Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamento sobre a maior importância dada pela imprensa ao futebol do que à educação, a propósito de foto estampada nos jornais nacionais em que o Presidente Lula joga bola com o jogador Ronaldo. Expectativa de destinação de maiores recursos para a educação.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Questionamento sobre a maior importância dada pela imprensa ao futebol do que à educação, a propósito de foto estampada nos jornais nacionais em que o Presidente Lula joga bola com o jogador Ronaldo. Expectativa de destinação de maiores recursos para a educação.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Mão Santa, Rosalba Ciarlini.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2009 - Página 16989
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, FALTA, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, COMPARAÇÃO, FUTEBOL, AMBITO, PAUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPRENSA, QUESTIONAMENTO, CULTURA, BRASILEIROS, AUSENCIA, VALORIZAÇÃO, SETOR.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROMESSA, DESTINAÇÃO, RECURSOS, EDUCAÇÃO, ORIGEM, JAZIDAS, PETROLEO, PERFURAÇÃO, RESERVATORIO, SAL, COBRANÇA, ORADOR, URGENCIA, PROVIDENCIA, NECESSIDADE, DEFINIÇÃO, QUALIDADE, GASTOS PUBLICOS, REITERAÇÃO, DEFESA, FEDERALIZAÇÃO, ENSINO PUBLICO.
  • CONTESTAÇÃO, SUPERIORIDADE, INVESTIMENTO, OLIMPIADAS, SEDE, BRASIL, COMPARAÇÃO, CUSTEIO, EDUCAÇÃO, ATRASO, MODERNIZAÇÃO, PAIS.
  • ANUNCIO, MOBILIZAÇÃO, SENADO, PROTEÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, PRESERVAÇÃO, RECURSOS HUMANOS, CONHECIMENTO, BRASIL.
  • AVALIAÇÃO, INSUCESSO, PROGRAMA, CENTRO INTEGRADO DE APOIO A CRIANÇA (CIAC), GOVERNO, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUGESTÃO, GRADUAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE, ESCOLA PUBLICA.

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SECRETARIA-GERAL DA MESA

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O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Sr. Senador e Presidente Collor, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, raramente a gente vê as primeiras páginas dos jornais tão parecidas umas com as outras, Senador Raupp. Hoje, praticamente todos os jornais têm a mesma foto. É a foto do Presidente Lula jogando bola com o jogador Ronaldo. Até aí, tudo bem. Mas o que me espanta é que eu não me lembro de ter visto, nenhuma vez, quanto mais em todos os jornais, uma visita do Presidente conversando com professores em uma escola. Não lembro de ter visto.

O que é que está acontecendo aí? Estão errados os jornais, estão errados os que fazem a agenda do Presidente ou, mais grave ainda, estamos errados todos nós, brasileiros, que damos mais importância ao futebol do que à educação? Talvez sejam as três coisas. A verdade é que nosso Presidente fala muito mais do Corinthians do que de qualquer escola. Ele fala muito mais de futebol do que de educação. Ele sabe mais os nomes de todos os jogadores dos times mais importantes do que os nomes dos secretários estaduais de educação. Essa é uma realidade.

