Discurso durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da valorização salarial para a classe médica do País.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL.:
  • Defesa da valorização salarial para a classe médica do País.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2009 - Página 17290
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, ASSOCIAÇÃO MEDICA, DENUNCIA, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, MEDICO, REDUÇÃO, COEFICIENTE, HONORARIOS, AUSENCIA, REAJUSTE, SALARIO, COMPARAÇÃO, SERVIDOR, JUDICIARIO, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, RETIRADA, GRATIFICAÇÃO, SUSPENSÃO, PAGAMENTO, SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, CLASSE PROFISSIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador Geraldo Mesquita, que preside esta sessão de 14 de maio, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, nós todos temos as nossas raízes e, para aonde nós vamos, nós as levamos, raízes como a nossa profissão. 

Eu vi V. Exª, Senador Geraldo Mesquita, entusiasticamente defender a sua classe - os Procuradores da Fazenda -, com muito amor, idealismo e sonho, retratando a responsabilidade. Estou aqui para defender a minha classe. Não poderia deixar de fazê-lo, porque ela significa muito, tudo para mim - o meu sonho, a minha realização.

Senador Raupp, o Piauí é muito forte em ciência médica e tem a sua razão. Getúlio Vargas, quando entrou no seu período de governo, que se prolongou por 15 anos, teve o grande apoio de uma corrupção eleitoral enorme que havia naquela época - que hoje está maior, ouviu Senador Pedro Simon? Hoje, a corrupção eleitoral é maior e mais vergonhosa. De tal maneira que surgiu a Coluna Prestes, lá do Rio Grande do Sul, tentando conquistar até o Piauí, mas prendemos Juarez Távora, mostrando bravura.

Então, Getúlio Vargas sentiu o apoio daquela gente, ao assumir o Governo em 1930. Então, na maioria dos Estados, ele indicou os tenentes como interventores, que já se tinham mostrado indignados com a corrupção daquela época, que era minúscula diante da corrupção eleitoral que temos neste Brasil hoje.

Assim, ele pegou aqueles tenentes e botou como interventores. No Piauí, tivemos um: Landry Sales. Por felicidade nossa, ele era cearense e tomou outro rumo.

Ficou como Governador do Piauí um médico: Leônidas Melo, pneumologista, de grande visão. Ele nasceu em Barras e formou-se - naquela época, a tuberculose assolava - em pneumologia. Avançado. Leônidas Melo encravou em Teresina um grandioso hospital para a época - era tido como um elefante branco. Mas ele era um homem de visão. Ele deu ao hospital o nome de Getúlio Vargas. Aí, haja condições do Presidente! Eu, quando Governador do Estado, ampliei o hospital com um pronto-socorro, um anexo. Mas é grandioso.

E, como Padre Antônio Vieira disse, um bem nunca vem só. É acompanhado de outro homem, Pedro Simon. Então, além desse hospital geral, desenvolveu-se no Nordeste uma inteligência ímpar. Foi Presidente do Ipase e Deputado Federal, Clidenor Freitas. Era Presidente do Ipase, quando do golpe de Getúlio.

Então, na época também, pelo ideal de Leônidas Melo, ele construiu no Piauí, em Teresina, o mais avançado hospital psiquiátrico. Os doentes eram acorrentados, e foi ele quem inovou.

E Teresina se desenvolveu, de tal maneira que a classe médica ficou tão forte... Eu acho que estou aqui, porque o Partido dos médicos é mais forte que os outros.

Então o Estado, em gratidão a esse avanço da ciência médica deu, depois de Leônidas Melo, Eurípedes Aguiar, médico, Tibério Nunes, médico; Rocha Furtado, grande cirurgião que, depois, foi para Fortaleza e tornou-se Secretário de Saúde do Estado do Ceará; Dirceu Mendes Arcoverde, que morreu nesta tribuna - foi Senador - no seu primeiro pronunciamento, defendendo o Governo e a Saúde do Governo; Lucídio Portella, irmão mais velho de Petrônio Portella, homem de grande austeridade. Hoje eu falava, numa reunião da Mesa Diretora, com quem tinha aprendido austeridade e invoquei o nome de Lucídio Portella e da sua geração para administrarmos as questões, para darmos novo rumo a este Senado da República, na sua parte administrativa.

Então, havia homens como esses e, depois, o povo me colocou lá, com Deus. Teresina tem quatro faculdades de medicina: a Federal, a do Estado, que eu criei - um bem não vem só - e duas privadas. Eu coloquei aquele Estado na era dos transplantes. Acompanhei, com sucesso, transplante de coração. Poucas cidades no Brasil fazem.

Mas está aí o Ministro Temporão, extraordinário Ministro, um homem empenhado com a saúde pública. O dinheiro da Saúde é pouco, Raupp. Nós temos uma obrigação com a educação de 25% no mínimo, e a área de saúde nunca teve um percentual específico.

Os líderes da classe médica, que eu represento, mandaram uma carta que mostra o quadro atual do Brasil. Vou lê-la aqui, é simples. Eu gostaria que o Presidente Luiz Inácio meditasse sobre ela.

Ela foi publicada primeiro no jornal Diário de Natal. Olha, o coeficiente de honorários teve uma perda de 308% nos últimos 9 anos. Se for em dólar, é 351%. O documento, mais que uma reclamação, é uma séria denúncia do ponto a que chegaram os médicos, grande parte dos quais à beira da insolvência financeira. A repercussão foi em todo o Brasil e eles vieram, pediram e eu os atendo.

