Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 14/05/2009
Discurso durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem pelo transcurso dos 42 anos do Teatro Popular União e Olho Vivo. Lamenta a retirada do monumento erigido em São Gabriel (RS), em homenagem ao índio guarani Sepé Tiaraju.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
POLITICA CULTURAL.:
- Homenagem pelo transcurso dos 42 anos do Teatro Popular União e Olho Vivo. Lamenta a retirada do monumento erigido em São Gabriel (RS), em homenagem ao índio guarani Sepé Tiaraju.
- Aparteantes
- Sérgio Zambiasi.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/05/2009 - Página 17279
- Assunto
- Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA CULTURAL.
- Indexação
-
- INFORMAÇÃO, JOSE AGRIPINO, SENADOR, EMPENHO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), BUSCA, ADOÇÃO, CRITERIOS, GARANTIA, DIREITOS, POSSUIDOR, POUPANÇA, OBJETIVO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, MIGRAÇÃO, APLICAÇÃO FINANCEIRA, FUNDO DE INVESTIMENTO, CADERNETA DE POUPANÇA, INCENTIVO, EQUIDADE, NATUREZA FISCAL, NATUREZA TRIBUTARIA.
- HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, GRUPO, TEATRO, DEFESA, EXTENSÃO, ARTES CENICAS, TROCA, EXPERIENCIA, POPULAÇÃO CARENTE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
- FRUSTRAÇÃO, INFORMAÇÃO, DESTRUIÇÃO, MONUMENTO, MUNICIPIO, SÃO GABRIEL (RS), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), HOMENAGEM, VULTO HISTORICO, LIDER, INDIO, VITIMA, HOMICIDIO, SOLDADO, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, SOLICITAÇÃO, FAMILIA, PROPRIETARIO, TERRAS, BUSCA, ENTENDIMENTO, GOVERNO MUNICIPAL, RECONSTRUÇÃO, MONUMENTO NACIONAL, AUTORIA, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, em primeiro lugar, quero, com respeito às observações do Líder do Democratas, José Agripino Maia, informar que, com muita responsabilidade, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou adotar um critério, seguindo as recomendações do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com respeito às cadernetas de poupança no Brasil, que, sobretudo, resguarda o direito de todos aqueles que têm poupança no valor até R$50 mil, que não serão objeto de tributação.
O propósito foi, sobretudo, que não haja uma migração extraordinária de investimentos para a caderneta de poupança. Portanto, resolveu-se tributar aqueles que têm caderneta de poupança e só no acréscimo de valor em relação àquele patamar.
Então, é uma decisão muito responsável que o Governo do Presidente Lula, o Ministério da Fazenda tomou para, de um lado, resguardar esse instrumento tão importante de poupança de todo o povo brasileiro e, ao mesmo tempo, realizar o princípio de equidade tributária e fiscal.
Obviamente, esse assunto virá para o Congresso Nacional, e vamos aqui debatê-lo. Eventualmente, sugestões poderão ser formuladas.
O sentido da medida do Governo do Presidente Lula tem um propósito de equidade e de responsabilidade para com o que deve ser a boa administração da economia brasileira.
Sr. Presidente, eu recebi uma comunicação, por parte de Cesar Vieira, nome artístico e tão conhecido no Brasil de Idibal Pivetta, que é o fundador e responsável do Teatro Popular União e Olho Vivo, que, no dia 27 de fevereiro de 2008, completou 42 anos de resistência.
É um dos mais antigos grupos de teatro do Brasil.
Seu objetivo principal é a troca permanente de experiências culturais com as comunidades carentes da Grande São Paulo.
Nessas mais de quatro décadas, desenvolveu um fértil trabalho, reconhecido nacional e internacionalmente, em defesa e em prol do desenvolvimento do teatro popular.
Apresentou-se por mais de três mil e quinhentas vezes para um público superior a três milhões e quinhentas mil pessoas. A maior parte dessas apresentações, seguidas de debates, foram realizadas para plateias dos bairros periféricos da Grande São Paulo.
Suas encenações têm sempre como estrutura a arte popular brasileira: o carnaval, o bumba-meu-boi, o circo, o futebol, a literatura de cordel etc.
Seu trabalho recebeu os mais importantes prêmios da crítica cultural brasileira e do exterior.
O Teatro União Olho Vivo representou o Brasil em 20 festivais internacionais de teatro e percorreu, em temporadas, 22 países da América, Europa e África.
O grupo garante a manutenção de seu trabalho por meio da “Tática Robin Hood”, vendendo espetáculos para entidades convencionais e aplicando essa receita em seu fim primordial: a ida a um bairro popular, com ingressos a preços simbólicos ou gratuitos.
