Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso de 20 anos do Instituto Ambiental Biosfera.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso de 20 anos do Instituto Ambiental Biosfera.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2009 - Página 18325
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ENTIDADE, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, IMPORTANCIA, TRABALHO, BUSCA, MANUTENÇÃO, BIODIVERSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, ECOLOGIA, REGISTRO, RECEBIMENTO, ORADOR, PREMIO, DIPLOMA.

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão de 20 de maio, Parlamentares da Casa, brasileiras e brasileiros aqui no plenário e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Evidentemente que nós, na nossa história, fomos retardatários. Basta dizer que a diferença de descobrimento entre os Estados Unidos e o Brasil foi de oito anos. Mas as riquezas, o padrão de vida são muito distantes.

A nossa civilização foi portuguesa e nós somos o resultado dessa miscigenação de portugueses, que nos deram a burocracia; com os índios, que nos deram a capacidade de luta; e com os africanos, que para cá vieram trabalhar. Quer dizer, além do trabalho que eles trouxeram, essa raça trouxe o sentimento de alegria que o nosso povo tem, não é? Então, hoje nós somos isso aí...

Aliás, o Paim tem um livro, mais ou menos isto: Nós Somos uma Pátria. Não é?

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Somos Todos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Somos Todos.

É. No livro de Darcy Ribeiro, seu melhor livro, ele fala sobre a verdadeira formação do povo brasileiro.

Então, nós nos misturamos mesmo e hoje somos essa raça diferente, com essas riquezas. Temos a formação burocrática europeia, do português; o apego às nossas raízes, capacidade de preservação, dos nossos índios. Mas trabalho mesmo, trabalho mesmo quem trabalhou mesmo foi a raça negra. Os portugueses não eram muito afeitos ao trabalho.

Há uma cena histórica, sem dúvida nenhuma, nos séculos do Império, nos anos 1800, que mostra que os maiores homens desta Pátria foram o empreendedor e realizador gaúcho Mauá, e o estadista Pedro II - este que governou este País por 49 anos, garantindo a unidade, permitindo que se falasse uma língua só. Este teve muita visão e amor à Pátria. Mas eles se digladiavam. Há um livro muito interessante As Barbas do Imperador, que conta que Pedro II tinha um palácio real, perto do Maracanã hoje, que é um museu. E o Mauá comprou, Paim, uma casa competitiva com Pedro II.

Ele tinha as ideias dele empreendedoras e foi ele que fez a primeira ferrovia (a que ia do Rio para Petrópolis). Ao assinar o contrato, ele pregou uma peça. Preparou um carrinho de mão, com uma madeira de jacarandá toda especial, e na solenidade instigou Pedro II a transportar o primeiro material para a ferrovia.

Atentai bem! Aquilo foi tido e ficou no Governo, no Governo Imperial, Paim, como ofensa. O gaúcho Mauá preparou um carro de mão, especial, bonito, de jacarandá e, na solenidade diante do povo, chamou o Imperador português em um espírito de ironia: Venha carregar o primeiro material para a construção da primeira ferrovia.

E diz a história que há mágoa aí.

Então, quem trabalhou mesmo, Senador Paulo Paim, foram os africanos que aqui chegaram e que nós respeitamos. E a eles deve V. Exª por estar nessa tribuna.

Então, nós fomos retardatários.

Entendo ter sido a maior criação da civilização a democracia. E foi em 1789. A criação do poder do povo. Passou pela Grécia - o homem é um animal político - com Aristóteles. Melhorado na Itália, onde passou a ser representativa. Não podia todo o povo estar falando e discutindo. No Senado romano, fabuloso na evolução, Cícero nos dava um exemplo, em todo discurso, dizendo “o Senado e o povo de Roma...”, e nos ensinando. Quando falamos, temos que dizer: o Senado e o povo do Brasil. Nós não podemos estar distanciados, estar separados. Nós somos o povo, filhos do povo, do voto e da democracia. Mas levaram 100 anos para aquele grito, que derrubou os reis lá da França, derrubar os daqui.

         A mesma coisa é isso que nós ouvimos falar hoje, Paim, sobre a preocupação do nosso País com o meio ambiente. Ela parece ser uma coisa recente, mas, da mesma maneira que fomos retardatários na democracia, entendemos que o trabalho é fundamental, o trabalho que no começo era só dos negros. Entendemos a mensagem de Deus que diz: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”; do apóstolo Paulo: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”; do Senador da França, Voltaire, que disse: “O trabalho afasta, pelo menos, três grandes males: o tédio, a preguiça e a pobreza”.

Então, depois disso tudo é que nós, povo do Brasil, começamos mesmo a trabalhar e estamos andando. Assim também foi com a proteção do meio ambiente.

Lá na Grécia - podem ver, nos filmes da antiguidade, de Roma, as preocupações com as praças, com os logradouros públicos -, do jeito que começou a Medicina, com Hipócrates, começou a preocupação com o meio ambiente, quando o filósofo Sófocles disse: “Muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano”, mostrando que nós temos de nos preocupar com as maravilhas da natureza. Mas é para servir o homem. O homem está acima. É a maior preocupação. Quando ele diz o homem, é o homo sapiens, é a espécie, é o homem e sua fêmea, sua mulher, que se juntam pelo amor para perpetuar a nossa espécie.

