Fala da Presidência durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo aniversário da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.:
  • Comemoração do centésimo aniversário da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2009 - Página 17117
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, UNIVERSIDADE FEDERAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, PRESERVAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, HOMENAGEM, ATUAÇÃO, ARTHUR VIRGILIO FILHO, EX SENADOR, APRESENTAÇÃO, PROJETO, CONSOLIDAÇÃO, UNIVERSIDADE, ELOGIO, EMPENHO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, MANUTENÇÃO, TRABALHO, DEFESA, REGIÃO.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Antes de passarmos a palavra à Professora Márcia Perales Mendes da Silva, Reitora eleita da Universidade, e ao Reitor da Universidade Federal do Amazonas, Professor Hidembergue da Frota, que encerrarão esta solenidade, quero dizer algumas palavras para associar-me à alegria de todos os amazonenses e brasileiros por uma data tão importante, que são os cem anos de uma Universidade.

            Sem dúvida alguma, é impossível a gente pensar que há cem anos um homem chamado Eulálio Chaves pensava em fazer uma universidade no Amazonas e fundava uma universidade no Amazonas.

            As datas redondas têm essa característica: de chamar a cada um de nós a uma reflexão sobre o passado. Gosto sempre de dizer que as coisas e as nações se fazem com três importantes vínculos: primeiro, os historiadores, para falarem do passado; depois, os políticos para tratarem do presente, e, sem dúvida alguma, os poetas, para sonharem com o futuro.

            Quando estamos aqui, vendo que cem anos atrás, no Amazonas, se fundava uma universidade, ficamos felizes, porque sabemos que este Estado não é somente um Estado no qual nós olhamos aquilo que é um orgulho para a Humanidade, para nós brasileiros mais ainda, que é a Amazônia.

            Desde ontem, aqui nesta Casa, nós pensamos na Amazônia: na vigília que fizemos, e hoje nos cem anos da Universidade.

            Quero parabenizar o Senador Jefferson Praia por ter requerido a sessão e parabenizar também a Bancada do Amazonas, na pessoa do Senador João Pedro e na pessoa do Senador Arthur Virgílio. Quero dizer que o Brasil sempre pensou, nasceu pensando em universidades. Na Assembleia Constituinte, de 1823, quando não se sabia sequer onde eram as nossas fronteiras, já Antônio Carlos de Andrada falava da necessidade de termos duas universidades, quando ainda não tínhamos escola, em fundar, no Brasil, duas universidades. E sabemos que o Amazonas, há cem anos, tem uma Universidade. A universidade significa, sobretudo, a universalização de conhecimentos. E o mundo do futuro não será constituído de nações pequenas, nem grandes; será constituído de nações que dominem conhecimentos ou que não dominem conhecimentos. A conservação da Amazônia passa, sem dúvida alguma, pela educação, passa pelo conhecimento, passa pela pesquisa científica e, sem dúvida nenhuma, é isso que faz o Amazonas, há cem anos, através de todos os que por lá passaram, sonharam, até os que, no presente, têm essa oportunidade de trabalhar, de maneira tão significativa, pela educação do povo amazonense.

            Recordo, para mostrar o que é uma universidade, que um homem chamado Thomas Jefferson, que foi um grande político e um grande pensador, porque, sem dúvida alguma, ele não só foi um homem que se engajou na independência dos Estados Unidos, mas também Presidente dos Estados Unidos. Mas, antes de morrer, ele pediu que em seu túmulo não fossem colocadas as palavras “Presidente dos Estados Unidos”; mas que se colocassem duas coisas: “Thomas Jefferson, autor da Declaração de Independência” - que foi a declaração de independência famosa, na qual os direitos do homem começam a aflorar, depois seriam consolidados na Revolução Francesa de 1789, quando ele fala que “todos os homens nascem livres” -, e acrescentou uma palavra que resume, na sua simplicidade, aquilo que todo ser humano justifica a sua vida: “na busca da felicidade”. E depois ele colocou: “Autor da Declaração da Independência e fundador da Universidade da Virgínia”. Ele julgava que isso era muito mais importante do que tudo aquilo que ele tinha feito na vida. Porque, se ele é lembrado até hoje - acho -, não é pelo fato de ter sido Presidente dos Estados Unidos, mas é justamente porque ele foi um grande pensador e tinha a noção da educação e do que ele tinha feito.