Mas o que me motivou a falar de Idibal Pivetta, que inclusive coloco ao lado de Augusto Boal, de Gianfrancesco Guarnieri, de Ricardo Antunes, de José Celso Martinez Corrêa, de Bibi Ferreira, de Jô Soares e de outros grandes dramaturgos brasileiros, é que ele me comunicou um fato sério e grave, do ponto de vista cultural brasileiro, do nosso patrimônio histórico, ocorrido em São Gabriel, no Rio Grande do Sul.
O grupo Teatro Popular União e Olho Vivo, inclusive, vem realizando a encenação de um julgamento iniciado no dia 10 de outubro de 1759, na Vila de São Borja, no qual juízes militares espanhóis e portugueses julgam índios guaranis, entre os quais Sepé Tiaraju, corregedor, por terem os réus se recusado a obedecer o acordo luso-espanhol que, arbitrariamente, determinava que os habitantes de todos os povos das missões jesuítico-guaranis abandonassem suas casas e terras, entregando-as aos “colonizadores” procedentes da península ibérica, na Europa.
O espetáculo se desdobra como uma opereta, trazendo depoimentos de testemunhas dos fatos abordados no julgamento, culminando com a cena da “Desbatização”, na qual Sepé invoca a proteção da feiticeira M’Boicuña, rompe com a “civilização branca conquistadora” e expulsa de seu corpo e mente as marcas do “batismo” a que havia se submetido.
Essa lenda-verdade é que o Teatro Popular União e Olho Vivo apresenta na 15ª POA EM CENA, visando a tornar mais conhecido esse episódio épico-poético, resgatando a figura mítica de Sepé Tiaraju, o primeiro herói gaúcho e brasileiro.
Ora, o que é que aconteceu no último dia 7, em São Gabriel? Pela comunicação de Antonio Cechin, no exato momento em que, em Porto Alegre, é lançado o livro Pedido de Perdão ao Triunfo da Humanidade, de José Roberto de Oliveira, recebemos a dolorosa notícia de que o Prefeito de São Gabriel, Rossano Gonçalves, teria colocado abaixo o oratório-monumento de São Sepé Tiaraju da Sanga da Bica, lugar exato em que nosso herói-santo-popular deu o beijo derradeiro na Terra sem Males de seu povo, em meio às torturas que lhe infligiram os esbirros portugueses e espanhóis.
É doloroso e escandaloso que isso aconteça no início das comemorações dos 400 anos (4º centenário) do início das Missões Jesuíticas Latino-Americanas, que aconteceram de 1609 a 2009.
A notícia nos foi dada por telefone pelo Guilherme Abib, da família planejadora e executora não só do Oratório, mas também do conjunto arquitetônico desenhado por Oscar Niemeyer, a ser levantado na Praça São Sepé Tiaraju.
E isso foi comunicado através de nota escrita por Roberto Antonio Liebgott, da Cimi Sul - Equipe Porto Alegre.
Quero ler essa nota, mas quero também informar que liguei para o Prefeito Rossano Gonçalves, de São Gabriel. Ainda não consegui conversar com o Prefeito, porque me disseram que ele está viajando pelo interior, em local não de pronto localizável. Seu chefe de gabinete, Luiz Alberto, explicou-me, primeiro, que foi o próprio Prefeito de São Gabriel, Rossano Gonçalves, quem primeiro havia construído um monumento em homenagem a São Sepé Tiaraju, que foi por pedido da Srª Sílvia Assis Brasil, proprietária da área onde está aquele monumento, que ele teria sido retirado.
Ora, eu, então, estou tentando obter o telefone da Srª Sílvia Assis Brasil, para tentar conclamá-la, juntamente com o Prefeito de São Gabriel, Senador Sérgio Zambiasi, a colocar novamente aquele belo monumento de Oscar Niemeyer na Praça São Sepé Tiaraju, porque, mesmo que seja de propriedade privada, trata-se de patrimônio histórico, e poderia perfeitamente o Prefeito...
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - RS) - ...Rossano Gonçalves - preciso de uns minutinhos mais, Sr. Presidente - dialogar com a Srª Sílvia Assis Brasil para transmitir ao povo brasileiro que trata de monumento de extraordinária importância.
Permita-me, Presidente, ler a nota da Cimi, de Porto Alegre. Em seguida, Senador Sérgio Zambiasi, vou lhe conceder um aparte, para que V. Exª, então, a par dos fatos, possa, como Senador do Rio Grande do Sul, aqui esclarecê-los melhor.
Diz a nota da Cimi-Sul, de Porto Alegre:
Na ocasião das celebrações dos 250 anos de martírio de Sepé Tiaraju, líder indígena Guarani, assassinado por soldados da Espanha e Portugal, em 07 de fevereiro de 1756, foi erguido um monumento em sua homenagem, na cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul. O monumento consistia num símbolo representativo dos Sete Povos das Missões e que pretendia marcar o local onde espanhóis e portugueses massacraram o povo Guarani, devastaram suas terras, seu meio ambiente e as cidades missioneiras.