Mas chegou ao Brasil também essa preocupação. Não é o que estão dizendo: nunca antes, não sei o quê... Não!

Eu sei que o estudo no Brasil era para uma elite. Foi evoluindo. A nossa universidade foi retardatária, mas é preciso reconhecer que essas preocupações gigantes do Brasil tiveram...

Eu, em 1958 - Geraldo Mesquita, lembra-se de 1958? Qual o grande acontecimento? -, interno, no Colégio Marista; Brasil, Campeão do Mundo com o técnico Feola... Então, eu me debruçava, porque, naquele tempo, o ensino era muito padronizado. Nós estudávamos com livros que vinham todos do Pedro II. Era tudo igual. Não havia essa parafernália de marketing, de propaganda, livro diferente, não! Para facilitar.

E caiu nas minhas mãos, Paim, um livro de Biologia Geral, de Waldemiro Potsch, Catedrático do Colégio Pedro II, criado por Pedro II, ele ia assistir às aulas. Que beleza!

Osmar Dias, que beleza! V. Exª deve ter estudado Botânica e Zoologia, de Waldemiro Potsch. Que livro de Biologia Geral! Lindo! Era difícil ter livro naquela época, a didática. Ele já ensinava o que era ecologia, meio ambiente, genética.

Mas evoluiu-se.

Eu quero prestar uma homenagem aqui a uma instituição que comemorou 20 anos. Estávamos eu e Azeredo, representando o Senado da República, a convite do Instituto Ambiental Biosfera. O Presidente é um biólogo, Dr. Dorival Correia Bruni, que, por sinal, fora aluno de Waldemiro Potsch, o grande precursor de nos ensinar o meio ambiente.

Era um simpósio que terminava, e eles convidaram a mim e ao Azeredo para estarmos presentes. Entregaram diplomas e até medalhas. Estou tão orgulhoso que vou botar aqui a medalha. Vimos dezenas de prefeitos, dezenas de lideranças, dezenas de intelectuais, dezenas de técnicos, de professores, de biólogos preocupados com o meio ambiente. Então, isso nos torna e torna este Senado cada vez mais responsável e necessário. Quem não se lembra que há poucos dias houve uma vigília aqui para preservarmos a Amazônia?

Quem não se lembra do Acre, da luta dos acreanos, que sempre foram bravos? Talvez seja o povo mais bravo do Brasil, porque foi o único povo que conquistou seu território. Aquilo era abandonado. A Bolívia tomou. Os Morales. Os avós de Morales venderam para os poderosos norte-americanos. E lá chegou a ser uma república. Eles se sacrificaram pela independência, com a ajuda de um espanhol, Galvez. Depois, liderados por Plácido de Castro, um gaúcho...

Rapaz, esses gaúchos estão em tudo! Está ouvindo, Paim? Paim, os gaúchos estão em tudo, como V. Exª está aí.

Construíram o Acre, e Chico Mendes traduz a preocupação dos brasileiros, salvaguardando a natureza.

Mas é necessário termos sempre aqueles conhecimentos. E podem dizer: o Mão Santa está com essa velha de Sófocles. Sófocles nos ensinou: “Muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano”. Então, o homem tem que estar acima de tudo. Todas as paixões - pelos vegetais, pelos animais, pela natureza - têm que ter seus limites, dando possibilidade à vida do homem, à riqueza do homem, à felicidade do homem.

Então, eu sou otimista, e Juscelino Kubitschek nos ensinara e disse: “É melhor ser otimista: o otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errando”.

Então, esta instituição que há 20 anos se debruça sobre o problema da natureza no nosso Brasil, a Biosfera, que foi a precursora do Eco 92, esse movimento ecológico, me diplomou com muito orgulho.

Eu sei que isso eles fizeram num gesto traduzindo a simpatia, o respeito que têm ao Senado da República, a mim e ao Azeredo. E nós estamos aqui e queremos nos congratular e aplaudir todos aqueles homenageados, muitos prefeitos que ganharam os seus certificados pelas ações administrativas de humanismo, preocupados com o ser humano, preocupados com a vida. E eles se preocuparam.

Então, essas são as palavras.

Agradeço ao Paulo Paim e não podia deixar, mas senti, senti, senti, naquele mundo de lideranças representativas e homenageadas do Brasil que defendem a ecologia, a natureza, o meio ambiente, a responsabilidade, o respeito e a crença que eles têm no Senado da República.

Essas são as nossas palavras de agradecimento à Biosfera, com professores, biólogos, e à universidade do Rio de Janeiro presente, que fez esse evento, que, sem dúvida nenhuma, vai permitir àquelas lideranças irradiar os conhecimentos da ecologia, como a mim chegaram, quando, nos bancos escolares, eu lia os livros de Waldemiro Potsch.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2009 - Página 18325