Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre denuncia de fraude na exploração madeireira no Pará, noticiada em telejornal da Rede Globo de Televisão e revista Veja. Críticas ao Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - Ibama. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Considerações sobre denuncia de fraude na exploração madeireira no Pará, noticiada em telejornal da Rede Globo de Televisão e revista Veja. Críticas ao Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - Ibama. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2009 - Página 20559
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DEFESA, ESTADO DO PARA (PA), AUSENCIA, BUSCA, OFENSA, REPUTAÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, DIVULGAÇÃO, GRAVIDADE, OCORRENCIA, ANTECIPAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, EXPLORAÇÃO, MADEIRA, REGIÃO AMAZONICA, OMISSÃO, GOVERNADOR, ILEGALIDADE, EMPRESA, AQUISIÇÃO, PLANO, MANEJO ECOLOGICO, PROVA, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO, DETALHAMENTO, CRIME, PROTESTO, ATUAÇÃO, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), INEFICACIA, FISCALIZAÇÃO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA).
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), PRECARIEDADE, SEGURANÇA PUBLICA, SAUDE, CRESCIMENTO, CORRUPÇÃO, DESTRUIÇÃO, FLORESTA AMAZONICA.
  • LEITURA, MENSAGEM (MSG), INTERNET, CIDADÃO, RECLAMAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), REPUDIO, ORADOR, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero lamentar, mais uma vez, o que a TV Globo novamente noticia no dia de hoje. Já cedo, em casa, pude observar as más notícias do meu Estado, o que já é rotina, meu prezado Presidente.

Eu quero dizer, Presidente, a V. Exª, a todos os Senadores e àqueles que me escutam na tarde de hoje que eu tenho me preocupado muito com o meu Estado. Eu tenho vindo constantemente a esta tribuna para defender os aposentados e falar do meu Estado, mais do que outras coisas.

Eu, aqui, não torço, de maneira nenhuma, para que a administração do meu Estado não dê certo. Eu quero dizer aos paraenses que isso é muito triste para um Estado tão grande, um Estado cheio de minérios, um Estado de uma potência espetacular na agricultura, no turismo, enfim, um Estado que chegou a ser o sexto maior exportador do Brasil, um Estado de gente ilustre, e já cito os que vêm à minha memória: Eneida de Moraes, Jarbas Passarinho e tantos outros ilustres paraenses.

Hoje, nós vivemos uma situação dramática.

Eu quero aqui, prezados Senadores, pedir desculpas a essas pessoas que acham que eu venho aqui... À própria Governadora, que mandou uma carta ao competente e operoso Senador Suplicy, para que ele pudesse ler aqui na tribuna. Num gesto gentil e nobre do Senador, como ele é, do jeito que ele é - o Brasil o conhece, sabe da postura ética desse Senador -, ele leu essa carta. A Governadora dizia que eu e outros dois Senadores queríamos denegrir a imagem do Pará. Por quê? Porque, aqui, sempre me preocupei com os problemas do meu Estado. Eu denunciei o que vou ler hoje. O que a Globo está falando hoje eu denunciei aqui nesta tribuna.

Eu li a revista Veja, que fez a primeira denúncia em relação a isso. Eu falei que tinha exploração de madeira na Amazônia de maneira irregular e que o Governo do Pará sabia disso e nada fazia. Eu vi, percorri o Estado do Pará, quase que os 143 Municípios, na política passada para Prefeitos. E os Prefeitos que eram contra a Governadora diziam assim para mim: “Senador Mário Couto, tem um caixa dois aqui que é imbatível.”. Aí, eu perguntava: “Como?” “Na área da madeira, Senador. Tem gente comprando plano de manejo de forma irregular.”. “Mas tem alguma coisa que se possa denunciar?” “Não, Senador.” “Mas como eu vou fazer, então? Eu não posso ir para a tribuna do Senado sem uma reportagem, sem um documento oficial que eu possa denunciar. Não posso fazer isso.”.

E agora, paraenses, mais uma vez, olhem como eu tenho razão, olhem por que vocês me mandaram para cá, paraenses.

Eu repito sempre: eu tenho de respeitar 1,5 milhão de paraenses que depositaram a confiança em mim. Nunca nenhum Senador, na história do Pará, recebeu tanta confiança como este humilde Senador. Eu vim para cá, então, com uma responsabilidade muito grande de defender o meu Estado.

Aqueles que achavam que eu vinha para cá denegrir a imagem do meu Estado, como a própria Governadora, que mandou ler uma carta aqui, leitura feita pelo nobre e competente Senador Suplicy, mesmo a senhora, minha amiga Ana Júlia, que dizia que eu estava aqui não fazendo o meu papel; eu estou fazendo o papel primeiro, Governadora, para aqueles que confiaram em mim, para o meu Estado; segundo, pela obrigação constitucional que eu tenho de defender o meu Estado nesta Casa, Governadora!

Está aqui a prova autêntica, o escândalo, hoje, noticiado pelas televisões, mais um escândalo contra o meu Estado, que me deixa deprimido, que me deixa chateado.