A outra realidade também é verdadeira, de que os jornais não divulgam com a mesma importância o futebol e a educação. Eu não tenho dúvida de que, do ponto de vista da alegria, o futebol é muito mais importante do que a escola. Mas eu não tenho a menor dúvida de que, do ponto de vista do futuro do País, a escola é muito mais importante do que qualquer outra atividade, não só o esporte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite, Senador Cristovam?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Permito, mas não venha dizer que o senhor vai aparecer lutando boxe na primeira página dos jornais.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Cristovam Buarque, é muito própria a sua observação de que os jornais acharam tão interessante a foto do Presidente Lula trocando cabeçadas, passando a bola de cabeça para o Ronaldo, e vice-versa, que acredito que essa foto deva ter saído possivelmente em muitos jornais do mundo inteiro, porque obviamente o Ronaldo é um fenômeno. E que bom que o Presidente Lula o tenha feito, depois das farpas que ambos trocaram, quando certo dia o Presidente Lula achou que ele estava um pouco gordo, falando dele na Seleção Brasileira! Mas os dois agora estão em grande harmonia, porque o Presidente ficou muito contente com o seu bom desempenho, inclusive contra o meu time - Ronaldo fez dois gols, um deles excepcionalmente mágico, contra o Santos. E eu, ali, torcia tanto... Mas, quando V. Exª observa que o Presidente não tem se encontrado com professores, eu gostaria de dizer que sou testemunha, já vi o Presidente Lula visitar inúmeras faculdades, instituições de ensino, e inaugurar escolas de formação técnica. Inclusive, V. Exª sabe muito bem que ele sempre tem dito que tem inaugurado as escolas de formação profissional em maior número do que até o início do seu Governo havia no Brasil. Então, claro, talvez nem sempre os jornais tenham dado o mesmo destaque que ao encontro do Ronaldo com o Presidente. Mas, claro, a sua intenção é destacar a relevância, a importância que o Presidente deve dar, cada vez mais, à educação. Muito bem! Mas, sejamos justos, o Presidente tem ido, muitas vezes, ao encontro dos professores, inaugurado escolas, feito palestras em universidades. Eu mesmo o convidei, por exemplo, e ele aceitou, para abrir a 13ª Conferência Internacional da Basic Income Earth Network (Rede Mundial de Renda Básica). O Presidente aceitou e ali vai se encontrar com professores dos cinco continentes. É apenas uma observação, mas sem querer diminuir - ao contrário, sempre apoiando - a extraordinária ênfase que V. Exª dá à relevância da educação e de quanto o Presidente Lula deve estar estimulando os professores e estudantes no Brasil. Aliás, o Presidente, ontem, fez uma coisa positiva também ao conclamar o time do Corinthians, o Ronaldo e seu técnico a apoiar a campanha para que as pessoas no Brasil que não se registram venham a se registrar; até porque é importante, do ponto de vista das suas matrículas na escola e tudo, saber onde estão os brasileiros e as brasileiras, uma vez que se constatou que alguns pais nem sempre registram os novos nascimentos. E as pessoas, às vezes, ficam até sem saber se estão indo à escola ou não. Apenas, como seu amigo, quis fazer esta observação.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu agradeço, isso faz sentido. Mas eu sempre tenho dito que, do ponto de vista do investimento nas universidades e nas escolas técnicas, o Governo Lula se diferencia; do ponto de vista da educação de base, não se diferencia dos anteriores. São pequenos avanços, sim, mas muito tímidos. Agora, em universidades e escolas técnicas, tem havido, porque dá voto. E é isso que faz com que a gente veja nas primeiras páginas o futebol. Porque não é o Lula, não é a imprensa, somos nós, os brasileiros, que não damos a devida importância à educação. Nós, não é o Presidente. O Presidente faz aquilo que dá voto, como político. E, na nossa cabeça de brasileiros, por algo que houve em algum momento do passado, ninguém é considerado rico por ser culto. O que define o sucesso de uma pessoa não é o seu grau de educação, é o seu contracheque, é a sua conta bancária, é o tamanho do seu carro.

Nós, brasileiros, damos mais importância à baixa temperatura da cerveja do que à alta nota do filho da gente na escola. Nós sabemos mais o nome do técnico do nosso time de futebol do que o nome do diretor da escola onde estudam nossos filhos. É uma realidade da cultura brasileira. E, aí, eu lamento que o Lula, com seu carisma, não tenha nos ajudado a mudar a cabeça dos brasileiros, trazendo o discurso claro, concreto, de que o futebol é a alegria do povo, mas o futuro do povo é a educação. Ele não usou esse seu carisma nesses seus mais de seis anos de governo. Ele não veio à televisão dizer da importância da educação. Ele prefere, de fato, sintonizado com o povo como é, dar mais importância ao futebol.

E, aí, quero falar algo positivo sobre o Presidente. Ontem eu o ouvi dizer na televisão que o dinheiro do pré-sal irá, em primeiro lugar, para a educação.

Não precisa esperar, Senador Suplicy! Não pode esperar pelo pré-sal para começar a colocar mais recursos na educação. Os outros países do mundo não têm pré-sal e colocam dinheiro em educação. A Coréia não tem nem petróleo e fez uma revolução educacional. A Finlândia não deve ter petróleo, fez uma revolução educacional. E por que esperar mais cinco, dez, vinte anos, sacrificando uma geração, para que o pré-sal venha? Isso se o preço do petróleo subir, porque, se não subir, o pré-sal não vai dar lucro.

O Presidente disse isso ontem e eu fiquei satisfeito, mas senti falta de que ele dissesse: “Pelo pré-sal, que um dia virá, vamos começar agora a investir mais”. Esse é o primeiro ponto. Mas tem um mais grave: não adianta colocar mais dinheiro na educação se não disser direito como é que esse dinheiro se transforma em inteligência.

