Discurso durante a 72ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centésimo aniversário da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.:
  • Comemoração do centésimo aniversário da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2009 - Página 17111
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, PARTICIPAÇÃO, SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, UNIVERSIDADE FEDERAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), SAUDAÇÃO, MULHER, CANDIDATO ELEITO, REITOR, IMPORTANCIA, INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL, LOCALIZAÇÃO, AREA ESTRATEGICA, CONTRIBUIÇÃO, CONSTRUÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, INTEGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, COLOMBIA, EQUADOR, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, ELOGIO, EMPENHO, SERVIDOR, ESTUDANTE.
  • SAUDAÇÃO, CURSO DE GRADUAÇÃO, ANTROPOLOGIA, MUNICIPIO, BENJAMIN CONSTANT (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), PIONEIRO, AREA, FRONTEIRA.
  • NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, PESQUISA, OBJETIVO, BUSCA, CONHECIMENTO, REGIÃO AMAZONICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Saúdo o Presidente do Congresso José Sarney, que está presente nesta sessão. Quero dizer que nem sempre o Presidente do Congresso participa das sessões especiais e, portanto, é com muito orgulho que registro, nesta solenidade de propositura do Senador Jefferson Praia, da Deputada Vanessa, a presença do nosso Presidente Sarney aqui.

Quero fazer uma saudação ao nosso magnífico Reitor, que, depois de oito anos, vai passar essa responsabilidade para uma mulher - vejam que as mulheres, em 2010, prometem! O Senador Arthur Virgílio fica atento à analogia.

Quero fazer uma saudação toda especial à Professora Márcia, que compõe a Mesa, e, em nome dela, saudar todas as mulheres da Universidade, a nossa Ufam, que estão presentes nesta solenidade.

Saúdo o Professor Osail Medeiros, meu companheiro de muitas datas, um grande técnico que hoje está servindo uma outra instituição, uma outra academia no Amazonas, que é a nossa jovem Universidade Estadual. Saúdo o Senador Arthur Virgílio, que é um membro importante da Amazônia no Congresso Nacional. Mais uma vez, quero destacar aqui a presença do magnífico Reitor Hidembergue da Frota, que cumpre uma etapa importante dessa instituição.

A Universidade do Amazonas representa muito para aquela região, para o Amazonas, talvez seja nossa principal instituição, pelo tempo, por cem anos de existência, de contribuições com a coisa pública, com a sociedade civil, com a construção da Amazônia.

Eu lembro aqui, por conta da noite que tivemos, que nós continuamos a vigília, continuamos falando de Amazônia. Nós não podemos falar de Amazônia sem essa Universidade, sem essa instituição, por sua importância estratégica, por seu passado e pelo futuro.

O que representa a nossa Universidade para o futuro da Amazônia, do Brasil, da América Latina?

Então, eu quero registrar aqui, com muita alegria, e parabenizar a iniciativa do Senador Jefferson Praia, professor da Universidade, aluno da Universidade. Nós nos encontramos no curso de Agronomia. V. Exª mudou de curso? Terminou Agronomia? Eu é que cometi o pecado de não concluir o curso de Agronomia, mas eu tenho lembranças do papel da Universidade, das contribuições da Universidade.

E quando eu falo da Universidade, não me refiro ao espaço físico, mas aos servidores da Universidade, ao debate sobre o papel da instituição lá na Amazônia, ao papel da universidade pública no Brasil, às contribuições dadas pelos servidores, às importantes contribuições dos professores na consolidação dessa instituição na região e em nível nacional também. Refiro-me à contribuição dos estudantes também - cheguei na hora em que a Deputada Vanessa estava falando da participação dos estudantes. É um processo muito dinâmico, muito rico.

Ao ouvir que a Universidade acaba de sair de uma eleição que teve trinta mil pessoas envolvidas, surpreendo-me. Ou seja, trata-se de uma instituição de cuja eleição participa um número de eleitores muito superior ao número de eleitores de muitos Municípios do nosso Estado. No debate da eleição dos seus dirigentes, trinta mil pessoas aptas a votar! Que riqueza! Que riqueza! Que contribuição!

