O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu tenho certeza que, ao fazer o registro, neste momento, da tribuna do Senado, do falecimento de Fani Lerner estou interpretando o sentimento do povo do Paraná e, em especial, do povo da cidade de Curitiba.

         No dia 21 do mês corrente, após longos anos de valente luta contra o câncer, desde 1995, faleceu, em Curitiba, uma mulher de valor que pode ser apresentada como modelo de esposa, mãe e cidadã. Esposa do arquiteto nacional e internacionalmente conhecido Jaime Lerner, foi companheira em longos anos de casamento desde 1964 (45 anos portanto) e se destacou como Primeira-Dama do Estado, quando Jaime Lerner foi Governador, e também como Primeira-Dama de Curitiba pelas vezes em que ele exerceu a Prefeitura. O Prefeito de Curitiba a definiu como uma pessoa doce, meiga, equilibrada e muito serena no trato com todas as pessoas.

O Paraná e especialmente Curitiba, ao mesmo tempo em que choram a sua ausência física, sentem-se orgulhosos de terem podido contar, como uma de suas filhas, com a pessoa de Fani Lerner.

         Segundo declarações da Drª Zilda Arns, da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, que partilhou com ela muitos projetos sociais, por certo Deus a recompensará pelo bem que fez às crianças, às famílias pobres e aos idosos.

É certeza de todos que Fani foi muito além de uma simples Primeira-Dama, exercendo sua própria identidade, colocando em prática suas convicções.

As palavras de Emilia Belinati, ex-vice-Governadora e contemporânea de Governo, definem bem o papel dela no Governo: “Se eu pudesse resumir, diria que ela colocou alma no Governo, sentimento, afeto”.

Como Secretária da Criança de Curitiba e do Paraná, desenvolveu vários projetos sociais, com foco no desenvolvimento de crianças e jovens. Entre as ações lideradas por Fani estão o Programa de Integração para Crianças e Jovens, conhecido como PIÁ, o SOS Criança, a Casa Lar, para crianças abandonadas ou órfãs, e o programa Da Rua Para a Escola, que fornecia uma cesta básica de alimentos para a família que mantivesse a criança na escola. Em 1997, esse programa ganhou o prêmio Criança e Paz, do Unicef. Fani Lerner também foi responsável pela criação do Programa Supersopa, no Provopar, que distribuía alimentos a crianças em suas escolas ou nas creches.

Sua vida a preparou para o exercício da autêntica solidariedade, totalmente focada na promoção da pessoa, considerando sua suprema dignidade. Com apenas quatro anos, ficou órfã do pai, Manoel Proveller, que deixou a Polônia no fim da década de 1920 rumo ao Brasil e não resistiu a uma diverticulite. Fani e sua irmã, Esther, ficaram sob os cuidados da mãe, também polonesa. Logo após a morte do pai, Fani Lerner ingressou no jardim de infância do Instituto de Educação do Paraná, expoente do ensino público. Saiu de lá com diploma de normalista. Lecionou num grupo escolar na periferia de Curitiba por quase cinco anos.

A vocação para a ação social ela já tinha. A morte do pai fez com que ela acalentasse o que se tornaria sua grande missão. Desolada com a perda que sofreu tão nova, trabalhou a vida inteira para tentar impedir que outras crianças ficassem desamparadas.

Em uma época em que ninguém sabia o que era ONG, criou o Provopar, Programa do Voluntariado Paranaense, e já no começo angariou quatrocentas mulheres, muitas voluntárias, que trabalhavam principalmente em creches, dando apoio às crianças carentes.

Mais tarde, formou-se em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná.

Por todos os feitos na área social, em 2003, Fani Lerner foi a vencedora do Prêmio Kellogg’s para o Desenvolvimento da Criança, oferecido pela organização americana World of Children, em parceria com a instituição Hannah Neil. Foi a primeira latino-americana a ser condecorada com o prêmio.

         A concepção de trabalho de Fani Lerner, aliando a iniciativa privada a ações públicas, respeitando o caráter das entidades sociais e reconhecendo o seu grande valor e importância, deve servir de referência nos nossos dias.

Cumprindo o dever deste registro pelo que representa de inspiração para todos quantos são alçados às funções públicas, em meu nome e em nome desta Casa, junto com os profundos sentimentos ao ilustre homem público Jaime Lerner, às suas filhas Andréa e Llana e a seus netos, quero marcar para a história do meu Estado e também deste País, a passagem de alguém que dignificou a existência humana, dando a ela o selo do profundo e sincero amor ao próximo.

Sr. Presidente, além do pronunciamento, eu quero também deixar colocado para a Secretaria da Mesa o requerimento de voto de pesar também à família da ex-Primeira-Dama de Curitiba e do Estado do Paraná, Fani Lerner, falecida, como já foi dito, no dia 21 de maio na cidade de Curitiba, após longos anos de valente luta contra o câncer. Portanto, uma luta que se estendeu por 13, 14 anos, mas nem por causa disso, Sr. Presidente, ela deixou de exercer o seu trabalho como Primeira-Dama do Estado do Paraná, à época, coordenando um conjunto de ações sociais voltadas para a população mais marginalizada e mais carente, mais necessitada de cidadania e se destacando em Curitiba, no Paraná e no mundo pelos prêmios que recebeu em função do belo trabalho de promoção humana desenvolvido.

Então, quero, nesse sentido, pelo pronunciamento e pelo requerimento de voto de pesar a ser enviado à sua família, conforme consta no texto do requerimento, externar o reconhecimento do povo de nossa cidade, Curitiba, e do nosso Estado, o Paraná - e, devo dizer, do Brasil -, pelo belo trabalho que a família Lerner vem fazendo para o reconhecimento do nosso País no contexto internacional em um conjunto de áreas que fazem este País mais conhecido em tantos lugares do mundo.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

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