Hoje, se chover no quintal de uma escola, na primeira chuva, vira lama o dinheiro. Entre o dinheiro e os neurônios, há um processo que tem que ser cuidado, e a gente não vê essa preocupação hoje. Esse processo chama-se federalização da educação, a meu ver; pode ser que não seja a solução correta.

Temos que ter um programa claro de dizer que, dentro de vinte anos, a escola brasileira vai estar nos padrões de países como Coréia, Irlanda - não falei nem como Finlândia. A gente não vê isso. São metas tímidas, dependendo do pré-sal. Não o ouvi dizer que, se o pré-sal começar a ser explorado, aí a gente faz a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Não ouvi! Tem 30 bilhões, segundo a Ministra Dilma, prontos para serem investidos na hora em que disserem que as Olimpíadas serão aqui. Por que tem 30 bilhões para as Olimpíadas e não tem 7 bilhões para a educação, o que daria para a gente começar a dar o salto de que a gente precisa? Porque o povo brasileiro, nós - não o Presidente, não a imprensa, não são culpados -, não colocamos a educação em primeiro lugar. Mesmo quando alguém gasta um dinheirão para formar o seu filho não está querendo que ele seja educado, está querendo que ele tenha um bom salário depois. A escola é vista pelos pobres como um restaurante mirim, por causa da merenda, e é vista pelos ricos como a caderneta de poupança para colocar hoje a mensalidade e receber amanhã em forma de salário.

É por isso que, quando a gente gasta um dinheirão para que um filho estude e aos 17 anos ele diz que vai ser professor, a gente fica triste, achando que jogou o dinheiro fora. Se ele diz que quer ser filósofo - e não tem ninguém mais educado do que um filósofo -, o pai fica triste e diz: “O que fiz eu colocando tanto dinheiro para esse menino estudar e virar um filósofo?”. É que, na cabeça dos brasileiros, educação não é símbolo da riqueza. Para alguns, até é o caminho da riqueza. Para alguns. Para a maioria, não é. Para a maioria, é a fezinha na loteria, é o investimento na indústria automobilística, é dinheiro no banco para vender mais carros.

Nós não estamos prontos para a modernidade. Essa é que é a tragédia, Senador Collor, que falou tanto em modernidade como Presidente. Não estamos prontos. Por quê? Porque a modernidade não está mais, Senador Paim, que é um metalúrgico, na indústria mecânica; está na indústria do conhecimento. A modernidade não está mais nas mãos dos operários; está na ponta dos dedos dos operadores. Hoje, o que dá valor às coisas não é a quantidade de matéria-prima, nem de trabalho, porque quem faz é um robô. O material é pouco. A riqueza, hoje, está na quantidade de chips.

         Quando se compra um remédio, o que a gente paga não é a quantidade de farinha - tem aqui um médico -, não é a quantidade de matéria-prima; a gente está pagando é a fórmula que serve de base àquele remédio. Então, a gente está mandando dinheiro para os que inventaram o remédio, e não para os que o fabricaram. A renda não vai mais para quem fabrica. A renda vai para quem inventa. E quem inventa trabalha com o cérebro.

Hoje, faremos aqui uma vigília, que tenho a honra de ter provocado, a partir das vigílias que o Senador Paim fez pelos aposentados, junto com o Senador Mão Santa. Faremos uma vigília em defesa da Amazônia. Mas vou dizer aqui que, além de evitarmos queimar a Amazônia, precisamos evitar queimar os cérebros dos brasileiros. Hoje, o Brasil é um crematório de cérebros. Pois cada criança que sai da escola antes do tempo, seu cérebro é queimado um pouco. E são sessenta crianças por minuto deixando a escola.

A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Um minuto, Senadora.

Sessenta crianças por minuto. Minuto do ano letivo: duzentos dias, e quatro horas por dia. Somos um crematório de cérebros. Despertamos para o crematório de árvores. Despertemos também para o crematório de cérebros.

Hoje, em uma audiência aqui muito boa, de universidades, o Presidente da Academia Brasileira de Ciências lembrou que o Brasil já está em 13º lugar em publicações científicas. Eu nem discuti que, em PIB, estamos acima e que em população estamos acima, melhores. Mas perguntei a ele: se os quatorze milhões de analfabetos tivessem aprendido as quatro operações e o abecê aos quatro anos de idade, em que lugar estaríamos hoje? Se todos terminassem o segundo grau com qualidade, onde estaríamos hoje? Se todos entrassem na universidade sabendo o essencial - porque, hoje, Senadora Serys, os meninos entram na universidade e têm que fazer cursinhos lá dentro; eu, quando estudei Engenharia, já cheguei lá sabendo um pouco de cálculo diferencial integral; hoje, aqui na UnB, tem uma disciplina chamada Pré-Cálculo; depois que entra na universidade, você tem que estudar o que era para ter estudado no ensino médio -, nós não estaríamos em 13º. Estaríamos melhores.

