalma Bom, Jair Meneguelli, Wagner Lino, Vicentinho - nosso Deputado Vicente Paulo da Silva -, Gilson Menezes, Osvaldo Bargas, o Prefeito Luiz Marinho de São Bernardo do Campo, que foi presidente do sindicato, Nelson Campanholo, Paulo Vidal, João Justino da Silva, o Janjão, o Rubens Teodoro de Arruda, o Rubão, Antenor Biolcatti,

Tarcísio Secoli, o ex-Presidente e depois Presidente da CUT, José Lopes Feijó, o próprio Frei Chico, José Ciccotti e Antonio Carlos Felix Nunes, jornalista que naqueles anos fazia praticamente só o jornal Tribuna Metalúrgica.

Então eu gostaria aqui de dar o meu testemunho sobre os momentos em que, inclusive, interagi com os diretores desses sindicatos e com o Presidente Lula. Era agosto de 1976, quando, certo dia, me dirigi à Universidade Metodista para, convidado, fazer uma palestra aos alunos do 4º ano de Economia sobre política salarial, distribuição da renda, para discorrer como os empresários de um lado e os trabalhadores de outro influenciavam a formulação de política econômica do governo para os alunos - na verdade, eram alunos da Fundação Santo André, onde se deu isso.

Na ocasião, um dos alunos daquela turma, que era o assessor da diretoria, um jovem então na época, Osvaldo Rodrigues Cavignato, que, mais tarde, se tornou assessor do Dieese, atua até hoje junto à Direção do Sindicato dos Metalúrgicos, antes de São Bernardo e Diadema, hoje, do ABC.

Ele então sugeriu ao Presidente Lula que viesse assistir à minha palestra. Terminada a preleção, Lula fez algumas observações e perguntas. O professor, preocupadíssimo, perguntou: “O que dirá o diretor da faculdade na hora em que souber que está aqui o perigoso Lula, líder sindical?” Lula ficou um tanto constrangido e resolveu sair da sala. Transmiti, então, aos alunos que, se quiséssemos estudar como tomar decisões adequadas de política econômica, precisaríamos sempre dialogar não apenas com empresários, mas também com aqueles cuja vida seria afetada por aquelas decisões, ou seja, os trabalhadores.

Naquele mesmo ano, em 1976, em maio, eu tinha visitado a República Popular da China, cinco meses antes da morte de Mao Tse-Tung, justamente na fase final da Revolução Cultural. Notara como lá se fazia questão de que os trabalhadores estivessem presentes nas universidades.

Quando terminei de responder a todas as perguntas dos estudantes e saí para o pátio, lá estava Lula esperando-me, ao lado de Devanir Ribeiro, também metalúrgico, e Osvaldo Cavignato, para agradecer o convite. Então, dialoguei com o hoje Presidente Lula, que me disse: “Eduardo, vamos conversar mais. Venha ao sindicato.” 

E a partir daí desenvolvemos um diálogo muito interessante. E em 16 de dezembro de 1978, quando lancei um livro pela Editora Brasiliense, denominado Compromisso, o editor, meu amigo Caio Prado Júnior, sugeriu que eu fizesse o lançamento no calçadão da Brasiliense, ali na Barão de Itapetininga, em São Paulo. E justamente nós, sentados num balcão, no calçadão, eu, Lula e José Afonso da Silva, Secretário do Sindicato dos Padeiros, fizemos um diálogo com a população. Segundo Osvaldo Bargas, que era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, foi justamente nessa ocasião que o Presidente Lula, pela primeira vez, formulou publicamente a proposição da formação de um partido dos trabalhadores. Não foi à toa, portanto, que, interagindo bastante com os diretores e os metalúrgicos daquele sindicato nos anos de 1978, 1979, eu tenha sido eleito Deputado estadual.

Naquela época, o Presidente Ernesto Geisel havia extinto o MDB e a Arena. E aqueles metalúrgicos, outros trabalhadores e intelectuais me convidaram então para participar da formação do PT, o que fiz com muita alegria.

Assim, Sr. Presidente, quero saudar a festa dos 50 anos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e também cumprimentar o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, seu Presidente Isaac Jarbas, que, em 18 de agosto de 2009, também completa seus 50 anos, o que é tão significativo. Esses dois sindicatos têm hoje uma grande interação, pois a indústria metalúrgica é muito importante tanto no ABC quanto no Vale do Paraíba.

Gostaria aqui de ressaltar algumas das palavras do Presidente Sérgio Nobre, que, neste aniversário, menciona alguns dos seus objetivos e desafios para o futuro, o de transpor os limites geográficos em que atua. Na área de relações internacionais, o Sindicato dos Metalúrgicos prepara um grupo de filiados para participar das negociações com multinacionais e organismos como a Organização Internacional do Trabalho e a Organização Mundial do Comércio. No País, pretende pressionar o Governo para mudar a legislação atual e, com isso, poder representar metalúrgicos em negociações com empresas que ultrapassem a região do ABC Paulista.

Segundo Sérgio Nobre, “O desafio é ganhar liberdade para crescer, e essa não será uma bandeira exclusiva do nosso sindicato por muito tempo. O futuro do sindicalismo passa por essa ação mais globalizada, e os sindicatos que não se prepararem ficarão para trás”.

Outra bandeira defendida pelo sindicalista é a negociação em nível nacional no caso de empresas que mantêm várias unidades no País.

Muitas vezes as multinacionais negociam um reajuste para São Bernardo e outro muito menor para outras regiões. É o mesmo trabalhador fazendo a mesma atividade. A extinção do limite geográfico permitiria que um sindicato negociasse um acordo para todos os empregados de uma empresa, por exemplo..

Por aí vai o objetivo de Sérgio Nobre, que pretende fazer com que haja um progresso muito significativo nos objetivos que ainda pretende alcançar sobretudo de aperfeiçoar a democracia.

Gostaria aqui de concluir dizendo, com Sérgio Nobre, que:

Completar o processo de implantação da democracia no Brasil é a maior ambição do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Para nós, no entanto, democracia não pode ser entendida como apenas o direito ao voto. Vai além. É também o direito de se organizar sindicalmente no local de trabalho. Isso significa opinar e participar das decisões que afetam a vida do trabalhador em temas como condições de trabalho, emprego, produção, salário, formação profissional, escolaridade e, por que não, da própria gestão das empresas. Democracia, para nós, significa igualdade econômica. Não haverá democracia no Brasil enquanto milhares de pessoas passarem fome, não tiverem acesso à educação, saúde, saneamento básico, transporte e moradia.

E aqui eu acrescentaria: o direito a uma renda básica de cidadania.

Sr. Presidente, felizes estão os metalúrgicos de São Bernardo do Campo nesse instante recebendo o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ali deu os seus passos mais importantes na organização dos trabalhadores como exemplo para trabalhadores em todo o Brasil e em todo o mundo, se fazendo respeitado por presidentes de todos os países, desde, para exemplificar, Evo Morales até o Presidente Barack Obama.

Muito obrigado, Senador Mão Santa.

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