Quero abrir parênteses aqui. A democracia no País e a contribuição da Universidade na consolidação e nos avanços do Estado democrático são questões muito importantes. Precisamos mensurar isso, porque agora, na hora da crise internacional, um dos pilares para o enfrentamento da crise é a democracia conquistada no Estado brasileiro. E essa instituição, que completa cem anos hoje, deu contribuições relevantes para a democracia no Brasil.

Na Universidade, estive ao lado de dezenas de companheiros e de companheiras, foi um momento muito rico do meu aprendizado. O meu primeiro discurso, com certeza, foi feito em favor da abertura do restaurante, que chamávamos de RU, lá no campus universitário - uma coisa embrionária, pequena, 1977. Eram muito tímidos os espaços físicos, mas ali estávamos, um conjunto de estudantes, a pressionar o então reitor, Octávio Mourão.

E o nosso limite era uma semana para o restaurante abrir - era de uma radicalidade enorme o movimento! Alguém daqui, com certeza, estava por lá. Lembro que o magnífico Reitor concordou. Nós estávamos ali pressionando para a abertura do restaurante e demos uma semana para o reitor, e ele disse: “O.k., em uma semana vamos abrir esse restaurante”. Mas, quando ele saiu dali, chamou um grupo pequeno de estudantes e disse: “Olha, pessoal, eu prometi em uma semana, mas com certeza não vai dar para abrir o restaurante em uma semana. Eu quero mais um prazo”. Enfim, é a história dessa instituição.

Agora mesmo eu estava na Comissão de Relações Exteriores e justifiquei a minha ausência para vir para cá, para esta solenidade que é justa, correta, histórica - aliás, está faltando alguém do Ministério da Educação aqui na Mesa -, e falei para o professor Cristovam: “Olha, vou sair daqui e vou para a solenidade dos cem anos da Universidade” - ele disse que ia passar aqui para dar um abraço. Ele disse: “Cem anos, Senador, da Universidade?” Eu disse: “Sim, cem anos da Universidade”. Vanessa também abordou isso. Precisamos divulgar mais esse fato.

Temos de fazer justiça não só com a Universidade, mas com as pessoas que implantaram essa instituição lá há cem anos, num outro contexto econômico e político. Divulgar isso é uma tarefa para todos nós, parlamentares, historiadores e membros desta instituição. Quero parabenizar, pelos cem anos, os professores e dirigentes da nossa Universidade que estão aqui e dizer que me coloco sempre à disposição da Universidade.

Há poucos dias, estivemos lá, na Universidade, conversando sobre o curso de Medicina. Precisamos enfrentar as dificuldades, mas dar um salto, porque não se pode aceitar que trinta e tantos cursos vão bem e um não vá. Todos os cursos precisam andar bem do ponto de vista da gestão, da pesquisa, da extensão.

E não poderia deixar de falar aqui, nesta solenidade pelos cem anos da Ufam, sobre o curso de Antropologia em Benjamin Constant. É o primeiro curso de graduação do Brasil na Tríplice Fronteira, Senador Arthur Virgílio e Senador José Sarney. Isso é histórico, isso é romper com preconceitos e como muitas outras coisas, e é de grande simbolismo o fato de ter sido escolhido o curso de Antropologia.

         E eu quero dizer da decisão do Presidente Lula sobre esse curso - conheço um pouco dessa história -, desse Presidente operário do Nordeste, em apoiar, em decidir pela importância do curso ali, na tríplice fronteira, e que a Universidade - vocês, gestores, dirigentes - tem essa incumbência de tocar para frente, e aí não só olhando o lado brasileiro.

