O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós vivemos hoje, nesta tarde, uma contradição de tempo. Meu caro Presidente Jefferson Praia, nós temos nesta Casa e principalmente neste plenário, duas visões sobre o nosso saudoso companheiro Jefferson Péres. A primeira é a de que um ano significa muito tempo para uma ausência. Por outro lado, tem-se a sensação de que ele não se foi, ainda está aqui, tão presentes são os seus atos, os seus gestos e, acima de tudo, o seu exemplo. Poucos homens públicos deixam para nós esta sensação, a da saudade do tempo distante e a que marca a presença pelo que fez nesta Casa.

Figura marcante. Não era um distribuidor de sorrisos tampouco de abraços fáceis, mas era um homem presente, solidário aos companheiros na hora em que precisava ser.

Aprendi na convivência com Jefferson lições interessantes. Tive a oportunidade de sucedê-lo na Comissão de Relações Exteriores e vi como ele, no cargo de ex-Presidente, se comportava de maneira humilde, correta e, acima de tudo, dedicada àquela Comissão.

Neste plenário, quando as discussões mais acaloradas se faziam presentes era comum e quase uma rotina muitos dos Senadores presentes esperarem a palavra de Jefferson para definirem sua posição com relação a um voto, quando tinham dúvidas sobre a matéria ou sobre o tema.

O Amazonas pode se orgulhar, com certeza, desse filho.

O Brasil pranteia sua ausência e enaltece suas qualidades. Aliás, Senador João Pedro, nessa minha permanência de meio século no Senado da República, vi este Senado perder alguns amazonenses ilustres no exercício desta Casa. O Senador João Bosco tombou neste plenário no seu primeiro mês de exercício da atividade parlamentar. Fábio Lucena, em plena Assembléia Constituinte, resolveu partir antes da hora. No ano passado, foi a vez do Jefferson. E todos esses amazonenses partem quando o Brasil tem a consciência de que eles ainda poderiam dar muito mais de si pelo País.

Quero, neste momento, associar-me ao Amazonas, mas, de maneira muito especial, ao Brasil. Perdemos um Senador que era um cidadão e, acima de tudo, uma referência. Alguém já falou aqui sobre as frustrações e o desencanto que ele, muitas vezes, demonstrava com a vida pública. Eu mesmo tive oportunidade de ouvi-lo dizer da tristeza em ver o enfraquecimento crescente desta Casa Legislativa.

Pelo menos Deus foi generoso com Jefferson, não permitiu que ele visse, que ele assistisse talvez o pior momento que a classe política brasileira vive, e aí não só o Parlamento, mas o Parlamento, o Executivo e, por que não dizer, também o Judiciário, em cujas sessões existem confrontos que extrapolam os das ideias e deixam em todos nós a interrogação.

Este momento que nós vivemos, Senador João Pedro, não seria, de maneira nenhuma, um momento para agradar ou para alegrar Jefferson Péres. Disso ele foi poupado. Mas se ele foi poupado, o Brasil é o grande perdedor, porque nesta tribuna Jefferson estaria defendendo, com suas convicções, com sua fé, com sua crença, mas, acima de tudo, com sua credibilidade, aquilo em que acreditava e aquilo que melhor queria para o Brasil.

Sua palavra tinha eco, sua voz, ressonância, e sua generosidade não tinha limites.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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