            Quero também recordar, e aqui o nosso Reitor me deu ainda algumas achegas, que eu não sabia, sobre a ligação da terra em que eu nasci, que é o Maranhão - embora eu seja político hoje do Amapá -, de certo modo, com o Amazonas, na figura de Eduardo Ribeiro, que foi um dos grandes administradores e que pensou no Estado do Amazonas com a capital que fosse uma pérola colocada no meio da selva naquele instante. Eu conheci o plano da cidade urbanística que ele fez e os prédios que construiu: o Palácio, o Teatro e também o abastecimento d’água da cidade; e o Reitor me lembrou também, aqui, sobre o Palácio da Justiça.

         Quando foi para o Amazonas - a história do Eduardo Ribeiro -, ele participava de um grupo de intelectuais jovens no Maranhão, Senador Arthur Virgílio, do qual fazia parte Aluísio Azevedo, Artur Azevedo, Graça Aranha e muitos outros considerados hoje expressão da cultura nacional. Estes vieram para o sul; o Eduardo Ribeiro foi para o Amazonas. Eles saíram fugidos do Maranhão, porque eram de um grupo de jovens anticlericais que saíram apagando as velas nas procissões. Isso determinou, para uma população católica, que eles não tinham condições de ali permanecer. O Eduardo Ribeiro foi para o Amazonas, o Artur Azevedo foi para o Rio de Janeiro. O Aluísio já tinha escrito O Mulato, que é o primeiro grande romance realista da literatura brasileira.

            Outra coisa de que me recordo também é que o primeiro Governador - não era Amazonas ainda, era Província do Rio Negro - foi o Marquês de Melo e Póvoas, sobrinho do Mendonça Furtado, que era então meio-irmão do Pombal e que governava a Amazônia. Quando eles desmembraram o Amazonas para criar a Província do Rio Negro, ele foi nomeado o primeiro Governador. Depois ele foi Governador do Maranhão, o Melo e Póvoas. Ele alegava que demorou cerca de um ano e pouco para chegar a aceitar o novo cargo, saindo do Amazonas para o Maranhão, pelo fato de que não tinha dinheiro para pagar as despesas de deslocamento do Amazonas para o Maranhão. Eu li essa carta, que me foi dada, uma publicação da Universidade do Amazonas, pelo Senador Jefferson. Lembra o nosso Senador Arthur Virgilio que as passagens começaram a criar dificuldades aí. O Senador Jefferson foi quem me deu essa publicação, na qual tive a oportunidade de ler algumas cartas do Melo e Póvoas sobre suas aventuras.

            Hoje comemoramos os cem anos da Universidade do Amazonas. Quero que cada vez mais ela seja brilhante, cada vez mais ela possa prestar serviços à juventude e construir, sem dúvida, o futuro, porque as gerações do futuro, necessariamente, como eu disse, terão de passar pela tecnologia, terão de passar pela educação.

            Relembrando aqueles que pensaram na Universidade, não posso deixar de citar o pai do Senador Arthur Virgilio, que foi quem lutou também nesta Casa, no Congresso, para que ela fosse consolidada, em 1962, se não me engano. Foi meu colega nesse tempo que o Senador Arthur Virgilio diz que eu tenho de Senador.

            Eu me recuso sempre a ser velho. Ao meu avô, quando lhe chamavam de velho “Por que o senhor não fica velho?”, dizia: “Porque eu não quero”. Então, eu também não quero ficar velho, tanto que eu não digo que tenho a idade que tenho, eu digo que tenho 50 mais 39. Aliás, mais 29. Perdão, eu estou aumentando, esperando que o Criador não tenha limites.

         Quero homenagear também o Senador Arthur Virgílio, que foi importante para a fundação da Universidade do Amazonas. Mais homenageado ainda ele se sentiria pela figura do filho, que tem mantido a tradição da família na devoção ao Amazonas, na devoção ao serviço público e a tudo que ele representa em defesa do Amazonas, de que sou testemunha. Foi por isto que eu quis falar antes um pouco do encerramento da sessão, para homenagear o Senador Arthur Virgílio, que fundou a Universidade, homenageando o seu filho, para que ele presidisse esta sessão de encerramento dos cem anos da Universidade do Amazonas.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2009 - Página 17117