Acho que, se tivéssemos mais fotos do Presidente Lula falando, insistindo, tocando no assunto da educação, com o seu carisma, com a sua força, estaríamos em uma posição melhor com relação à educação. Lamento muito que esse imenso capital que ele tem não esteja sendo usado para fazer a revolução que prometeu.

Eu sempre disse que a revolução não é na economia. A economia vai continuar desse jeito. Começou em 90 essa revolução econômica que a gente fez. Não vai ter mudança. A revolução não é tomar o capital do capitalista e dar para o trabalhador, é pegar o filho do trabalhador e botar na escola do filho do capitalista. Essa revolução, ele poderia ter iniciado. Pena que o tempo passou!

Que o Senador Collor me perdoe, mas eu, com todo o elogio ao carisma do Lula, não quero um terceiro mandato para ele fazer isso, não. Ele tem que fazer até terminar o segundo mandato, porque o terceiro mandato seria deseducador para o País como um todo.

Eu poderia ter encerrado este discurso, Senadora Serys, mas há dois pedidos de aparte, e passo a palavra à Senadora Rosalba, primeiro.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Solicito brevidade nos apartes, porque o tempo já se esgotou e temos 27 inscritos.

A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Pois não, Senadora Serys, mas este é um assunto que realmente empolga a todos nós: falar em educação, na revolução da educação. Realmente, se tivéssemos a revolução na educação, nossa economia estaria anos-luz bem melhor, porque haveria mais emprego. Com o carisma, com a facilidade que o Presidente tem de se comunicar, já imaginou se ele, utilizando mesmo a imagem do futebol, do esporte, estivesse ali fazendo um desafio, dizendo à criança: “Vamos vencer, vamos mostrar o caminho de vencer, o caminho da transformação, que é o da educação. Vamos levantar a taça do combate ao analfabetismo, do analfabetismo zero”? O Senador aqui disse e nós sabemos que, com relação às crianças de quatro anos, da educação infantil, cada minuto perdido na fase inicial de sua vida não se recupera mais. São inteligências que estamos perdendo, são valores que o País não pode desperdiçar. E tudo passa pela educação infantil e também pelo ensino integral. Presidente Collor, quero aqui relembrar que o senhor começou um programa realmente inovador: escolas de tempo integral, que eram os Caics. Foi feito um na minha cidade, a primeira cidade a receber um Caic no Nordeste. E, realmente, enquanto funcionou como Caic, era uma escola de tempo integral, com assistência à saúde, com assistência nutricional, e o esporte fazia parte, porque o esporte tem que estar dentro da escola, como também a cultura. Hoje, houve uma audiência pública na Comissão de Educação - o Senador Buarque estava presente -, e discutimos mudanças na Lei Rouanet, se fazer, como fazer. E o Brasil precisa é de um fundo nacional de cultura...

(Interrupção do som.)

           A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Quando o nosso País precisa realmente...

           A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Desculpe, Senadora, houve um problema aqui.

           A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - R) - Estou concluindo, Srª Presidente. Quando o País precisa é também da cultura como parte integrante da vida de todos os estudantes brasileiros, desde a pré-escola, desde a educação infantil. Valorizar o primeiro passo. E esse tem que ser realmente firme, a criança tem que saber o bê-á-bá, saber contar, ter lógica para poder entender melhor os desafios da vida. Portanto, fica aqui, Senador, a minha solidariedade. Parabéns pela lucidez da comparação, porque, realmente, o que nós queremos são campeonatos, nós queremos vitórias, mas no caminho da educação, porque essa, sim, vai transformar o País e vai fazer nosso povo muito mais forte, muito mais digno e muito mais capaz!