Olha, não se presta homenagem a médico. Só no desespero, na dor, no infortúnio, que nós sabemos que eles existem, então quero prestar esta homenagem. Vou ler o documento:

Médicos, companheiros de profissão, como descemos...

Atentai bem, Geraldo Mesquita, V. Exª que é um homem público, que é um homem justo.

Quando meu pai, médico, aposentou-se há 9 anos, disse que estava fazendo aquilo porque a profissão médica havia chegado ao fundo do poço e não aguentava ver a classe descer mais do que aquilo.

Nesses 9 anos os salários e até o CH (coeficiente de honorários), criado para proteger o trabalho médico, desvalorizou 308,68%, se comparado ao salário mínimo (e nós pagamos salários baseados no mínimo aos funcionários); desvalorizou 73,47% pelo IBGE, que mede o índice de preços ao consumidor/inflação); índice este que sabemos ser maquiado pelo Governo Federal...

Se “dolarizarmos” nossas perdas, elas chegam a 351,81%. Como descemos...

Inicialmente, fizemos cortes no orçamento, depois aumentamos a carga de trabalho, passando a dar mais plantões.

Cortamos férias, nos tornamos “clientes especiais” dos bancos, inicialmente eventuais, hoje cativos.

Não temos tempo sequer para nos organizar. Como descemos! Não podemos lutar sequer na Justiça, pois o Judiciário jamais votaria a nosso favor, mesmo que estejamos certos.

Os juízes já votaram seu próprio aumento salarial e, se votassem o nosso, poderia não sobrar para eles.

Em 1994, um médico recebia R$755,00 e um promotor público R$1,3 mil. Hoje, o médico recebe os mesmos R$755,00 e o promotor mais de R$8 mil. Que diferença de responsabilidade ou de curso faz com que ocorra tal disparidade?

Sem falar de vereadores, auditor fiscal e outros cargos que, devido ao seu poder de autogestão dos salários foram evoluindo exponencialmente, enquanto nós retrocedemos.

Como descemos! E a culpa, de quem é? De nós mesmos! Nós, que deixamos a coisa ocorrer sem reagir.

Talvez devido à celebre frase: "Medicina é sacerdócio!". Mas até os padres, hoje, em sua maioria vivem bem, comem bem, dormem bem, têm carro, vestem-se bem, viajam.

A culpa é nossa por termos aceitado dar plantões em condições mínimas! Sem água? Compramos água. Comida ruim? Compramos comida.

Não há material? Improvisa tudo em prol da continuidade do serviço e do paciente. A culpa é nossa por termos criado uma cooperativa médica que pode proteger a todos, menos ao médico.

Veja uma diária hospitalar hoje e há oito anos.

Quem protege quem?

Os planos de saúde aprenderam que não temos tempo para reclamar e pagam o que querem, quando querem e se quiserem. Como descemos!

Chegamos no nosso carrinho, cara de cansados, exaustos, na verdade, maltrapilhos e somos atendidos pelo gerente do plano de saúde: bem dormido, gravata, perfumado e de carrão zero às nossas custas. Burros de cangalha é o que somos!

O Governo também aprendeu que não temos força para cobrar o que é de direito: retira gratificações, suspende pagamentos. É como se fôssemos isentos de obrigações financeiras...

Coitados de nós! Como descemos!!!!

Temos medo de pedir um orçamento a um pintor ou pedreiro. Estamos apertados para pagar o colégio dos nossos filhos. Achamos que se continuarmos assim, vamos acabar pagando para trabalhar.

Estamos enganados! Já estamos pagando, pois as noites em claro nos renderam doenças e problemas de saúde que nossa aposentadoria do Estado de R$400,00 somados ao INSS de R$800,00 mais, talvez, uma previdência privada, não conseguem cobrir.

Pagamos, porque a nossa ausência em casa, na busca de manter um "padrão de vida", não tem preço. Nossos filhos estão à mercê de drogas e maus exemplos, devido ao abandono. E como dizer aos nossos filhos para estudarem, pois vale a pena?

Eles veem o exemplo do pai que estudou tanto, fez tantos cursos, passou tantos concursos e tem uma qualidade de vida tão ruim. E aí vem o "Big Brother", as novelas e pessoas que vivem melhor, até de forma ilícita. É difícil fazê-los compreender que o que nos mantém em nossa profissão, o que nos alimenta a alma e o espírito são duas coisas: o amor pela prática médica e a incapacidade que temos de reverter todo o investimento que fizemos à mesma.

Se o medo é de pagarmos para trabalhar, pode ficar ciente de que já estamos fazendo isso! Acho que deveríamos ser mais radicais e não aceitarmos imposições, pois sabemos que estamos totalmente certos! Temos que ganhar melhor para atendermos melhor a nossos pacientes. Temos que dormir bem, para atendermos melhor a nossos pacientes. Temos que estudar e nos atualizar, para atendermos melhor a nossos pacientes. Queira ou não, tudo isso depende de remuneração!

Esse é o apelo que faço ao nosso Ministro do PMDB, um extraordinário Ministro, e para sensibilizar o Presidente da República, Luiz Inácio, porque essa é a real situação. E o médico, como o professor, retrata as desigualdades que vivemos neste País.

Muito agradecido pelo tempo.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2009 - Página 17290