Nós precisamos também romper com a cultura de tratar a Amazônia como se ela terminasse na fronteira brasileira. Nós precisamos tratar a Amazônia além das nossas fronteiras e termos um olhar pan-amazônico, e a nossa instituição, a Universidade Federal do Amazonas, tem esse compromisso, tem esse papel de ir além da fronteira brasileira no sentido de termos uma conduta de integração, mas de solidariedade com a Amazônia peruana, colombiana, equatoriana. A Amazônia é única e só uma instituição como a Universidade Federal do Amazonas, com o acúmulo de cem anos de história, pode fazer integração com solidariedade, com compromissos históricos com o futuro da Amazônia, compromissos com o futuro da humanidade.

         Quanto à pesquisa, a nossa instituição precisa romper desafios, porque a humanidade discute a Amazônia, mas nós precisamos estudar mais a Amazônia. Nós só vamos dominar a Amazônia por um caminho: o caminho do conhecimento, da pesquisa. E penso que essa instituição, que completa hoje cem anos, tem esse compromisso com o nosso Estado, com o Amazonas, que é o maior território da Federação, e também com a Pan-Amazônia, com os povos indígenas, com os saberes das populações tradicionais, com a diversidade cultural, enfim, com a água, com os lagos, com as nossas florestas. Esse é um desafio. E eu acredito nessa universidade, eu acredito nessa instituição, eu acredito em vocês. Eu deposito muita confiança nesse novo caminhar da universidade, que é o caminhar da direção da universidade com uma mulher. Isto também é novo na história dos cem anos: uma mulher reitora, eleita pela comunidade. Desejo que os desafios sejam todos vencidos, futura Magnífica Reitora.

Na nossa história, eu vou só prolongar, essa participação de que a Vanessa estava falando foi uma coisa muito bonita. Precisamos ainda fazer um filme para registrar a nossa teimosia, as nossas assembleias, a participação na rua.

Discute-se hoje, em Manaus - e os estudantes estão ali, contestando - a meia passagem. A meia passagem do transporte coletivo começou ali, dentro da Universidade Federal do Amazonas, até porque a Uesa (União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas) estava sendo rearticulada, e foram os estudantes da Universidade que foram às ruas, às praças e, com muita coragem, com muita teimosia conquistamos a meia passagem do transporte coletivo. Mas ela começou ali, pelo campus.

Enfim, é a participação da Universidade no processo democrático do Brasil. Lembro-me de que estávamos fazendo de uma Brasília, um carro dos anos 80, um palanque quando o Senador Arthur Virgilio chegou naquele ato. Nós estávamos fazendo do teto do carro o nosso palanque. Estudantes presos no famoso episódio da invasão da Igreja de São Sebastião. O Senador chegou e também estava acuado por conta da repressão policial ao ato. Naquele ato, na realidade, já tínhamos a meia passagem. Era agosto de 1981. Lembro-me bem: era agosto de 1981, e o ato era contra a redução da meia passagem. Em 1981, um ano depois, já se discutia reduzir o número, e fomos, mais uma vez, à rua para defender a meia passagem dos estudantes. Mas era muito a meia passagem dos estudantes universitários, por conta da organização que os estudantes tinham à época.

Então, essa é a história de contribuições para a cidade, para os estudantes, mas é a história de melhorarmos não só no aspecto das conquistas democráticas, mas do compromisso com a Amazônia. Estávamos discutindo a Amazônia, e, num grupo de professores, lembro bem do professor Fred, Frederico Arruda, de tantos professores que contribuíram com o debate em defesa da Amazônia, e na rua, no Projeto Jaraqui, que era ali, nas praças. Estamos falando de 80, de 79, de 1980. Enfim, contribuições importantes.

Desejo, nesses cem anos, mais cem anos e mais cem anos com o respeito que merece a Universidade Federal do Amazonas, mas com compromissos inarredáveis com o povo da Amazônia, com o povo brasileiro, com o povo do nosso Estado, que é o Amazonas.

Muito obrigado.

Parabéns à Universidade! Viva a nossa Universidade Federal do Amazonas! (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2009 - Página 17111