Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a estudos que apontam os setores da economia brasileira mais expostos aos impactos da crise econômica internacional. Análise sobre o futuro do agronegócio no Brasil.

Autor
Neuto de Conto (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Neuto Fausto de Conto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA AGRICOLA.:
  • Comentários a estudos que apontam os setores da economia brasileira mais expostos aos impactos da crise econômica internacional. Análise sobre o futuro do agronegócio no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2009 - Página 17006
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • ANALISE, PREVISÃO, LONGO PRAZO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, EFEITO, ECONOMIA NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, SETOR, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, REDUÇÃO, FINANCIAMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, DESVALORIZAÇÃO, PRODUTO, RETROCESSÃO, MERCADO, COMENTARIO, ENTREVISTA, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PROMESSA, LIBERAÇÃO, RECURSOS, APRESENTAÇÃO, DADOS.

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O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Presidente, Mão Santa, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, inúmeros estudos apontam que o setor da economia brasileira mais exposto ao impacto da crise econômica internacional é o sistema financeiro, a construção civil residencial e comercial, os prestadores de serviços, fabricantes de bens duráveis e semiduráveis e toda a cadeia de agrobusiness. Os produtores de alimentos estão sendo afetados, porque não encontram mais financiamento internacional. Os produtos estão sofrendo desvalorização e os mercados consumidores estão retraídos.

No plano interno, a situação não é muito diferente, apesar da sinalização e dos esforços que vêm sendo realizados pelo Governo, desde o início da crise. A oferta de crédito diminuiu, o dinheiro desapareceu. Desde setembro do ano passado, percebemos que começou...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Neuto De Conto, desculpe interrompê-lo, porque o Presidente Sarney achou de tanta importância o pronunciamento de V. Exª que veio assistir a ele. E ele está com o espírito do Big Ben de Londres: 16h começa a Ordem do Dia.

O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC) - Saudamos o Presidente José Sarney, que preside esta Casa.

Desde setembro do ano passado, percebemos que começou a se verificar uma redução significativa na oferta de crédito e uma diminuição do investimento na produção agrícola, devido à desaceleração registrada no comércio internacional.

Recentemente, em entrevista nos Estados Unidos, o Ministro Guido Mantega anunciou que o Governo ainda dispõe de instrumentos monetários eficazes para acelerar o mercado. Lembrou que já foram liberados mais de R$100 bilhões para estimular o crédito e que o Banco Central ainda dispõe de R$160 bilhões em depósitos compulsórios. Por fim, disse que o Brasil conta com cerca de US$200 bilhões em reservas internacionais.

Mesmo assim, creio que seria prudente não esquecerem que a expansão dos gastos públicos é limitado, e a crise, ao que tudo indica, será de longa duração.

Os analistas acham que uma melhoria na escala geral vai demorar ainda alguns anos. A estimativa é que um quadro de reaquecimento global na economia, com a retomada do apetite do mercado internacional para o consumo, só deverá acontecer nos próximos anos.

De qualquer forma, para o nosso País não há mais como se afastar da crise que começou com o colapso do setor imobiliário americano e continua a causar grandes choques no sistema financeiro mundial. Desde 1929, a economia internacional não atravessava tamanha recessão. Na opinião de diversos economistas, a crise atual é muito mais grave que a de 29. Naquela época, o mundo não era globalizado, o comércio internacional era modesto e o sistema financeiro internacional, limitado.

A partir do segundo semestre de 2008, a economia brasileira começou a perder os bons resultados que acumulou até o final de agosto. Apesar das fortes quedas registradas na produção e da diminuição do consumo, o ano terminou positivo para a economia como um todo. Durante todo o ano de 2008, a economia registrou um crescimento de 5,1% contra 5,7%, em 2007. No entanto, logo no início deste ano, os Ministros da área econômica começaram a reconhecer que a crise havia realmente desembarcado em nossas terras.

Os primeiros dados divulgados em 2009 mostram que a balança comercial teve o pior desempenho desde março de 2001, apresentando, em janeiro passado, um déficit de US$518 milhões, segundo divulgação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Nesse cenário de grande turbulência, desconfiança, recessão, dificuldades e nervosismo dos mercados, o agronegócio brasileiro tenta resistir confiante em sua grande capacidade de recuperação e enorme potencial adquirido ao longo dos anos de trabalho, do progresso e de modernização.

Somos os maiores exportadores mundiais de carne bovina, de frango, de café, de cana-de-açúcar, de laranja, soja, tabaco e de outros produtos agrícolas como frutas e milho, mas, de repente, fomos surpreendidos pela crise, e os países importadores diminuíram suas compras. Entretanto, com o mercado consumidor internacional mais calmo, como se espera que aconteça a médio prazo, e com a desvalorização do real frente ao dólar que já atingiu o limite, a produção brasileira poderá encontrar uma saída para vender seus produtos a preços mais competitivos: US$1,00 que poderia ser estabilizado à faixa de R$2,30.

De acordo com estudos realizados pelo Professor Alexandre Mendonça de Barros, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, mesmo em recessão, os países ricos não deverão restringir drasticamente o consumo de alimentos. Porém, as perspectivas são de safra menor para este ano. Segundo estimativa feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o ciclo 2008/2009, a produção deverá ser, no máximo, de 141.800.000 toneladas de grãos, o que representaria uma queda de 1,4% sobre a safra atual. Para o Dr. Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura, os custos de produção estão 30% mais caros e os produtores, receosos com os novos desdobramentos da economia mundial.

No final de janeiro passado, o Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo divulgou uma série de dados importantes sobre o desempenho do conjunto da agricultura brasileira. Os números revelam que, no primeiro mês de 2009, as exportações do agronegócio brasileiro recuaram 11,4% em relação ao mesmo mês de 2008, atingindo US$4,34 bilhões. No que se refere às importações, o recuo foi de 29,6%, também em comparação com janeiro de 2008, somando US$1,4 bilhão. Mesmo com esse resultado, o IEA amostra que o desempenho do agronegócio brasileiro sustentou a balança comercial. O superávit do agronegócio registrou, em janeiro de 2009, US$2,940 bilhões.

Entre os fatores adversos que explicam o fraco desempenho de janeiro das exportações dos produtos primários, destaca-se a queda dos preços das commodities da pauta de exportação. A partir de meados de setembro, com os primeiros sinais da crise, as cotações dos produtos da agricultura começaram a cair. Todavia, os impactos não foram sentidos de imediato porque, como é de praxe, as negociações com as mercadorias do agronegócio são sempre realizadas com antecipação. Como os preços estavam elevados até agosto, os resultados negativos, principalmente de grãos e oleaginosas, não se refletiram de forma significativa nas estatísticas das exportações agrícolas brasileiras.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, o nosso pronunciamento se estenderia por mais um longo tempo. Por isso, peço a V. Exª, Sr. Presidente, que dê como lido o total do discurso, pois ele faz uma análise profunda sobre o futuro do agronegócio do Brasil. Este País, que tem terra, água, clima, gente e tecnologia poderá ser, sim, o maior produtor e o maior exportador de alimentos para não só alimentar o Brasil, mas também todo o mundo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR NEUTO DE CONTO.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2009 - Página 17006