Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória do Senador Jefferson Peres, pelo transcurso do primeiro ano de sua morte.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do Senador Jefferson Peres, pelo transcurso do primeiro ano de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2009 - Página 19608
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, AUTORIDADE, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, EX SENADOR, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DEFESA, ETICA, EFICACIA, TRABALHO, COMISSÃO TEMPORARIA, ANALISE, DEMARCAÇÃO, RESERVA INDIGENA, ESTADO DE RORAIMA (RR).
  • DEFESA, NECESSIDADE, MOBILIZAÇÃO, JUVENTUDE, PERIODO, ELEIÇÕES, IMPORTANCIA, LUTA, COMBATE, CORRUPÇÃO, MELHORIA, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Serys Slhessarenko, Sr. Senador Jefferson Praia, primeiro signatário do requerimento que possibilitou esta homenagem e que aqui substitui com brilhantismo - digo eu - a figura do Senador Jefferson Peres; Sr. Deputado Federal Marcelo Serafim, que, tenho certeza, aqui representa toda a Bancada Federal do Amazonas; Sr. Vice-Prefeito do Município de Rio Preto da Eva, que certamente aqui representa simbolicamente todos os Prefeitos do Amazonas; Srªs e Srs. Senadores, tive a felicidade de conviver com Jefferson Péres durante todo o período da sua vida pública. Aprendi muito com ele, conversei muito, trocamos confidências sobre o momento político, sobre as situações, vamos dizer assim, vexatórias do exercício do mandato político. E sempre ouvi dele e vi nele não só aquela pregação da ética feita em sermões ou em discursos bem elaborados, mas a ética praticada na coerência do seu dia a dia. E isso realmente o levava a sofrer muito, porque se angustiava ao ver que não só a ação, a pregação e o exemplo não tinham um efeito na velocidade que ele gostaria que tivessem, mas que, na verdade, essas mudanças não ocorrem muito rapidamente, até porque elas precisam nascer dentro das famílias, elas precisam consolidar-se nas escolas e elas precisam ter o exemplo daqueles que exercem o mandato público. E Jefferson Péres deu a sua colaboração de maneira muito altiva.

Eu tive a oportunidade de conviver mais de perto com ele quando participamos de uma comissão temporária externa do Senado, que foi estudar a questão indígena lá no meu Estado, na tão decantada reserva Raposa Serra do Sol, onde se provocou o maior desterro de brasileiros por um governo brasileiro. Ele participou dessa comissão - e ele era considerado um homem, vamos dizer assim, de esquerda, mas de uma esquerda inteligente, de uma esquerda moderna - e ele se posicionou contra aquela proposta, tanto assim que o nosso relatório da comissão temporária externa foi unânime na aprovação do relatório do Senador Delcídio Amaral, do PT, que propunha, sim, uma demarcação, não em ilhas, mas uma demarcação apenas que não era excludente.

Também, com aquela mesma comissão, nós estivemos em Rondônia examinando a questão dos Cinta-Larga, porque tinha acabado de haver a matança de 29 garimpeiros naquela época. Estivemos em Mato Grosso, Estado do Senador Delcídio Amaral, e estivemos em Santa Catarina.

Portanto, com ideias, mas sem ideologia - uma coisa também que ele gostava de dizer -, nós analisamos muito essa questão, porque eu não conheço e não acredito que exista, hoje em dia, alguém que não queira ver qualquer cidadão brasileiro, seja ele índio, negro, branco de olhos azuis ou qualquer que seja, sair da pobreza, ter seus direitos respeitados, mormente os índios. Então, demarcar terra indígena é a coisa mais fácil que tem. O difícil é dar dignidade ao índio que vive lá naquela reserva. O difícil é dar saúde, é dar educação, é dar condições de que eles não morram lá de oncocercose, de leishmaniose, de tuberculose, de malária. Isso é que é difícil, e isso nós discutimos muito.

Já nos momentos que antecederam a súbita... Eu, como médico, não acreditava que o Jefferson Péres, tirando a sua indignação com a situação, seria uma pessoa que fosse morrer rápido, porque ele tinha um físico muito bom: não era gordo e era um homem que praticava exercícios. Então, não me parecia que ele fosse morrer precocemente, mas esses desígnios da vida não escolhem pelo biotipo ou pela condição da pessoa. Infelizmente, fomos surpreendidos com a sua morte súbita.

Mas, poucas semanas antes, ele me disse do seu desencanto com a vida pública; disse-me mesmo que não seria mais candidato a nada e que iria, portanto, despedir-se da vida pública, mas que, até o último momento do seu mandato, combateria o bom combate com aquelas ideias em que acreditava. E eu disse a ele: se os bons se desencantarem da política, se os decentes não quiserem entrar para a política, eles serão os maiores colaboradores para que os maus políticos prosperem, para que a política seja cada vez mais contaminada por aqueles que fazem do exercício do mandato uma forma de se aproveitar do dinheiro público e das condições concernentes à autoridade que, eventualmente, o povo lhes concede.

         E, justamente aproveitando o exemplo de Jefferson Péres e pegando um gancho numa recente declaração do Senador José Sarney, quero dizer que é a hora de o povo brasileiro, como disse o Presidente Sarney, expulsar os maus políticos e não mandá-los mais para cá: para o Senado, para a Câmara, para as assembleias legislativas, nem para os governos dos Estados, nem para a Presidência da República. Afinal, quem coloca os políticos nos mandatos? É o eleitor.

E o Senador Marco Maciel também, em recente pronunciamento, colocou muito bem: nós temos de exortar os jovens a participar da vida pública, incentivá-los a abraçar a vida política com a ideia de servir ao povo, de servir à Nação, de fazer transformações.

Eu nunca ouvi falar que alguém transformasse alguma coisa não participando daquela coisa, seja o que for. Então, se eu não concordo com uma coisa e dela não participo, vou ficar resmungando numa mesa de bar, num cantinho com a minha patotinha? Assim, não vou mudar nada, não vou mudar nada.

Eu tenho dito, inclusive, para os meus irmãos maçons: nós não podemos ser uma espécie de casta, para cujo ingresso somos selecionados por alguns critérios, e depois vamos só criticar os erros dos outros. Temos de participar. A Maçonaria, que tanto participou no passado, a exemplo da Independência do Brasil, da Abolição da Escravatura, da Proclamação da República, tem de se engajar, sim, à sua maneira, em uma luta pela renovação dos valores, valores que não estão extintos na sociedade; podem estar desestimulados, como estava Jefferson Péres desestimulado já ao final da sua vida.

Eu espero que o seu sacrifício na luta pública sirva para fazer com que todos pensem da seguinte forma: eu, que sou de bem, vou ocupar um lugar que um mau poderia ocupar.

         Eu quero terminar, portanto, pedindo ao eleitor brasileiro, à eleitora brasileira, principalmente aos mais jovens, mas também aos mais velhos, que têm responsabilidade com o futuro de seus filhos e de seus netos: vamos às urnas em 2010 tendo em mente que a mudança está em nossas mãos.

Continuar tendo maus políticos depende do eleitor. Portanto, vamos confiar no nosso voto, sabendo que é através dele que se fazem as grandes revoluções.

         Muito obrigado, Srª Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2009 - Página 19608