Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Aprovação à decisão do Itamaraty de adiar, por tempo indefinido, a aproximação diplomática com a Coreia do Norte, diante da realização de novo teste nuclear subterrâneo por aquele país.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Aprovação à decisão do Itamaraty de adiar, por tempo indefinido, a aproximação diplomática com a Coreia do Norte, diante da realização de novo teste nuclear subterrâneo por aquele país.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2009 - Página 20181
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ELOGIO, DECISÃO, ITAMARATI (MRE), ADIAMENTO, VIAGEM, EMBAIXADOR, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, COREIA DO NORTE, MOTIVO, EXPLOSÃO, ARMA NUCLEAR, REGISTRO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, POBREZA, DEPENDENCIA, AUXILIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), EXCESSO, INVESTIMENTO, EXERCITO, AMEAÇA, GUERRA.
  • REPUDIO, CONDUTA, PAIS ESTRANGEIRO, COREIA DO NORTE, DESRESPEITO, TRATADO, SUSPENSÃO, TESTE, ARMAMENTO NUCLEAR, AMEAÇA, PAZ, MUNDO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR GERSON CAMATA (PMDB - ES Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, o Itamaraty fez muito bem ao decidir pelo adiamento indefinido da ida do primeiro embaixador brasileiro na Coréia do Norte, Arnaldo Carrilho, diante da realização de um novo teste nuclear subterrâneo, o segundo em três anos, por aquele país. Há muito tempo que o regime ditatorial norte-coreano vem representando - para usar as palavras do presidente norte-americano, Barack Obama - uma grave ameaça à paz e à segurança do mundo.

Trata-se de um teste nuclear para ser levado a sério. Acredita-se que a explosão alcançou de 5 a 20 quilotons, contra 1 quiloton da bomba que foi testada em 2006. Para se ter uma idéia, 20 quilotons correspondem à potência da bomba lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade japonesa de Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial.

País posto à margem da comunidade internacional, mergulhado na pobreza, um sobrevivente anacrônico dos tempos da Guerra Fria, a Coréia do Norte, governada por Kim Jong-il, um ditador de temperamento imprevisível, vem fazendo de tudo para aumentar o clima de tensão com a comunidade internacional.

Já testou um míssil de longo alcance em abril, prendeu jornalistas americanos, expulsou inspetores da agência nuclear das Nações Unidas e suspendeu as negociações com o grupo de países - Coréia do Sul, Estados Unidos, Rússia, China e Japão - que representavam pelo menos uma tênue esperança de que abandonaria sua hostilidade permanente ao resto do mundo.

Não há mais dúvidas de que a Coréia do Norte só tem compromisso com o jogo da chantagem. Prometeu renunciar ao seu programa nuclear em troca de compensações, mas retomou-o com rapidez, colocando em risco a estabilidade numa importante região do continente asiático.

Condenada até pela China, antes sua defensora e até hoje o seu maior parceiro comercial, a Coréia do Norte é um país insólito. Especializou-se em provocações à comunidade internacional, embora mal consiga alimentar sua população, que sofre com as periódicas ondas de fome, a última das quais matou 1 milhão de pessoas. Quase a metade de suas crianças sofre de subnutrição crônica.

Tanta penúria faz com que dependa de doações do Programa de Alimentação das Nações Unidas, da Coréia do Sul e do Japão. Todos os recursos do orçamento nacional, e também boa parte do auxílio humanitário, são desviados para a manutenção de um grande exército e a execução do programa nuclear.

Em 2006, logo depois que a Coréia do Norte testou pela primeira vez um foguete de longo alcance, as Nações Unidas aprovaram uma resolução que proibia o país de "conduzir qualquer novo teste nuclear ou lançamento de míssil balístico". A resolução foi desrespeitada em abril deste ano, com o lançamento de um novo foguete de longo alcance. A resolução de 2006 determinava que a Coréia do Norte não realizasse novos testes nucleares e suspendesse "todas as atividades relacionadas ao seu programa de mísseis", além de respeitar a agência atômica da ONU.

Ao realizar o teste nuclear subterrâneo, o ditador norte-coreano conseguiu uma façanha: chineses e russos, normalmente cautelosos em seus pronunciamentos a respeito da Coréia do Norte, não hesitaram em condenar com veemência a explosão. Tudo indica que, com sua atitude, ele obteve o que os Estados Unidos não conseguiram ao longo de décadas, ou seja, o reconhecimento unânime de que a Coréia do Norte constitui um perigo para o restante do mundo.

A mudança de rumo da diplomacia brasileira, em sua aproximação com o regime norte-coreano, é plenamente justificada. Não há o menor sentido, pelo menos por enquanto, em estreitar relações com um país que representa sério risco para a paz no planeta.

No comunicado que distribuiu na segunda-feira, o Itamaraty expressa a expectativa de que a Coréia do Norte se reintegre ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e assine, “no mais breve prazo”, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, além de observar com rigor a moratória de testes nucleares e retornar à mesa de negociações.

Os antecedentes da ditadura norte-coreana não permitem grandes esperanças de tais iniciativas se concretizem. No final de janeiro deste ano, o país anulou, unilateralmente, todos os acordos políticos e militares assinados com a Coréia do Sul, inclusive um pacto de não agressão e de delimitação marítima entre os dois países. Foi mais um na sucessão de atos hostis que marcam um regime onde a repressão brutal se alia à chantagem diplomática, e que não faz a menor questão de esconder o desprezo pela convivência pacífica entre as nações.


Modelo1 5/18/246:23



Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2009 - Página 20181