           Tomara que o Presidente invista mais, e não deixe para o Ministério da Cultura apenas 0,6% de tudo o que a Nação arrecada! Isso é um absurdo. Nem 1% está sendo investido através do Ministério da Cultura. E cultura é parte fundamental do processo educacional, como também o esporte tem que estar inserido como um instrumento que alavanque a educação, que atraia, que faça com que a nossa juventude gaste sua energia para o caminho do bem. E esse caminho do bem é na escola. Era o que eu queria dizer, Senador. Parabéns! V. Exª conta com o nosso apoio para que possamos defender juntos essa revolução, que é imperiosa, é necessária, principalmente neste dia 13 de maio, quando comemoramos a libertação da escravatura. Educação é símbolo, é sinônimo de liberdade. Muito obrigada.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Cristovam, nós temos muita culpa. Este Senado da República, de que nos orgulhamos... Serys, vá ao gabinete do Presidente Sarney e olhe um quadro, o primeiro Senado da República. Só os brasileiros, tire os de Portugal. Éramos quarenta e dois: vinte e dois eram da área do Direito, e desde lá eles estão fazendo leis boas para eles; dez militares; sete padres; dois médicos; dois da área do campo; nenhum professor. Então, V. Exª, assim como Pedro Calmon, João Calmon e Darcy Ribeiro, estão resgatando... E, hoje, temos na Presidência uma professora. Presidente Collor, V. Exª vai falar porque eu cedi, mas, antes, quero dizer que votei em V. Exª. Eu era prefeitinho em Parnaíba. E, depois, Deus e o povo me fizeram governar o Estado. Inaugurei - V. Exª fez - e fiz funcionar no Piauí dez Caics, monumentos, templos, igrejas, catedrais da educação. Orgulho não daqui, mas do mundo. A estrutura física e tudo. Então, posso falar. Assim como Cícero falava “o Senado e o povo de Roma”, quero dizer “o Senado e o povo do Brasil”. Pelos Caics que V. Exª construiu, V. Exª é absolvido por este Senado, que no passado o condenou.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Presidenta Serys, gostaria de ter algum tempo a mais, mas não muito, primeiro para fazer uma referência ao Presidente Collor, que foi citado aqui.

Por um lado, um hábito que tinha: o senhor descia a rampa, carregando livros. Lembro-me de que desceu a rampa, carregando um livro meu, e a gente não se conhecia. Quando vi no Jornal de Brasília, fui olhar aquele livro, e era meu. Segundo, acho que V. Exª e o Brizola cometeram um erro. Os Cieps e Ciacs deveriam ter sido implantados por cidades. Se, em vez de espalhar pelo Brasil inteiro, Senador Magno Malta, centenas de Ciacs, tivessem concentrado todos em umas 50 cidades, nunca teria parado o programa.

Finalmente, para concluir, Senador Tião, gostaria de ver o Presidente Lula chegar para o Ronaldo e dizer: “Ronaldo, sabe por que você é um grande jogador de futebol, vindo lá das camadas mais pobres? Porque, no Brasil, a bola é redonda para os filhos dos pobres e para os filhos dos ricos. Mas a escola é redonda para uns e quadrada para outros. O que faz com que sejam os filhos dos pobres que chegam à seleção brasileira de futebol é o fato de a bola dos pobres ser redonda, tanto quanto as bolas que jogam os filhos dos ricos. Agora, quando vão para a escola, uns vão para a escola quadrada, e uns vão para escola redonda”.

Esse diálogo gostaria de ver do Presidente Lula com o Ronaldo. Ele chegou aonde chegou, o Ronaldo, pelo talento, pela persistência, mas pela chance de jogar com bola redonda.

Ainda bem que não se pensou em obrigar pobre a jogar com bola quadrada. Temos de redondear todas as escolas deste País. Isso consiste em quê? Em duas coisinhas simples. Primeiro, definir uma escola redonda: professor bem remunerado, bem dedicado, bem preparado, prédios bonitos e bem equipados, em horário integral. Isso é uma escola redonda. E, depois, fazer com que as 200 mil sejam assim. E aí acho que os Ciacs, um a um, terminaram se perdendo. Se o senhor tivesse feito por cidade, ou seja, se tivesse feito Ciacs todas as escolas de uma cidade - e se Brizola tivesse feito isso -, teria feito em umas 200 cidades no seu tempo de presidência, e ninguém pararia mais. Brizola teria feito em 60 no Rio de Janeiro, e ninguém pararia mais.

Está em tempo de a gente fazer isto a partir de agora, com o nome que for: redondear as escolas, para que o Presidente possa até bater bola com um jogador de futebol do tipo do Ronaldo, mas sabendo que qualquer pessoa com que ele for jogar bola tem um cérebro, lá dentro da cabeça, bem desenvolvido, graças a uma boa escola.

É isso que queria falar. A culpa não é da imprensa, não é do Lula; é um sentimento e uma característica de todo o povo. Mas essa característica é parte de nós, líderes, mudarmos, para que esse povo entenda que o futuro está na escola, do mesmo jeito que a alegria está no futebol.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2009 - Página 16989