Brasil, a Polícia Federal e o Ministério Público apuraram fraudes em autorização para exploração de madeira, expedida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Pará. Vejam como eles faziam! Olha como se faz a devastação da Amazônia de uma forma patifa. Isso é patifaria! Patifaria, Senador Presidente! O projeto para a exploração de madeira era de doze mil metros cúbicos. A fraude elevou sabem a quanto? A cinquenta e cinco mil metros cúbicos.

Olhem, olhem o que estão fazendo na floresta. Eu já havia dito aqui, e a Veja denunciou, que, para fazerem campanha política para o PT, derrubavam, derrubavam a floresta irregularmente. Os madeireiros, que eram favoráveis à campanha da Governadora, tinham um papelzinho na ponta do parabrisa do caminhão; o fiscal via aquilo, e o deixava passar. A Veja colocou até o nome que constava no papelzinho. Ninguém ligou. Ninguém deu bola. Ninguém quis saber de nada. Eu, aqui, bati nesta tribuna. “Não, é porque o Mário Couto não gosta da Governadora”. É porque o Mário Couto é isso é aquilo”, e tomba árvore, e tomba árvore...

Pior, Brasil: desempregaram milhares e milhares e milhares de paraenses. Estão todos lá, desempregados, porque pegaram tratores e derrubaram serrarias, e não quiseram saber quem era sério e quem não era, e colocaram todo mundo no mesmo saco. Não livraram cara de ninguém, Presidente. O Pará, que tinha saldo positivo de oferta de empregos, logo, logo passou a ter saldo negativo.

Derruba árvore. Fecha serraria. E, por trás dos panos, sabem quanto custa o metro cúbico da madeira fraudulenta? Cento e vinte e três reais o metro. Como é que se procedia? Era uma coisa inteligentemente posta, uma bandidagem inteligente. Como é que eles faziam, ou como é que eles fazem? Faziam, porque agora foi desvendada a corrupção. Plano de manejo: eles pegavam o plano de manejo de uma serraria que já tinha sido feito, meu nobre Vereador de Goianésia, e davam para uma pessoa, para um outro madeireiro, um afilhado - lógico, isso não tem dúvida, engordava o caixa dois. Esse madeireiro, então, prestava conta de uma área em que já havia sido feito o plano de manejo e tirava a madeira onde ele queria. Presidente, isso aí precisa...

Presidente Lula, eu não falo nem do Ministro Minc, não falo. Porque, sinceramente, Presidente Lula, tirar a Senadora Marina para colocar o Ministro Minc é uma brincadeira! Sinceramente! Tirar a competência dessa senhora para colocar esse senhor, que não sabe nem qual é o rumo da Floresta Amazônica, nem o rumo!

E esse senhor ainda diz que fumar maconha não tem problema nenhum. Diz para a juventude deste País, Presidente Lula! E olhe o escândalo na Floresta. Olhe a derrubada da nossa madeira, Presidente. Olhe o que se faz com a Amazônia. Olhe o banditismo emplacado no Governo da sua Governadora, sem falar em outros escândalos de corrupção no Pará.

         Não adianta me calarem; não adianta tentarem me calar!

Paraenses, vocês foram enganados! Vocês, hoje, passam por uma violência que não tem fim. Os ladrões tomaram conta do Estado do Pará. É difícil andar pelo interior do Estado ou na grande Belém, perguntar a um paraense ou a uma paraense se eles já foram assaltados - é difícil - e você encontrar um que ainda não tenha sido.

         Na saúde, é escândalo em cima de escândalo. E, se não bastasse, a corrupção agora em cima de algo que o mundo reclama - não é o Pará que reclama; não é o Brasil que reclama, é o mundo que reclama -, que é o pulmão do mundo: a Floresta Amazônica!

Corrupção em cima disso, meu nobre Senador, que o Governo Federal, que o Ibama ...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - ... - já vou terminar, Presidente -, que o Ibama, este Ibama que não vale nada, este Ibama que devia ser extinto...Mas é culpa do Governo Federal. Ele mesmo declarou, pela televisão, Senador, que o Ibama não era um órgão eficiente, que tinha de ser extinto. Por que, Presidente Lula, Vossa Excelência não extingue o Ibama e cria um órgão competente para fiscalizar? E não venham me dizer que o Ibama não sabia. E não venham me dizer que o Ibama não escondeu. E não venham me dizer que gente do Ibama não estava no esquema. Estava. Porque tem condição de rastrear. Devia saber; devia ter identificado. Se não estivesse no esquema, devia ter denunciado. Por que não denunciou? Porque está dentro do esquema.

E, paraenses, só nos resta rezar à nossa querida Senhora de Nazaré!

Meus nobres e queridos paraenses, eu recebi e vou ler, para vocês terem noção de como anda descrente o povo paraense, os milhares e milhares de e-mails, Senador Alvaro, que chegam a mim, mostrando e denunciando as mazelas do Governo do Estado. Agora, antes de sair da minha sala, selecionei dois deles para mostrar como anda o meu Estado. Vou zelar pelas pessoas que mandaram, não vou identificar nomes.