O monumento, construído voluntariamente por militantes e simpatizantes da causa indígena, havia sido abençoado por centenas de pajés, Karaí e Kunhã Karaí de comunidades Guaranis do Brasil, Argentina e Paraguai. Debaixo dele rezaram pelos seus mortos, debaixo dele rezaram pelo futuro dos Guaranis, de seus descendentes e de todos os demais povos. Rezaram por justiça, paz e solidariedade. Rezaram para que os homens e mulheres vivam nesta terra de maneira que a “terra sem males” seja construída através do amor e da fraternidade. O monumento já era um espaço sagrado no modo de ver dos líderes religiosos indígenas e como tal também era percebido e visto pela população simples e religiosa de São Gabriel, bem como dos romeiros que por ali passavam para orar em memória do líder indígena que lutou e morreu defendendo as terras gaúchas.
Pois o monumento inquietava os donos do latifúndio, os fazendeiros arrogantes que habitam e exploram as terras sagradas do Rio Grande. Eles tinham medo do símbolo de resistência e vida que ali fora plantado e como que encravado na memória daqueles que se colocam contra a vida e a solidariedade, que se colocam contra a possibilidade de que haja direitos iguais para todos, que se colocam contra a redistribuição de bens e das terras. Esses senhores, patrocinadores da dor e da miséria, não sossegaram e passados pouco mais de três anos das celebrações de Sepé Tiaraju decidiram, com a infra-estrutura da prefeitura de São Gabriel, destruir o que lhes causava dor e medo. Destruíram o monumento de Sepé Tiaraju, líder índio Guarani e herói do Rio Grande.
Repudiamos a mais esta violência contra a memória dos Guarani, contra a historia do Rio Grande do Sul, contra a esperança de construção de uma “terra sem males”. Para estes que aniquilaram o monumento resta lembrar o Evangelho onde Jesus manda que sobre eles se deve sacudir a poeira das sandálias, pois ali a terra é pedregosa e cheia de ervas daninhas.
Quero esclarecer, Senador Sérgio Zambiasi, que me disse o Chefe de Gabinete Luiz Alberto, do Prefeito Rossano Gonçalves, que a obra está guardada, não foi destruída e que seria intenção colocá-la noutro lugar. Mas meu apelo à Srª Sílvia Assis Brasil é que possa ser novamente colocado naquele lugar, que, segundo contam todas as testemunhas, foi o próprio lugar onde Sepé...
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...Tiaraju teria sido morto.
Senador Sérgio Zambiasi, por favor. Senador do Rio Grande do Sul.
O Sr. Sérgio Zambiasi (PTB - RS) - Senador Suplicy, estou com o Chefe de Gabinete do Prefeito Rossano Gonçalves, de São Gabriel, neste momento.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois não.
O Sr. Sérgio Zambiasi (PTB - RS) - Não consegui ouvir exatamente todos as manifestações em relação ao busto de Sepé Tiaraju, que foi erigido exatamente em terreno particular, pertencente à família Assis Brasil, que é família muito tradicional do Rio Grande do Sul, por quem todos temos muita admiração e orgulho.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sim. Aliás, eu conheço.
O Sr. Sérgio Zambiasi (PTB - RS) - Aliás, ao lado de São Gabriel, Senador Suplicy, tem uma cidade chamada São Sepé, entre São Gabriel e Santa Maria. Então, não há gaúcho que não tenha por Sepé Tiaraju profunda admiração e orgulho, pelas suas lutas em defesa da nossa terra. Aliás, é sua a expressão “esta terra tem dono”. Um exército só não pode vencê-lo lá nas planuras dos Sete Povos, lá nas planuras de São Luiz Gonzaga. Tiveram de se unir os exércitos de Portugal e da Espanha para derrotar esse guerreiro indígena gaúcho. Eu lhe asseguro que talvez ainda nesta tarde eu tenha informações completas a respeito dessa questão, em relação ao busto de Sepé, à propriedade privada da família e ao que o Poder Público de São Gabriel pode fazer nesse sentido, e encarrego-me de lhe passar imediatamente, porque é sempre bom reverenciar a memória dos nossos guerreiros, dos nossos heróis.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço muito a sua providência e quem sabe, Senador Sérgio Zambiasi, possamos fazer um apelo à Srª Sílvia Assis Brasil, à família Assis Brasil.
Como se trata do local, se assim estiver confirmado, onde o próprio Sepé Tiaraju...
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...foi assassinado, se de fato é esse, então, ali deve ser o local para a devida homenagem. Quem sabe possa haver um entendimento entre o Poder Público municipal e a família Assis Brasil para se restituir, ali, o local, inclusive diante da própria homenagem que Oscar Niemeyer resolveu fazer para Sepé Tiaraju.
Então, agradeço muito a sua pronta providência, somando-se a mim com respeito ao objetivo e à memória da história do povo do Rio Grande do Sul, inclusive dos Guaranis.
Muito obrigado.
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