Parabenizo o Senador pelo excelente pronunciamento no dia de ontem, no Senado Federal. É justo que o senhor esteja com dificuldades para encontrar uma obra feita pela nossa Governadora. Temos que ser justos. Ela já fez alguma coisa, sim senhor, Senador Mário Couto. Ela mandou trocar a cor da farda da Polícia Militar. Pela capacidade que ela possui para governar, isso já é muita coisa. É um absurdo o que acontece em nosso Estado.

         Outro e-mail. Ele faz uns elogios à nossa pessoa e vou pegar do ponto:

        V. Exª fala que a Governadora não tem obras. Pois bem, aqui em Marabá [Marabá é uma cidade grande no Nordeste do Pará e que está sofrendo as inundações das chuvas], ela inaugurou o programa Água para Todos. Sabe por quê, Senador? Estamos com as nossas casas debaixo de água pelas enchentes e ela nem está aí.

Olhem como está a crença dos paraenses hoje!

Vou descer da tribuna, paraenses.

         Quero dizer a vocês todos que amanhã estarei aí, vou de ônibus pela Belém-Brasília, devo chegar aí no sábado e vou viajar o interior dessa querida terra como sempre fiz. Quero estar próximo de vocês, quero sentir a sensação que vocês estão sentindo de amargura, principalmente pela violência implantada no nosso Estado, principalmente pela falta de saúde. Mas me perdoem, sinceramente, nós erramos e erramos feio. Esta Governadora não é capaz; esta Governadora é irresponsável; esta Governadora não tem humildade para governar, ela não tem capacidade para governar. Pior, Senador, ela mente. Ela mente, Senador. Ela foi aos palanques para ganhar uma eleição. É daquelas ou daqueles que dizem assim - não sei se na terra de vocês, meus nobres vereadores, existem políticos assim; mas há políticos que, para ganhar, usam de qualquer coisa -: “Não interessa mentir, o que interessa é ganhar; vou mentir, mas vou mentir muito em palanque, mas não interessa, no final, eu estarei com a vitória.” Isso é patifaria! Pessoas desse nível devem estar presas, devem ir para a cadeia. E não tem que ter lugar especial na cadeia não, tem de pegar a cela mais suja da cadeia, porque esta pessoa já está suja e merece uma cadeia suja por enganar o povo! Enganou os paraenses. Estão os paraenses a sofrer...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Foi tempo demais. Dei 33 minutos, mas cinco minutos está bom, não está?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Não vou gastar os cinco minutos.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - A razão da minha presença aqui é garantir a voz do povo sofrido, que V. Exª representa tão bem.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Quando eu falo aqui, Presidente Mão Santa, eu sempre me lembro de V. Exª. Quando eu falo aqui, eu me lembro de V. Exª, que, de vez em quando, vai à tribuna para mostrar as mazelas do Piauí; de vez em quando, V. Exª vai à tribuna mostrar como a saúde é precária no seu Estado. V. Exª clama pelos piauienses, mas V. Exª nem calcula... V. Exª ainda brinca comigo, dizendo assim: “Quem é pior, Mário Couto? O Piauí, em mazelas, está ganhando do Pará, Mário Couto”. Não está, não, Senador Mão Santa! V. Exª vai, no dia 18, ao Pará. V. Exª vai me dar o prazer de ir lá. V. Exª vai perceber o reclame do povo do Pará e vai sentir o que é um povo sofrido, o que é um povo abandonado, o que é um povo desprezado. V. Exª vai à capital e vai ver quantos paraenses, na capital, são assaltados à luz do dia e à noite.

Eu não canso de falar. Vou falar mais uma vez. Acreditem se quiserem.

É inacreditável! Não há cidade nenhuma no mundo proporcionalmente mais violenta que Belém. Tudo isso pela incapacidade da nossa Governadora. Ela mudou a farda, gastou milhões, mas não melhora o salário do policial. Ela não dá condições de trabalho para o policial. Tenho fotos de delegacias no interior em que nem morcego quer morar mais. Nem morcego, quanto mais um policial!

Belém perde três paraenses por dia. Tombam na capital paraense três pessoas por dia. Isso é inacreditável. Eu não acredito que tenha cidade no mundo em que isto aconteça: de 8 em 8 horas uma pessoa morre só na capital do Pará. Só na Capital do Pará. Isso é inacreditável!

Ainda bem que lá nós temos uma santa milagrosa, chamada Nossa Senhora de Nazaré, que ajuda e protege os paraenses. Agora se aproxima o Círio, em outubro. Tenho certeza de que milhares e milhares de pessoas - são dois milhões - que acompanham a virgem numa peregrinação de muitos quilômetros... Tenho certeza de que muitos paraenses estão pedindo a proteção dos bandidos que andam soltos por culpa da nossa Governadora.

Muito obrigado, meu Presidente querido.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2009 - Página 20559